Qual deve ser o procedimento do educador durante a fase de adaptação

Qual deve ser o procedimento do educador durante a fase de adaptação
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Qualquer processo de mudança provoca desconforto, seja para crianças ou adultos. Quando falamos sobre o início da vida escolar, por mais que cada família tenha as suas particularidades, a fase costuma gerar incômodo tanto para o pequeno, que precisa aprender a passar menos tempo em casa, quanto para os pais e tutores, que muitas vezes sofrem com a separação.

Isso ficou ainda mais em evidência desde que a pandemia de Covid-19 começou: com as crianças passando mais tempo em casa e a volta do ensino presencial adiada múltiplas vezes, escolas também tiveram de fazer mudanças em prol de uma educação mais humanizada e constante comunicação com as famílias.

É o que fala Silmara Ribeiro Moreira, coordenadora pedagógica da Escola Itamarati (Ribeirão Preto, SP). Para ela, a pandemia fez com que as escolas passassem por um momento de readaptação ao novo cenário, entendendo a necessidade de reestruturar rotinas, currículos, espaços, dinâmicas e construções de saberes. O acolhimento, opina, passou a ter um novo objetivo, compreendendo a necessidade de um olhar mais cuidadoso para o desenvolvimento e aprendizagem, principalmente de crianças pequenas. Com essas mudanças, a postura dos professores e a mediação realizada nos espaços escolares também apresentou melhora.

Mesmo com essa virada de chave por parte de algumas instituições, a adaptação escolar continua tendo suas dificuldades e precisa acompanhar as mudanças da sociedade. A boa notícia é que hoje já se discute muito mais sobre como fazê-la de maneira respeitosa, entendendo o tempo da criança e a necessidade dos pais e responsáveis. 

Trabalhar a culpa é primordial

Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, diz que a separação, seja qual for, é sempre um processo angustiante, tanto para a criança quanto para a família. Isso porque, ao entrar na escola, o pequeno vivencia pela primeira vez o distanciamento da família e a não-exclusividade, já que tem de dividir a atenção dos adultos com outras crianças – é sabido, porém, que os pequenos crescem de maneira mais saudável quando convivem com outros.

Antes de tomar qualquer atitude prática, pais e tutores precisam trabalhar sentimentos que dizem respeito somente a eles, como a culpa, para que essas emoções não influenciem no processo de adaptação da criança.

“A segurança dos adultos será a segurança da criança. Isso é de extrema importância quando falamos sobre adaptação escolar, considerando que crianças sentem aquilo que seus pais estão sentindo no momento em que chegam na escola. Se esses sentimentos forem medo, insegurança e incertezas, a criança também tende a apresentá-los”

Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento

“Lembre-se de que antes de confiar seu filho ao colégio você pesquisou e ponderou muito e, por isso, é preciso confiar no ambiente no qual decidiu deixar a criança”, aconselha Helen. O diálogo constante entre escola e tutores, complementa Silmara, também é primordial nesta etapa, já que é por meio de muita conversa e da possibilidade de participação dos pais nesse processo que a parceria entre colégio e família é estabelecida.

Para a psicopedagoga Thainara Morales, da clínica Arte Psico, olhar para a situação de maneira racional, por mais que seja difícil, é mais uma maneira de lidar com o sentimento de culpa, mesmo diante da tristeza por conta da separação, que é algo natural e esperado.

Adaptar-se à nova rotina é saudável

Com muitos pais trabalhando em regime home office, a adaptação escolar, naturalmente difícil para ambas as partes, fica ainda mais complexa, já que podem surgir sentimentos de dúvida nos pequenos: ‘por que eu preciso ir para a escola se meus pais estão em casa?’. Para evitar isso, estabelecer uma rotina familiar na qual a criança compreenda exatamente o que está acontecendo é fundamental. Segundo a psicoterapeuta, a criança também precisa saber que o papai ou a mamãe estão deixando-a naquele espaço, mas que vão voltar para buscá-la.

É necessário lembrar, ainda, sobre o quanto é saudável que a criança sinalize seu estranhamento com a nova rotina escolar, e que, na maioria dos casos, o choro inicial tende a se transformar em um interesse pelas brincadeiras e partilha das novas vivências com os coleguinhas. Não estranhe, também, caso a sua criança não chore ao ser deixada na escola, pois cada uma passa por um processo individual de adaptação.

“A ausência do choro não significa que a criança não esteja sentindo a separação, elas sempre sentem o processo de adaptação. Contudo, ao perceberem que todos os dias acontece a mesma coisa (rotina) e que a família vem buscar sempre no mesmo horário, ela para de chorar”, explica.

Todo esse processo, seja ele difícil ou mais tranquilo, deve ser visto como algo natural e parte da infância, e o cuidado durante a fase de adaptação, que representa o momento da inserção dos pequenos à vida em comunidade, é essencial.

Visitas às escolas em potencial, conversas com professores e uma observação atenta do ambiente que será frequentado pelos filhos são ações válidas por parte dos responsáveis, que devem sentir a já mencionada segurança em deixar a criança na escolinha. Após a escolha é que vem o preparo psicológico por parte dos adultos, sem projetar os sentimentos de abandono e desespero no pequeno.

Para amenizar a ansiedade dos filhos (e dos pais!)

Qual deve ser o procedimento do educador durante a fase de adaptação

Algumas medidas podem ser tomadas na intenção de trabalhar a ansiedade de separação sentida pela família, sendo a principal delas o diálogo sincero entre as partes: pais e responsáveis devem conversar com o filho sobre a ida para a escola, mencionando todas as vantagens que isso implica, como brincadeiras, novas amizades, atividades interessantes e aprendizado.

Thainara acrescenta que existem mais formas de fazer a criança compreender o momento pelo qual está passando. A contação de histórias, por exemplo, é um excelente recurso para ajudar crianças pequenas a entenderem a adaptação escolar, bem como auxiliá-los na resolução dos problemas que possam surgir. Já para os bebês, o ideal é uma adaptação gradativa, com os pais presentes na escola e orientações focadas no acolhimento.

Para os maiorzinhos, além da elaboração da rotina e diálogo, a família também pode adotar as seguintes dicas para amenizar a ansiedade de todos:

  • Envolver a criança nos preparativos para as aulas, como separar os itens da mochila e o uniforme;
  • Transmitir segurança através de conversas dentro do entendimento de cada idade;
  • Demonstrar interesse sobre o início do ano letivo;
  • Ter bastante paciência com as possíveis mudanças de comportamento;
  • Gerenciar as muitas expectativas no pequeno durante a primeira semana na escola, já que pode causar frustração na criança;
  • Evitar chorar na frente dos filhos e não fazer comentários sobre a adaptação da criança na presença dela.

“A família também precisa se adaptar, e é importante que neste momento os demais aspectos da rotina da criança sejam mantidos. Evite iniciar a retirada da chupeta, de brinquedos e o desfralde, por exemplo e, antes do início das aulas, passe com a criança em frente à escola, pare, olhe os detalhes, ouça seus comentários”, sugere a psicopedagoga.

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A escola deve ser uma aliada

Para que a transição dos pequenos para a escola ocorra de forma saudável, é importante não apenas que a família tome as providências já citadas, mas que as instituições também atuem de acordo. “Para que haja segurança e acolhimento neste processo, a escola deve ser empática e receptiva com a família.

“Toda a adaptação deve ser planejada pela coordenação, de forma tranquila e prazerosa para a criança. O vínculo é um processo sutil, que proporciona uma troca profunda e vai muito além de ser algo traumático ou superficial, então a adaptação necessita de ser um trâmite passivo, seguro e compromissada com a autonomia e preservação da saúde mental da criança”, reforça Thainara.

Para Silmara, é papel da escola convidar os pais para um diálogo inicial, a fim de que todo o processo que irá acontecer durante a adaptação seja explicado. Quando os responsáveis são orientados a partir da mediação da equipe é iniciado um elo de confiança entre escola e criança, e escola e família.

Antes de chegar na instituição, a referência da criança é a família. O espaço ainda não está apropriado e as professoras não têm o vínculo necessário para a efetivação dessa adaptação. Entendemos, portanto, que a instituição precisa possibilitar essa abertura para uma adaptação efetiva, sempre com o objetivo de entender a criança em sua integridade”, acrescenta.

Entenda os erros – da escola e dos pais – na adaptação

Quando perguntada sobre quais seriam os principais erros que as escolas costumam cometer quando realizam o processo de adaptação, Helen cita o ato de orientar os pais a irem embora escondidos dos filhos. Para ela, é importante que os responsáveis se despeçam da criança e avisem que logo irão retornar para buscá-la, mas não que “desapareçam”. Em caso de choro, reforça, a despedida deve ser rápida e com segurança, sempre avisando que voltarão em breve.

“Outro erro grave [que os profissionais da escola cometem] é o de pensar que o processo não vai ser com choro, o que na hora da separação é mais do que comum. Geralmente, o choro é uma forma da criança dizer aos familiares que, se tivesse a opção, preferiria ficar com eles – sono, fome e cansaço também são motivos para que a criança chore na hora da separação, e não queira ficar na escola”, explica.

Já para Thainara, não investir no treinamento de pais, ou seja, falhar em orientar os responsáveis sobre como será o processo de adaptação (e como eles devem agir durante esse período) é um erro grave. Além disso, não contar com um planejamento de rotinas bem estabelecidas e com regras claras, cobrar a criança excessivamente, com métodos ultrapassados e muitas tarefas, não formar vínculo com a turma de alunos e com as famílias e não promover ou intervir no desenvolvimento das habilidades sociais dos pequenos também costumam resultar em problemas.

“Uma comunicação pouco assertiva com a família, a falta de acolhimento, não ter informações sobre o histórico da criança, contar com um espaço inadequado para recebê-las, não alinhar com a equipe de professores o processo de adaptação e não proporcionar suporte e apoio para as famílias em relação às dúvidas que surgem ao longo do processo são descuidos. É importante entender a criança a partir das suas singularidades, cultura e história, compreendê-la integralmente”, avalia Silmara.

Checklist dos pontos positivos

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Para Thainara, a instituição está no caminho certo quando investe em campanhas para a promoção da saúde mental dos pequenos, quando conta com profissionais formados em psicologia positiva dentro do corpo docente e quando realiza eventos e medidas capazes de trazer as famílias para perto da instituição.

Veja outras ações que podem ser bons indícios de que a escola se preocupa com uma adaptação respeitosa:

  • A coordenação se interessa em saber o histórico da criança, desde a gestação até o momento de entrada na escola, considerando a vida familiar e a rotina dela fora do colégio;
  • A instituição tem questionários adequados e prepara espaços da escola para a recepção da criança e da família;
  • Existe um planejamento educacional de acordo com a faixa etária;
  • A escola possui estratégias – e deixa claro para os pais quais serão – preparadas para quando a criança ficar longe da família, bem como o acolhimento e a observação das necessidades de cada uma delas, a partir de uma mediação focada no fortalecimento emocional;
  • Há uma adaptação de maneira gradativa, na qual a criança passa poucas horas na escola até estar familiarizada com o ambiente, coleguinhas e professores.
  • Existe a possibilidade dos pais estarem presentes na escola durante esse período, mas em um ambiente que não seja o mesmo da criança. Assim, eles conseguem vê-la de fora, enxergando, na prática, como a adaptação vem sendo feita.

“Eu acredito na mudança das escolas para melhor. Sou otimista quando penso que hoje elas estão repensando espaços e redefinindo as prioridades pedagógicas. O aluno não é mais visto apenas como uma meta da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), mas como um ser humano, cheio de emoções e sentimentos que devem ser levados em consideração. Nunca na história das escolas foram tão faladas e trabalhadas as questões socioemocionais, fundamentais para o desenvolvimento de qualquer indivíduo”, agrega Helen.

Quando é preciso buscar ajuda

Cada indivíduo passa por um processo particular de adaptação escolar, ainda mais após a pandemia, que abalou emocionalmente muitas crianças e adolescentes. Por isso, Helen considera que alterações comportamentais são algo previsto, mas é importante que familiares e profissionais estejam atentos a comportamento que possam representar algo mais grave.

Entre eles estão mudanças significativas de humor, que duram mais do que alguns dias, como falta de energia, afastamento dos amigos e choro constante. Explosões emocionais que parecem não ter motivo para tal, apatia, tristeza, terror noturno, sonolência, grave agitação e alterações no peso (sejam elas representadas por ganhos ou perdas) também podem ser consideradas bandeiras vermelhas, já que o apetite geralmente é afetado quando questões psicológicas latentes estão em curso.

Em qualquer um desses casos, a ajuda profissional adequada é mais do que bem-vinda, sendo a terapia comportamental recomendada, assim como psicoterapia individual e familiar. O tratamento, explica Thainara, tem o objetivo de capacitar as crianças a retornarem à escola assim que possível.

“Em geral, o período inicial da adaptação da criança dura de duas semanas a um mês, mas tudo depende dela, da família e de suas experiências anteriores relacionadas às separações que enfrentou na vida – sabemos que a maioria das crianças sente alguma ansiedade de separação, mas ela em geral desaparece com o tempo ou em semanas, por isso são importantes o apoio familiar e o equilíbrio emocional dos pais na adaptação de seus filhos”, enfatiza.

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Como deve ser o período de adaptação na educação infantil?

O período de adaptação é fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento. Dessa adaptação, dependem a consolidação de uma relação de confiança, num ambiente seguro e acolhedor, e a construção das condições adequadas para que os bebês possam interagir e explorar o ambiente com autonomia.

Quais procedimentos são adotados no processo de adaptação de crianças na creche?

Respeito às particularidades de cada criança Definir um escalonamento de horários, para que os pequenos aumentem gradualmente o tempo na creche, ajuda a acostumá-los com o ambiente. Não há regras: alguns demandam um tempo maior para se adaptar. Essa escala também vale para a chegada dos bebês à creche.

Qual o papel do professor neste novo processo de adaptação dos alunos?

O professor tem participação importante na adaptação das crianças. Ele não só prepara alunos para a rotina escolar, como também transmite conhecimentos e valores que são fundamentais para o desenvolvimento de futuros cidadãos.

Como agir na adaptação escolar?

Boa leitura!.
Converse bastante com a criança. ... .
Envolva a criança nos preparativos. ... .
Adapte a rotina previamente. ... .
Transmita segurança. ... .
Demonstre interesse. ... .
Tenha paciência com as mudanças de comportamento. ... .
Procure se adaptar também..