Quais são os benefícios da atividade física para o público cardiopatas?

Graduado em Tecnologia em Eletr�nica Industrial (Universidade Salesiana S�o Jos� de Campinas � UNISAL)

Diretor T�cnico da Associa��o Phoenix de Kung Fu Tradicional (APKF)

Presidente da Comiss�o de Estudos do Sistema Phoenix de Kung Fu Tradicional (SPKF)

Jo�o Lu�s Rebelo Torres

[email protected]

(Brasil)

Resumo

          Desde quando o envelhecimento passou a ser tratado como um fen�meno mundial, novos estudos passaram a fomentar novas formas de olhar esta popula��o, criando pol�ticas e sistemas que promovem novas perspectivas de integra��o de idosos em diversas �reas do conhecimento. � not�ria a cria��o de pol�ticas p�blicas de sa�de que visam reduzir os riscos de morbimortalidade, promo��o da qualidade de vida e conscientiza��o da popula��o. Mas somente as a��es de pol�ticas p�blicas n�o d�o a sustenta��o necess�ria para os princ�pios �ticos intr�nsecos na a��o dos profissionais da �rea da sa�de, promovendo uma dicotomia entre o profissional e o ser humano. Neste estudo, foram abordados os princ�pios �ticos que regem o profissional de Educa��o F�sica na aten��o b�sica de sa�de, com enfoque no idoso cardiopata, o mais propenso estatisticamente de vir a adoecer ou falecer. Com base nestes princ�pios, buscamos fortalecer a import�ncia deste profissional nas equipes multidisciplinares de sa�de e nas condutas �ticas pertinentes ao cargo que ocupa, visando a melhoria da qualidade de vida da popula��o idosa.

          Unitermos: Sa�de do idoso. �tica profissional. Cardiologia.

Abstract

          Since when aging began to be treated as a global phenomenon, new studies began to foster new ways of looking at this population, creating policies and systems that promote new opportunities for integration of the elderly in various areas of knowledge. These findings emphasize the creation of public health policies aimed at reducing the risk of morbidity and mortality, promoting quality of life and public awareness. But only the actions of public policies do not provide the necessary support to the ethical principles inherent in the actions of health professionals, promoting a dichotomy between the professional and human being. This study addressed the ethical principles governing the professional physical education in primary health care, focusing on the elderly cardiac patient, the statistically more likely to come to get sick or die. Based on these principles, we seek to strengthen the importance of training in multidisciplinary health teams and the ethical conduct relevant to the position it occupies in order to improve the quality of life of the elderly population.

          Keywords:

Elderly health. Professional ethics. Cardiology.EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - A�o 19 - N� 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdu��o

    Segundo a Organiza��o Mundial de Sa�de � OMS, a faixa et�ria determinada para classificar a popula��o idosa � a partir dos 60 anos de idade, subindo para 65 anos nos pa�ses desenvolvidos. No Brasil, o Estatuto do Idoso, institu�do pela Lei Federal 10.741 de 2003, classifica os idosos como adultos a partir dos 60 anos de idade (BRASIL, 2010b).

    De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica � IBGE (BRASIL, 2010c), a popula��o idosa brasileira vem crescendo gradativamente ano ap�s ano, perfazendo aproximadamente 10% da popula��o em 2010, ou seja, mais de 20 milh�es, e estima-se que em 2050 a rela��o ser� de um para cinco em todo o mundo. Nos pa�ses desenvolvidos esta propor��o aumenta de um para cada tr�s habitantes (BRASIL, 2002), o Brasil tem a perspectiva de ocupar o sexto lugar quanto ao contingente de idosos, alcan�ando, em 2025, cerca de 32 milh�es de pessoas com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 2010b), dados importantes para analisar o quadro atual desta popula��o, havendo a necessidade de planejar a gest�o e a avalia��o de pol�ticas p�blicas relacionadas � sa�de, previd�ncia e assist�ncia social aos idosos.

    Com a promulga��o da Pol�tica Nacional de Sa�de do Idoso (PNSI) por meio da Portaria n� 2.528 de 2006, a popula��o idosa passa a receber aparatos legais quanto � sua sa�de pela rede de aten��o b�sica atrav�s da Estrat�gia de Sa�de da Fam�lia (ESF), buscando melhorias no atendimento, assist�ncia, promo��o da sa�de e preven��o de doen�as (BRASIL, 2010b). Hoje, a ESF est� presente em aproximadamente 84% dos 5.563 munic�pios brasileiros, chegando a quase trinta mil equipes (BRASIL, 2010a).

    Para ampliar a abrang�ncia, o escopo e a resolubilidade das a��es de aten��o b�sica, foram criados os N�cleos de Apoio � Sa�de da Fam�lia (NASF), quem t�m como objetivo oferecer apoio matricial a um conjunto de equipes e unidades de Sa�de da Fam�lia, desenvolvendo a��es que integrem pol�ticas sociais direcionadas � sa�de, educa��o, esporte, lazer, trabalho, entre outras que propiciem a melhora da qualidade de vida da popula��o e redu��o dos agravos e danos decorrentes das doen�as n�o-transmiss�veis. Nestas equipes est�o inclusos os profissionais da Educa��o F�sica (BRASIL, 2010a).

    Por�m, mesmo com todas estas leis e pol�ticas voltadas para os idosos, nem o Estatuto do Idoso e nem a PNSPI, viabilizaram a��es que poderiam promover notadamente a aten��o � sa�de da pessoa idosa de forma integral e multidisciplinar em todos os n�veis de aten��o, caracterizando-se como movimentos pontuais e desarticulados no pa�s. Nesse contexto, as quest�es da promo��o e da educa��o em sa�de apontam importantes desafios para a implementa��o dessas pol�ticas (VERAS, 2009 apud BRASIL, 2010b).

    Para que isso vigore, uma s�rie de desafios precisam ser enfrentados, entre eles, a escassez de estruturas de cuidado intermedi�rio e suporte qualificado ao idoso e seus familiares, destinados a promover intermedia��o segura entre a alta hospitalar e a ida para o domic�lio; suporte qualificado e constante aos servi�os e indiv�duos envolvidos com o cuidado domiciliar ao idoso, conforme previsto no Estatuto do Idoso, incluindo-se o apoio �s fam�lias e aos profissionais das equipes de Sa�de da Fam�lia; supera��o da escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento em envelhecimento e sa�de da pessoa idosa; implementa��o das Redes de Assist�ncia � Sa�de do Idoso (BRASIL, 2010b, p. 23).

    Esta car�ncia de profissionais capacitados na �rea de Sa�de do Idoso faz com que estigmas sejam encravados na imagem destas equipes multidisciplinares, que por vezes n�o t�m o suporte t�cnico-cient�fico suficiente para acolher a popula��o idosa de forma integral, nem de suporte financeiro e log�stico devido � m� distribui��o dos recursos p�blicos por gest�es corruptas e/ou incompetentes, e nem por fomenta��o instrucional significativa por parte do governo ou dos profissionais e estudantes.

    A Carta Brasileira de Educa��o F�sica (BRASIL, 2000) e o C�digo de �tica de Educa��o F�sica (BRASIL, 2003a) refor�am que os profissionais de Educa��o F�sica devem possuir uma forma��o acad�mica s�lida, proporcionando condi��es que lhes confiram qualidade, compet�ncia e responsabilidade no que diz respeito ao exerc�cio de suas fun��es, al�m de estarem organizados nos Conselhos Regionais de Educa��o F�sica e, permanentemente, envolvendo-se em programas de aprimoramento t�cnico-cient�fico e cultural, regidos por uma cultura �tica e de qualidade em todos os espa�os em que atuem, preservando e promovendo a sa�de, zelando pelo respeito � sua profiss�o e a atua��o dos demais profissionais de outras �reas.

    Dessa forma, podemos deduzir que uma das principais premissas �ticas a ser analisada � a que condiz com a forma��o do profissional pertinente com a �rea em que ir� atuar e, sendo um profissional da �rea da sa�de gerontol�gica, estes conceitos devem permear a abrang�ncia de toda a dimens�o em que o idoso se encontra, transcendendo as limita��es biol�gicas para a busca constante da integralidade da qualidade do servi�o prestado ao ser humano e n�o simplesmente ao paciente/cliente/aluno/atleta, isso ser� refletido em sua conduta profissional no dia a dia de seu trabalho.

    O conceito de educa��o permanente permeia essa discuss�o. Trata-se da educa��o ao longo de toda a vida. A educa��o � uma constru��o cont�nua dos conhecimentos e aptid�es humanas, da capacidade de discernir e de agir. A pessoa deve ser estimulada a descobrir, despertar e aumentar as suas possibilidades. Cabe � educa��o em suas m�ltiplas facetas englobar todos os processos que levam a pessoa, desde a inf�ncia at� o fim da vida, a um conhecimento din�mico do mundo, dos outros e de si mesma. Educar � promover meios para que o educando busque ele pr�prio empreender a constru��o do seu ser, descobrindo suas potencialidades em termos pessoais e sociais (BREDEMEIER, 2009, p. 64).

    Em conformidade com os princ�pios �ticos, legais, cient�ficos e humanos, foi estruturada nos cap�tulos que seguem, uma an�lise discursivo-reflexiva sobre a conduta �tica dos profissionais de Educa��o F�sica para com a popula��o idosa cardiopata, tomando como refer�ncia o C�digo de �tica de Educa��o F�sica (2003a), o Estatuto do Idoso (2003b) e as recomenda��es do CONFEF para o profissional de Educa��o F�sica na aten��o b�sica de sa�de (2010a), dentre outras refer�ncias pertinentes ao tema.

Revis�o bibliogr�fica

    Sob uma perspectiva cronol�gica e biol�gica, Spirduso (2005) classifica o envelhecimento em duas linhas anal�ticas: a primeira � classificada como �envelhecimento prim�rio�, que passa pelo �processo de envelhecimento�, natural, conseq�ente da idade e independente de doen�as e/ou influ�ncias ambientais. A segunda se refere ao �envelhecimento secund�rio�, que passa pelo �processo de envelhecer�, que inclui, al�m dos processos de envelhecimento prim�rio, os efeitos do ambiente e das doen�as. Estes processos n�o s�o dicotomizados, eles interagem entre si, visto que, conforme a pessoa envelhece, mais propensa a doen�as fica.

    Dentre as mudan�as fisiol�gicas mais not�veis associadas ao envelhecimento destacam-se as que condizem ao sistema cardiorrespirat�rio, onde Spirduso (2005) aponta os benef�cios de exerc�cios f�sicos para regula��o desse sistema, alegando, como resultados poss�veis, o retardo de a��es do envelhecimento do sistema card�aco. Dentre estas a��es, destacam-se os decl�nios na capacidade de exerc�cio m�ximo e freq��ncia card�aca m�xima, aumento na press�o arterial sist�lica e na espessura da parede do ventr�culo esquerdo e deteriora��o no metabolismo de glicose e lip�dios. Quando em repouso, a fun��o card�aca, na maioria dos idosos, se iguala � de pessoas mais jovens, mas quando submetidos a exerc�cios vigorosos, esta rela��o � sinalizada pelo decr�scimo de 5 a 10 batimentos por d�cada de diferen�a.

    Mudan�as normais do envelhecimento no tamanho do cora��o, volume sist�lico final e volume de sangue ejetado durante o repouso s�o m�nimos. A principal deteriora��o estrutural e funcional � em virtude de processos patol�gicos, como aterosclerose coron�ria, em vez do processo real de envelhecimento (Ibidem, p. 128).

    Segundo os dados estat�sticos de 2008 do Departamento de Inform�tica do SUS do Minist�rio da Sa�de � DATASUS/MS � as principais causas de interna��es hospitalares e de mortalidade de idosos no Brasil foram decorrentes de patologias vinculadas ao sistema circulat�rio, representando, respectivamente, 27,4% e 37,7% dos casos (conforme as tabelas 1 e 2). Segundo Brasil (2010b), as doen�as cerebrovasculares s�o as principais causas de �bitos, tanto em idosos quanto no restante da popula��o, seguida das cardiovasculares. Nos pa�ses desenvolvidos e no mundo de uma forma geral, observa-se o inverso quanto a essas duas causas, ou seja, doen�as cardiovasculares, em primeiro, e doen�as cerebrovasculares, em segundo.

Tabela 1. Principais Causas de Interna��o Hospitalar de Idosos no SUS

Quais são os benefícios da atividade física para o público cardiopatas?

Fonte: DATASUS, 2010

Tabela 2. Principais Causas de Mortalidade de Idosos no Brasil

Quais são os benefícios da atividade física para o público cardiopatas?

Fonte: DATASUS, 2010

    Santos (2004) defende o conceito de que a atividade f�sica regular � uma estrat�gia importante na preven��o de doen�as cardiovasculares, atuando na preven��o prim�ria e secund�ria das Doen�as das Art�rias Coron�rias (DAC) e aterosclerose, �atuando tamb�m como coadjuvante no tratamento de diversos fatores de risco coron�rio, como hipertens�o arterial, diabetes, dislipidemia, tabagismo e controle do estresse e da depress�o� (p. 356), isso sem contar no controle do peso e na facilita��o do cessar do h�bito de fumar. O sedentarismo acaba se tornando o principal fator de risco para esta popula��o.

    Spirduso (2005) diz que a cada d�cada o indiv�duo sedent�rio pode diminuir em at� 10% a quantidade m�xima de oxig�nio, mas com um programa de pr�ticas regulares de exerc�cios, idosos podem alcan�ar n�veis muito maiores de capta��o de oxig�nio, podendo, at� mesmo, superar indiv�duos sedent�rios aptos para realizarem atividades f�sicas. Dentre outros benef�cios fisiol�gicos, o autor ainda destaca a melhoria no volume de eje��o (o que auxilia na manuten��o do d�bito card�aco), aumento no volume sangu�neo total e t�nus das veias, reduzindo a resist�ncia vascular e controle do colesterol.

    Nos idosos com angina, o limiar da dor pode ser incrementado por meio de exerc�cios e, em alguns casos, pode faz�-lo desaparecer por conta do duplo produto (freq��ncia card�aca versus press�o arterial sist�lica) como produto do treinamento aer�bico (SANTOS, 2004). Exerc�cios resistidos s�o apontados pela mesma autora como pr�ticas extremamente ben�ficas, promovendo a redu��o do risco cardiovascular, redu��o da press�o arterial de repouso, aumento do HDL-colesterol, diminui��o da resist�ncia � insulina, aux�lio no controle do peso, preven��o de quedas, aumento da densidade �ssea, atenua��o da perda de massa muscular e esquel�tica (sarcopenia), redu��o da incid�ncia de lombalgia e aumento do metabolismo basal.

    Ao favorecer o idoso com um ambiente apropriado, � fornecido, tamb�m, uma inje��o de �nimo na sua autoestima (CASTRO, 2011). Por�m, Carvalho, Teixeira e Forti (2003) mencionam que cerca de 50% das pessoas que iniciam um programa de reabilita��o card�aca, logo o abandonam em um prazo de at� 6 meses, identificando tal circunst�ncia nas a��es dos profissionais, seja pela falta de aten��o e cuidado, seja pelos treinamentos e locais inapropriados para os exerc�cios ou por falta de apoio dos familiares.

    S�o in�meros os relatos de casos, estudos e repercuss�o midi�tica sobre os benef�cios que as atividades f�sicas v�m a proporcionar na vida dos idosos. Por�m, n�o s�o todos que conseguem este benef�cio, pois esta parcela da popula��o � particularmente mais suscet�vel ao isolamento social, que segundo Santos (2004), � um fator de risco para a morbidade, mortalidade, ocorr�ncia de Acidente Vascular Cerebral (AVC), dem�ncia e Infarto Agudo do Mioc�rdio (IAM).

    �Velhice� n�o pode ser entendida como �doen�a�, e neste sentido � importante ressaltar que a sa�de da pessoa idosa inclui diversos fatores: ambientais, socioecon�micos, culturais e pol�ticos que v�o al�m do simples fato de ter ou n�o ter sa�de (BRASIL, 2010b). Silva (2002) nos lembra que por sermos humanos, n�o deixamos de sentir, de ficar preocupados com o que � aceito ou esperado culturalmente, socialmente, quando estamos doentes, portanto, como profissionais, n�o podemos considerar apenas o �fisiol�gico� do paciente, pois seu comportamento est� diretamente relacionado ao que ele sente e pensa.

Conduta do profissional de Educa��o F�sica na aten��o � sa�de

Na aten��o prim�ria

    Tamb�m conhecida como �aten��o b�sica�, � a primeira forma de contato com a popula��o, dando in�cio a um processo continuado de aten��o � sa�de. Neste contexto, o profissional de Educa��o F�sica (vinculado ou n�o ao Sistema �nico de Sa�de) atua na preven��o de doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis (principalmente em idosos ou pessoas previamente identificadas como grupo de risco), oferecendo possibilidades e viv�ncias corporais que privilegiem a intera��o do dom�nio motor, cognitivo, afetivo e social, visando sua qualidade de vida (BRASIL, 2010a).

    Segundo Castro (2011), a atividade f�sica repercute no tempo de vida dos idosos, buscando ampliar o tempo de vida saud�vel para que tenham �qualidade de vida� por um n�mero maior de anos, evitando o agravamento de doen�as, o seu sofrimento e retardando o tempo de sua depend�ncia para terceiros na realiza��o de suas necessidades b�sicas da vida di�ria.

    A pr�tica de exerc�cios n�o evita os efeitos do envelhecimento normal, mas n�o se pode deixar de admitir que ela torna mais lento e menos prejudicial o processo de perdas evolutivas que se d� na velhice. Sobretudo, os exerc�cios facultam ao ser humano uma velhice com melhor qualidade geral de vida (Ibidem, 2011, p. 53).

    Na interven��o inicial, o profissional deve analisar o prontu�rio, identificar os fatores de risco e definir as vari�veis do programa de acompanhamento ou treinamento, minimizando os riscos associados �s atividades atrav�s de monitora��o e prescri��o consciente dos exerc�cios e potencializando os resultados positivos, como o despertar do interesse sobre a pr�tica e a intera��o com a(s) equipe(s) multidisciplinar(es). O profissional tamb�m deve atualizar periodicamente as fichas de acompanhamento e avalia��o, aferir e monitorar a freq��ncia card�aca e a press�o arterial antes, durante e depois das atividades, principalmente se j� apresentarem hipertens�o arterial sist�mica (BRASIL, 2010a).

    Importante ressaltar que a �rea T�cnica Sa�de do Idoso (ATSI) reafirma a necessidade de mudan�as na linha de cuidados e da aten��o a essa popula��o, atrav�s da humaniza��o do atendimento, bem como do fomento de inova��es, atrav�s da dissemina��o de conhecimentos espec�ficos para gestores e profissionais de sa�de que atuam na rede, buscando parcerias e divulgando a id�ia do Envelhecimento Ativo (BRASIL, 2010b).

Na aten��o secund�ria

    As recomenda��es do Conselho Federal de Educa��o F�sica (CONFEF) quanto ao profissional de Educa��o F�sica na aten��o secund�ria de sa�de, � a de encaminhar os indiv�duos que apresentarem fatores de riscos a um m�dico mediante a uma pr�via avalia��o e, concomitantemente com ele, orient�-los e acompanh�-los no intuito de diminuir os efeitos delet�rios de doen�as e reduzir a utiliza��o de medicamentos (BRASIL, 2010a).

    As doen�as das art�rias coron�rias s�o importantes fatores de incapacidade f�sica no idoso, e o tratamento adequado, com incentivo dos pacientes a uma pr�tica regular de atividades f�sicas, tendem a devolver parte de sua autonomia e ajudam no tratamento (SANTOS, 2004). Idosos est�o mais propensos ao comprometimento de sua autonomia, fazendo com que gerem uma baixa na qualidade de vida por n�o conseguirem realizar as atividades de vida di�ria, sem a necessidade de interven��es de terceiros, potencializando novos fatores de risco durante sua recupera��o (CASTRO, 2011).

    A recupera��o do paciente n�o depende de fatores exclusivamente bioqu�micos, mas de quanto ele se sente aceito ou rejeitado, � vontade ou constrangido enquanto est� se recuperando (SILVA, 2002).

    Waldow (2010) aponta a �eros�o do cuidado� como um dos principais fatores de ocorr�ncia �tica na presta��o de servi�os nos cuidados da aten��o secund�ria. Esta �eros�o� � causada por fatores descritos por Goldsborough (apud CARPER, 1979):

    Uma � a j� estabelecida especializa��o nas profiss�es de sa�de. Esta superespecializa��o tem resultado em divis�es e subdivis�es de tarefas e per�cia profissional. A estrutura��o das institui��es, cada vez mais sofisticadas e burocratizadas, s�o inevitavelmente despersonalizantes. Pacientes est�o � merc� de estranhos cujas fun��es e pap�is desconhecem, de m�quinas, de aparelhos e de testes assustadores e de rotinas totalmente desconectadas de seus conhecidos h�bitos familiares. O paciente torna-se somente um paciente a mais, outra patologia, outro tratamento, outro prontu�rio, outro nome na lista di�ria do cronograma das salas de cirurgias, unidades e card�pios... ele � solicitado a descartar sua identidade como pessoa e tornar-se um paciente (WALDOW, 2010, p. 134).

    Outra influ�ncia na eros�o do cuidado, tamb�m apontada por Waldow (2010), resulta em um dos produtos da ci�ncia: a tecnologia. Mesmo que os avan�os cient�ficos e tecnol�gicos tragam in�meros benef�cios, da mesma forma que a habilidade e o conhecimento de muitas equipes de especialistas, eles tamb�m trazem impessoalidade, formalismo, frieza, desvaloriza��o a que se acabam submetendo os indiv�duos.

Na aten��o terci�ria

    Os profissionais podem atuar nas fases II e III da reabilita��o card�aca, desde que tenham a forma��o especializada necess�ria para atender esta popula��o, interagindo com o m�dico e recomendado por ele (por escrito) a seus cuidados (BRASIL, 2010a).

    � importante salientar que o profissional de Educa��o F�sica deve educar o paciente para uma pr�tica consciente do exerc�cio f�sico, conscientizando-o que tal pr�tica � um recurso estrat�gico para promo��o de sua sa�de, com poss�vel redu��o ou n�o-utiliza��o de medicamentos (BRASIL, 2010a).

    A educa��o � transmitida por meio das rela��es humanas, sejam elas com o paciente ou com a equipe multidisciplinar, mas elas ocorrem por meio de um processo de comunica��o, como a escrita, a fala, as express�es faciais, a audi��o e o tato. Mas, somente pela comunica��o efetiva, � que o profissional poder� ajudar o paciente a realmente conceituar seus problemas, enfrent�-los, visualizar sua participa��o na experi�ncia e alternativas de solu��o dos mesmos, al�m de auxili�-lo a encontrar alternativas de solu��o dos mesmos, al�m de auxili�-lo a encontrar novos padr�es de comportamento (SILVA, 2002).

Reflex�o dial�tica da revis�o

    Conforme foi visto na revis�o bibliogr�fica, pudemos identificar quest�es �ticas conflitantes a respeito das premissas que envolvem o profissional de Educa��o F�sica na aten��o � sa�de dos idosos cardiopatas e, de certa forma, n�o somente eles, pois os conceitos �ticos aqui vistos s�o pass�veis de transfer�ncia na abordagem de v�rias outras patologias ou grupos populacionais.

    Sabe-se que h� um c�digo que rege as normativas �ticas, que visa proporcionar a qualidade de vida de pessoas que, por fatores meramente cronol�gicos, possuem uma determinada classifica��o. Esta classifica��o traz benef�cios e malef�cios, oriundos da a��o do comportamento da sociedade, cultura local e pol�ticas sociais.

    Por vezes notamos que este processo classificat�rio induz uma forma��o inconsciente de micro-sociedades, marginalizadas passivamente pelas a��es dos indiv�duos que acercam esta popula��o, sejam familiares, amigos, colegas de trabalho, comunidade... isolando uma popula��o que necessita de uma aten��o especial.

    A marginaliza��o � feita conforme h� altera��es fisiol�gicas decorrentes da diminui��o dos processos metab�licos, resultando em perda de desempenho f�sico e cognitivo, nos quesitos est�ticos, adaptativos, entre outros inerentes ao processo irrevers�vel do envelhecimento, gerando, de algum modo, esta marginaliza��o.

    O apoio das pol�ticas sociais � debilitado, o pr�prio termo �aposentadoria� refere-se ao �aposento�, ao descanso como se n�o pudessem mais fazer parte da sociedade por n�o serem mais �produtivos�. Stano (2001 apud BIANCHI & WOLF, 2009) refor�a este conceito, alegando que desde que o trabalho assumiu a principal refer�ncia do sujeito-social, a condi��o de �n�o-trabalho� reporta estes indiv�duos � sociedade como marginalizados, improdutivos, desnecess�rios...

    Estes conceitos se refletem nas a��es da sociedade de forma geral, que n�o v� o idoso na figura humana, mas apenas como algu�m a quem se deva fazer favores. N�o se procura sintetizar uma formula��o coerente para o acesso � informa��o a respeito dos direitos desta popula��o, e nem � motiva��o da popula��o n�o-idosa em saber destes direitos e deveres para com eles. E � poss�vel que, mesmo sabendo destes direitos e deveres, n�o consigamos reverter o quadro, pois isto � um produto produzido pelas p�ssimas condi��es de educa��o que nosso pa�s se encontra.

Considera��es finais

    Em todas as �reas do conhecimento nos deparamos com quest�es �ticas que necessitam de avalia��o intr�nseca e extr�nseca, das quais s�o tangenciadas pela realidade da popula��o que compartilha dos mesmos costumes em uma determinada �poca.

    Conforme o desenvolvimento da sociedade, tecnologias s�o inovadas, conceitos s�o reformulados e valores s�o modificados. Observamos que conforme progride este avan�o, o tempo passa a ser extremamente valorizado, chegando a ser uma regalia �queles que o possuem. Sem tempo, pessoas se comprometem menos umas com as outras, pois n�o possuem tempo para elas pr�prias. Acabamos nos afundando em um mar de ego�smo indutivo, onde a valoriza��o do ser humano passa a ser vista em segundo plano, onde o desenvolvimento da empatia fica bloqueado por falta de quesitos b�sicos para sua forma��o.

    Dignificar o indiv�duo fragilizado por uma determinada patologia ou condi��o funcional deve transcender o ambiente dos diagn�sticos e procedimentos de recupera��o... deve-se alcan�ar, atrav�s de atitudes humanizadas, o conforto psico-s�cio-f�sico do ser fragilizado e daqueles que se importam com ele e o amam, sem priv�-lo de informa��es relevantes quanto ao seu estado de sa�de ou de tomar decis�es do que se pode ser feito por ele naquele momento.

    Procurar bodes expiat�rios para justificar atitudes n�o-�ticas, fortalecem conceitos hip�critas determinados, n�o somente pela m� forma��o do profissional, mas pela m� forma��o da educa��o do indiv�duo, a partir do ambiente familiar e de outras pessoas e m�dias que o cerca, desde a sua concep��o.

    Portanto, n�o � a faculdade, a pol�tica da institui��o de sa�de, o curso de capacita��o, ou qualquer outro �rg�o (ou peda�o de papel) que promova as atitudes do �dever de ser/fazer� que ir� ditar a a��o promovida pelo profissional, pois o profissional, antes de ser profissional, � um ser humano, digno de respeito como qualquer outro, orientado a ter uma determinada conduta por sua forma��o acad�mica, mas que somente ser� refletida atrav�s de sua forma��o pessoal. Educa��o � a base de tudo.

Refer�ncias

  • BIANCHI, S.; WOLFF, S. H. Gin�stica coreografada. In: WOLFF, S. H. Vivendo e envelhecendo: recortes de pr�ticas sociais nos N�cleos de Vida Saud�vel. S�o Leopoldo: UNISINOS, 2009. p. 135-147.

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  • __________. Conselho Federal de Educa��o F�sica. Recomenda��es sobre condutas e procedimentos do profissional de Educa��o F�sica na aten��o b�sica � sa�de. Rio de Janeiro: CONFEF, 2010a. 48p.

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    Quais são os benefícios da atividade física para cardiopatas?

    Recomendadas pelos cardiologistas, as atividades aeróbicas como caminhada, corrida e bicicleta têm muitos pontos ao seu favor: melhora da capacidade cardiorrespiratória e da circulação coronariana (no coração) e nos membros inferiores (pernas), além do controle da pressão arterial e do perfil metabólico do paciente, ...

    Quais são os benefícios do treinamento resistido para pessoas cardiopatas?

    Os benefícios potenciais do exercício resistido incluem não só melhora na saúde e controle de fatores de risco para doenças cardiovasculares como hipertensão arterial, dislipidemia, sensibilidade à insulina, melhor controle do peso, prevenção de deficiências e quedas e aumento da capacidade funcional (1-6).

    Como devem ser realizadas as atividades físicas para cardiopatas?

    É recomendável fazer atividades como caminhadas, que não levam o coração a mais que 150 batimentos por minuto, para não desgastar o músculo cardíaco”. Os exercícios ideais são os aeróbicos, como caminhar ou andar de bicicleta.

    Quem tem cardiopatia pode fazer atividade física?

    Quem tem problemas cardíacos pode praticar atividade física? A resposta é sim. Realizar exercícios também é recomendado para pacientes cardiopatas, inclusive a prática regular e adequada pode reduzir a mortalidade em até 30%.