Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?

Entenda o efeito de atividades como musculação e caminhada na hipertensão

A prática regular de exercícios físicos é comprovadamente capaz de melhorar o funcionamento de diversos sistemas de nosso corpo. Isso é algo que, no âmbito de saúde pública, justifica a adoção de hábitos saudáveis relacionados ao estilo de vida ativo, em que o indivíduo engajado rotineiramente em exercícios físicos previne-se contra diversos problemas de saúde. Não entrando no mérito da quantidade e qualidade de qualquer atividade física, visto que a falta de acompanhamento profissional pode levar ao efeito contrário, ou seja, lesões ortopédicas, desgastes articulares, comprometimentos musculares e outros mais, o que exige ressalva é aquela frase que diz que “exercício físico é saúde”. Em doses ideais, o aumento do movimento humano pode atuar como potencializador de saúde e também como forma de prevenção e tratamento de diversas patologias.

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
As adaptações fisiológicas inseridas nesse contexto percorrem diversos sistemas, entre eles o cardiovascular. O exercício físico é capaz de melhorar a liberação e sensibilidade de diversos hormônios que regulam o comportamento de nossos vasos e músculos, como é o caso do músculo cardíaco. Isso acontece de maneira sistêmica, ou seja, de uma forma global, abarcando desde o seu cérebro até os vasos do seu “dedão do pé”.

Das inúmeras adaptações positivas relacionadas ao exercício físico, destacam-se a capacidade de melhora da complacência dos vasos, ou seja, a capacidade de distensão do sistema vascular. Isso acontece com a liberação de agentes vasodilatadores, como o óxido nítrico que, mediados pelo movimento corporal, promovem um aumento do diâmetro do vaso, permitindo assim que o sangue aumente tanto o seu fluxo quanto a sua irrigação para os diversos tecidos do nosso corpo, entre eles o coração.  O resultado é um aumento do aporte de nutrientes, principalmente o oxigênio, o que reduz a probabilidade das células morrerem por falta de perfusão, como no caso do infarto agudo do miocárdio.

O que é pressão arterial e qual o efeito do exercício sobre ela?

 

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?

A pressão arterial é a força com que o sangue trafega nos nossos vasos. Ela é diretamente influenciada pela quantidade de sangue circulante: o chamado débito cardíaco expresso pela força de ejeção ventricular sanguínea multiplicada pelo número de batimentos do coração em um minuto. A partir daí, podemos considerar que a pressão arterial, a partir do débito cardíaco, será mediada pela resistência em que o sangue encontrará no vaso durante o percurso que se inicia na artéria aorta e se propaga aos demais vasos e capilares. Essa resistência pode ser aumentada por diversos fatores como raio e comprimento do vaso, viscosidade do sangue e agregação de gordura na parede dos vasos. Lembrando que esse último está extremamente relacionado ao comportamento alimentar da pessoa.

Quando essa resistência é alta, o coração precisa se adaptar para forçar ainda mais o sangue a romper essa condição, o que leva ao aumento da pressão arterial. As diretrizes cardiológicas consideram que a condição patológica de pressão alta inicia-se quando os níveis pressóricos arteriais sistólicos (de contração do ventrículo) estão acima de 139mmhg (ou seja, 139 milímetros de mercúrio) e os diastólicos (relaxamento do ventrículo) estão acima de 89mmhg. Isso é preocupante, pois, em longo prazo, essa condição pode levar à morte.

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
Para visualizar melhor os efeitos negativos dessa pressão alta, é só pensarmos: “quanto mais força meu coração tiver que fazer 24 horas por dia e 365 dias por ano, mais forte ele ficará, maior vai ser a intensidade com que ele vai ejetar o sangue nos vasos e também maior será o desgaste na parede vascular”. Isso significa que haverá um aumento da intensidade do estresse endotelial, assim como das chances de ruptura desse vaso ou de rompimento das placas de gordura que se solidificam em sua parede.

As consequências possíveis são preocupantes: quadros como o chamado AVE (Acidente Vascular Encefálico), o infarto agudo do miocárdio e a insuficiência cardíaca são condições geradas principalmente pelo aumento da massa muscular do ventrículo, que fica hipertrofiado pelo tanto de força que deve exercer.  Essa situação leva, entre outras complicações cardiovasculares, à redução da quantidade de sangue ejetado devido à falta de espaço e ineficiência do que chamamos de “distensibilidade diastólica” do ventrículo para preencher uma câmara extremamente espessa e que comporta pouco sangue.

A prática de exercício físico tanto na forma de caminhada (aeróbio) quanto musculação (resistido) é capaz de reduzir os níveis tensionais do vaso, ou seja, a diminuição da resistência do vaso à passagem de sangue.   Isso reflete na melhora da força e contratilidade do coração e, consequentemente, reduz a pressão arterial.

Mas quanto de exercício físico fazer? Essa resposta quem lhe dará será o professor de Educação Física! Mas como nós do IESPE estamos inteirados no assunto através da Pós de Treinamento Personalizado para Grupos Especiais vou disponibilizar um resumo bem didático que auxiliará no entendimento dessa temática.

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
A prática de exercícios físicos de intensidade moderada, como uma caminhada, é capaz de exercer uma redução da pressão arterial ao longo das horas subsequentes a atividade. O tamanho da redução está diretamente associado aos níveis pressóricos pré-atividade. Contudo, vale ressaltar que pessoas com hipertensão arterial não devem realizar exercícios físicos sem o uso da medicação anti-hipertensiva.

Outro aspecto importante são os níveis pressóricos registrados antes da atividade. Caso apresentem elevados valores além dos níveis “costumeiros”, a atenção deve ser redobrada, a ponto de ser desaconselhada. Pois bem, a partir dessa informação fica claro que para essa população o melhor tratamento é aquele constituído por mais de um profissional de saúde, ou seja, o tratamento multiprofissional e interdisciplinar, em que todos saibam “falar a mesma língua” e possam, dessa maneira, proporcionar a melhor assistência ao hipertenso ou àqueles pertencentes aos grupos de risco (sedentários, tabagistas, obesos, idosos e outros). Abordei a necessidade desse atendimento multidisciplinar no caso da obesidade em meus textos anteriores: Por que perdemos a guerra contra a obesidade – parte 1 e parte 2.

A musculação reduz a pressão alta?

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
Muitos se perguntam se a prática de musculação também poderia agir como um hipotensor natural, ou seja, como um meio de reduzir a tensão arterial. Uma das principais justificativas é a de que quando se faz muita força para vencer grandes resistências, uma das consequências é a baixa da pressão.  É o caso do treinamento de hipertrofia muscular, muito comum para aqueles que visam o aumento da massa muscular magra.

Nesse tipo de atividade, acontece uma manobra fisiológica conhecida como “valsalva”, em que o praticante prende a respiração e também fecha a glote, obstruindo a passagem de ar pela faringe e levando à uma drástica redução da pressão dentro da cavidade torácica (a parte do tórax que engloba aos pulmões, coração e vasos mais calibrosos). Mas quando o bloqueio é cessado, há um aumento da pressão no interior dos pulmões e vasos, para que o ar seja expelido. Isso é muito prejudicial para indivíduos que já apresentam níveis tensionais pressóricos arteriais, pois desencadeiam uma elevação ainda maior da pressão arterial.

O percentual da carga relacionada aos treinos de hipertrofia é relativamente alto. Contudo, ajustes no treinamento de força, comprovadamente benéfico para a saúde, podem ser feitos para que não haja a necessidade de valsalsa. Algumas adaptações possíveis são: a redução da carga nos exercícios de força, o aumento do tempo de descanso entre as séries e o método de treino circuitado, em que a cada momento se realiza um tipo diferente de exercício, preferencialmente oscilando os exercícios que trabalham a musculatura superior e posterior de maneira alternada.

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
Diversos estudos têm mostrado que a musculação, assim como os exercícios aeróbicos (desde que supervisionados por profissionais especializados), são capazes de contribuir positivamente na redução, manutenção e tratamento da hipertensão arterial e das comorbidades associadas à obesidade, diabetes mellitus do tipo 2 e doença renal crônica.

Todavia, é importante lembrar que toda prática de exercício físico deve primeiramente levar em consideração as peculiaridades, necessidades e limitações daquele que o pratica. Para a extração dessas informações, o profissional de Educação Física, Fisioterapia e áreas afins devem realizar uma boa anamnese (entrevista inicial com o paciente) e contextualizar os achados clínicos do praticante às variáveis relacionadas à prescrição e monitoração de exercícios físicos, garantindo o prazer, benefícios e segurança do serviço.

Quais os mecanismos da redução da pressão arterial em longo prazo que a prática regular de exercícios físicos proporciona?
Nós estamos caminhando para um mundo de pessoas obesas, cuja patologia é um dos principais gatilhos para o desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica, uma das doenças cardiovasculares diretamente associadas à principal causa de mortalidade mundial. Além disso, a expectativa de vida da população está aumentando. No futuro, a população idosa no Brasil e no mundo será a maior de todos os tempos.  Consequentemente, também crescerá o número de hipertensos idosos, que, assim como os outros grupos de risco, necessitarão de cuidados especializados.

Portanto, aos profissionais que estão em dúvida sobre o segmento de atuação profissional após a graduação, fica aqui a minha dica!  Mas independente da questão mercadológica, o reconhecimento profissional e carinho daqueles assistidos por esse serviço de saúde é incrivelmente motivador e satisfatório.

Forte abraço,

Alderman BL et al. Aerobicexercise intensity and time of stressor administration influence cardiovascular responses to psychological stress.Psychophysiology 2007; 44: 759–766.

JulianoCasonattoetal.The blood pressure-lowering effect of a single bout of resistance exercise: A systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. Eur J PrevCardiol. 2016 Aug 10.

Santiago Tavares Paes et al. Metabolic effects of exercise on childhood obesity: a current view. Rev Paul Pediatr. 2015 Jan-Mar;33(1):122-9.

Quais são os mecanismos de regulação da pressão arterial?

Os principais mecanismos reflexos que atuam na regulação da pressão arterial são o barorreflexo, os reflexos cardiopulmonares, o quimiorreflexo e o reflexo renorrenal. O controle hormonal envolve, principalmente, o sistema renina-angiotensina.

Quais os mecanismos de controle da pressão arterial de curto e de longo prazo?

Resumo. A hipertensão arterial é considerada um dos principais fatores de risco para a morbidade e mortalidade cardiovascular. Os reflexos originados nos barorreceptores arteriais e nos receptores de estiramento da região cardiopulmonar são os principais mecanismos de controle efetivo da pressão arterial a curto prazo.

Como a atividade física diminui a pressão arterial?

Assim, o exercício físico de baixa intensidade diminui a pressão arterial porque provoca redução no débito cardíaco, o que pode ser explicado pela diminuição na freqüência cardíaca de repouso e diminuição do tônus simpático no coração, em decorrência de menor intensificação simpática e maior retirada vagal(12,21,22).

Quais os sistemas responsáveis pelo controle da pressão arterial durante o exercício físico?

Diante do exposto, durante a realização do exercício aeróbico, o DC aumenta pelo aumento da FC e do VS, en- quanto que a RVP se mantém ou diminui. Tais ajustes elevam a pressão arterial (PA) sistólica (PAS) e mantém ou diminuem a pressão arterial diastólica (PAD).