O QUE SE DÁ A LER A QUEM DIZEM QUE NÃO LÊ: AS CONCEPÇÕES DE LEITURA/LEITOR E OS CRITÉRIOS NA ESCOLHA DE LIVROS PARA AS CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS Eliane Santana Dias Debus - UFSC e UNISUL Meditar com pedantismo sobre a produção de objetos – cartazes ilustrados, brinquedos ou livros – que devem servir às crianças é estúpido. Desde o iluminismo isto constitui uma das mais rançosas especulações dos pedagogos. A sua obsessão pela
psicologia impede-os de perceber que a terra esta repleta dos mais incomparáveis objetos da atenção e da ação das crianças. As palavras de Walter Benjamin parecem ainda muito vivas e trazem à tona a sempre discutida temática dos critérios de seleção de livros para crianças e a influência da psicologia nesse setor. Os estudiosos e os critérios de seleção nos livros infantis Exemplo recente está nos critérios adotados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para selecionar os 106 títulos de Literatura Infantil e Juvenil que fariam parte do acervo de 36.000 escolas públicas das primeiras séries do Ensino Fundamental através do Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE) – 1999. O princípio norteador da seleção apoiou-se em estudos anteriores da FNLIJ, que abarcavam o período de 1964
a 1978, contemplando as diferentes fases do crescimento da criança e os diferentes níveis de leitura e interesse – a sucessividade das fases leva ao amadurecimento do leitor, eis a lei que rege esses critérios. O quadro correspondente ao estatuto leitor e ao tipo de leitura é o seguinte: pré-leitor – fase de conhecimento do mundo circundante; leitor-iniciante – projeção da criança no mundo; leitor com alguma habilidade de leitura – identificação com pessoas e coisas; leitor fluente – formação de
uma atitude crítica e de um pensamento reflexivo. Os catálogos editoriais As empresas editoriais brasileiras, em especial aquelas que trabalham com uma linha editorial voltada para o público infantil e juvenil, utilizam-se da
mediação dos catálogos na divulgação de suas obras. Os catálogos editoriais cumprem o papel de comunicar aos professores o conjunto de publicações da editora. A expansão dessa indústria cultural levou os produtores a desenvolverem uma infinidade de estratégias que buscam validar a importância da escolha e adoção de determinada obra e, em contrapartida, orientar o professor sobre a sua utilização. A criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio da escuta da leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e cada uma das palavras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura. É de grande importância o acesso, por meio da leitura do professor, a diversos tipos de materiais escritos, uma vez que isso possibilita às crianças o contato com práticas culturais mediadas pela leitura. A análise dos catálogos permite verificar que o mercado editorial visa a um público leitor específico, aquele que domina o código escrito, não contemplando o professor como mediador, já que restringe a leitura das crianças de 0 a 6 anos a poucos títulos. Porém algumas transformações vêm ocorrendo, mesmo que lentamente, apontando para uma flexibilidade e multiplicidade de títulos e temas para as crianças pequenas, a fim de que
elas não fiquem circunscritas a um mundo de imagens e letras garrafais. Se (...) entendemos que a leitura é mais que decodificação, podemos assumir sem medo que a criança é capaz de ler mais do que esses textos de frase, de palavras soltas, de letras grandes. A criança lê, sobretudo com os ouvidos. É no momento em que o professor, intermediando com sua leitura de adulto a leitura da criança, faz com que ela se insira num universo discursivo denso, que ele certamente estará contribuindo para sua formação intelectual e sua visão de mundo. Fica explícito que o leitor do código lingüístico e escolarizado é o público-alvo do mercado editorial. Não compreendendo o professor que atua com crianças pequenas como mediador; sacraliza-se um tipo de texto ideal para esse leitor: muita imagem e
pouco texto. Em contrapartida, define-se uma visão escolarizada dos catálogos que expulsa o leitor em formação do território literário. REFERÊNCIAS BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o Hábito da Leitura. trad. Octávio M. Cajado. 5.ed. São Paulo: Ática, 1991. BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. Trad. Marcus Vinicius Mazzari. São Paulo: Summus, 1984. BRITTO, Luiz Percival Leme. A criança não é tola. In: PAULINO, Graça (Org.). O jogo do livro infantil: textos selecionados para formação de professores. Belo Horizonte: Dimensão, 1997. CASASANTA, Therezinha. Livros cedo ou nunca.AMAE Educando. Setembro 1991, 222.9. COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Ática, 1993. CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática. 13.ed. São Paulo: Ática. DEBUS, Eliane Santana Dias. Uni...duni...tê, minha mãe
mandou escolher esse aqui! A mediação dos catálogos editoriais. XI ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. 26 a 29 de maio/2002. _____. Os critérios de seleção na escolha dos livros para as crianças da Educação Infantil. XII ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. agosto/2004. Paraná/Curitiba. _____. A leitura literária na Educação Infantil: Festaria de Brincança In: I Encontro Internacional, 2003, JOBIM E SOUZA, Solange. Re-significando a psicologia do desenvolvimento: uma contribuição crítica a pesquisa da infância. In: Kramer, Sônia; LEITE, Maria Isabel. Fios e desafios da pesquisa. Campinas/SP: Papirus, 1997. KAERCHER, Gládis E. E por falar em literatura... In: CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis E. (org.) Educação infantil: para que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1994. PONDÉ, A Arte de Fazer Artes. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental Brasília: MEC/SEF, 1998. SILVA, Maria Betty Coelho. Contar Histórias: Uma Arte sem Idade. 4.ed. São Paulo, Ática, 1991. VYGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. http://www.fnlij.org.br. Como se caracteriza a fase do leitor iniciante a partir dos 6 7 anos?O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos) é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Como se caracteriza a fase do leitor iniciante?Leitor iniciante: é comum a partir dos 6/7 anos de idade, sendo a fase em que a criança começa a se apropriar da decodificação dos símbolos gráficos. Como está no início desse processo, o adulto precisa assumir um papel de "agente estimulador". Recomenda-se livros com linguagem simples e que tenham começo, meio e fim.
O que e o leitor iniciante?LEITOR INICIANTE
Leitores iniciantes são aqueles que ainda gastam muito tempo no processo de decodificação das palavras, o que compromete sua compreensão do que leram.
Quais são as fases do leitor?O processo de leitura é dividido em 4 fases: decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Confira como e quando ocorre cada uma dessas fases: Decodificação.
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