Como podemos classificar a obra do conhecido como Boca do Inferno?

A Linguagem do Barroco é provocadora e rebelde. Ela retrata a inquietação, a inconformidade do homem e o seu conflito do corpo e da alma, da razão e da fé (dualismo e contradição).

Isso tudo em virtude do contexto histórico em que se insere, especialmente ao Renascimento e à Contrarreforma.

As figuras de linguagem são particularmente exploradas na escola literária do Barroco, que predominou no século XVII.

O Mote do Barroco

O mote do Barroco é precisamente a antítese "vida e morte" e, por extensão, a brevidade da sua existência.

Assim, nesse período o homem questiona a fé em detrimento dos prazeres da vida, bem como se interpela com relação à instabilidade e à inconstância.

A premissa do carpe diem - expressão latina cujo sentido literal é “aproveitar o dia” - é muito utilizada nesse período. Ela significa que cada momento da vida deve ser desfrutado.

Tendências do Barroco

As duas tendências que predominaram nesse movimento literário foram:

  • Cultismo - É o chamado "jogo de palavras". Nele está presente o formalismo e o vocabulário rebuscado, bem como o emprego frequente das figuras de linguagem.
  • Conceptismo - É o chamado "jogo de ideias". Nele está presente o raciocínio e o pensamento lógico.

Saiba mais sobre o Cultismo e o Conceptismo.

Figuras de Linguagem

Dentre os recursos mais utilizados pelos autores do Barroco, se destacam as seguintes figuras de linguagem:

Antítese

Foi o recurso mais utilizado no Barroco por meio da utilização de conceitos opostos.

Exemplo:

“de vossa alta clemência me despido;
Se basta a vos irar tanto um pecado”
(Gregório de Matos)

Antítese presente: clemência x irar

Paradoxo

Utilização de expressões contraditórias ou absurdas.

Exemplo:

“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado”
(Gregório de Matos)

Hipérbole

Utilização de expressões exageradas.

Exemplo:

“Romperam-se enfim as cataratas do céu”
(Padre Antônio Vieira)

Hipérbole presente: cataratas do céu.

Metáfora

Utilização de palavras ou expressões análogas.

Exemplo:

“Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada”
(Gregório de Matos)

Metáfora presente: ovelha desgarrada = pecador

Anacoluto

Ruptura na ordem lógica da frase.

Exemplo:

“As Délficas irmãs chamar não quero”
(Bento Teixeira)

Barroco no Brasil

A poesia de Gregório de Matos (1633-1695) foi a principal expressão do Barroco no Brasil. Ele ficou conhecido como “Boca de Inferno” em decorrência da sua forma satírica de se expressar, criticamente e sem receio.

Para compreender melhor a linguagem do cultismo e o conteúdo utilizado por ele, confira abaixo um exemplo:

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Barroco em Portugal

Padre Antônio Vieira (1608-1697) foi um grande orador e o principal escritor do barroco português.

Segue abaixo um trecho do "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda" em estilo conceptista:

“Esta é, Todo-Poderoso e Todo-Misericordioso Deus, esta é a traça de que usou para render vossa piedade, quem tanto se conformava com vosso coração. E desta usarei eu também hoje, pois o estado em que nos vemos, mais é o mesmo que semelhante. Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os homens; mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas vozes: a vosso peito divino se há de dirigir todo o sermão. É este o último de quinze dias contínuos, em que todas as igrejas desta Metrópole, a esse mesmo trono de vossa patente Majestade, têm representado suas deprecações; e, pois, o dia é o último, justo será que nele se acuda tão bem ao último e único remédio. Todos estes dias se cansaram debalde os oradores evangélicos em pregar penitência aos 3 homens; e, pois, eles se não converteram, quero eu, Senhor, converter-vos a vós. Tão presumido venho da vossa misericórdia, Deus meu, que ainda que nós somos os pecadores, vós haveis de ser o arrependido.”

Leia mais sobre esse movimento:

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  • Características do Barroco
  • Sermão da Sexagésima de Padre Antônio Vieira
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Como podemos classificar a obra do conhecido como Boca do Inferno?

Márcia Fernandes

Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).

Porque ele era conhecido como Boca do Inferno?

Apelido "Boca do Inferno" Em 1681, Gregório de Matos estava de volta a Salvador como procurador da cidade, junto à Corte portuguesa. Levava uma vida boêmia e escrevia versos e sátiras gozando de todos, sem poupar as autoridades civis e eclesiásticas da Bahia, recebendo o apelido de “Boca do inferno”.

O que diz o texto a Boca do Inferno?

Gregório de Matos Guerra, poeta barroco, era conhecido como o “Boca do Inferno” pelos poemas satíricos que publicava com críticas ferrenhas aos líderes, aos políticos, religiosos e intelectuais da Bahia, repletas de ofensas e palavrões. Peças desse tipo renderam-lhe a fama e imagem de poeta libertino e revoltado.

Quem é conhecido como Boca de Inferno?

Gregório de Matos foi um dos maiores poetas brasileiros do período do Barroco. Além de poeta, Gregório foi advogado durante o período colonial. É conhecido como o “Boca do Inferno”, sendo famoso por seus sonetos satíricos, donde ataca, muitas vezes, a sociedade baiana da época.

Qual o contexto histórico retratado na Boca do Inferno?

Boca do Inferno se passa no século XVII (1863), na Bahia colonial, durante o governo tirânico do militar Antônio de Souza de Menezes, apelidado de Braço de Prata, por usar uma peça deste metal no lugar do braço (perdido numa batalha naval contra os invasores holandeses). A ação se passa em Salvador.