A importância da bossa nova para a música popular brasileira

Bossa Nova é um gênero musical brasileiro que recebeu influência do samba e do jazz americano.

A bossa nova surgiu no Brasil no final da década de 50, na intimidade dos apartamentos e boates da Zona Sul do Rio de Janeiro - reduto da classe média - estudantes e jovens em geral. Inicialmente o termo era apenas usado como um novo modo de cantar e tocar naquela época.

Em março de 1959 a gravadora Odeon lançou o disco Chega de Saudade, do cantor, violonista e compositor João Gilberto que cantava baixinho e discretamente, onde o acompanhamento do violão possuía uma batida e uma harmonia diferentes, abrindo novo caminho para a nova música. "Devo argumentar que isso é muito natural, é a bossa nova", dizia João Gilberto.

A bossa nova lançou não apenas um estilo musical, mas também uma constelação de novos compositores, letristas e instrumentistas. Antônio Carlos Jobim, Roberto Menescal e Carlinhos Lyra logo despontaram entre os representantes mais expressivos. Interessados inicialmente no jazz, único tipo de música popular que permitia uma execução instrumental evoluída, foram aos poucos colocando a técnica em função da música brasileira.

Em termos musicais, a bossa nova evoluiu no sentido do desenvolvimento da criação melódica, as canções tornaram-se mais difíceis de serem entoadas, pois as complicadas incursões melódicas exigiam um encadeamento harmônico mais evoluído. Além disso a bossa nova trouxe a orquestração econômica, nascidas em apartamentos.

No Samba de uma nota só, de Jobim e Newton Mendonça, o texto literário sugere os acontecimentos melódicos e a melodia comenta o texto. Humor, malícia ironia também estiveram presentes em Lôbo bobo de Bôscoli. O tom de protesto e o inconformismo era constante como em Terra de ninguém e Pedro Pedreiro.

Sendo um movimento musical tecnicamente evoluído, a bossa nova não tardou a ultrapassar nossas fronteiras, assimilada rapidamente nos Estados Unidos. Com a vinda ao Brasil de Herbie Mann, Charles Byrd, Stan Getz e Zoot Sims, ela foi logo exportada. Aceita e praticada pelos melhores músicos americanos, entre eles, Frank Sinatra.

Com a industrialização pelo show business e pela televisão, a bossa nova, sem perder o estilo intimista e rebuscado, abriu-se também para o grande espetáculo. Surgiram conjuntos vocais e instrumentistas de alto nível, entre eles, Zimbo Trio, Tamba Trio, Quarteto em Cy, MPB-4, Conjunto Roberto Menescal, e novos compositores, cantores e instrumentistas, como Edu Lobo, Elis Regina e Baden Powell.

O espetacular sucesso que consagrou definitivamente Elis Reginna, Baden, Edu e outros, foi o festival organizado pela TV Excelsior, de São Paulo, em 1965, em que Arrastão foi a música vencedora. Vários cantores já faziam sucesso no "tempo da bossa". Dos festivais seguintes saíram Chico Buarque, Nara Leão, Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Os Mutantes, Gal Costa, Rogério Duprat e muitos outros.

Algumas das músicas mais famosas da bossa nova são: Chega de Saudade (João Gilberto), Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Águas de Março (Tom Jobim).

Entre os ilustres cantores e compositores da bossa nova estão Tom Jobim, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Elis Regina, Chico Buarque, Carlos Lyra, Nara Leão, Gal Costa, Caetano Veloso, entre outros.

Na década de 1950, o Brasil vivenciou algumas transformações que conseguiram aproximar elementos de natureza política, econômica, social e cultural. Nesse período, a tônica governamental, fortemente representada pelo mandato de Juscelino Kubitschek, era a de promover a modernização do país. Nesse sentido, a industrialização e a urbanização eram os elementos centrais de alguns discursos e ações da época.

Essas ações de ordem modernizadora impactaram os grandes centros urbanos do país, estabelecendo novos postos de trabalho e o crescimento das classes médias. Em termos estatísticos, a população brasileira ocupava cada vez mais as cidades e, com isso, o Brasil deixava de ser um país essencialmente agrário. Em um primeiro instante, essas experiências foram claramente notadas nas cidades da região Sudeste.

Para além do desenvolvimento econômico, os debates sobre a modernização do Brasil também tinham outras características. No âmbito cultural, o discurso de modernização tinha fortes vínculos com a ideia de cosmopolitismo. Sob tal aspecto, a possibilidade de transformar o Brasil em uma referência cultural de âmbito internacional seria um modo de romper com a ideia de que o país sempre esteve reproduzindo os referenciais estéticos estrangeiros.

É nesse contexto que a Bossa Nova, um gênero musical que marca esse mesmo período, aparece como uma manifestação que eficazmente representou esse tipo de demanda modernizante. Por um lado, a Bossa Nova reafirmava a tradição musical brasileira ao ter o samba como uma grande referência. Por outro, dialogava com o jazz norte-americano nas formas de interpretação e no ritmo desacelerado.

Além desses elementos ímpares, a Bossa Nova incorporou a questão da modernização em diversas letras. Não raro, encontramos a figura de um narrador que fala de experiências especificamente vivenciadas nos centros urbanos ou citando diretamente o movimento das pessoas nas calçadas e o trânsito dos automóveis pelas ruas asfaltadas. Carlos Lyra, Tom Jobim, João Gilberto, Nara Leão e Edu Lobo foram alguns dos importantes ícones dessa novidade musical brasileira.

Ao longo da década de 1960, a Bossa Nova foi alvo de aplausos e vaias no interior das várias análises sobre tal manifestação de nossa cultura. Por um lado, o discurso nacionalista  acreditava que a bossa perpetuava nossa “colonização cultural” ao dialogar com a música norte-americana. Por outro, diversos entusiastas celebravam o fato da Bossa Nova se transformar em um sucesso comercial de grande expressão, chegando ao ponto de ser apreciada por públicos de outros países.

Com o passar das décadas, a Bossa Nova acabou sendo um gênero musical encampado ao conjunto de experiências musicais que representam a Música Popular Brasileira – mais comumente conhecida pela sigla MPB.  Por fim, a Bossa Nova acabou sendo um marco do hibridismo,  da mistura de diferentes referências estéticas a serviço de uma manifestação artística original.

Por Rainer Gonçalves Sousa Colaborador Mundo Educação Graduado em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG

Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás - UFG

A importância da bossa nova para a música popular brasileira

Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes no Au Bon Gourmet, em 1962

Foto: Reprodução

Se você gosta de samba, de jazz ou dos dois, provavelmente, gosta de bossa nova e pode celebrar neste 25 de Janeiro, Dia Nacional da Bossa Nova, inclusive instituído por lei (a 11.926/2009), tamanha a importância para a música brasileira. A data não foi escolhida ao acaso, ela homenageia um grande nome do gênero musical: 25 de janeiro marca o nascimento de Tom Jobim que, caso não tivesse partido em 1994, estaria completando 95 anos. O gênero surgiu na década de 1950, de forma espontânea. Mas passou a ser reconhecido a partir do lançamento do álbum duplo “Canção do Amor Demais”, em 1958, de Elizete Cardoso, em que João Gilberto conduzia no violão “Chega de Saudade”, com letra de Vinícius de Moraes e música de Tom Jobim. No ano seguinte, foi a vez do próprio João Gilberto gravar um disco, cujo nome (adivinha?) era ‘Chega de Saudade’.

Quem explica para o Entretê é o regente de corais de várias instituições de Cuiabá, Carlos Taubaté. “O que caracteriza a bossa nova é aquele ritmo quebrado do violão do João Gilberto. [...] Isso é a base, mas também há uma harmonia complexa, muito mais próxima do jazz, letras urbanas, muitas vezes superficiais, frugais”. Inclusive, o regente registra que a bossa nova foi muito criticada pela “falta de densidade poética”. “Mas musicalmente é uma pérola!”, reforça.

O gênero tipicamente brasileiro tem uma “diversidade rítmica muito própria” e uma harmonia que bebeu da fonte dos acordes próprios do jazz. Mas o pai é o ‘samba-canção’. “O nascimento da bossa nova se deu muito antes de ela acontecer”. O “Samba da Cidade”, em oposição ao “Samba do Morro”, lá pela década de 1930, era mais elitizado e foi eternizado por nomes como Ataulfo Alves, Noel Rosa e Pixinguinha. “E desse samba-canção mais ‘maneiro’, mais suave, surgiu, então, a bossa nova”.

Quando surge, a bossa nova quebra a música popular brasileira e a torna, vamos dizer assim, mais popular. “Antes, ela tinha um perfil muito mais aceito à música lírica. Todos os cantores estudavam canto lírico, a voz era muito mais próxima de um canto de concerto do que a voz espontânea, natural, como a gente vê hoje. E quem traz essa quebra de paradigma paro Brasil é a bossa nova”. Para dar um gostinho, assista a uma live de Lorena Ly, cantora aqui de Mato Grosso que orgulhou o estado em uma das edições do programa The Voice Brasil, interpretando bossa nova e jazz, com o músico e arranjador Joelson Conceição.

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