O tempo humano e insignificante quando comparando ao tempo geologico

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A determinação do tempo geológico coloca-nos mais um desafio ao introduzir a história humana na escala de tempo geológico. Como podemos avaliar as interferências humanas na natureza? A análise das relações temporais, especialmente das ações do homem como agente geológico, isto é, que imprime suas marcas no planeta, pode ser enriquecida através da articulação entre as geociências e a história ambiental. A relação da sociedade com a natureza é expressa através da cultura, que se articula ao tempo histórico. Assim, seguimos aqui a abordagem de Drummond (1991: 178), que defende que: “O tempo no qual se movem as sociedades humanas é uma construção cultural consciente”.

As ciências humanas, desde o início do século XX, delimitaram sua análise apenas ao tempo humano, deixando de lado todo o período desde a formação da Terra. Drummond (1991) defende que os estudos em história ambiental, tão recentes na historiografia, utilizem uma escala mais ampla que o tempo da humanidade, ou seja, que a considere inserida no Tempo Geológico. Assim, relacionamos a história social com as geociências e ampliamos nossa escala de tempo para a idade da Terra, calculada em cerca de 4,5 bilhões de anos. Nessa perspectiva, conseguimos avaliar desde a insignificante permanência do homem na Terra, até a intensidade dos processos de transformação causados pela sociedade em determinado período de tempo.

Apesar dessa recomendação já explicitada na bibliografia, a aproximação da história com a geologia ainda está ocorrendo de forma bastante lenta. Alguns estudos sobre a epistemologia das geociências (POTAPOVA, 1968; FRODEMAN, 2001) têm ressaltado o caráter histórico do conhecimento geológico, ou seja, da geologia como ciência histórica da natureza. Tal abordagem pode contribuir bastante com a história ambiental, que analisa as relações do homem com seu meio natural.

Uma característica importante das ciências ambientais é elas não terem tratado apenas do tempo no passado, mas cada vez mais incorporarem em suas análises o tempo futuro. A ideia de sustentabilidade articula a utilização dos recursos naturais no presente com o planejamento desses recursos para as gerações futuras. Essas projeções futuras, com escalas variadas, são de difícil determinação - o quanto devemos pensar: daqui a uma década, daqui a um século, ou mais? Uma das formas seria pela avaliação do processo de utilização dos recursos e intervenção do homem na natureza no passado, para que pudéssemos planejar o grau de intervenção no futuro (CAMARGO, 2003).

As ciências naturais possibilitaram a ampliação dos objetos de estudo e metodologias da história, provendo novos instrumentos de análise. Nesse sentido, destacamos a contribuição da geologia para a história na análise do fator tempo, ou seja, a ampliação das escalas para o tempo geológico. Essas relações são responsáveis por mudanças paradigmáticas nas ciências humanas, ou seja, a sociedade não está isolada da natureza. Em outras palavras, significa que “pensar sobre a relação entre o tempo geológico e o tempo social, combinar a história natural com a história social, colocar a sociedade na natureza, enfim, implica necessariamente atribuir aos componentes naturais 'objetivos' a capacidade de condicionar significativamente a sociedade e a cultura humanas.” (DRUMMOND, 1991:181)

Complementando a abordagem de Drummond (1991), refletimos aqui que o conceito tempo geológico é uma criação sociocultural e está condicionado a um contexto abordado pela história das ciências, que contribui para esse debate, para compreendermos todo o processo histórico de aceitação do paradigma do tempo geológico, das visões de tempo contrastantes, dos atores sociais envolvidos e das implicações na sociedade que essa importante mudança paradigmática ocasionou.

A delimitação do fator espaço-temporal em escalas bastante determinadas apresenta uma multiplicidade de características socioambientais. Ao determinar, com bastante clareza, a região a ser percorrida e a inserção da delimitação temporal numa escala do tempo geológico, devemos pensar que esses fatores condicionarão nossas análises. Assim, as investigações no campo devem ser completamente associadas à produção, levantamento, sistematização e análise dos dados e documentos disponíveis. É o campo quem vai direcionar o tipo, a qualidade e a quantidade de documentos produzidos ou recolhidos.

A interação do homem com a natureza também pode ocorrer pela interpretação. De acordo com Frodeman (2001), as ciências históricas da natureza, entre as quais a geologia, distinguem-se das outras ciências naturais pela prioridade da interpretação da história da Terra. Nesse caso, o raciocínio histórico auxilia na reflexão sobre os processos de transformação ambiental e na compreensão das concepções sobre a natureza que se adotou em determinado período de tempo. A habilidade de interpretação é muito importante na formação de cidadãos conscientes e participativos e pode ser desenvolvida através de estratégias de ensino em Geociências.

O planeta Terra possui aproximadamente 4,6 bilhões de anos, o que pode ser considerado muito tempo, a depender do referencial. Para nós, seres humanos, esse tempo é quase que inimaginável, uma vez que nossa existência no mundo data de algumas centenas de milhares de anos. A invenção da escrita e a constituição das primeiras civilizações, por sua vez, são ainda mais recentes, iniciando-se há cerca de sete mil anos ou até menos.

Em razão dessa brutal diferença de tempo, torna-se importante estabelecer a distinção entre a escala de tempo geológico e a escala de tempo histórico. O tempo geológico refere-se ao processo de surgimento, formação e transformação do planeta Terra. O tempo histórico, por sua vez, faz referência ao surgimento das civilizações humanas e sua capacidade de comunicação escrita.

Para se ter uma noção aproximada do quanto a existência do ser humano é um mero episódio recente no tempo geológico da Terra, utilizamos algumas analogias. Por exemplo, se toda a história do planeta fosse resumida nas vinte e quatro horas de um dia, a existência da humanidade teria ocorrido nos últimos três segundos desse mesmo dia. Por isso, quando falamos em uma formação de relevo geologicamente antiga, estamos dizendo que ela se formou há alguns poucos milhares de anos, provavelmente em uma das últimas eras geológicas.

Por falar em eras geológicas, vamos compreender melhor essa forma de classificação e periodização da evolução da escala de tempo geológico. Confira a tabela a seguir:

O tempo humano e insignificante quando comparando ao tempo geologico

Tabela simplificada das eras na escala de tempo geológica

Podemos notar que a periodização da Terra é dividida em Éons, estes agrupando as Eras, que agrupam os períodos, que se dividem em épocas. Se nos atentarmos à escala de tempo representada, é possível notar que o primeiro éon, o Arqueano, durou cerca de dois bilhões e cem milhões de anos, sendo a maior de todas as divisões temporais da Terra, pois foi o período de formação do planeta até o surgimento das primeiras formas de vida.

Já no éon seguinte, o Proterozoico, ocorreu o surgimento das primeiras formas de vida fotossintetizantes, além dos primeiros animais invertebrados, o que durou cerca de um bilhão e novecentos milhões de anos. Depois disso, todas as evoluções das formas de relevo e das formas de vida na Terra aconteceram nos quinhentos e setenta milhões de anos seguintes, durante o Fanerozoico.

É provável que você já tenha observado algumas tabelas diferentes com classificações distintas sobre o tempo geológico. Isso ocorre porque há diferentes modelos de discussão e diferentes autores elaboraram formas distintas de organizar essa classificação, que pode mudar à medida que novas descobertas arqueológicas aconteçam.

Os continentes em suas formas atuais, com o fenômeno da Deriva Continental, por exemplo, originaram-se há cerca de vinte e três milhões de anos somente. O Pangeia, a massa única continental anteriormente existente, começou a dividir-se há mais ou menos quatrocentos milhões de anos.

Compreender a dimensão do tempo geológico e suas escalas de medida torna-se um exercício mental fascinante para melhor compreender a atuação do homem em relação a essa temporalidade e o seu papel de herdeiro de todas as transformações ocorridas no espaço terrestre ao longo das eras geológicas.

O planeta Terra, muito provavelmente, possui cerca de 4,6 bilhões de anos. Isso significa que ele é bem antigo, a depender do referencial, pois, se considerarmos a idade do universo (13 bilhões de anos), o nosso planeta não é tão “velho” assim; mas se compararmos com o tempo de formação das civilizações, aí a idade da Terra é muito ampla.

Por esse motivo, existem duas principais escalas de tempo: a do tempo geológico e a do tempo histórico. Como são escalas diferentes, a medição delas também o é, de forma que a proporcionalidade entre uma e outra é bastante distinta em termos de amplitude.

Quando falamos em tempo geológico, referimo-nos a uma escala de tempo que costuma ser medida nos milhões ou até bilhões de anos, tal a classificação das eras geológicas e seus respectivos períodos. Já quando falamos em tempo histórico (incluindo, aí, a Pré-História), referimo-nos ao período de surgimento da humanidade, o que corresponde ao uso de medidas de dezenas, centenas e até milhares de anos.

Observe a tabela a seguir, que indica a sucessão dos diferentes períodos e eras da escala geológica do tempo:


Tabela da escala geológica do tempo

Considerando todas essas transformações sobre as quais a Terra passou, podemos ficar perplexos ao descobrirmos que os primeiros humanos em suas formas atuais surgiram apenas no período quartenário, o último deles. Isso significa que, ao passo em que o planeta possui quatro bilhões e meio de anos, os seres humanos habitam-no há apenas alguns conjuntos de milênios.

Portanto, essa diferença entre uma escala de tempo e outra pode ser, para nós, algo difícil de imaginar. Para facilitar essa tarefa, podemos fazer algumas metáforas, por exemplo:

- Se todo o tempo geológico fosse reduzido a um dia, as primeiras civilizações teriam surgido nos últimos três segundos.

- Se resumíssemos toda a história da Terra em um ano, os primeiros homens teriam surgido nas últimas horas do dia 31 de dezembro.

- Se todos os dias da Terra fossem escritos em um livro de 460.000 páginas, o ser humano teria aparecido pela primeira vez na página 459.600.

Dessa forma, quando falamos, por exemplo, que o relevo do Brasil é geologicamente antigo, significa que ele tem uma data de formação que leva mais tempo do que a de outros lugares. Por outro lado, quando falamos que os dobramentos modernos são formações recentes, isso não significa que eles tenham surgido há pouco tempo em termos históricos, mas há algumas centenas de milhares de anos, o que é muito pouco comparado à idade da Terra. Por esse motivo, é muito importante sabermos a diferença entre tempo histórico e tempo geológico!


Por Me. Rodolfo Alves Pena