Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

O processo evolutivo � actualmente interpretado em termos de gen�tica de popula��es. As popula��es s�o a unidade evolutiva, considerando que existe evolu��o sempre que a frequ�ncia de genes na dita popula��o se altere significativamente.

No entanto, do ponto de vista ecol�gico, uma popula��o corresponde apenas a um conjunto de indiv�duos que ocupa uma dada �rea geogr�fica num dado momento. Este tipo de defini��o facilmente se deduz que n�o pode servir como unidade evolutiva pois n�o implica que os seres se reproduzam, condi��o fundamental para a mudan�a gen�tica.

Por esse motivo, � unidade evolutiva convencionou-se chamar popula��o mendeliana, ou seja, uma comunidade de indiv�duos entrecruz�veis, que compartilham determinado fundo gen�tico. � formada, portanto, por indiv�duos relacionados por acasalamento, descend�ncia ou ascend�ncia.

Os genes que constituem o fundo gen�tico � conjunto de todos os genes presentes numa popula��o num dado momento - s�o transmitidos de gera��o em gera��o, ao acaso e em novas combina��es de alelos.  Conclui-se facilmente que � do fundo gen�tico dos progenitores que deriva, ao acaso, o fundo gen�tico dos descendentes. Quanto maior o n�mero de genes que constituem o fundo gen�tico da popula��o, maior a probabilidade de existir varia��o na gera��o seguinte.

A determina��o das frequ�ncias g�nicas de uma popula��o em gera��es sucessivas indica se existe, ou n�o, manuten��o do fundo gen�tico, se est�o a actuar factores de evolu��o.                                                                                                                                

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Lei de Hardy-Weinberg

Considere-se, numa popula��o mendeliana, um fundo gen�tico constitu�do por dois alelos A e a:

Freq A = n� alelos A/n� total alelos                                                      

Freq a = n� alelos a/n� total alelos      ou seja,   frequ�ncias g�nicas

Freq AA = n� indiv�duos AA/n� total indiv�duos                                                    

Freq Aa = n� indiv�duos Aa/n� total indiv�duos     ou seja,        frequ�ncias genot�picas

Freq aa = n� indiv�duos aa/n� total indiv�duos                                                    

Se   freq A = p   e   freq a = q ,  ent�o   p + q = 1

Passando a frequ�ncias genot�picas, ter-se-ia  (p +q)2 = 1

Desenvolvendo:   p.p + 2p.q + q.q = 1      ou seja

P2 + 2pq + q2 = 1         Lei de Hardy-Weinberg

A lei de Hardy-Weinberg refere-se a popula��es mendelianas em equil�brio, ou seja, popula��es infinitamente grandes, em que os cruzamentos ocorrem ao acaso (panmixia), n�o existindo factores de evolu��o. 

Nestas condi��es, a lei de Hardy-Weinberg diz que a frequ�ncia de cada alelo tende a manter-se constante em cada gera��o. No entanto, tal n�o se verifica na realidade !  

As popula��es evoluem ao longo das gera��es, o que nos leva � conclus�o �bvia: a lei de Hardy-Weinberg n�o se aplica a situa��es reais, pois existem sempre factores de evolu��o a actuar sobre a popula��o. Os genes n�o se dividem na meiose sempre com exactid�o (muta��o), os gen�tipos n�o s�o transmitidos a taxas uniformes (selec��o), as popula��es n�o s�o infinitamente grandes e os cruzamentos n�o s�o ao acaso (deriva gen�tica) e as popula��es n�o est�o isoladas (migra��o).

Todos estes factores tendem a alterar o equil�brio das popula��es, alterando as frequ�ncias g�nicas, logo designam-se por factores de evolu��o.                                                                                                                                                                                          

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Factores de evolu��o

Da enorme diversidade de factores que podem alterar a composi��o gen�tica das popula��es, apenas cinco deles s�o considerados capazes de causar desvios significativos, nomeadamente os seguintes: Muta��o

Existem tr�s tipos principais de muta��o:

  • muta��es g�nicas s�o as altera��es de alguns pares de bases na mol�cula de DNA;

  • muta��es estruturais s�o altera��es de n�mero ou arranjo de genes no cromossoma (delec��es, duplica��es, invers�es ou transloca��es);

  • muta��es num�ricas s�o a altera��o do n�mero de cromossomas, sejam elas monossomias (2n-1), polissomias (2n+1) ou nulissomias (2n-2). As monossomias e as nulissomias s�o mortais, enquanto as polissomias provocam graves defici�ncias, f�sicas e mentais. S�o disso exemplo os casos de trissomia 13, 18 ou 21, os S�ndromas de Turner (XO), Klinfelter (XXY) e da supermasculinidade (XYY).

O efeito destas muta��es nas frequ�ncias g�nicas depende da adaptabilidade que os portadores delas apresentem, tanto para a sobreviv�ncia como para a reprodu��o, no meio ambiente da esp�cie. 

Se a muta��o for neutra pode persistir durante muitas gera��es.

Pode considerar-se que a variabilidade gen�tica (v�rios alelos para um gene, por exemplo) � consequ�ncia da acumula��o de muta��es pois estas s�o a �nica fonte de variabilidade conhecida do fundo gen�tico, os outros factores de evolu��o apenas rearranjam a variabilidade, n�o criam nada de novo.

Apesar de tudo a muta��o n�o consegue alterar o sentido da evolu��o pois ocorre com taxas da ordem de 3x10-6 em muta��es espont�neas, apenas cria variabilidade. 

A evolu��o resulta da ac��o sobre a popula��o e, logo, sobre os indiv�duos portadores de muta��es, de outros factores de evolu��o mais poderosos, como a selec��o natural.

A ac��o sobre genes mutados prejudiciais varia com a domin�ncia e a recessividade. Os genes recessivos, prejudiciais ou qualquer outro, s� s�o activos no estado homozig�tico, enquanto os dominantes tamb�m actuam no estado heterozig�tico. Assim, com taxas de muta��o semelhantes, os genes recessivos prejudiciais s�o mantidos em maior quantidade no fundo gen�tico da popula��o que os dominantes, desde que os heterozig�ticos portadores desses genes n�o manifestem qualquer inferioridade em rela��o aos homozig�ticos normais. 

Considera-se que a variabilidade gen�tica tem na superioridade dos heterozig�ticos, ou vigor do h�brido, o mais importante factor para a sua perman�ncia nas popula��es. 

Nesta situa��o, os heterozig�ticos est�o melhor adaptados ao meio que os homozig�ticos, o que permite conservar na popula��o de alelos prejudiciais no estado homozig�tico (anemia das c�lulas falciformes, por exemplo, em homozigotia causa uma mortalidade de 80% antes do estado adulto. Os an�micos heterozig�ticos s�o uma resposta da popula��o � press�o selectiva exercida pelos parasitas da mal�ria). Nestes casos, o alelo prejudicial n�o � recessivo mas sim codominante.                                                                                               

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Migra��o

Geralmente as popula��es s�o isoladas mas podem ocorrer entre elas migra��es � movimento de indiv�duos em idade reprodutora de uma popula��o para outra, implicando fluxo de genes. Estes movimentos podem ser de entrada � imigra��o � ou de sa�da � emigra��o. 

Se os migrantes sobreviverem e se reproduzirem, contribuir�o com os seus genes para o fundo gen�tico da popula��o receptora.

Por vezes a taxa migrat�ria � muito baixa, funcionando como uma muta��o, pouco afectando a frequ�ncia gen�tica, mas se for suficientemente alta pode fornecer variabilidade e funcionar como um factor prim�rio de evolu��o, a par da selec��o natural. 

Obviamente, a migra��o apenas afecta o fundo gen�tico de uma popula��o do ponto de vista evolutivo se a popula��o migrante for diferente da popula��o receptora e/ou se introduzir um alelo �especialmente apetecido�.                                                                                      

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Cruzamentos n�o ao acaso

Nas popula��es naturais os cruzamentos podem ser ao acaso � panmixia � situa��o em que a frequ�ncia dos alelos numa popula��o se mant�m inalterada. No entanto, tal geralmente tal n�o acontece, pois manuten��o do fundo gen�tico implicaria aus�ncia de evolu��o.

Numa popula��o t�pica, apenas alguns indiv�duos se reproduzem, geralmente os machos mais vistosos, por exemplo.

Os organismos seleccionam os seus parceiros, privilegiando os seus semelhantes e pr�ximos, aumentando a homozigotia e fazendo surgir anomalias gen�ticas. Esse facto leva a que, na popula��o humana, os casamentos entre membros da mesma fam�lia sejam considerados incestuosos e geralmente legalmente proibidos.

Um caso extremo desta situa��o � a autopoliniza��o em plantas.                                                                                                        

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Deriva Gen�tica

A deriva gen�tica corresponde � varia��o do fundo gen�tico, ao acaso, de gera��o em gera��o.

Geralmente esta situa��o ocorre em popula��es cujo efectivo reprodutor � inferior a 100 indiv�duos (a popula��o pode ser grande mas se apenas um pequeno n�mero se reproduzir, obt�m-se o mesmo fen�meno).

Este problema pode resultar da separa��o de popula��es maiores devido a barreiras geogr�ficas, clim�ticas (durante certas �pocas do ano as popula��es podem ser numerosas devido �s boas condi��es, sendo mais ou menos dizimadas na mudan�a de esta��o) ou outras. 

Deste modo, � f�cil prever que cada uma dessas pequenas popula��es n�o cont�m uma amostra total do fundo gen�tico da popula��o original. Estes desvios podem levar ao desaparecimento de certos alelos e fixa��o de outros, completamente por acaso, independentemente do seu valor adaptativo. 

Esta redu��o de variabilidade pela elimina��o de alelos em popula��es pequenas reduz a capacidade de adapta��o a altera��es ambientais, o que pode levar ao decl�nio da esp�cie, por fixa��o de alelos menos favor�veis. 

Este problema existe actualmente com bisontes, chitas, elefantes marinhos e outros organismos amea�ados, em que apenas um reduzido n�mero, geralmente em jardins zool�gicos, se reproduz.

Um caso extremo da deriva gen�tica � o efeito fundador em que um muito reduzido n�mero de indiv�duos (ou mesmo apenas uma f�mea gr�vida) se desloca para outro habitat, transportando apenas parte do patrim�nio gen�tico da popula��o original. Esta situa��o � frequente na coloniza��o de ilhas, a partir do continente. 

Estudos em popula��es humanas revelaram o efeito fundador resultante da migra��o de um pequeno grupo religioso da Alemanha para os Estados Unidos, onde se mantiveram isolados da restante popula��o.                                                                                                  

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Selec��o natural

A selec��o natural pode ser definida como uma diferen�a na viabilidade e fertilidade dos indiv�duos. 

Muitas das muta��es referidas antes s�o desfavor�veis ou mesmo letais mas a sua acumula��o � contrariada pela selec��o pois o mutante com caracter�sticas desfavor�veis ser� eliminado.

A teoria de Darwin considera que s� parte da descend�ncia sobrevive e se reproduz (viabilidade diferencial) e diferentes casais produzem diferente n�mero de descendentes vi�veis (fertilidade diferencial). Deste modo, os portadores de caracter�sticas com maior capacidade adaptativa s�o a maioria dos sobreviventes e, nas gera��es seguintes, tender�o a aumentar.

Relembrando a distribui��o normal das caracter�sticas numa popula��o, sendo o ponto mais elevado da curva (valor m�dio para a caracter�stica) designado por ponto de ajuste ou de aferi��o (valor ideal para esse meio, nesse momento), existem tr�s tipos de selec��o natural:

  • estabilizadora � mant�m a homogeneidade da popula��o, pois os fen�tipos extremos s�o eliminados. Esta situa��o revela uma popula��o bem adaptada ao meio, meio esse que se mant�m mais ou menos est�vel.

Estudos revelaram a ac��o deste tipo de selec��o na esp�cie humana, revelando que beb�s de tamanho m�dio t�m maior probabilidade de sobreviv�ncia que os muito grandes ou muito pequenos. Outra situa��o conhecida � o efeito de tempestades sobre aves, onde s�o preferencialmente mortos os indiv�duos com asas muito grandes ou muito pequenas;

  • direccional � situa��o mais vulgar, em que existe uma tend�ncia para deslocar o ponto de ajuste, favorecendo um dos fen�tipos extremos. Esta situa��o revela altera��es ambientais, sendo seleccionados os organismos melhor adaptados a esse novo meio. Exemplos conhecidos desta situa��o s�o a resist�ncia a antibi�ticos por parte de microrganismos ou a insecticidas, bem como o sempre actual caso das borboletas Biston betularia;

  • disruptiva � a ac��o da selec��o ocorre eliminando o fen�tipo interm�dio, o mais vulgar, favorecendo as caracter�sticas extremas, fora do ponto de ajuste. Pode dar origem a um polimorfismo equilibrado (dois ou mais fen�tipos na popula��o) ou, em casos extremos, a duas esp�cies diferentes.

Exemplos deste tipo de ac��o sobre as popula��es podem ser observados em plantas que crescem perto de minas, onde a contamina��o bem demarcada de certas �reas leva ao desenvolvimento de dois tipos de plantas (uma consegue viver em �reas contaminadas mas � pequena, enquanto a grande n�o o pode fazer).

Um outro caso, em aves, deriva do facto de em certos locais a �nica fonte de alimenta��o poss�vel serem sementes ou larvas de insectos, o que leva a que sejam seleccionados p�ssaros com bicos maiores e mais fortes (para partir sementes) e p�ssaros com bicos finos e delicados (adequados � busca de larvas nos orif�cios nos troncos das �rvores). Uma ave com um bico interm�dio teria dificuldades em obter alimento.

Tal como j� foi referido anteriormente, as selec��es direccional e disruptiva s�o consideradas evolutivas.

Desta an�lise dos factores de evolu��o pode-se concluir que a selec��o natural e a migra��o s�o factores importantes no controlo da microevolu��o (altera��es simples na frequ�ncia g�nica em popula��es locais). 

A selec��o, por si s�, � o agente condutor de altera��es progressivas de maiores dimens�es (apari��o de novos grupos taxon�micos � macroevolu��o). Tais altera��es s�o o resultado de centenas ou milhares de microevolu��es, unidas e ampliadas pela press�o selectiva do ambiente.                                                                                                                                                                                         

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Temas relacionados:

Teorias sobre a evolu��o   Argumentos a favor da evolu��o   Evolu��o do Homem   Especia��o   Hereditariedade

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Por que populações pequenas têm mais deriva gênica que as populações maiores?

Qual o efeito da deriva genética sobre populações pequenas?

A deriva genética atua principalmente em populações pequenas e pode ocorrer de duas maneiras: Efeito gargalo: Acontece quando o tamanho da população reduz-se drasticamente em uma geração. Essa diminuição pode ocorrer em razão de eventos naturais, como secas, terremotos e inundações.

Por que a diversidade genética reduzida de populações pequenas as torna mais vulneráveis a extinção?

Se forem mantidas pequenas por muitas gerações, essas populações poderão perder variabilidade genética por deriva genética, o que leva à endogamia e desencadeia a depressão endogâmica. Consequentemente, haverá reduções na capacidade adaptativa, no vigor, no porte e na produtividade (RITLAND, 1996).

Qual a relação do tamanho populacional com a deriva genética?

O tamanho da população importa É improvável que ocorra uma mudança tão rápida numa população grande, como resultado da deriva genética.

Que fatores contribuem para a variação genética na genética das populações?

Alguns fatores influenciam na variabilidade genética, como a mutação, o fluxo gênico, a reprodução sexuada e a deriva genética. Entre eles, a mutação é o principal fator gerador de variabilidade, permitindo o surgimento de novas combinações dentro do conjunto de genes da população.