A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente

A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente
Foto: Getty Images

Quando escrevemos, seja em redações de concurso ou outras situações, devemos tomar cuidado para não cometer alguns deslizes que passam despercebidos na fala. São eles:

1) Compramos vários presentes na 25 de março, pois os preços eram baratos.
Cuidado: Não existe preço “barato” ou “caro”, e sim “baixo”, “alto”, exorbitante”. Por isso, é preferível escrever “[...] pois os preços eram baixos.”

2) Vou trocar meu óculos. Ele está fora de moda.
As palavras “óculos”, “pêsames”, “afazeres” e “núpcias” são usadas só no plural, então é necessário concordar as outras relacionadas a ela: “[...] meus óculos. Eles estão fora de moda.”

3) A banca examinadora favoreceu o candidato que veio de escola pública.
Na frase acima, o verbo “favoreceu” pede a preposição A. Quem favorece, favorece a alguém. Por isso, a frase deve ficar: “A banca examinadora favoreceu ao candidato [...]”.

4) A grosso modo, posso dizer que fui bem na prova de Física.
A expressão “A grosso modo” não existe na língua padrão. Em vez disso, deve ser substituída somente por “Grosso modo”.

5) São redundâncias que devem ser evitadas:
- encarar de frente (se você encara, só pode ser de frente)
- eixo central (o eixo está sempre no centro)
- milagre impossível
- visão panorâmica (“panorâmica” vem do grego, formado por pan, que significa total, completo; e orama, que é visão. Logo, não se justifica empregar “visão panorâmica”)
- prioridade absoluta (se é prioridade, não há necessidade de dizer “absoluta”)
- criar novos empregos (se estamos criando, é natural que sejam novos)

6) Não há qualquer possibilidade de reeleição do reitor.
A frase tem um sentido negativo, portanto, não faz sentido usar a palavra “qualquer”. Ela pode ser substituída por “nenhuma”: “Não há nenhuma possibilidade de reeleição do reitor”

7) O professor não gosta de comentar sobre sua vida particular.
Quem comenta, comenta algo, e não sobre algo. Portanto, o correto é: “O professor não gosta de comentar sua vida particular”.

8) Analisando a situação carcerária do país sob outro prisma.
Atenção: nós olhamos uma situação por outro prisma.

A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente

Chá e Cadernos 100.79
Mauri Paroni

Em meio à infame pletora de mentiras internáuticas, quem for transgressivo na arte haverá de se deparar com análises, dados, raciocínios concretos e abstratos, opiniões, fatos e, principalmente, intuições, que são grossas, quase lugares comuns, o “grosso modo”, como chamo. Chamaria também o grosso modo de alguma coisa óbvia, evidente, que urge ser avaliada criticamente com grande velocidade.

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– Não se faz uma omelete sem quebrar ovos.
– Não se limpa um lugar sem sujar as mãos.
– Aos puros, tudo é puro.
– Aos Impuros, tudo é impuro.

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Que posições na arte tomar quando governar se confunde com causar a morte de pobres e fracos?

Dado o momento em que estamos, lembro chamou-se “Holodomor” uma grande carestia agrícola ocorrida em 1932/33, quando a agricultura produtora de grãos das repúblicas socialistas soviéticas volveram da administração e propriedade privada para a estatal. Sem tocar no aspecto ideológico, mas somente factual: as áreas dessa guerra econômica eram a Ucrânia, o Cáucaso, o Rio Volga, o Cazaquistão e parte dos Urais e da Sibéria.

As informações foram apagadas da historiografia não só pelo regime de Stalin, mas também pelos sucessores até a perestroika e a glasnost, as reformas políticas e econômicas lançadas por Mikhail Gorbachev que puseram fim à União Soviética. Essa fome provavelmente matou muito mais de 4 milhões de pessoas. Um artista, não por acaso um poeta, o ucraniano Ivan Drac, foi quem gritou publicamente esse genocídio durante o destaque mundial do acidente nuclear de Chernobyl. São poucos os estados que reconhecem oficialmente o genocídio.

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Narra-se a atual invasão em curso enquanto modo de defender-se de uma ameaça futura. É uma legítima política de estado; mas um há um imenso conflito de interesses; não pode justificar a morte de fragilizados movida pelos dois lados, ambos liderados de uma classe política contra outra que também quer ser mantida no poder. Narcisistas, Sociopáticos neoliberais, Sociopáticos autocratas de estado, homofóbicos, reacionários, enfim juntos. Trump, família Bozo, Bannon, Maduro, Nixon, para citar alguns similares. Repetição da história, olavismo de sinal invertido. Acostar algo legítimo com algo ilegítimo e promover a justificação do ilegítimo pelo senso comum.

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A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente

Clarice Lispector, escritora brasileira natural da Ucrânia
Foto: Acervo Pessoal/Rocco/Divulgação

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Grosso modo, em sala de ensaio, na calçada, na padaria, nos bares, nos jantares, em tudo quanto é lugar, vê-se pessoas de cabeça inclinada em reverência a um objeto de tela. Que aparentemente as liga a outras pessoas. Só que… não liga, faz o contrário: opera por parcas imagens, por realidades fátuas, por ideias consistentes acostadas a idéias fajutas.

Grosso modo: Há que se ver, sim, o que é evidente, o que é intuitivo, e isso o artista o pode fazer com a legitimidade de sua luta, de sua história, de sua existência.

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Um ótimo exemplo disso: Hamlet. Não seria uma tragédia contra o destino, mas tratava-se do humano numa dialética humana: O Príncipe Hamlet chegou a investir pessoalmente contra a Rainha, sua mãe; era um drama eminentemente existencial representado diante do master of the revels, o representante do poder político da Coroa. Ou seja: uma espada no pescoço do autor – muitas vezes usada.

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Outros tempos: para quebrar a tentação de sugerir na teoria e deixar a ação ao léu, com o risco de errar, perambulo no whats app para aumentar a qualidade da informação, exatamente de onde temo esteja a maior fonte de erro. Publico, pois, diretamente, duas intervenções recebidas enquanto pensava este artigo.

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“[16:54, 01/03/2022] Francisco de Araújo(*): sei que ‘holodomor” é um vocábulo que reúne a palavra eslava/russa para fome: голод (gólod) e -mor, que é latino, para morte. Em russo se pronuncia: golodomor; em ucraniano holodomor, com H arrastado como o inglês.”

A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente

Corpo em Kharkiv, 1932
Alexander Wienerberger – Arquivo Diocesano de Viena (Diözesanarchiv Wien)/BA Innitzer

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“[18:38, 01/03/2022] Mario Chimanovitch (**):
[encaminhada]

“O PROFÉTICO SHOSTAKOVICH

Em 1962 Shostakovich concluiu sua 13a. Sinfonia que recebeu o nome de Babi-Yar, pois em seu primeiro movimento o poema homônimo de Ievguêni Ievtushenko refere-se à tragédia de Babi-Yar em um profundo lamento e ao mesmo tempo protesto contra o antissemitismo que permeou muitas décadas na União Soviética, tendo o seu ponto culminante na então recém descoberta de que o abandono de Babi-Yar às tropas nazistas foi por deliberação de Stálin, orientado pelo fato de lá ter havido uma expressiva comunidade judaica, que junto a russos e ucranianos foi massacrada em um dos mais sangrentos episódios da II Guerra Mundial.

No segundo movimento da sinfonia é entoado outro poema de Ievtushênko, “Humor”, que casou perfeitamente com a tradição de partes sarcásticas na música de Shostakovich, audível em tantas obras, cuidadosamente enxertadas e muitas vezes com profunda sutileza. Nesta obra e parte, nenhuma sutileza foi utilizada, sendo a música deste movimento quase circense.

Já nos momentos iniciais dedicados ao solista (Baixo ou barítono profundo), ouvimos:

“Tsars, reis, imperadores, soberanos do mundo inteiro, comandaram paradas, mas ao humor, não puderam”.

Seguem-se referências a Esopo, ao humorista árabe Hadj Nasr-ed-Din e tantas outras tentativas de comprar ou exterminar o humor, que mesmo quando subjugado à execução desembaraça-se de seu casaco e dá um “tchauzinho” com a mão. Na tradução e escrita de Lauro Machado Coelho em sua obra “Shostakovich: Vida, Música, Tempo”: “Não adianta jogar o humor em um calabouço, pois nem o diabo consegue manter ali quem é capaz de passar através das grades ou das muralhas, sem se importar com o mau-olhado dos outros”

“E por isso, viva o humor! Ele é um carinha corajoso”, termina o coro, em alto e bom som.

Quem não conhece a obra, é sempre tempo de admirar esse monumento da humanidade. Sugiro as gravações de Marris Jansons (regente de formação russa, a meu ver a melhor desta obra) e Bernard Haitink, também muito sensível no trato com a dramaticidade.

Em um tempo em que só o humor nos permite sobreviver à barbárie bolsonarista que nos assola, a Shostakovich parece ter profetizado o presente momento, onde um humorista ucraniano põe (pelo menos politicamente) um tirano russo de joelhos.

NELSON NISENBAUM” (***)

A grosso modo pode ser o mesmo que atualmente

Šostakovič aos 13 anos num desenho do pintor Boris Kustodiev

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Grosso modo, neste nosso tempo, pela pandemia convivemos peripatéticos na internet, manifestam-se guerras de contornos complexos, mas precisos e reais. Centenas de milhares de mortos, silenciosos, pobres, escravizados, indefesos, asfixiados, sobretudo sem voz. Escolher e manifestar uma posição. Errar em experimentos tem, sim, sentido: com eles, aprende-se a viver sem “estarmos prontos”, temos essa irrepetível oportunidade.

Grosso modo, este nosso tempo urge e exige, agora, aqui, nesta semana, posição existencialmente manifesta.

Grosso modo, nos seja criticado para que possa afirmá-la na arte da transgressão que vira tradição formal e ética.

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(*)Tradutor do Russo
(**) Jornalista, correspondente internacional e escritor.
(***) Médico Clínico Geral

Como usar a expressão a grosso modo?

1) Grosso modo é uma locução latina, que significa aproximadamente, de um modo geral, de um modo grosseiro, por alto, resumidamente. Ex.: "Apreciando o caso grosso modo, já se vê que o autor não tem razão".

Qual é o sinônimo da palavra Grosso?

Espesso: 1 compacto, consistente, duro, denso, encorpado, sólido, espesso, pesado, maciço, opaco, condensado. Grosseiro: 2 bronco, boçal, brutamontes, bruto, cavalgadura, cavalo, descortês, deseducado, estúpido, grosseirão, grosseiro, impolido, incivil, indelicado, inurbano, mal-educado, obtuso, rude, tosco, xucro.

Qual é o correto dizer?

Dizer é a forma do verbo no infinitivo impessoal. Muitos falantes fazem confusão entre estas duas palavras, utilizando a forma no infinitivo impessoal dizer em vez da forma no futuro do subjuntivo disser.

O que quer dizer a expressão curto é grosso?

1. Curto e grosso. Expressão popular que designa uma pessoa rápida e objetiva; que diz as coisas sem rodeios.