Como os judeus tratam suas esposas

Para nós judeus, o casamento tem significado muito profundo. Trata-se do reencontro após vinte e cinco ou trinta anos de vida, de duas almas, duas metades que fazem parte do mesmo tronco. Assim, relacionamentos e casamento no judaísmo estão de certa forma interligados.

Os nossos sábios nos ensinam que assim como D’us criou Eva da costela de Adão, ela era também, em termos espirituais, parte integrante dele.

Antes do nascimento de cada menino e menina, suas almas já estão predestinadas a se encontrar. Contudo, existe, obviamente, neste caso  também, o livre arbítrio que irá prevalecer.

Uma escolha errada poderá estragar ou modificar os planos traçados, antes de cada nascimento, por D’us. Mas, quando o casamento ocorre dentro das tradições conforme a lei de Moisés e Israel, neste momento são duas metades, almas gêmeas que se encontram.

Entender a ideia de que cada ser sozinho é incompleto, é muito importante, pois dá a concepção correta de como um jovem deve-se preparar para enfrentar o casamento e a vida a dois. Aqui oque se compreende sobre relacionamentos e casamento no judaísmo começa a tomar forma.

Nossos sábios nos ensinam que para uma pessoa casar e ser feliz deve considerar-se apenas uma metade. Para um jovem conseguir a felicidade e harmonia no casamento deve ter sempre presente que ele precisa de alguém que possa completá-lo.

ONIPOTÊNCIA, NÃO!

Mas, se antes de casar alguém achar que nada lhe falta, que é perfeito, completo, ou seja que ele já é “um”, neste instante as coisas se complicam.

Casando passaria a ser “um e meio”,algo sem dúvida desnecessário e problemático! O final será eventualmente desprezo do conjunto. Assim, nossos sábios nos ensinam um pouco sobre a felicidade no casamento: saber que você precisa de alguém que possa complementar o que lhe falta.

A psicologia moderna não está em desacordo com as idéias judaicas. Afirma que a pessoa nunca deve casar-se se está fraco ou deprimido.

Nós judeus também acreditamos que a pessoa deve casar-se se está bem consigo mesmo. Mas este bem consigo implica em entender uma porção de coisas em relação a si mesmo e ao outro.

Primeiramente, que ninguém é perfeito; todos temos nossos defeitos e limitações, assim como nossas qualidades.

Em seguida, que cada um de nós é apenas uma metade e consequentemente este “estar bem” é só a metade daquilo que poderia vir a ser. Pode acontecer que a esposa escolhida não seja a mulher mais perfeita ou a mais sábia, mas ela é a mulher ideal para ele, pois ela é metade dele.

É possível também que o marido escolhido não seja o mais inteligente, nem o mais carinhoso, mas é o melhor marido para ela, pois ele é a metade dela. Veja como há interligação quando falamos de relacionamentos e casamento no judaísmo.

SE CAI A FICHA, OK

Assim, no instante em que a pessoa se conscientiza disto, pode sem dúvida atingir a felicidade — tão procurada hoje em dia no casamento.

O judaísmo não acredita na identificação do casal, que um tem que ser igual ao outro. Obviamente que têm que ter alguns pontos em comum e têm que ter afinidade e atração, mas não precisam ser idênticos! Importante notar que relacionamentos e casamento no judaísmo são consequentes e interligados.

O Todo-Poderoso casou conosco no Monte Sinai. Ele é o Criador e nós somos as criaturas. Assim D’us nos ensina que no judaísmo o casamento significa complementação, um complementa o que o outro não tem. Um reforça e ajuda o outro, e ambos crescem juntos!

O JUDAÍSMO PERMITE A ADOÇÃO DE CRIANÇAS?

A adoção de uma criança nos moldes antigos, quando se recolhia uma criança órfã na casa de amigos ou familiares, não é apenas permitida, mas é uma grande mitsvá. Desta forma se estará dando a esta criança uma nova família, uma nova possibilidade de crescer, de se educar e ser feliz.

Os nossos sábios dizem que grande recompensa existe para aquele que recolhe um órfão em sua casa. Assim ele o educará e o considerará como seu filho.

Mas, hoje em dia, quando falamos de adoção, nos referimos a outra coisa. Infelizmente, há pais que tentaram, pois, de várias formas (permitidas), mas não tiveram a possibilidade de gerar um filho próprio.

Num caso similar, se o casal insiste em ter filhos, mesmo que estes não sejam biológicos, o judaísmo permite também este tipo de adoção.

Mas num caso como este é importante ter em mente duas coisas:
Primeiro, a grande maioria das crianças adotadas hoje não são crianças de fé judaica. Por isto, se um casal judeu resolver adotar uma destas crianças, terá que fazer sua conversão.

Portanto, sem a conversão, feita por um tribunal rabínico competente reconhecido, a criança não poderá entrar dentro da aliança do judaísmo. Assim sendo continuará sendo não-judia.

EDUCAÇÃO JUDAICA VALIDADORA

Por outro lado, a conversão só será válida se a criança receber uma educação judaica. Pela lei, a conversão pode ser feita numa idade tenra, pois até como bebê, todavia é importante que a criança que absorveu o judaísmo receba uma educação judaica autêntica: escola, shabat, alimentação casher e, assim por diante.

Com 13 anos, de acordo com a nossa lei, esta criança ainda poderá optar e eventualmente recusar a continuar no judaísmo, ou continuar de forma adequada e automática. Mas, a educação judaica autêntica para uma criança adotada é condição sine-qua-non.

Em segundo lugar, no judaísmo é de extrema importância que os pais adotivos, na hora e idade certa, revelem à criança sua verdadeira identidade.

VER  Estar presente e ocupar os filhos

Não pode-se ocultar de uma criança adotada, ou melhor, de ninguém, quem ela é e quem são seus verdadeiros pais.

Uma atitude desta não seria nem ética e nem moral. A criança só poderá crescer, evoluir, se souber quem é, na realidade.

Também existem restrições da lei sobre a intimidade da criança com os pais adotivos. Existe mais um motivo que obriga os pais a fazerem este tipo de revelação.

De acordo com a lei, se você não revela à criança sua verdadeira identidade, ela poderá acabar acidentalmente casando com um irmão, já que ela se considera filha de outras pessoas. E, para evitar uniões e casamentos proibidos, temos que contar a verdade, obviamente na hora certa.

COMO O JUDAÍSMO VÊ O CASAMENTO E O RELACIONAMENTO SEXUAL?

Podemos dividir em duas correntes, opostas e antagônicas, as linhas de pensamentos ocidentais, não judaicos. Isso no que diz respeito à vida física e material, e ao relacionamento sexual em geral.

A primeira corrente acredita que tudo que é relacionado ao físico, ao material e ou relacionamento sexual é pecaminoso.

Mais além, diz que a vida atrapalha a evolução espiritual do homem. Portanto, por causa disto, o homem terá de ser abster de todo e qualquer prazer, se quiser atingir uma elevação espiritual.

Podemos encontrar traços desta linha de pensamento na filosofia cristã. Nela há ascetismo e abstinência, que estão sendo cada vez mais enfatizados.

Alguns chegam até a se afastar completamente da vida cotidiana. Passam a viver em mosteiros longe das cidades, onde jejuam e vivem no celibato. Assim, abstém-se de qualquer prazer ou relacionamento físico.

Existe uma outra corrente, completamente oposta, que valoriza extremamente o prazer físico, como se fazia na antiga Grécia.

Segundo esta corrente, não existe nenhum tipo de espírito, alma, ou mundo vindouro. Por isso, então, o homem tem que aproveitar ao máximo a vida, já que é a única que ele terá.

“Comemos e bebemos hoje, porque morreremos amanhã”.

Esta única frase resume o pensamento de seus seguidores. Eles conseguiram transformar o sexo em orgias. Permitem qualquer tipo de relacionamento, até aberrações e desvios, como sabemos ser praxe na Grécia e Roma antigas.

VISÃO JUDAICA SEGUE O CRIADOR

O judaísmo difere de ambas as correntes. De um lado, não vê no mundo físico nenhuma contradição, nenhum obstáculo para chegar a D’us, já que o mundo material foi criado por Ele. Assim, os relacionamentos e casamento no judaísmo são absolutamente naturais dentro da finalidade Divina.

Não será isto que nos impedirá de chegar a Ele. D’us criou o homem e a mulher e nós temos que viver neste mundo e transformá-lo num mundo melhor onde Ele possa morar.

Por isto, o judaísmo não acredita em abstinência. Do outro lado pede-se aos judeus para santificar o relacionamento, porque isto, a relação sexual, desde que praticada entre marido e mulher, é algo extremamente elevado e sagrado. Ressalte-se, pois, que os relacionamentos e casamento no judaísmo guardam estrita ligação.

O próprio casamento se chama em hebraico Kidushin, que vem da palavra Kadosh — sagrado.

O judaísmo acredita que o único compromisso verdadeiro é aquele feito sob a chupá, o pálio nupcial. Nenhum namoro, nenhum flerte, poderá complementar o que uma alma procura na outra alma gêmea. Somente o compromisso verdadeiro perante D’us.

Por isto, o relacionamento sexual é permitido somente dentro do casamento, não antes e nem fora do mesmo. Assim, entendemos mais profundamento o papel dos relacionamentos e casamento no judaísmo.

O REVIGORAR DOS RELACIONAMENTOS E CASAMENTO NO JUDAÍSMO

Mas o judaísmo encontrou um método extraordinário para manter e revigorar o relacionamento, mesmo anos depois do casamento, como se este fosse recente.

A Torá nos ensina uma forma que permite que a esposa volte cada mês como se fosse uma noiva.

Estas são as regras que existem dentro do relacionamento conjugal que nós chamamos as regras do Mikve, da pureza familiar. Elas preconizam um período de abstinência, para mais tarde intensificar o amor físico.

O grande problema que os casais de hoje enfrentam e nós o sabemos — infelizmente esta praga já penetrou dentro das nossas fileiras — é a falta de comunicação entre marido e mulher.

O marido sai cedo para trabalhar, volta tarde, e literalmente “apaga”, exausto, diante da TV.

A cidade, a correria, não permitem que haja uma suficiente comunicação, um diálogo entre o casal.

Como consequência, o relacionamento físico entre o casal também fica prejudicado. É neste exato momento que entra a sabedoria do judaísmo.

D’us nos ordena as leis acima mencionadas. Elas permitem que durante certos dias, o amor seja mais platônico, apenas uma troca de ideias, uma conversa. Isto, enfim e sem dúvida, intensifica muito mais o amor físico, permitindo uma relação conjugal saudável.

Por isto, o judaísmo exige que se mantenha a pureza antes do casamento, de maneira que as experiências anteriores não atrapalhem esta união. É assim que D’us gostaria que fosse a mais feliz possível, para podermos usufruir deste tipo tão especial de vida conjugal.

(Publicado na Revista Morashá em setembro de 1995)