A crise no brasil foi ruim mesmo

22/04/2014 - 13:26  

A crise no brasil foi ruim mesmo

Inflação era de 19,5% ao ano entre 1967 e 1973. Percentual subiu para 211% em 1983.

O descontrole da economia no final do regime militar foi um dos motivos que facilitaram o movimento das Diretas Já em 1984. Com a inflação em alta, os cidadãos passaram a recorrer a compras de mês e a estocagem de produtos. O salário vinha e ia no mesmo dia para evitar preços maiores no dia seguinte.

A inflação, que era de 19,5% ao ano entre 1967 e 1973, passou para 40% ao ano entre 1974 e 1978, e para 211% em 1983.

O que causou tamanho descontrole? Os economistas Luiz Carlos Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano resumem a história entre 1979 e 1983, véspera do movimento das Diretas, em quatro fatores: reajustes de preços administrados pelo governo, principalmente derivados de petróleo; maxidesvalorizações da moeda nacional, o cruzeiro; variação dos preços agrícolas; e mudanças na forma de indexação salarial.

Em 1974, o País, que vinha crescendo à custa de empréstimos externos, amargou o primeiro choque do petróleo. A dívida externa, que era de 12,6 bilhões de dólares, foi para 43,5 bilhões de dólares em 1978.

Crise do petróleo
O então ministro do Planejamento, Delfim Netto, explicou as mudanças em depoimento no Plenário da Câmara em março de 1983. "Para os senhores terem uma ideia, no ano de 73, nós havíamos pago por um barril de petróleo menos de 2,5 dólares. No ano de 74, a média de preços do barril elevou-se para 10,5 dólares. Continuou mais ou menos nesse patamar até o ano de 1978, quando atingiu a 12,2 dólares por barril."

Nesse período, países como a Inglaterra e a Itália tiveram que pedir socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1979, veio o segundo choque dos preços do petróleo, e o barril foi subindo até chegar a 34 dólares em 1981. Com a crise, as taxas de juros internacionais (a prime americana e a libor inglesa) mais do que dobraram, afetando a já grande dívida externa brasileira.

Delfim Netto comentou o impacto sofrido na economia. "É fácil fazer uma análise deste fenômeno e verificar o seguinte: sem o aumento do preço do petróleo do segundo choque e sem o aumento da taxa de juros a partir de 1978 e 1979, a dívida teria permanecido rigorosamente a mesma nos períodos 79-82. O que significa que toda a acumulação da dívida posterior foi uma acumulação destinada a pagar, de um lado, a ampliação do preço do petróleo e, de outro lado, a ampliação das taxas de juros."

Críticas ao governo
Na ocasião, o então líder do PMDB, deputado Freitas Nobre, fez questão de rebater o ministro. "Quando se cantava em todos os tons e motes o chamado milagre brasileiro, quando a euforia das obras faraônicas, suntuárias, e a inundação dos dólares de empréstimos internacionais dançavam a dança macabra dos esbanjamentos, quando nossas críticas de advertências moviam neste Plenário sufocadas pela censura total, os que viam mais longe, antevendo o fracasso do sucesso, eram apontados como os pessimistas e inimigos da pátria."

O aumento das tarifas foi lembrado pelo então líder do PT, deputado Airton Soares. "O modelo de vossa excelência é o modelo que leva o brasileiro hoje a ter na sua casa a geladeira, a televisão, o ferro elétrico; mas não tem dinheiro para pagar a energia elétrica que consome."

Em outra ocasião, Airton Soares fez referência às grandes obras comparadas à resistência do governo em aprovar o seguro-desemprego. "O ministro Delfim Netto é hábil. Tem verbas para termonucleares, tem verbas para Tucuruí, tem verbas para Itaipu, tem verbas para as obras faraônicas do governo, tem verbas para mordomias, tem verbas para tudo; mas para trabalhador desempregado, não tem verbas."

O Brasil passou pela transição do regime militar para o governo civil, mas a inflação ainda chegaria a 2.477% em 1993.

Reportagem – Sílvia Mugnatto
Edição – Pierre Triboli

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e apoiadores têm apontado o isolamento social — chamado por eles genericamente de "lockdown" ou "fique em casa" — como o grande culpado pela crise econômica dentro e fora do Brasil, principalmente no que diz respeito à inflação. No entanto, segundo economistas ouvidos pelo UOL Confere, o isolamento não é a causa da alta nos preços, e ajudaria a acelerar a recuperação da economia se tivesse sido bem feito.

"O lockdown não tem culpa nenhuma. Era o melhor do mau negócio. Se não fosse isso, a situação seria muito pior. O isolamento social feito de forma adequada evita que a economia fique paralisada por muitos meses", afirma o economista André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços do Consumidor) do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

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"A economia não existe sem pessoas, não é um fenômeno da natureza. Pelo contrário, ela é o resultado da vida em sociedade. Em outros termos, os indivíduos precisam estar vivos, é condição para o funcionamento da economia. Como seria possível fazê-la funcionar frente a um vírus letal e, então, sem vacina para todos ou cura?", questiona a historiadora e economista Ana Paula Salviatti.

A pandemia afetou a economia em todo o planeta, mas o Brasil tem o terceiro pior quadro de inflação entre as 20 maiores economias do mundo, atrás apenas de Argentina e Turquia. Em setembro, o país ultrapassou 10% de inflação em 12 meses.

Os preços subiram mais por aqui em especial por causa da desvalorização do real e da queda de investimento estrangeiro. Estes fatores têm relação com o ambiente político do país — o que inclui incertezas geradas pelo governo, como mostrou hoje reportagem do UOL Economia. Também entram na conta problemas como a alta nos combustíveis; a crise hídrica e o aumento na conta de luz; e questões climáticas que afetaram a agricultura.

Quer entender melhor o assunto? O UOL Confere responde abaixo a algumas das principais perguntas sobre o tema:

A crise econômica é culpa do isolamento social?

Não. Há estudos que indicam que locais que aderiram a medidas mais rígidas de isolamento não sofreram consequências econômicas maiores do que os que não aderiram. Em alguns casos, se saíram até melhor.

Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com a Universidade do Texas (EUA) aponta que municípios de São Paulo que adotaram isolamento social mais severo salvaram vidas e não tiveram desempenho econômico pior do que os que não adotaram.

Já um artigo publicado em abril por pesquisadores europeus na revista científica The Lancet indicou que a eliminação do coronavírus, e não sua mitigação, trouxe melhores resultados para a saúde e a economia em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Para Braz, relacionar a crise ao isolamento não faz sentido.

"A economia vai mal exatamente por um discurso do governo. Houve muito ruído em comunicação. Isso não foi bom para o país e fez com que a vacinação atrasasse. Esse atraso está na conta do país: aumento da inflação e crescimento da dívida pública", afirma o professor do FGV Ibre.

Por que a inflação está pior no Brasil?

A inflação avançou em todo o mundo, e tem sido particularmente visível no valor da comida. Em setembro, o índice de Preços de Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) registrou alta de 32,8% em comparação com o mesmo mês de 2020. Como noticiou a BBC, estes aumentos decorrem de questões climáticas, que têm prejudicado produções de diferentes países — entre eles o Brasil — e pela alta das commodities (como trigo, café e açúcar).

Por aqui, no entanto, o impacto foi muito maior por causa da desvalorização do real.

"Nossa moeda perdeu valor e como grande parte das matérias-primas são cotadas em dólar, passou a custar mais caro produzir coisas. Isso faz com que a inflação aqui seja maior e mais persistente", afirma Braz.

"A inflação no Brasil acontece pela vulnerabilidade insistentemente buscada pelos nossos dirigentes políticos e econômicos, pela nossa ampla dependência de produtos importados, de todos os tipos", diz Salviatti.

Estamos vendo uma desvalorização muito forte da nossa moeda, desvalorização que não ocorreu em outros países. Outros países estão vivendo, sim, uma inflação mais alta por causa do aumento do preço das matérias-primas [causado pela pandemia]. Aqui, além do aumento do preço dos combustíveis e energia, a gente também teve desvalorização cambial grande."
André Braz, economista do FGV Ibre

Os alimentos acumulam alta de 14,66% em 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com destaque para açúcar (44%), óleo de soja (32%) e carnes (25%).

De acordo com uma pesquisa do FGV Ibre divulgada pelo G1 esta semana, a inflação brasileira deve fechar o ano mais alta do que 83% dos países.

O 'fica em casa' de fato aconteceu no Brasil? Houve lockdown?

O Brasil não teve uma política de isolamento social coordenada pelo governo federal. Ao longo da pandemia, o presidente atacou as medidas de isolamento — comprovadamente eficazes para a contenção da circulação do coronavírus — e repetiu a mentira de que o STF (Supremo Tribunal Federal) o impediu de agir no combate à covid.

Coube aos estados e municípios estabelecerem regras próprias, e poucos locais no Brasil aderiram ao lockdown (isolamento total). Um deles foi a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, que entre fevereiro e março deste ano fechou tudo por 10 dias, com exceção dos de saúde. Supermercados só puderam funcionar em hora restrita.

A grande maioria dos estados optou pelo isolamento parcial, fechando comércio e serviços em horários ou dias específicos para diminuir a circulação de pessoas. Bares e restaurantes foram fechados, lugares públicos tiveram entrada controlada e aulas foram suspensas, mas raramente houve restrição à circulação nas ruas.

Ou seja: com a atual crise, Bolsonaro agora culpa uma medida que foi pouco usada no Brasil em todo o seu alcance e que, se tivesse sido bem utilizada, poderia ajudar na retomada econômica.

Como foi o isolamento nos EUA e na Europa?

Países da Europa como Reino Unido, França, Itália e Portugal aderiram ao lockdown completo durante determinados períodos, com todos os serviços fechados. A implementação foi nacional e tinha algumas exceções, como serviços de saúde e circulação por motivo de urgência ou trabalho.

Após as medidas, todos esses locais — assim como Araraquara, no interior paulista — apresentaram queda nos índices de internação e morte por covid.

Os EUA tiveram experiência semelhante à brasileira, sem política nacional e com poucos locais com isolamento total.

Há quanto tempo países europeus não adotam lockdowns?

Os países europeus que optaram pela política do lockdown o introduziram em um sistema de "abre e fecha". Alguns aplicaram a medida no primeiro semestre do ano passado, na primeira onda; retomaram em meados de outubro, na segunda onda por lá; e mais uma vez no primeiro semestre deste ano, na onda causada pela variante delta.

Desde então, tem havido flexibilização. Alguns exemplos são Portugal, desde março; França, desde maio; e Reino Unido, a partir de junho.

Qual foi os efeitos dessa crise no Brasil?

A crise de 1929 afetou também o Brasil. Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro. Com a crise, a importação deste produto diminuiu muito e os preços do café brasileiro caíram. Para que não houvesse uma desvalorização excessiva, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café.

Qual foi a causa da crise no Brasil?

Muitos dos problemas do Brasil que afetam a economia são de natureza global: interrupções na cadeia de abastecimento mundial, a seca que dizimou as terras agrícolas e os preços mais altos das commodities estão ajudando a alimentar a inflação, que se traduzirá em custos de empréstimos ainda mais elevados.

Como anda a economia do Brasil em 2022?

A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia (SPE/ME) elevou, nesta quinta-feira (15/9), a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 de 2% para 2,7%.

Qual é a situação atual da economia brasileira?

Assim, nossa previsão de crescimento do PIB em 2022 está sendo elevada de 1,8% para 2,8%. Pela ótica da produção, o crescimento no ano deve ser liderado pelos serviços (3,9%) e pela indústria (1,7%), ao passo que a agropecuária deve apresentar recuo (-1,7%) por conta de dados aquém do esperado e revisões de safras.