Como se dá a relação do indivíduo com a sociedade segundo Durkheim?

Neste texto, através de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, examinaremos as diferentes perspectivas adotadas por esses para analisar o processo de constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos se relacionam

Estes texto foi copiado de uma apostila de sociologia do Professor de sociologia Stélio Nunes Rocha do dia 18/05/2010.

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Entre os estudiosos que se preocuparam em analisar a relação do indivíduo com a sociedade, destacam-se autores clássicos da Sociologia, como Karl Marx, Émile Durkheim, Max Weber, Nobert Elias e Pierre Bourdieu. Neste texto examinaremos as diferentes perspectivas adotadas por esses assuntos para analisar o processo de constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos se relacionavam.

Karl Marx: os indivíduos e as classes sociais

Para o alemão Karl Marx (1818 — 1883), os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto de suas condições e situações sociais, já que produzem sua existência em grupo. O homem primitivo, segundo ele, diferenciava-se dos outros animais não apenas pelas características biológicas, mas também por aquilo que realizavam no espaço e na época em que vivia. Caçando, defendendo-se e criando instrumentos, os indivíduos construíram sua história e sua existência de grupo social.

Ainda segundo Marx, o indivíduo isolado só apareceu efetivamente na sociedade de livre concorrência, ou seja, no momento em que as condições históricas criaram os princípios da sociedade capitalista. Tomemos um exemplo simples dessa sociedade. Quando um operário é aceito numa empresa, assina um contrato do qual consta que deve tantas horas por dia e por semana e que tem determinados deveres e direitos, além de um salário mensal. Nesse exemplo, existem dois indivíduos se relacionando: o operário, que vende sua força de trabalho, e o empresário, que compra essa força de trabalho. Aparentemente se trata de um contrato de compra e venda entre iguais. Mas só aparentemente, pois o “vendedor” não escolhe onde nem como vai trabalhar. As condições já estão impostas pelo empresário e pelo meio social.

Essa relação entre os dois, no entanto, não é apenas entre indivíduos, mas também entre classes sociais: a operária e a burguesa. Eles só se relacionam, nesse caso, por causa do trabalho: o empresário precisa de força de trabalho do operário e este precisa de salário. As condições que permitem esse relacionamento são definidas pela luta que se estabelece entre as classes, com a intervenção do Estado, por meio das leis, dos tribunais ou da polícia.

Essa luta vem se desenvolvendo há mais de duzentos anos em muitos países e nas mais diversas situações, pois empresários e trabalhadores têm interesses opostos. O Estado aparece aí para tentar reduzir o conflito, criando leis que, segundo Marx, normalmente são a favor dos capitalistas.

O foco da teoria de Marx está, assim, nas classes sociais, embora a questão do indivíduo também esteja presente. Isso fica claro quando Marx afirma que os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira que querem, pois existem situações anteriores que condicionam o modo como ocorrem a construção. Para ele, existem condicionantes estruturais que levam o indivíduo, os grupos e as classes para determinados caminhos; mas todos têm capacidade de reagir a esses condicionamentos e até mesmo de transformá-los.

Marx se interessou por estudar as condições de existência de homens reais na sociedade. O ponto central de sua análise está nas relações estabelecidas em determinada classe e entre as diversas classes que compõem a sociedade. Para ele, só é possível entender as relações dos indivíduos com base nos antagonismos, nas contradições e na complementaridade entre as classes sociais. Assim, de acordo com Marx, a chave para compreender a vida social contemporânea está na luta de classes, que se desenvolve à medida que homens e mulheres procuram satisfazer suas necessidades, “oriundas do estômago ou da fantasia”.

Émile Durkheim: as instituições e o indivíduo

Para o fundados da escola francesa de Sociologia, Émile Durkheim (1858 — 1917), a sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo, dispondo de certas regras, normais, costumes e leis que asseguram sua perpetuação. Essas regras e leis independem do indivíduo e pairam acima de todos, formando uma consciência coletiva que dá o sentido de integração entre os membros da sociedade. Elas se solidificam em instituições, que são a base da sociedade e que correspondem, nas palavras de Durkheim, a “toda crença e todo comportamento instituído pela coletividade”.

A família, a escola, o sistema jurídico e o Estado são exemplos de instituições que congregam os elementos essenciais da sociedade, dando-lhes sustentação e permanência. Durkheim dava tanta importância as instituições que definia a sociologia como “a ciência das instituições sociais, de sua gênese e de seu funcionamento”. Para não haver conflito ou desestruturação das instituições e, consequentemente, da sociedade, a transformação dos costumes e normas nunca é feita individualmente, mas vagarosamente através das gerações e gerações.

A família da sociedade está justamente na herança passado por intermédio da educação às gerações futuras. Essas herança são os costumes, as normas e os valores que nossos pais e antepassados deixaram. Condicionando e controlando pelas instituições, cada membro de uma sociedade sabe como deve agir para não desestabilizar a vida comunitária; sabe também que, se não agir de forma estabelecida, será repreendido ou punido, dependendo da falta cometida.

O sistema penal é um bom exemplo dessa prática. Se algum indivíduo comete determinado crime, deve ser julgado pela instituição competente — o sistema judiciário -, que aplica a penalidade correspondente. O condenado é retirado da sociedade e encerrado em uma prisão, onde deve ser reeducado (na maioria das vezes não é isso que acontece) para ser reintegrado ao convívio social.

Diferentemente de Marx, que vê a contradição e o conflito como elementos essenciais da sociedade, Durkheim coloca a ênfase na coesão, integração e manutenção da sociedade. Para ele, o conflito existe basicamente pela anomia, isto é, pela ausência ou insuficiência da normatização das relações sociais, ou por falta de instituições que regulem essas relações. Ele considera o processo de socialização um fato social amplo, que regulamentem essas relações. Ele considera o processo de socialização um fato social amplo, que dissemina as normas e valores gerais da sociedade — fundamentais para a socialização das crianças — e assegura a difusão de ideias que formam um conjunto homogêneo, fazendo com que a comunidade permaneça integrada e se perpetue no tempo.

Max Weber: o indivíduo e a ação social

O alemão Max Weber (1864 — 1920), diferentemente de Durkheim, tem como preocupação central compreender o indivíduo e suas ações. Por que essas pessoas tomam determinadas decisões? Quais são as razões para seus atos? Segundo esse autor, a sociedade existe concretamente, mas não é algo externo e acima das pessoas, e sim o conjunto de ações dos indivíduos relacionando-se reciprocamente. Assim, Weber, partindo do indivíduo e de suas motivações, pretende compreender a sociedade como um todo.

O conceito básico para Weber é o de ação social, entendida como o ato de se comunicar, de se relacionar, tendo alguma orientação quanto às ações dos outros. “Outro”, no caso, pode significar tanto um indivíduo apenas por vários, indeterminados e até desconhecidos. Como o próprio Weber exemplifica, o dinheiro é um elemento de intercâmbio que alguém aceita no processo de troca de qualquer bem e que outro indivíduo utiliza porque sua ação está orientada pela expectativa de que outros tantos, conhecidos ou não, estejam dispostos a também aceita-la como elemento de troca.

Seguindo esse raciocínio, Weber declara que a ação social não é idêntica a uma ação homogênea de muitos indivíduos. Ela dá um exemplo: quando estão caminhando na rua e começa a chover, muitas pessoas abrem seus guarda-chuvas ao mesmo tempo. A ação de cada indivíduo não está orientada pela dos demais, mas sim pela necessidade de proteger-se da chuva.

Weber também diz que a ação social não é idêntica a uma ação influenciada, que ocorre muito frequentemente nos chamados fenômenos de massa. Quando há uma grande aglomeração, quando se reúnem muitos indivíduos por alguma razão, estes agem influenciados por comportamentos grupais, isto é, fazem determinadas coisas porque todos estão fazendo.

Max Weber, ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta a maneira como eles orientam suas ações, agrupou as ações individuais em quatro grandes tipos, a saber: ação tradicional, ação efetiva, ação racional com relação a valores e ação racional com relação a fins.

A ação tradicional tem por base um costume arraigado, a tradição familiar ou um hábito. É um tipo de ação que se adota quase que automaticamente, reagindo a estímulos habituais. Expressões como “Eu sempre fiz assim” ou “Lá em casa sempre se faz desse jeito” exemplificam tais ações.

Ação efetiva tem por fundamentalmente os sentimentos de qualquer ordem. O sentido da ação está nela mesmo. Age efetivamente quem satisfaz suas necessidades, seus desejos, sejam eles de alegria, de gozo, de vingança, não importa. O que importa é dar vazão às paixões momentâneas. Age assim aquele indivíduo que diz “Tudo pelo prazer” ou “O principal é viver o momento “.

Ação racional com relação a valores fundamenta-se em convicções, tais como o dever, a dignidade, a beleza, a sabedoria, a piedade ou a transcendência de uma causa, qualquer que seja seu gênero, sem levar em conta as consequências previsíveis. O indivíduo age baseado naquelas convicções e crê que tem certo “mandado” para fazer aquilo. Se as consequências forem boas ou ruins, prejudiciais ou não, isso não importa, pois ele age de acordo com aquilo em que acredita. Age dessa forma o indivíduo que diz: “Eu acredito que a minha missão aqui na Terra é fazer isso” ou “O fundamental é que nossa causa seja vitoriosa”.

A ação racional com relação a afins fundamenta-se numa avaliação da relação entre meios e fins. Nesse tipo de ação, o indivíduo pensa antes de agir em uma situação dada. Age dessa forma o indivíduo que programa, pesa e mede as consequências, e afirma: “se eu fizer isso ou aquilo, pode acontecer tal coisa; então, vamos ver qual é a melhor alternativa” ou “creio que seja melhor conseguir tais elementos para podermos atingir aquele alvo, pois, do contrário, não conseguiremos nada e só gostaremos energia e recursos”.

Para Weber, esses tipos de ação social não existem em estado puro, pois os indivíduos, quando agem no cotidiano, mesclam alguns ou vários tipos de ação social. São os “tipos ideais”, construções teóricas utilizadas pelo sociólogo para analisar a realidade.

Como se pode perceber, para Weber, ao contrário do que defende Durkheim, as normas, os costumes e as regras sociais não são algo extremo ai indivíduo, mas estão internacionalizadas, e, como base no que traz dentro de si, o indivíduo escolhe condutas e comportamentos, dependendo das situações que se lhe apresentam. Assim, as relações sociais consistem na probabilidade que se aja socialmente com determinado sentido, sempre numa perspectiva de reciprocidade por parte dos outros.

Como se dá a relação entre indivíduo e sociedade para Durkheim?

Durkheim enfatiza que a sociedade é anterior ao indivíduo e impõe-se sobre ele, suas regras (fatos sociais) são exteriores, coercitivas e gerais e exercem controle sobre os indivíduos. A participação do indivíduo na sociedade está ligada à função que ele desempenha nela.

Como se dá a relação entre indivíduo e sociedade?

O individuo nasce na sociedade e a sociedade é constituída de indivíduos. Entre individuo e sociedade ocorre uma relação de sinergia e de dialética. O social é o útero permanente onde o sujeito administra a própria possibilidade, isto é, a própria virtualidade para realizar aquilo do qual é dotado desde o nascimento.

O que é fato social e como Durkheim explica a relação entre indivíduo e sociedade?

Fato social é um conceito sociológico que diz respeito às maneiras de agir dos indivíduos de um determinado grupo e da humanidade em geral. Segundo Émile Durkheim, pensador francês considerado clássico da sociologia, os fatos sociais moldam a maneira de agir das pessoas pela influência que eles exercem sobre elas.

O que é indivíduo segundo Durkheim?

O indivíduo vive em uma sociedade plural, com diversidades de raças, culturas, valores, conhecimentos, padrões sociais, estilos e maneiras de agir.