Caminhando juntos: manual das habilidades básicas de orientação e mobilidade

Por: João Álvaro de Moraes Felippe*

A orientação e a mobilidade estão presentes na vida de todos nós. A orientação é a capacidade de perceber o ambiente, saber onde estamos. A mobilidade é a capacidade de nos movimentar. A visão, normalmente, é o sentido que mais diretamente colabora para a nossa orientação e mobilidade.

Orientação e mobilidade

A ‘Orientação’ para a pessoa com deficiência visual é o aprendizado no uso dos sentidos para obter informações do ambiente: saber onde está, para onde quer ir e como fazer para chegar ao lugar desejado. A pessoa para se orientar pode usar a audição, o tato, a cinestesia (percepção dos seus movimentos corporais), o olfato e a visão residual, quando for o caso.

A ‘Mobilidade’ para a pessoa com deficiência visual é o aprendizado para o controle dos movimentos corporais de forma organizada, segura e eficaz. Esse processo de aprendizagem pode ocorrer de forma espontânea para algumas pessoas. Outras necessitam da intervenção específica por meio de um programa de Orientação e Mobilidade (OM).

Bengala branca

Caminhando juntos: manual das habilidades básicas de orientação e mobilidade
Orientação e Mobilidade: recursos garantem segurança para pessoas cegas (Foto: Divulgação)

Já nos primórdios da humanidade espontaneamente algumas pessoas com deficiência visual passaram a usar alguma ‘bengala’ para se locomover: cajado, bastão, vara de bambu, galho de árvore…

No século passado foi institucionalizada a ‘bengala branca’ como um símbolo da cegueira, porém a primeira forma sistematizada e eficaz para a locomoção das pessoas cegas foi o cão-guia. O primeiro projeto bem-sucedido ocorreu na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Em 1916 o doutor Gehard Stalling criou a primeira escola para treinamento de cães-guia com o objetivo de atender combatentes alemães atingidos pela cegueira.

Entretanto nem todos puderam ser beneficiados por essa forma de locomoção no mundo todo. Mais uma tragédia humana aconteceu e quase no final da Segunda Grande Guerra, os programas de reabilitação nos Estados Unidos passaram a se deparar com um enorme contingente de veteranos de guerra vítimas das mais diversas lesões. Muitos adquiriram a condição da deficiência visual e um grande desafio passou a ser a locomoção independente.

Então, em 1944, criaram-se as técnicas com a bengala longa, que resultaram em um novo conceito: Orientação e Mobilidade.

O mérito inicial foi do tenente e oftalmologista doutor Richard Hoover por sua perspicácia, estudo e liderança na modificação do comprimento da bengala e no uso das técnicas. Na sequência, muito se deve a Warren Bledsoe pelo seu ativismo na desconstrução de burocracias e na reformulação de políticas públicas nos programas de reabilitação. Por fim, e muito significativo, foi o protagonismo de Russ Williams, soldado cego que teve papel fundamental na disseminação dessas novas técnicas entre as pessoas com deficiência visual nos Estados Unidos. Foi uma simples, nova e mais democrática possibilidade que se expandiu pelo mundo.

Orientação e mobilidade no Brasil

A ‘Orientação e Mobilidade’ chegou ao Brasil no fim da década de 1950. Ela foi adquirindo uma fundamentação teórica bastante consistente e lastreada por estudos acadêmicos. Todavia o mais significativo foi a evidência prática confirmada pelas próprias pessoas com deficiência visual, que tiveram a oportunidade de participação integral em um programa devidamente estruturado. Mesmo assim ainda é uma área pouco conhecida e reconhecida pela sociedade.

O programa de OM envolve: o desenvolvimento dos requisitos básicos relacionados ao domínio cognitivo, psicossocial e psicomotor desde a criança na primeira infância até a pessoa idosa; o treinamento dos sentidos para identificação de pontos de referência e pistas ambientais; as habilidades básicas quanto as técnicas com a utilização do guia vidente, técnicas de autoproteção e técnicas com a bengala longa; o desenvolvimento da orientação para melhor interação física e social com os ambientes; a locomoção em áreas residenciais, áreas mistas de pequeno comércio, áreas comerciais centrais e em áreas ou ambientes específicos; as vivências especiais envolvendo inclusive a utilização dos transportes públicos coletivos e individuais. Esse programa é básico e fundamental para o melhor aproveitamento das outras formas de locomoção: a própria utilização do cão-guia e o uso de ajudas eletrônicas mais sofisticadas.

A expectativa para esse breve texto é informar um pouco mais sobre essa área de fundamental importância na educação especial, habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência visual. A ‘Orientação e Mobilidade’ pode ajudar na conquista da autonomia e é um dos caminhos para a independência. Quanto mais pessoas conhecerem condutas e procedimentos adequados em relação a OM, mais naturalidade teremos no convívio com as pessoas cegas e com baixa visão. É desta forma que compreendemos e contribuímos para o processo de transformação e inclusão social. 

Você pode saber mais no vídeo Caminhando juntos, um especial sobre orientação e mobilidade!

Caminhando juntos: manual das habilidades básicas de orientação e mobilidade
Foto: Divulgação

*João Álvaro de Moraes Felippe é especialista em Orientação e Mobilidade da Laramara

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Referências Bibliográficas:

. Felippe, J.A.M. e Felippe, V.L.L.R. Orientação e Mobilidade São Paulo: Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, 1997.

. Felippe, J.A.M. Caminhando Juntos – Manual das habilidades básicas de Orientação e Mobilidade São Paulo: Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, 2001.

. MEC – Ministério da Educação e Cultura Seminário Ibero-Americano de Comunicação e Mobilidade Anais… São Paulo: Fundação para o Livro do Cego no Brasil, 1972.

. Welsh, R.L., Blash, B.B. and Wiener, W. i Alteri Foundations of Orientation and Mobility New York: American Foundation for the Blind, 2010.

Caminhando juntos: manual das habilidades básicas de orientação e mobilidade

Juliana Reishttps://www.portalacesse.com/

Jornalista, com mais de 10 anos de experiência em projetos editoriais no segmento de inclusão. Editora do Portal Acesse e co-fundadora da Ludik, agência de comunicação especializada em soluções inteligentes para auxiliar a rotina de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.

Quais as técnicas utilizadas em orientação e mobilidade?

Orientação e mobilidade.
1 - Posicionamento básico. Podemos pensar em recursos para locomoção da pessoa com deficiência visual. ... .
2 - Troca de lado. ... .
3 - Passagem estreita. ... .
4 - Subir e descer escadas. ... .
5 - Passagem por portas. ... .
6 - Sentar-se..

O que são técnicas de orientação e mobilidade?

São técnicas utilizadas pelo aluno, onde o mesmo usa apenas seu corpo como recurso de proteção e segurança. Entre elas temos: Proteção superior, proteção inferior, rastreamento com a mão, enquadramento, tomada de direção, método de pesquisa.

Como é feita a orientação para mobilidade de pessoas com deficiência visual?

Na orientação existem referenciais que facilitam a mobilidade da pessoa deficiente visual: pontos de referência, pistas, medição, pontos cardeais, auto-familiarização e "leitura de rotas".

Qual a forma correta de conduzir um cego?

Dicas para lidar com deficientes visuais:.
Ao se deparar com um deficiente visual, prontifique-se para ajudar, mas aja o mais natural possível. ... .
Nunca puxe um deficiente visual pelo braço ou toque na pessoa sem permissão. ... .
Identifique-se! ... .
Tome cuidado com objetos que possam estar no caminho e ofereçam algum risco..