Qual a mensagem do filme Meu Pé de Laranja Lima?

Meu Pé de Laranja Lima conta-nos a história de Zezé, uma criança ternurenta, mas que está sempre envolvida em travessuras. Carismático e aventureiro, é no pé de laranja lima do seu quintal que encontra refúgio nas horais mais difíceis. Em Meu Pé de Laranja Lima aprendemos que quando amamos muito, o nosso coração é infinito.

Zezé tem 6 anos e vem de uma família pobre. O menino destaca-se pela perspicácia com que analisa os fenómenos do dia a dia e a ternura com que lida com as situações. O livro tem como pano de fundo uma pequena vila brasileira, onde Zezé frequenta a escola. O seu melhor amigo é o “portuga”, um senhor com quem Zezé passa muito tempo.

Qual a mensagem do filme Meu Pé de Laranja Lima?

DR

A peculiaridade desta história é que a criança conta com uma árvore que é sua conselheira e amiga. Esta árvore, um pé de laranja lima, com Zezé e ouve todos os seus desabafos. Como o protagonista vem de uma família numerosa e recebe pouca atenção em casa, envolve-se com frequência em sarilhos e aventuras. É frequente Zezé fazer desabados nos quais revela que leva muitos castigos físicos da família, pelas travessuras que faz, mas que a dor maior nunca é a física, mas sim a do coração.

Meu pé de Laranja Lima é repleto de poesia em cada palavra e conquista o leitor do início ao fim. É impossível ficar indiferente a esta ternurenta história em qualquer idade. O livro ajuda o leitor a refletir acerca do problema da pobreza sistémica. No fundo, é um retrato da resiliência das crianças que vivem nestas condições que são obrigadas a crescerem demasiado cedo. Com a amizade de Zezé com o Portuga podemos refletir acerca da amizade com base nas diferenças culturais que é retratada de forma simples e pura neste livro. Uma das passagens que mais me enterneceu, foi o momento em que Zezé partilha um dos seus pertences com uma menina mais pobre da sua escola. Esta situação revela a humildade da criança que pouco tem, mas mesmo assim preocupa-se em partilha com quem ainda menos tem.

Sem dúvida que é uma leitura obrigatória para todas as crianças, mas que vai encher o coração aos mais velhos. Esta história consegue explicar conceitos complexos como o amor, a amizade e até o sofrimento por palavras simples. É um livro que deve ser lido várias vezes para ser apreciado e quantas mais vezes lemos, mais nos apaixonamos pela sua mensagem.

Título Original: Meu Pé de Laranja Lima

Autor: José Mauro Vasconcelos

Editora: Livros Dinapress

Género: narrativa, drama

Data de lançamento: 1968

Meu Pé de Laranja Lima 10

José Mauro de Vasconcelos, com uma simplicidade mágica, nos faz observar o mundo a partir dos olhos de um pequeno poeta — e o resultado é tão cru quanto a realidade

Ilustração da capa mais recente da obra (Reprodução/Livraria Curitiba)

Esta é uma história de falta.

Falta de carinho, de atenção, de compreensão, de limites e de paciência. Ainda assim, também é uma história de excessos — de muitos: de agressividade, de injustiça, de crueldade, de desrespeito e de realidade.

Na história de O Meu Pé de Laranja Lima (1968), escrita por José Mauro de Vasconcelos, Zezé, o protagonista, é uma criança que precisou crescer cedo demais. Uma das caracterizações mais utilizadas para descrevê-lo é o estado “precoce” de sua mente. Ora, uma criança de (quase) seis anos que aprende a ler sem nunca receber uma instrução é como um passe de mágica. Mas nós, leitores, sabemos que se trata de uma genialidade de poeta — coisa que o próprio Zezé gostaria de ser (pelo menos no início do livro).

Capa dos primeiros exemplares (Reprodução).

Essa também é uma história que pulsa morte, mas não só a física. É morte de pensamento, de imaginação. No desenrolar da obra, José (nome do protagonista) quer ser rico, e não mais poeta, para não viver em uma realidade que o consome de dentro para fora.

Esse sentimento é fruto de abuso — que está bem longe de ser uma das ideias mirabolantes, extremamente criativas e engraçadas do garoto. O Zezé, ao longo da história, é moldado pela realidade em que vive: vai se tornando mais agressivo quando necessário e mais quieto quando lhe convém, porém, acima de tudo, ele é quebrado por uma vida de pobreza, falta de amor e muita pancada. E isso, sem dúvida, é algo que permeia a vida de milhares de Zezés pelo Brasil.

O José vive numa casa pequena com um pai desempregado e que, com frequência, desaparece para gastar o pouco que tem com jogos e bebida. A mãe é uma condenada ao trabalho excessivo e, por isso, foi acometida pela absoluto mal do cansaço. A irmã mais velha é negligente ao ponto de ser ridícula; o irmão mais velho só tira proveito da inocência do pequeno. Existem, sim, figuras dispostas a ajudá-lo, como a irmã Glória e o caçula Luís, mas não é o suficiente.

É dessa realidade que Zezé foge, e o faz externando seus desejos mais íntimos. Esses desejos, de modo geral, sempre voltam-se para a ideia de amizade. É uma constante procura por alguém que seja seu confidente e, ao mesmo tempo, demonstre um mínimo de carinho por ele. É assim que surgem os vários Lucianos — que são morcegos com os quais Zezé brinca. É assim que ele, ao ver uma meia velha ou um galinheiro, enxerga uma cobra atrevida e um enorme zoológico.

Nesse caminho, Zezé conhece seu primeiro grande amigo: uma árvore pequenina de laranja lima — que é batizada de Minguinho. Uma projeção criativa de si mesmo, em que os dois nunca discordam, sabem tudo um do outro. O confidente perfeito. Minguinho, assim como Zezé, começa pequeno e lúdico, crescendo com o avançar da história e se tornando adulto, tendo a primeira flor e, depois, morrendo — uma analogia interessantíssima sobre a imaginação do menino poeta. Começa pequena, forte e resistente, afinal o pé de laranja lima crescera num “valão” (uma espécie de sarjeta em que corre esgoto), depois vai se desenvolvendo, crescendo e, no limite do suportável, gera uma única flor, a “despedida” que Zezé vislumbra quando está de cama e tem a maior de suas “viagens”. É uma flor que representa um fim de vida, mas metafórico. O Zezé está de pé, mas seu espírito foi quebrado. Foi escrito pelo próprio Vasconcelos: “A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo”.

O tal do Portuga é tão importante quanto a árvore. Batizado de Manuel Valadares, ele tinha um carrão, uma casa grande e roupas legais. Chamava atenção quando passava, atiçando a curiosidade do menino. O Portuga se tornou a figura paterna da história. Ele é o amigo que Zezé sempre quis ter e, ao mesmo tempo, tinha a fala, o toque e o carinho que Zezé desejava que o verdadeiro pai tivesse.

Capa mais recente (Reprodução).

Existe uma cena que, para mim, é hilária. Um quase acesso de ciúme do Minguinho quando José passa muito tempo se divertindo com o Portuga. Nas conversas entre humanos (e já consigo imaginar o Zezé nervoso, gritando, dizendo que árvore também é gente), a criança não precisa gastar o cérebro com tanta criatividade. Os dois passam muito tempo conversando sobre tudo, tem comida e brincadeira e dá até para andar no carrão. Zezé não precisa criar um amigo imaginário agora que tem um verdadeiro. É ÓBVIO que a árvore ficou enciumada e precisou de um chamego para perdoar.

Manuel leva o José para cá e para lá, dando a ele comida, carinho e um sorriso no rosto. Isso para a criança é mais que o suficiente. Era tanto amor pelo Portuga que quase rolou adoção, mas Zezé nunca suspeitou do Mangaratiba.

Esse livro cobre um amplo campo de temas sociais que ATÉ HOJE são debatidos, e faz mais de 50 anos que a obra foi publicada. Dá até pra aplicar esse livro numa atividade de empatia. Primeiro, a história: um menino travesso, sapeca e arteiro de cinco anos (como dizem na obra: “Tá certo que ele tem o diabo no sangue, mas mesmo assim é engraçado”) sofre tanto que, em certo momento do livro, ele literalmente quase morre de tanto apanhar — e quem faz isso tudo é a própria família. Depois, o exercício: se o primeiro pensamento que percorreu sua cabeça foi “mas o que ele fez para merecer isso?”, você precisa de um psiquiatra.

Meu Pé de Laranja Lima é uma história classificada como literatura infantil, mas não há um único tema que não permeie algo um tanto sombrio. Dentro das quase 200 páginas, nós leitores nos deparamos com um mundo de abuso infantil, espancamento, linchamento público, extrema pobreza, agressividade e até suicídio — tudo isso partindo de um menininho mirrado de cinco anos. Trata-se, a meu ver, da boa (e hoje clássica) literatura infantil — aquela que, na verdade, deveria ser lida por adultos e para adultos.

SOBRE O LIVRO

Publicado no final da década de 60, Meu Pé de Laranja Lima foi um marco de vendas. Traduzido para mais de 20 países, teve duas adaptações para o cinema e é considerado o Magnum Opus do escritor carioca José Mauro de Vasconcelos. Na edição que possuo da obra, é dito que Vasconcelos é um dos três autores brasileiros que, graças aos livros escritos, conseguiu sobreviver financeiramente apenas com os ganhos literários. Junto dele estão o gaúcho Erico Verissimo e o baiano Jorge Amado.

A história é narrada em primeira pessoa pelo protagonista. Zezé, mesmo sendo uma criança, utiliza palavras difíceis para sua idade. Porém, como mencionei anteriormente, ele é um aspirante a poeta — o que torna tudo mais verossímil e ainda mais curioso. O texto de Vasconcelos, pelo menos nessa obra, não possui rebuscamento (o que não significa que não seja poético). O autor comunica a história de uma maneira simples e direta, inclusive cometendo erros gramaticais para combinar com a pronúncia ou sotaque de certas palavras e personagens. É de um cuidado e de um carinho encantador.

Adaptação da obra para o cinema (2013) (Foto: Reprodução).

No começo dessa crítica, escrevi que essa é uma história sobre falta. De fato, se vossa experiência for igual à minha, vão faltar mais horas no dia pra continuar a leitura e, sem dúvida, vão faltar lágrimas para expressar toda a dor que a gente sente pela tristeza que acomete o nosso Zezé.

Na tentativa de criar um último apelo para que todos leiam (e releiam) essa obra admirável, cito abaixo minhas frases favoritas:

“Encoste seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater.” — autor: Minguinho, o pé de laranja lima mais humano que muita gente.

“Não havia criança ali. Todos eram grandes, grandes e tristes, ceando a mesma tristeza aos pedaços” — autor: Zezé, aquele que nasceu com um passarinho no peito.

Qual a mensagem central do filme Meu Pé de Laranja Lima?

No filme, Bernstein imprime a dicotomia entre ser criança e a expectativa de amadurecer, ou não querer amadurecer. João Guilherme Ávila vive o protagonista, garoto do interior de Minas Gerais que, incompreendido pela família, encontra num pé de laranja lima uma espécie de amigo e confidente.

Qual a finalidade do filme Meu Pé de Laranja Lima?

Ela narra a história de Zezé, garoto pobre e arteiro. Sua família é muito pobre e, de modo singelo, expõe as dificuldades dos pais em sustentar os filhos em meio à pobreza e o desemprego.

O que o livro Meu Pé de Laranja Lima ensina?

O garoto é tão esperto que acaba, inclusive, aprendendo a ler sozinho. A primeira parte do livro se debruça sobre a vida do menino, as suas aventuras e as consequências dela. Aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado, acabava sempre tomando umas palmadas.