Por que plantas com folhas grandes não são comuns em ecossistemas mais secos?

Fogo Pastejo Alagamento

Apesar de distúrbio parecer uma palavra ruim, nem sempre o efeito da ação de distúrbios sobre a biodiversidade é negativo. Os campos e as savanas, por exemplo, evoluíram na presença de distúrbios (como o fogo, pastejo e o alagamento) e por esta razão são adaptados à essas condições.

Mas o que isso quer dizer?

Quer dizer que as espécies de plantas que compõe os ambientes campestres foram selecionadas ao longo do tempo, no processo evolutivo, para possuírem características que permitem que elas sofram a ação do pastejo (tenham suas folhas arrancadas) ou sofram a ação do fogo (tenham suas folhas e caules queimados), mas possam rebrotar rapidamente.

Outras espécies que se adaptaram muito bem aos eventos de distúrbios não desenvolveram estratégias para tolerar esses eventos, mas sim fugir deles. É o caso das plantas anuais que brotam do solo a partir das sementes ou bulbos e rapidamente emitem folhas, flores que se desenvolvem em frutos, produzem e espalham muitas sementes e morrem. O ciclo de vida dessas plantas é tão curto que elas geralmente conseguem fugir do pastejo dos animais e dos eventos de fogo. Se alguns indivíduos não conseguem fugir tudo bem, é por isso que cada planta produz muitas sementes, para garantir que a espécie continuará existindo mesmo se poucos indivíduos sobrarem. Já as plantas que possuem bulbos (um tipo de raiz que contém reserva de nutrientes), se elas não conseguirem completar seu ciclo antes sofrerem algum distúrbio, elas poderão tentar novamente na próxima estação de crescimento, já que seus bulbos ficam muito bem enterrados no solo, protegidos dos distúrbios. Os distúrbios que ocorrem mais comumente nos campos podem ser dos tipos:

Por que plantas com folhas grandes não são comuns em ecossistemas mais secos?
Fogo

Ao contrário do que costuma-se pensar, o fogo nem sempre está associado à degradação ambiental. A ação do fogo favorece a sobrevivência dos campos, em outras palavras esse tipo de distúrbio permite que os ambientes campestres não se transformarem em outras formações.

Por que plantas com folhas grandes não são comuns em ecossistemas mais secos?
Foto: Diário da manhã.

O fogo é um distúrbio comum nos campos e savanas, pode ser iniciado por atividades humanas ou por raios que atingem a vegetação seca.

Quando impedimos que o fogo ou o pastejo ocorra em áreas de campo e savana algumas espécies de plantas crescerão muito, se tornando mais altas e sombreando espécies menores, impedindo seu crescimento e as eliminando, o que resulta numa perda de biodiversidade. Além da perda de biodiversidade ocorre também o grande acúmulo de folhas e caules secos (biomassa seca). Essa biomassa é combustível para eventos de queimada que podem ocorrer de forma natural, por exemplo através de um raio que cai na vegetação, ou mesmo iniciada por atividades humanas. Quanto maior o acúmulo de biomassa, ou seja, quanto mais tempo aquela vegetação está excluído do fogo ou do pastejo, mais intensa será a queimada quando ela ocorrer. Queimadas intensas são mais difíceis de controlar e podem atingir áreas florestais ou até mesmo cidades.

Em áreas de campo e savana o fogo é um distúrbio tão antigo e comum que já foram naturalmente selecionadas espécies de plantas que possuem capacidade de sobreviver ao fogo. Estudos já demonstraram inclusive que para algumas espécies o fogo estimula o florescimento e a produção de sementes.

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Cerca de 16 dias após o fogo a vegetação está se regenerando, diversas espécies florescem.

Fotos: Juliana Schaefer.

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Espécie Zephyranthes gracilifolia, uma das plantas que começou a florir após o fogo, foto na mesma área.

Por que plantas com folhas grandes não são comuns em ecossistemas mais secos?
Pastejo

Como dito anteriormente, o campo evoluiu com distúrbios, por isso sua conservação também é dependente deles. Registros fósseis evidenciam que os campos eram habitados por grandes herbívoros pertencentes a megafauna no fim do Pleistoceno (de 2,58 milhões a 11,7 mil anos atrás) que controlavam o crescimento da vegetação por meio do pisoteio e se alimentando das plantas (pastando). Posteriormente, com a extinção destes animais o ambiente passou a sofrer influência do fogo de origem antrópica, utilizado pelos primeiros povos que aqui habitavam.

Mais recentemente, entre os séculos XVII e XVIII, herbívoros foram introduzidos nos Campos Sulinos para atividade pecuária. Esses animais se adaptaram tão bem aqui nas nossas paisagens e praticamente passaram a realizar o mesmo papel ecológico que a megafauna desempenhava nos campos do Pleistoceno. Porém, a superlotação de animais (ou seja, deixar que muitos bois pastejem em uma área limitada de campo) pode causar degradação. Também é necessário cercar as áreas de pastejo dos animais impedindo que eles escapem para áreas florestais, onde as plantas não são adaptadas ao distúrbio do pastejo.

A remoção da biomassa aérea das plantas é contínua no distúrbio do pastejo. A atividade pecuária é tão comum e antiga na região dos Campos Sulinos que já faz parte da cultura do povo gaúcho.

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Foto: Palmas/SC, acervo LEVCamp.

Os Campos Sulinos são formações antigas com milhares de anos que surgiram no período pós glacial, onde o clima úmido e frio favorecia o crescimento de espécies herbáceas e gramíneas. As florestas, por sua vez só despontaram na região sul do Brasil por volta de quatro mil anos atrás durante o Holoceno em razão do aquecimento climático, e passaram a favorecerem-se desse fator e irem sobrepondo-se às áreas campestres. É sabido que o clima atual seja mais favorável as matas do que aos campos, porém o campo se mantém campo através dos distúrbios. E é nesse ponto que o pastejo é interessante para a conservação do campo perante avanço das florestas.

A intensidade do pastejo dos animais é um dos fatotes responsáveis por determinar a forma do campo. Quando o pastejo é mais intenso a vegetação do campo é mais rasteira e baixa, com gramíneas ritomatozas e estoloniferas e muitas vezes com solo exposto. E em campos onde o pastejo ocorre com baixa frequência, observamos maior abundância de plantas mais altas, como arbustos e gramíneas em forma de touceiras que sobrepõem-se ao estrato rasteiro. Estas gramíneas que formam touceiras são grandes competidoras e, em condições de ausência ou baixa frequência dos distúrbios, elas podem acabar dominando o local e diminuindo a diversidade da vegetação mais baixa. 

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Foto: Valério Pillar.

Uma cerca foi construída para impedir que os animais pastejassem em uma parte do campo. À direita crescimento da vegetação após 1 ano (Projeto de pesquisa PELD, município de Lavras do Sul/RS).

É um desafio encontrar a intensidade de pastejo ideal para que os animais possam se alimentar da vegetação, porém sem causar grande impacto na biodiversidade. Uma prática recomendada é a utilização de diversos “cercados” (potreiros), enquanto os animais de alimentam dentro de um desses cercados, os outros permanecem fechados para que a vegetação possa crescer novamente. Esse tipo de prática favorece tanto a diversidade de plantas quando de outros animais, pois concentra maiores possibilidades de habitats em potreiros com vegetação de diferentes alturas. 

Alagamento

Esse tipo de distúrbio é menos comum aqui nos Campos Sulinos, mas pode ser amplamente observado em planícies alagadas sazonalmente como no Pantanal. Estudos indicam que distúrbios como alagamentos, quando moderados, se enquadram mais como um aumento de recursos do que como um estresse para a vegetação. Entretanto, a intensidade e o tempo que uma área fica alagada interfere no crescimento das plantas, podendo ser observada uma completa mudança na biodiversidade local dependendo da fase em que o ecossistema se encontra (aquática ou terrestre).

Por que plantas com folhas grandes não são comuns em ecossistemas mais secos?
Fonte: acervo LEVCamp.

Pulsos de alagamento sazonal são muito comuns em outras formações de campo e savana no Brasil, como no Pantanal. Na região dos Campos Sulinos os campos alagados são mais presentes no litoral, como é o caso dessa foto no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no município de Mostardas/RS.


Referências consultadas para compor o texto:

Pillar, V. D. P., & Lange, O. (Eds.). (2015). Os campos do sul. Porto Alegre/RS: Rede Campos Sulinos-UFRGS.

Fidelis, A., & Pivello, V. R. (2011). Deve-se usar o fogo como instrumento de manejo no Cerrado e Campos Sulinos?. Biodiversidade Brasileira-BioBrasil, (2), 12-25.

Chomenko, L. & Bencke, G. A. (2016). Nosso Pampa desconhecido. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

Pillar, V. P. & Vélez, E. (2010). Extinção dos Campos Sulinos em unidades de conservação: um fenômeno natural ou um problema ético?. Nat. Conserv, 8, 84-86.

Cruz, R. C. & Guadagnin, D. L. (2012). Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem baseada na relaçao entre perturbaçaoe mudança. A sustentabilidade da Regiao da Campanha-RS: Práticas e teorias a respeito das relaçoes entre ambiente, sociedade, cultura e polıticas públicas. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 155-179.

Behling, H., Jeske-Pieruschka, V., Schüler, L. & Pillar, V. P. (2009). Dinâmica dos campos no sul do Brasil durante o Quaternário Tardio. In: Pillar, V. P., Müller, S. C., Souza, Z. M, Jaques, A. V. A. Campos Sulinos – conservação e uso sustentável da biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente.

Palavras-chave: bioma Pampa, bioma Mata Atlântica, Campos Sulinos, vegetação campestre, flora, distúrbios nos campos sulinos, distúrbios, alagamento, fogo, pastejo, evolução.

Key words: South Brazilian Grasslands, grassland, grassland vegetation, open ecosystems, disturbances. fire, grazing, floods.

Porque as plantas com folhas grandes e largas não são comuns em ecossistemas mais secos?

As plantas com folhas grandes e largas não são características de ecossistemas mais secos, pois, elas apresentam uma alta taxa de transpiração, ou seja, perdem uma grande quantidade de água para o ambiente.

Por que plantas com essas características não são comuns em ecossistema?

Resposta verificada por especialistas Presença de raízes profundas, garantindo a obtenção de recursos hídricos.

Quais as características de uma planta que vive em clima muito seco?

Plantas de clima quente e seco, geralmente, têm suas folhas diminuídas, ou até mesmo modificadas em espinhos, como forma de reduzir a superfície de contato e evitar, assim, a transpiração. Raízes volumosas também são adaptações que estas plantas, geralmente, possuem.

Por que a transformação de folhas em espinhos é uma adaptação a ambientes secos?

A modificação das folhas em espinhos é uma adaptação a ambientes xéricos, uma vez que a redução da superfície foliar diminui a transpiração, evitando a perda excessiva de água.