Há uns seis meses falo com meus superiores sobre a minha insatisfação no setor. Atuo como secretária, mesmo não tendo expertise para isso. Deparo-me com alunos ora agressivos ora desinteressados. Reclamo do que faço e deixo as pessoas ao meu redor tristes e preocupadas. Culpo-me por pensar que essas demandas "a mais" são decorrentes de minha falha profissional por não ter uma visão holística desse setor. Contudo, esses pensamentos "entrelaçados" abrem uma fissura para que eu duvide de mim, do meu desempenho. Esse setor requer habilidade social e disposição para falar com o público e com outros superiores hierárquicos. Eu tenho consciência no que sou boa e no que não sou, por exemplo, sou capaz de ficar horas em frente ao computador executando tarefas previamente ensinadas mas sinto-me mal quando me deparo com uma situação em que não consigo dizer não ou que digo não para as chefias, por exemplo, quando me recuso a ficar fora do meu horário. Trabalho sozinha e preciso tomar decisão por conta própria, o que me assusta. Tenho medo de errar e ter minha carreira atrelada a um erro. Todos sabem do meu desejo de mudar de setor, mas não posso solicitar exoneração por questões financeiras. Será que devo pedir para sair antes que meu quadro emocional piore?
Secretária, 28 anos
A maioria dos profissionais já passou por momentos de incômodo na carreira. É natural e muito importante refletir sobre o que não nos satisfaz. No entanto, permitir que a mente entre em um círculo vicioso de lamentações e irritabilidade, só faz com que tudo se torne mais desafiador, não é mesmo? Além disso, com esse comportamento, suas relações pessoais e profissionais também são afetadas. Todo mundo passa por desafios é muito bom poder contar com amigos para desabafar. Mas, como você se sente ao encontrar uma amiga que está sempre reclamando das mesmas coisas? É bom estar perto de pessoas assim?
Sentir-se isolada não vai te ajudar nesse momento, inclusive, pode piorar o seu estado emocional. Então vamos lá: fale sobre seus problemas apenas com pessoas de confiança. Não exponha suas questões com colegas de trabalho que não sejam, realmente, amigos. De preferência, nunca fale mal da empresa e da gestão para ninguém do trabalho. Além de não resolver seu problema, é provável que em algum momento sua reputação seja ferida e os líderes da empresa percam a confiança em você.
Perceba se essa angústia é apenas em relação ao trabalho, ou também com outras questões da sua vida pessoal. Caso identifique a falta de realização em outros setores da sua vida, é válido buscar apoio psicoterapêutico – inclusive, vai lhe ajudar a compreender a sua dificuldade em dizer não. Durante a pandemia, muitos psicólogos estão oferecendo atendimentos por valores acessíveis e o sistema público de saúde também disponibiliza psicólogos do SUS, caso você não tenha verba para isso no momento. Não deixe essa angústia acumular ainda mais a ponto de te impedir de sentir prazer na vida. O momento que estamos vivendo, acentuou as inseguranças dos profissionais e tem sido muito comum a necessidade de apoio psicológico. Cuide bem de você, ok?
Você relata já ter deixado claro aos gestores sua vontade de mudar de função e, mesmo, assim não conseguiu um reajuste no trabalho. Porém, ficou claro o por quê não te mudaram de setor? Pesquise com eles quais são as justificativas.Também entenda, junto aos gestores, como eles podem estar mais próximos a você, oferecendo treinamentos e apoio, de forma que você possa realizar suas funções com mais facilidade.
Você também diz saber no que é boa e no que precisa melhorar. Porém, é muito importante contar com visões externas à nossa. Peça feedbacks aos seus gestores e colegas de trabalho sobre seu desempenho profissional. Peça que listem suas qualidades e também quais são as habilidades que você precisa desenvolver. Importante, não receba esses feedbacks de forma pessoal, se magoando.
Pelo bem da sua carreira e estado emocional, escute com profissionalismo. Entendendo que essas visões são uma ótima oportunidade para guiar o seu desenvolvimento não só na empresa atual, mas ao longo de toda a sua carreira. Caso você não goste da carreira que exerce, você já sabe em qual área gostaria de investir o seu futuro profissional? Um consultor de carreira pode te ajudar nessa questão.
Busque encontrar o seu sonho de carreira e monte um plano de ações para que isso aconteça. Qualquer transição profissional exige muita calma, planejamento, organização e força de vontade para agir. O momento não é o ideal para demissões. O mercado está economicamente instável e uma recolocação profissional no cenário é atual é possível, está mais desafiadora do que antes. Lidar com problemas financeiros não vai te ajudar também, não é mesmo?
Então, busque dialogar (não reclamar) com seus gestores, conte com acompanhamento psicoterapêutico, trace um plano de carreira e vá em direção ao que você busca. Se você perceber que está se movimentando para mudanças a longo prazo, será mais fácil lidar com a realidade do trabalho atual, até que as ações se concretizem em uma mudança mais significativa.
Calma, organização e foco! Vai dar certo. Boa sorte.
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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.