As condições de produção dos gêneros discursivos estão relacionadas

O filósofo moderno Francis Bacon, pela teoria dos ídolos, inovou ao cobrar um posicionamento que fugisse do antigo tomismo aristotélico predominante na filosofia moderna e ao cobrar uma posição mais científica e menos metafísica dos estudos filosóficos. Assista à nossa aula para entender melhor!

Na língua culta, o complemento do verbo “chegar” é regido pela preposição “a”, mas, coloquialmente, ainda é comum o emprego de “em”. Nesta videoaula, analisaremos a regência mais adequada desse verbo de acordo com diversas situações comunicativas.

Neste artigo vamos refletir a respeito do trabalho com os gêneros discursivos na sala de aula e de que maneira os professores de línguas podem auxiliar seus alunos a desenvolverem diversas habilidades linguísticas a partir do contato com os diversos gêneros discursivos.

Podemos dizer que o trabalho com os gêneros discursivos na sala de aula não é uma prática recente, embora muitas escolas e professores ainda encontrem algumas dificuldades de colocá-lo em prática. Quando dissemos que não é recente, deve-se ao fato de que os gêneros discursivos são a base do ensino de língua materna em diversos países europeus, asiáticos e norte-americanos.

No Brasil, a orientação para o ensino de línguas a partir dos gêneros discursivos data da década de noventa, com a publicação de alguns documentos oficiais da educação no Brasil, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Como sabemos, esses documentos orientam as práticas e estratégias de ensino de línguas no país. Nos PCNs, encontramos algumas justificativas para a orientação quanto ao trabalho com os gêneros discursivos:

Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam (BRASIL, 1998, p. 21).

Dessa forma, é relevante que os profissionais da área interessem-se e leiam a respeito do arcabouço teórico que orienta suas práticas de ensino de línguas em sala de aula, sobretudo no que se refere às concepções de Mikhail Bakhtin a respeito da organização de nosso discurso por meio dos gêneros discursivos. Pensando nisso, para que possamos discutir a respeito de como elaborar estratégias de ensino a partir dos gêneros discursivos na sala de aula, vamos ler o que diz Bakhtin a respeito dos gêneros discursivos.

Gêneros discursivos na visão de Mikhail Bakhtin

Bakhtin é um estudioso russo proponente desse viés filosófico sobre a linguagem, o qual postula que, no momento da interação, oral ou escrita, os sujeitos recorrem a determinados gêneros discursivos. Essas escolhas estão intrinsecamente associadas às necessidades dos falantes/escritores. Isso significa que os gêneros discursivos são determinados pela esfera discursiva e estão presentes em toda atividade comunicativa humana.

Bakhtin classifica os gêneros discursivos como primários e secundários. Os primários são os mais simples, relacionados, sobretudo, com o campo da oralidade, como o diálogo, o qual é considerado a forma mais clássica de comunicação, conferindo importância singular às ideologias cotidianas. Já os secundários são os mais complexos, como o romance, o conto, a crônica, o artigo de opinião, os manuais de instrução, os textos científicos, oficiais, publicitários, a Redação escolar, entre outros.

Como não são uma forma fixa de manifestação da língua, os gêneros discursivos são definidos por Bakhtin, em sua obra “Estética da Criação Verbal” (1997), como tipos relativamente estáveis de enunciados, compostos por conteúdo temático, estilo e construção composicional. Essa relativa estabilidade de que fala o estudioso significa que não existe um modelo imutável de texto, uma estrutura predeterminada e canônica; pelo contrário, os gêneros discursivos são tipos relativamente estáveis de enunciados justamente porque eles constantemente evoluem para atender às necessidades imediatas dos sujeitos em qualquer situação comunicativa, como é o caso da carta e do e-mail.

Conhecendo esses conceitos, os professores de línguas devem trabalhar com os mais variados gêneros discursivos em sala de aula para que os alunos conheçam um repertório diversificado de textos, suas condições de produção e suportes de circulação na sociedade.

Gêneros discursivos no ensino de línguas

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Para que possamos trabalhar de maneira eficiente com os gêneros discursivos no ensino de línguas em sala de aula, é necessário ressaltarmos que, além de propiciar o contato dos alunos com os mais variados gêneros discursivos, o professor deve compreender que não é preciso fazer com que os alunos assimilem ou até mesmo decorem quais são as características ou estrutura de cada gênero discursivo individualmente (até porque existem algumas centenas deles).

Como os gêneros discursivos são tipos relativamente estáveis de enunciados, não é eficiente que professor prescreva uma receita de como desenvolver um artigo de opinião ou um conto, por exemplo. Existem diversas formas de redigir um artigo de opinião, o que vai determinar seu estilo é, sobretudo, o suporte de circulação desse texto, se em uma revista sobre política e economia ou uma revista sobre moda e cosméticos, por exemplo.

Dessa forma, elaboramos uma sugestão de como trabalhar com os gêneros discursivos em sala de aula sem reproduzir modelos, mas, sim, pela compreensão dos efeitos de sentido causados pelo uso de um gênero discursivo em detrimento de outro, em cada contexto específico.

Sugestão de trabalho com os gêneros discursivos em sala de aula

1) Professor, leia com os alunos o poema “Um Beijo”, do poeta parnasiano Olavo Bilac:

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,

Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,

E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante

Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,

Na perpétua saudade de um minuto...

(BILAC, Olavo. Poesias. 1888)

2) Em seguida, leia com os alunos o poema “Poema tirado de uma notícia de jornal”, do poeta modernista Manuel Bandeira:

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número

Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro

Bebeu

Cantou

Dançou

Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.)

3) Reflita com os alunos sobre o fato de os dois textos pertencerem ao gênero poema, mas serem diferentes tanto na forma quanto no conteúdo. No caso do segundo poema, o de Manuel Bandeira, é possível destacar ainda que há um hibridismo de gêneros no texto, o poema e a notícia (gêneros que, inclusive, são bastante distintos na sua forma de organização, já que um é escrito em prosa – a notícia – e o outro é escrito em versos – o poema).

4) Agora peça para que os alunos desenvolvam dois textos, de gêneros discursivos distintos, abordando o mesmo assunto/tema. O assunto pode ser sugerido pelo professor ou ficar a critério dos alunos. Após a escrita dos textos, peça para que os alunos comentem sobre os efeitos de sentido causados pelos textos de gêneros discursivos distintos para tratarem do mesmo assunto. Bom trabalho!


Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo

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