A opção que demonstra o uso adequado do pronome, de acordo com as regras da língua portuguesa, é

Os pronomes de tratamento são considerados, por grande parte dos gramáticos e linguistas, um caso específico de pronomes pessoais. Pela nossa cultura, levamos em conta o contexto e o tipo de relação que temos com a pessoa a quem nos direcionamos ou que citamos em nosso enunciado. Consideramos a intimidade, a familiaridade, a formalidade, o nível de hierarquia, entre outros fatores que definem como deve ser a interlocução.

O uso dos pronomes de tratamento

Os pronomes de tratamento possuem contextos específicos de uso.

Todo tipo de pronome (pessoal, possessivo, demonstrativo, indefinido etc.) segue regras gramaticais estabelecidas na língua portuguesa padrão que norteiam o seu uso. No caso dos pronomes de tratamento, algumas regras devem ser levadas em consideração:

  • Os pronomes de tratamento costumam levar em conta os títulos ou qualidades das pessoas a quem nos dirigimos ou sobre quem falamos, como idade, cargo ocupado etc.,
  • Na maioria dos pronomes de tratamento, utiliza-se a flexão no feminino, como em Vossa Alteza, Vossa Mercê, Vossa Eminência. Note que o termo “Vossa” concorda com o título que vem a seguir.

Emprega-se o termo “Vossa” quando se fala diretamente com a pessoa, quando é o interlocutor, portanto, na 2ª pessoa. Já o termo “Sua” quando se fala da pessoa, quando ela é o tema, portanto, na 3ª pessoa. Com relação à flexão verbal, em ambos os casos, será sempre feita na 3ª pessoa. Veja nos exemplos abaixo:

  • Vossa Excelência decidiu a medida a ser tomada?
  • Sua Excelência, o Presidente, decidiu a medida a ser tomada.
  • Vossa Santidade é um homem de muita fé.
  • Sua Santidade, o Papa, é um homem de muita fé.
  • Você sabe o que tem para o almoço?

Leia mais: Concordância verbal e nominal: regras e exceções

Principais pronomes de tratamento e abreviações

Agora que você já sabe como usar os pronomes de tratamento, vejamos quais são os principais e suas respectivas abreviações no quadro abaixo:

PRONOME

ABREVIAÇÃO

DESTINADO A

Senhor/Senhora

Sr./Sr.ª

pessoas com quem há distanciamento mais respeitoso

Você

V.

pessoas com quem há intimidade

Vossa Alteza

V.A.

Príncipes/princesas, duques

Vossa Eminência

V.Em.ª

cardeais

Vossa Excelência

V.Ex.ª

Presidente da República, ministros, altas patentes militares, bispos, arcebispos

Vossa Magnificência

V.Mag.ª

reitores de universidades

Vossa Majestade

V.M.

Reis/rainhas, imperadores

Vossa Mercê

V.M.cê

pessoas de tratamento cerimonioso

Vossa Onipotência

*não se abrevia

Deus

Vossa Reverendíssima

V.Rev.ma

sacerdotes

Vossa Santidade

V.S.

papas

Vossa Senhoria

V.S.ª

oficiais até coronel, funcionários graduados, pessoas de cerimônia

Curiosidade: o pronome de tratamento você

Na maior parte das regiões do Brasil, ocorreu o fenômeno de substituição do pronome reto tu pelo pronome de tratamento você, levando a conjugação verbal da 2ª pessoa a cair em desuso, uma vez que você, como a maioria dos pronomes de tratamento no singular, exige a conjugação na 3ª pessoa. Assim, tu foi substituído por você, enquanto vós foi substituído por vocês, em algumas variantes da língua portuguesa do Brasil.

Entretanto, vale lembrar que você é uma versão reduzida do pronome de tratamento “Vossa Mercê”. A partir do século XVI, começou a haver uso generalizado da forma “Vossa Mercê” pela população que não pertencia à aristocracia, o que contribuiu para variações como “Vosmecê”, popular antigamente no Brasil, e que culminaria na redução “você”, utilizada atualmente no país. Em contextos ainda mais informais, outras reduções aparecem: “ocê” e “cê”.

Vossa mercê Vosmecê Você Ocê/cê

Leia mais: Particularidades dos pronomes pessoais - critérios que demarcam seu uso

Exercícios resolvidos

Questão 1 (FGV-2018) Relacione os pronomes de tratamento, listados a seguir, aos respectivos cargos.

1. Vossa Excelência 2. Vossa Magnificência 3. Vossa Senhoria 4. Vossa Reverendíssima

5. Vossa Santidade

( ) Papa ( ) Almirante ( ) Coronel ( ) Reitor

( ) Cônego

Assinale a opção que mostra a relação correta, segundo a ordem apresentada.

a) 5, 2, 4, 1 e 3. b) 4, 1, 2, 3 e 5. c) 5, 3, 2, 1 e 4. d) 5, 1, 3, 2 e 4.

e) 4, 2, 3, 1 e 5.

Respostas

1 – Alternativa d), Vossa Santidade refere-se ao Papa, Vossa Excelência a almirantes, Vossa Senhoria a coronéis, Vossa Magnificência a reitores e Vossa Reverendíssima a cônegos.

Por Guilherme Viana

Professor de Gramática

As elucidações que se firmam mediante o assunto posto em discussão convidam-nos a refletir acerca de um importante aspecto, que se deve ao fato de os pronomes pessoais indicarem uma das três pessoas do discurso, tanto do singular quanto do plural, ou seja:

EU/NÓS – A PESSOA QUE FALA TU/VÓS – A PESSOA COM QUEM SE FALA

ELE/ELES – A PESSOA DE QUEM SE FALA

Quanto à função que desempenham, podem se classificar como pronomes pessoais do caso reto, ora funcionando como sujeito da oração. Assim, vejamos:

EU

TU

ELE/ELA

NÓS

VÓS

ELES/ELAS

Eugosto muito de você. (sujeito simples)

Atuando como complemento verbal (objeto direto ou indireto, agente da passiva, complemento nominal, adjunto adverbial, adjunto adnominal), classificam-se em pronomes pessoais do caso oblíquo, subdividindo-se em átonos e tônicos. Constatemos, pois:

Átonos: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes.

Tônicos: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, si, consigo, nós, conosco, vós, convosco, eles, elas.

Essas encomendas foram entregues a mim. (objeto direto)

Gostaria de lhe agradecer pelo favor. (objeto indireto)

Pronomes eu/tu – mim/ti

No que tange a tais pronomes, “eu” e “tu” desempenharão sempre a função sintática de sujeito, assim como nos exemplos:

Eu aceito o pedido de desculpas. (sujeito)

Já os pronomes “mim” e “ti” exercem a função sintática de complemento verbal ou nominal, agente da passiva, adjunto adverbial e sujeito acusativo, como evidenciado abaixo:

Não cabe a mim tomar essa decisão. (objeto indireto) 
Essa decisão foi favorável a ti. (complemento nominal)

Pronomes se/si e consigo

Os pronomes em questão somente se classificam como reflexivos ou recíprocos – razão pela qual são empregados na voz reflexiva e na voz reflexiva recíproca. São exemplos:

Se você não se cuidar poderá ficar doente. 
São egoístas as pessoa que só pensam em si.  
Ela trouxe consigo lembranças de onde esteve.

Com nós, com vós, conosco e convosco

Por mais que pareçam estranhas as formas “com nós” e “com vós”, elas podem ser perfeitamente aplicáveis se à frente delas estiver indicando uma palavra que represente “somos nós” ou “quem sois vós”, assim como nos atestam os exemplos abaixo:

Falaram com nós todos acerca das mudanças que iriam ocorrer.

Desistiu de sair com nós dois por quê?

De ele ou dele? Do ou de o?

Chegou o momento de ele decidir se permanece ou não.

O fato de o professor não ter explicado representa o descompromisso. 

Saiba mais sobre esse assunto acessando o texto “De o ou do – de que forma empregá-los?”.

Quanto às funções sintáticas desempenhadas pelos pronomes oblíquos átonos “me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes”, essas podem assim se evidenciar:

* Objeto direto: Encontrei-o perambulando por aí. (encontrei quem? – ele)

* Objeto indireto: Peço-lhe desculpas. (peço desculpas a quem? A ele/ela)

* Adjunto adnominal: Na confusão roubaram-me os pertences. (os meus pertences)

* Complemento nominal: Foi-lhe favorável a sentença. (favorável a ele/ela)

* Sujeito acusativo: quando se manifestarem em um período composto formado pelos verbos “mandar, fazer, deixar, sentir, ouvir”, entre outros: Mande-me o relatório da empresa.

Em virtude de estarmos falando da norma padrão da língua portuguesa, eis que uma canção demonstra ser objeto de estudo: sob a autoria de Marisa Monte, Beija eu:

[...]
Beija eu! Beija eu! Beija eu, me beija Deixa O que seja ser...

[...]

Ao analisarmos a colocação do pronome pessoal do caso reto, “eu”, constatamos que se trata de um uso indevido, dada a condição de ele funcionar como sujeito, não como complemento (quando na verdade o correto seria beija-me). No entanto, em se tratando da licença poética concebida ao artista, possíveis desvios são tidos como intencionais, aceitáveis, portanto.

Por Vânia Duarte

Graduada em Letras

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