Quando começou o Projeto Genoma Humano

O Projeto Genoma Humano representa uma das maiores proezas da ciência contemporânea. Seu objetivo foi muito claro: saber exatamente a sequência do DNA da espécie humana. Respondeu a perguntas importantes, como: quais e quantos são os genes da nossa espécie. Quais genes nos fazem humanos? Quais informações cada um desses genes traz?

Além de gerar maior conhecimento sobre o nosso DNA, o Projeto Genoma Humano alçou a ciência atual a outro patamar e possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias. Foi importantíssimo para firmar a genética como uma das mais promissoras e instigantes áreas de pesquisa, fundamental para a compreensão do organismo humano. 

Quando começou o Projeto Genoma Humano

O que foi o Projeto Genoma Humano?

O projeto foi um importante passo da ciência mundial em busca da compreensão sobre quais informações estão contidas no DNA humano. Dentre os mais de 100 trilhões de células que compõem nosso organismo, cada uma delas carrega 46 cromossomos, 23 vindos do nosso pai e 23 de nossa mãe.

É aí onde está concentrado todo o nosso DNA, com as instruções de como construir e fazer funcionar o corpo humano. Composto por mais de 3 bilhões de nucleotídeos, o desafio de “ler” tudo isso era algo bastante desafiador até os anos 90, já que a tecnologia à época era um ponto a ser vencido pelo Projeto Genoma Humano.

Uma breve história

Formada por um enorme grupo de pesquisa, liderado pelos Estados Unidos, envolveu um consórcio internacional com 18 países e 16 instituições públicas de pesquisa. Então, no final da década de 1980, um grupo de cientistas conseguiu convencer o congresso norte-americano a investir na empreitada. Algo que foi comparado à ida do homem à Lua, tanto pelos desafios a serem batidos como pelo tempo e investimento necessários para sua conclusão. 

A promessa do Projeto Genoma Humano era conseguir decifrar o DNA em 15 anos, entre 1990 e 2005, com um gasto aproximado de 200 milhões de dólares ao ano. Sob a coordenação do Instituto Nacional de Saúde e do Departamento de Energia dos Estados Unidos, contou com centenas de laboratórios e milhares de pesquisadores.

O início se confirmou no ano planejado, mas o término foi antecipado em 2 anos. Em 2003, as revistas Nature e Science, duas das mais conceituadas do mundo na área científica, trouxeram a notícia tão esperada: aproximadamente 95% do genoma humano estava enfim concluído.

Fato curioso é que o Projeto Genoma Humano se originou como uma iniciativa pública, coordenada por um dos descobridores da estrutura do DNA, Doutor James Watson. Mas houve também uma empresa (Celera Genomics), comandada pelo excêntrico cientista Craig Venter, que se aventurou nessa missão. As duas frentes meio que travaram uma competição, conseguindo concluir a tarefa com êxito praticamente ao mesmo tempo.

O legado deixado pelo Projeto Genoma Humano

Ao se revelar o código contido em nosso DNA, é inegável que as consequências desse conhecimento abre vasta área de pesquisa e aplicações clínicas. Envolve desde a compreensão dos mecanismos que levam ao aparecimento de doenças (e a susceptibilidade humana a essas doenças, como o câncer), até o desenvolvimento de testes genéticos para diagnósticos.

E vai além: permite conhecer quais componentes genéticos são responsáveis por distúrbios psíquicos, e dá subsídios para uso da genética nos tribunais (identificação de paternidade e desvendamento de crimes). Além disso, também possibilita estudos para geração de novas terapias, o aperfeiçoamento de medicamentos (mais efetivos e com menos efeitos colaterais), e o conhecimento evolutivo de nossa espécie.

Importante mencionar que enquanto o Projeto Genoma Humano aconteceu, outras espécies também tiveram seu genoma desvendado. Entre vírus, fungos, bactérias, plantas e demais animais além do homem, foi possível conhecer a composição do DNA de vários seres vivos. Uma importante colaboração brasileira foi o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, uma bactéria que acomete a laranja, causando grandes perdas para produtores desse setor. 

Objetivos e Curiosidades

Os objetivos do Projeto Genoma Humano foram bastante ambiciosos, dos quais destacam-se:

  • Sequenciar todos os nucleotídeos que compõe o DNA humano, identificando os genes da nossa espécie;
  • Desenvolver novas tecnologias para agilizar e baratear o sequenciamento do DNA;
  • Gerar novas ferramentas para interpretação, compilação e armazenamento dos dados advindos do DNA humano ;
  • Prover o setor público de um banco de dados com os resultados produzidos, permitindo dar a base a pesquisas, norteando a ciência biomédica do século XXI.

Como consequência, o Projeto Genoma Humano também revelou curiosidades.

  • O genoma humano possui 3,2 bilhões de nucleotídeos;
  • Nós temos aproximadamente 25 mil genes (partes do DNA responsáveis pelas proteínas do nosso organismo), 25% do que se imaginava no início;
  • Cerca de 50% dos genes descobertos tem função desconhecida (o que abre espaço para mais pesquisas);
  • O DNA humano é 99,9% igual para todas as pessoas: o 0,1% é que nos diferencia uns dos outros;
  • Nosso DNA é mais de 98% idêntico ao de chimpanzés;
  • Para análise de todos os dados gerados, surgiu uma nova área na ciência: a bioinformática, essencial nos dias de hoje.

Projeto Genoma Humano x Nutrição

Com a realização do Projeto Genoma Humano, diversos setores das ciências se desenvolveram, contando com os dados aí obtidos. Logo surgiram novos conceitos na área médica, como “tratamento personalizado” ou “conduta clínica personalizada”. Esses termos apenas revelam o poder do conhecimento como base de inovações com impacto real na vida das pessoas. Tá aí a importância do investimento em ciência e tecnologia.

Uma das áreas que ganharam impulso a partir daí, e que tem progredido bastante em pesquisas é a Nutrigenética. Ou seja, a aplicação do conhecimento da genética humana para a elaboração de planos alimentares mais efetivos. Os testes nutrigenéticos, que revelam a genética de cada indivíduo e sua resposta aos alimentos, são considerados hoje não mais algo a ser explorado no futuro: já é realidade!

Atualmente, esses testes são parte importante para traçar uma conduta alimentar mais assertiva, tanto para melhorar a qualidade de vida, como forma de prevenir o aparecimento de doenças. Os profissionais da nutrição estão se tornando cada vez mais próximos dessa importante ferramenta, pois os resultados são mesmo surpreendentes, sendo um grande aliado durante o atendimento clínico.

Logo, o Projeto Genoma Humano, marco importante do progresso científico, não apenas proporcionou um conteúdo massivo de informações que carecem de estudos mais completos. Também providenciou uma série de instrumentos práticos que já estão em uso e mostram claramente amplos progressos e resultados concretos. A nutrição humana agradece!

Autor:

Quando começou o Projeto Genoma Humano

Biomédico, PhD em Genética
Fundador da DGLab

Ouça este artigo:

Os pesquisadores sempre desejaram desvendar os grandes segredos do DNA humano. Os avanços científicos na área são enormes e divulgados com muita rapidez, para que ninguém fique para trás no progresso da ciência. Desde o lançamento do Projeto Genoma Humano (PGH), muita briga já foi gerada por conta das patentes dos genes seqüenciados.

O início oficial do PGH foi no ano de 1990, pos um consórcio público, que tinha como líder o pesquisador Francis Collins. Esse projeto já previa os problemas éticos que seriam gerados, legais e sociais. Também estavam previstas as técnicas. Apesar de ser um projeto de seqüenciamento de DNA humano, havia a intenção de seqüenciar o DNA da bactéria Escherichi coli, o nematódeo Caenorhabditis elegans, a mosca Drosophila melanogaster e outros animais.

O projeto desse consórcio público era de fragmentar o DNA em pedaços grande e seqüenciar os seus nucleotídeos. Ao final de um longo dia de trabalho, os resultados parciais eram publicados em um site, de acesso público.

Esse projeto aguçou a ambição de alguns cientistas, e em 1998, em maio, um cientista chamado Craig Venter entrou na corrida pelo seqüenciamento do genoma humano, prometendo concluí-lo em seu próprio laboratório muito antes do consórcio público.

Em decorrência dessa competição, o consórcio público (formado pelo Instituto Nacional de Saúde e o Departamento de Energia – ambos norte-americanos) resolveu apressar suas pesquisas com medo que alguém pudesse terminar antes e patentear os genes humanos.

Depois de muita competição, os laboratórios resolveram unir suas forças para desvendar o mais rápido possível esse código genético.

A conclusão do Projeto Genoma Humano foi anunciado em 26 de junho de 2000, na Casa Branca pelos dois líderes das pesquisas. Cada um publicou seus resultados em revistas de grande prestígio no meio científico. A Celera, laboratório de Craig Venter publicou seus resultados na revista científica Science e o consórcio público publicou na revista científica Nature, ambos em fevereiro de 2001.

As pesquisas concluíram que o Genoma Humano é formado por aproximadamente 3 bilhões de pares de nucleotídeos, que estão distribuídos nos 24 cromossomos humanos. Porém apenas 3% desses pares de bases são capazes de transcrever para moléculas de RNA, o que aproxima o ser humano de outros animais quanto à quantidade de genes funcionais. Também mostrou a semelhança de vários genes humanos com outras espécies de seres vivos, como bactérias, vírus, vermes, moscas e camundongos.

No Brasil foi realizado o completo seqüenciamento do DNA da bactéria Xilela fastidiosa, que causa uma doença chamada amarelinho em laranjas.