O que foi o coronelismo e como funcionava sua dinâmica política na República oligárquica?

Graduada em História (UFF, 2017)
Mestre em Sociologia e Antropologia (UFRJ, 2012)
Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2009)

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Clientelismo se caracteriza, de maneira geral, por uma forma de relação entre diferentes atores políticos envolvendo concessão de empregos, benefícios públicos e fiscais, vantagens econômicas, obras, donativos, etc., em troca de apoio político, sendo traduzido na maior parte das vezes em votos para si ou seus aliados. Isto é, um indivíduo “vende” seu apoio político em troca de algum tipo de favorecimento pessoal tornando-se “cliente” dos políticos capazes de oferecer algum tipo de benefício.

O conceito de clientelismo é muito utilizado no estudo e ensino da história do Brasil associado ao conceito de coronelismo ao se tratar das relações eleitorais no período conhecido como “República Velha”. Obviamente havia dentro do coronelismo, relações de natureza clientelística. É importante, porém, destacar que um não é sinônimo do outro, pois cada um tem características em sua composição e permanência histórica.

O coronelismo é um dos elementos fundamentais para se compreender o funcionamento da República das Oligarquias, ou Republica Velha. O título de coronel surgiu no período regencial sendo normalmente concedido aos grandes fazendeiros que patrocinavam a Guarda Nacional, responsáveis pela manutenção da ordem interna do país ao reprimir as revoltas sociais. Com a proclamação da República e o fim da Guarda Nacional, os coronéis mantiveram o prestígio e o respeito dentro das suas áreas de influência. Esses indivíduos cultivavam a prática política da troca de favores e dessa forma mantinham sob sua ‘proteção’ uma série de afilhados em troca de obediência que muitas vezes se traduzia nas zonas eleitorais.

José Murilo de Carvalho afirma que quando se fala de coronelismo no meio urbano, estão na verdade se referindo ao conceito de clientelismo. Pois, enquanto o primeiro ocorreu no fim do século XIX e início do século XX, principalmente nas regiões do interior, as relação clientelísticas no meio urbano ocorridas ao longo do século XX e XXI dispensam a intermediação da figura do coronel. As relações de troca ocorrem diretamente entre os políticos e os diversos segmentos da população, por exemplo, quando graças ao seu poder de influência no Poder Executivo, os deputados podem conseguir empregos e serviços públicos para serem utilizados como moeda de troca para obtenção de votos.

Percebe-se, então, que conforme os coronéis foram perdendo a sua capacidade de influência e poder regional, houve um crescimento do clientelismo, pois não sendo mais atores políticos com papel destacado para o governo, os antigos chefes políticos locais não eram mais essenciais no jogo político de troca de favores. É possível, assim, a comunicação direta com os eleitores transferindo a antiga rede de sustentação do relacionamento clientelístico.

O clientelismo é, portanto, um sistema baseado em relações de troca que ocorreram em diversos momentos da história política brasileira, embora tenha sido durante o primeiro governo republicano que sua prática institucionalizada se confunde com o conceito de coronelismo. Enquanto fenômeno político, ele foi mudando de faceta ao longo da história e pode ter seu poder aumentado e diminuído de acordo com os atores políticos envolvidos e as demandas específicas daquela conjuntura.

Bibliografia:

CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52581997000200003&script=sci_arttext>

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/politica/clientelismo/

Índice

Introdução

Coronelismo é o nome dado ao fenômeno político que ocorreu no Brasil, principalmente após a proclamação da República, durante a chamada Primeira República.

O coronelismo consistiu em uma prática que tinha por objetivo manter as elites imperiais no poder, a partir das trocas de favores e ações ilegais e violentas. 

Os coronéis eram uma elite política composta por grandes proprietários rurais, chefes políticos locais e comerciantes, que tornaram-se referência para populações locais a partir de relações de poder baseadas na grande desigualdade existente no Brasil da época. 

Apesar de sua eminência e preponderância durante a Primeira República, o coronelismo foi uma experiência de longa duração, resultado de uma sociedade baseada na produção agrícola latifundiária e permeada por práticas de poder concentradas nessas próprias elites agrícolas, desde os tempos coloniais.

Contexto histórico

O princípio do fenômeno do coronelismo data do Período Regencial, momento da História do Brasil marcado pela eclosão de inúmeras revoltas. Diante das tensões sociais, o governo criou a Guarda Nacional, formada por grandes senhores de terra que tornaram-se coronéis, responsáveis por garantir a ordem em suas respectivas províncias. Começou aí, portanto, o aumento do poder político desses indivíduos. 

Em 1922, a Guarda Nacional - e os cargos oficiais de coronéis - foram extintos, mas o poder político que exerciam não seguiu pelo mesmo caminho. Os coronéis permaneceram como chefes políticos de suas respectivas vizinhanças, chamadas de currais eleitorais

Como funcionava o coronelismo

A prática do coronelismo se intensificou quando o voto no Brasil deixou de ser censitário (restrito por uma renda mínima), e o direito ao voto foi se alargando para a população mais pobre.

Os coronéis tornaram-se os grandes responsáveis pela manipulação, controle e fiscalização do processos políticos e das eleições, no começo da República no Brasil. 

Dessa forma, os coronéis controlavam as forças policiais, a fim de manter a ordem a seu favor e a atender seus próprios interesses particulares e de seus aliados.

espaço rural, na época, era o grande quórum das decisões políticas, o que tornou o coronel uma autoridade fundamental do funcionamento político. 

Os coronéis utilizavam-se de trocas de favores, violência, pagamentos - dentre outros artifícios - para colocar no poder os candidatos que lhe interessavam. Essa prática, profundamente anti-democrática - contava ainda com intensas retaliações, inclusive físicas, aos cidadãos que não se submetiam a ela. 

Além disso, era comum que os coronéis - em forma de favor - concedessem benefícios à população, patrocinando festas, apadrinhados crianças, oferecendo ajuda financeira às pessoas que precisavam etc.  Dessa forma, criavam uma relação de medo e dependência entre ele e a população da vizinhança, o chamado clientelismo

O poder de coronel dependia, portanto, de quantos eleitores ele conseguia angariar a partir das trocas de favores.

Ao conseguir manipular quem era eleito ou não, o coronel garantia que seus aliados se mantivessem no poder, ou seja, permitia a constante reeleição das elites oligárquicas. Dessa forma, o coronel conquistava privilégios junto aos governos federais e estaduais e assegurava a continuação da mesma estrutura corrupta, latifundiária e elitista no poder. 

voto de cabresto era a instituição mais comum da prática do coronelismo. O coronel garantia a proteção e inúmeros favores a população de sua vizinhança. Esta, em troca, lhe era obediente, votando nos candidatos escolhidos pelo coronel. O termo “voto de cabresto” remete justamente ao controle exercido por um homem sob um animal. 

Esse período político, a Primeira República, ficou conhecido pela chamada Política dos Governadores, um arranjo político não oficial que tinha por objetivo garantir que não houvesse oposição política aos governos estaduais e federais. 

Dessa forma, os governadores de cada província faziam alianças com os coronéis para garantir que fossem eleitos. Ao mesmo tempo, quem quisesse se eleger como presidente da república deveria fazer alianças com os governadores das províncias.

A Política dos Governadores teve início no governo de Campos Salles, responsável pelas bases do grande acordo político, onde as oligarquias dos estados de São Paulo e Minas Gerais se alternavam no poder do país. 

Campos Salles, quarto Presidente da República do Brasil

Exercício de fixação

ENEM/2016

O coronelismo era fruto de alteração na relação de forças entre os proprietários rurais e o governo, e significava o fortalecimento do poder do Estado antes que o predomínio do coronel. Nessa concepção, o coronelismo é, então, um sistema político nacional, com base em barganhas entre o governo e os coronéis. O coronel tem o controle dos cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professora primária. O coronel hipoteca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de voto.

(CARVALHO, J. M. Pontos e bordados: escritos de história política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998 (adaptado))

No contexto da Primeira República no Brasil, as relações políticas descritas baseavam-se na:

A coação das milícias locais.

B estagnação da dinâmica urbana.

C valorização do proselitismo partidário.

D disseminação de práticas clientelistas.

E centralização de decisões administrativas.

O que foi a política do coronelismo?

Coronelismo é um brasileirismo usado para definir a complexa estrutura de poder que tem início no plano municipal, exercido com hipertrofia privada – a figura do coronel – sobre o poder público — o Estado —, e tendo como caracteres secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento), a fraude eleitoral e a ...

Como funcionava o coronelismo na Primeira República?

O coronelismo foi uma prática política, comum durante a Primeira República, baseada nos coronéis, que coagiam seus subalternos a votarem em seus candidatos nas eleições. O voto de cabresto foi o símbolo do coronelismo no Brasil porque o voto aberto facilitava a influência dos coronéis no voto dos seus trabalhadores.

O que e o coronelismo Brainly?

O coronelismo é uma prática sociopolítica brasileira típica do início do século XX, no período chamado de República Velha (1889-1930), quando os chamados “coronéis” exerciam o poder local sobre as camadas inferiores da sociedade a fim de garantir votos em troca de favores das esferas políticas locais, estaduais e ...

Qual a importância do coronelismo para o funcionamento da República oligárquica?

O poder dos coronéis interferia no poder público das pequenas cidades que eram controladas por eles. Prefeitos, governadores e até mesmo os presidentes venciam as eleições com ajuda desses grandes fazendeiros, que interferiam no resultado através do voto de cabresto, símbolo da prática do coronelismo.