Sou capaz de identificar pontos que diferenciam a mesma notícia em diferentes meios de comunicação.

Sou capaz de identificar pontos que diferenciam a mesma notícia em diferentes meios de comunicação.
A psicanalista Inez Lemos diz que as mídias sociais assassinam o pensamento - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press - 9/2/15 A velocidade da tecnologia da informação e a revolução provocada pela internet, em que qualquer pessoa pode publicar qualquer coisa na web, sem que isso seja necessariamente verdade, afetam todos nós, já que se exige um grau de informação praticamente impossível de acompanhar no mundo atual. Patologia moderna, provocada pela compulsão em acessar notícias veiculadas em jornais, rádios, revistas, TVs, blogs, redes sociais, invasão de publicidade nas caixas de correio, enxurrada de spams que atacam os e-mails, a TV a cabo, que oferece centenas de canais e tudo isso de fácil acesso, ao alcance das mãos, seja via laptop e tablet, seja via smartphones e até relógio.

A asfixia provocada pelo excesso de informação fragmentada tem imobilizado milhões de pessoas. Para piorar, elas ainda precisam saber filtrar dados reais dos falsos. Grande parte entra num círculo vicioso e busca pela informação, que é tratada como ativo, como um diferencial. Em tempos de alta competitividade em todas as áreas da vida, fica fácil de entender o grau de adoecimento desta sociedade da era da tecnologia da informação. Muitos já não conseguem conviver com a sensação de que estão desatualizados. Sofrem e sentem-se até culpados.

Segundo especialistas da Universidade de Berna, na Suíça, que participaram da Mostra da Comunicação de Berna, em 2012, um ser humano tem a capacidade máxima de ler 350 páginas por dia. Entretanto, o volume de informações que recebemos diariamente por meio da internet, redes sociais, WhatsApp, e-mails, revistas, jornais, rádio e televisão é de cerca de 7.355 gigas, que é o equivalente a bilhões de livros. Como lidar com isso? Quem tenta absorver tanta informação, além de não conseguir, acabará com problemas de saúde. Tudo na vida pede equilíbrio. Infoxicação foi o termo criado, nos idos de 1996, pelo físico espanhol Alfons Cornellá para determinar a relação entre informação e intoxicação, um neologismo que explica a dificuldade para administrar a avalanche de informação com que somos bombardeados diariamente, um mal da era digital. Outro conceito relacionado com esse excesso é a síndrome da fadiga informativa, identificada pelo psicólogo britânico David Lewis, que acomete pessoas que têm de lidar com toneladas de informação e acabam se sentindo paralisadas em sua capacidade analítica, ansiosas, cheias de dúvidas, com danos nas relações pessoais, mau humor, angústia, tristeza, instabilidade e baixa satisfação no trabalho.

CRITÉRIOS

A possível saída é apontada por Alfons Cornellá, “desaprendo, logo existo”.

O que não quer dizer deixar de se informar, mas ter clareza e discernimento para escolher que tipo de informação buscar. Cada um tem de criar um filtro, capaz de fazê-lo manejar a informação da melhor maneira possível, com critérios definidos diante de um novo modelo de civilização. Com tanto ruído de informação, fica cada vez mais difícil parar para refletir, elaborar pensamentos e desenvolver ideias. Cornellá diz que é fundamental que as pessoas aprendam a diferenciar “exaustividade (balaio onde cabe tudo) de “relevância” (o que é importante e mais interessante). Isso é fundamental para que não ocorra uma ruptura entre aqueles que enxergam a tecnologia como “solução para vida” e outros que vão “se revoltar contra a conectividade e buscar um mundo que não seja Big brother”. O físico espanhol diz que é importante definir em que mundo se quer viver: o real ou se submeter ao virtual. A imunização, conforme Cornellá, está na decisão de “ler menos e com mais profundidade. Não ficar dentro de uma caverna em que só se escuta o que quer escutar, mas ter acesso a fontes contrastantes e, assim, criar tempo para entender o que se está lendo.”

A publicitária Vanessa Stehling, responsável pela criação e ilustração na agência de publicidade on-line Conta Mais, é caçadora de informação e garante que mantém essa busca sob controle.

“A profissão tem enfoque na informação. E, como lido com cliente das mais distintas áreas, sou levada a estudar sobre cada uma. Jamais chegaria diante de um sem saber conversar sobre seu segmento de atuação, me dá aflição e, certamente, geraria insegurança. Então, no momento, preciso saber sobre cimento, TI, floral de Bach, cosmético vegano e cerveja! A publicidade me transformou em uma pessoa em busca de informação.”

Vanessa conta que, como estudou comunicação, gosta de chegar em qualquer lugar, “perguntar e, de preferência, já estar bem informada. Tenho uma curiosidade absurda, e com tudo. Tenho amigos médicos e estou sempre a questionar: ‘Como assim?’”. Em tempos de informação líquida, a publicitária explica que o vício em informação tem vários lados. “A profissão requer, sou comunicativa e, de fato, a curiosidade se tornou um hábito na minha vida. É gostoso ler sobre assuntos diferentes. Faço pesquisas e não só sobre a questão profissional, em qualquer rodinha, de amigos, conhecidos, colegas, tenho prazer em falar de várias coisas.

A busca insaciável pela informação começou pelo trabalho, mas se tornou um hobby e não me incomoda. Aliás, o que me incomoda e me desafia é quando alguém me diz: ‘Você sabia?’”. Sempre antenada, Vanessa confessa que toma cuidado para não ser a “chata” da turma, por estar por dentro de tudo. “Às vezes, mesmo sabendo, digo que não sei e lanço frases do tipo ‘não acredito!’, ‘é mesmo?’. Fico me policiando até para não correr o risco de alguém me achar que é mentira ou ficar me testando. Em alguns momentos preciso ser um pouco atriz”, revela.

Mas Vanessa concorda que, com o excesso de informação circulando por aí, é impossível saber de tudo. “É absurdo! Na política, então, é ainda pior, porque há opinião polarizada e não unilateral, tem a pluralidade pelo volume de opinião e ainda as fake news. A tarefa fica mais complicada.” No entanto, Vanessa Stehling lembra que, “como Minas não tem mar, vamos para o bar. E existe melhor lugar para expor opiniões e divulgar informações? Acredito que todo mineiro tem esse perfil, gosta de conversar, de trocar informação.

É a nossa prosa. Chega a ser uma necessidade. Não gosto de me sentir por fora. Se tenho uma brecha, vou atrás da informação. Aliás, mais por questão de segurança, não quero ter o celular roubado, meu único momento off-line no ano é no carnaval”.

Informação líquida
Vivemos o fim da inteligência intelectual, do culto à boa leitura e do crescimento da sociedade consumista do fake news que não quer perder tempo com a reflexão. Há uma crise de sabedoria


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- Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press O polonês Zygmunt Bauman, sociólogo, filósofo e um dos maiores pensadores do século 20, morreu aos 91 anos, em janeiro de 2017, e deixou um legado de pensamentos fundamentais para a humanidade. Ao discorrer sobre o fato de termos acesso a tudo e não saber o que fazer, o professor ensinou: “Como expressou o grande biólogo E. O. Wilson, de forma sucinta e correta, ‘estamos nos afogando em informação e famintos por sabedoria’. Não temos tempo de transformar e reciclar fragmentos de informações variadas numa visão, em algo que podemos chamar de sabedoria. A sabedoria nos mostra como prosseguir. Como o grande filósofo Ludwig Wittgenstein dizia: ‘Compreender é saber como seguir adiante’. E é isso que estamos perdendo, não sabemos como prosseguir”. E Bauman ainda disse mais: “A tecnologia da informação é uma biblioteca de pedacinhos de fragmentos sem algo que os reúna e os transforme em sabedoria e conhecimento. Isso destrói certas capacidades psicológicas, como atenção, concentração, consistência e o chamado pensamento linear, quando você estuda um assunto de forma consistente e o esgota, vai até o fim”. O que ocorre, segundo ele, é que há mudanças na psique humana. Uma realidade pra lá de catastrófica para o futuro do homem. As pessoas passam a acreditar que é perder tempo desacelerar, parar para pensar. A psicanalista Inez Lemos afirma que o que ocorre é a falência da reflexão, do ato de pensar e elaborar respostas e perguntas, o fim do exercício da dialética no processo de produção de conhecimento. “As mídias sociais assassinam o pensamento, castram a reflexão. Vivemos o fim da inteligência intelectual, do culto à boa leitura. Sociedade consumista de fake news, sem uma formação consistente no campo intelectual. Sem fundamentos teóricos sólidos, caminhamos para um fundamentalismo religioso, preconceituoso e criminoso. Matamos o que o homem tem de melhor, sua capacidade de pensar, elaborar, refletir, que é o que nos diferencia dos animais.” Na análise de Inez Lemos, a sociedade do espetáculo, apregoada por Guy D’ebord no início de 1960 (escritor francês que teve seus textos como a base das manifestações do Maio de 1968), nos alertava para os perigos da presença exacerbada da tecnocultura em nosso cotidiano. “Quando as narrativas são transformadas em pequenos resumos, em manuais técnicos, os conteúdos sofrem reducionismo, impedindo ao leitor um mergulho no campo da reflexão.”

FAKE NEWS

Na tecnocultura, destaca Inez Lemos, a comunicação ocorre on-line. O espaço cibernético é um lugar livre, sem censura. É onde os amadores tornam-se profissionais. “A mania de se informar via internet, sem pesquisar as fontes, tem causado grandes transtornos, verdadeiros desastres. O campo virtual tornou-se, por excelência, o palco da troca de mensagens. Estamos assistindo a um verdadeiro ringue de mentiras, festival de desrespeito, em que todos se julgam donos da informação, compartilhando falsos conteúdos de forma perversa. Sem escrúpulos, gostamos de provocar a indignação vazia, sem sentido. O ódio passou a ser o componente principal da troca de fake news.” A psicanalista ainda completa que “isso ocorre porque as mídias insistiram em manipular conteúdos, criar mentiras com o objetivo de promover um clima favorável para transformar inverdades em verdades. Vivemos a era da pós-verdade, quando um pressuposto é jogado sem ser pesquisado ou questionado”. Vladimir Safatle, doutor em filosofia pela Université de Paris VIII, França, e professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), ao participar do programa Café filosófico, da TV Cultura, para falar sobre escola sem partido, banalização da informação e ausência de estudo na sociedade diante do excesso da razão instrumental, alertou que “chegou-se a um grau de inanidade e absoluta mediocridade, em que as pessoas acham que podem criticar algo sem nunca, de fato, ter lido. Para não falar da trivialidade (das críticas) e do padrão de discussão caricatural que é construído neste país”. Tudo isso, destaca Inez Lemos, revela a fragilidade do momento histórico, “em que a ciência perde credibilidade, o conhecimento é confundido com informação, e o pensamento, a capacidade de refletir e questionar estão em desuso. Importa é a aparência de verdade, é lançar a questão, arriscar a notícia falsa com efeito de verdade. Saber versus poder. Se eu disseminar a fofoca e ela for compartilhada ela se transforma em notícia e cumpre o objetivo.” Inez Lemos acredita que a tecnociência, ao ser utilizada de forma irresponsável, representa um imenso perigo à humanidade. “O Brasil vive um momento delicado. Saímos de uma eleição marcada por fake news, um festival de horrores, informações manipuladas, distorcidas, editadas ao bel-prazer. Pós-moderno, pós-verdade, pós-humano. Somos orientados por aqui e as submetemos aos descalabros. Submissão voluntária em pleno século 21? Cultura da preguiça? Cultura do simulacro? Intoxicamos com inverdades, cultivamos nosso narcisismo de exposição da pior forma possível, no espaço virtual. Longe do real, garantimos nosso gozo perverso. Somos seres dessubstancializados, afogados na alienação e na ausência de sublimação. Sem consistência e carentes, perambulamos, com nossa ignorância, o ciberespaço.”

SINAIS DO VÍCIO Necessidades incontroláveis, mudanças de temperamento e conflito com outras atividades sugerem que a informação pode provocar dependência:

» A primeira atitude ao acordar é checar e-mail, Facebook, Twitter, sites, blogs, Instagram... e repete-se o mesmo ritual antes de dormir » Ao chegar no escritório, antes de mais nada, senta diante do computador para verificar se há e-mail, sem interagir com as outras pessoas » Vive com o smartphone conectado a fones de ouvido e a toda a parafernália eletrônica plugada ao computador portátil » Navega pela internet quando está na cama » Prefere ficar no computador do que sair para a rua sem o celular » Mesmo na rua, na mesa do bar, no churrasco, você insiste em ficar twittando, curtindo, compartilhando ou tirando fotos para postar » Só a ideia de ficar sem internet lhe causa calafrio » Relacionamentos impactados negativamente pelo excesso de busca de informação » Sensação de estar perdido quando não sabe o que está ocorrendo no mundo » Esforço exagerado para ser o primeiro a ficar sabendo dos fatos » Sentir que precisa aumentar o tempo de uso para obter mais prazer conectado » Ficar irritado e ansioso quando não puder entrar na internet » Perder a noção do tempo em que fica conectado » Não viajar para lugares em que não tem conexão com internet » Mentir para as pessoas sobre o tempo em que fica conectado

Depoimento - Júlia Ramalho, coach de carreiras e executivos, psicóloga e diretora da consultoria Estação do Saber 'Que tipo de informação precisamos para viver?'


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"Não diria que é necessário ser um paranoico para se sentir ameaçado por esse tsunami de informações. Creio, sim, que é essencial que as pessoas entendam essa situação e suas limitações naturais para enfrentá-la e, claro, estabeleçam prioridades que possam ser atendidas com seu cérebro humano" - Antonio Monteiro, médico preventivista e mestre em saúde coletiva - Foto: Arquivo Pessoal “Essa questão é muito trabalhada nas sessões de coaching. Posso até dar umas dicas básicas, mas o problema é complexo. Posso provocar? O tempo é um recurso limitado: temos 24 horas por dia. O que é importante caber nessas horas? Será que você não gasta seu tempo se distraindo com o que é importante para o outro? Acompanhar todas as publicações em sites, no WhatsApp, no Facebook e no YouTube não significa ser antenado. A pós-modernidade nos trouxe a cultura do excesso (Lipovetsky) e a cultura digital nos traz a possibilidade de vivê-lo a todo instante. O celular como extensão do corpo nos convida a ver, ouvir e ler o tempo todo. Mas precisamos disso? Que tipo de informação precisamos para viver bem? Perceber que somos limitados, que nosso tempo é finito – pelo menos enquanto o transumanismo não é fato! – nos força a fazer escolhas e a nos responsabilizar por estas, em vez de deixar as coisas irem rolando e ser efeito das escolhas dos outros. Diante do “você não viu?”, é preciso ter a tranquilidade de dizer: “Não! Estava jantando com amigos!”, por exemplo. Esse é o caminho possível para lidar com o excesso de informação: saber o que se deseja e suportar a falta de saber tudo. As minhas dicas são: - Anote as coisas mais importante de sua vida. Certifique-se de que você dedica tempo a elas. - Use agendas eletrônicas e alarmes. Isso serve para lembrá-lo de interromper distrações e reconectá-lo com o que é importante para você. - Remova do seu celular aplicativos que não lhe são necessários. Desinstale alertas de notificações do que não é urgente. - Faça detox das redes sociais. De tempos em tempos desative suas contas. Ficar fora das redes pode ajudá-lo a reavaliar por que você está lá e se elas fazem falta, e saber que falta é essa. - Reconecte-se com seus “por quês”. Por que quero saber disso? O que ganho sabendo disso.? - Aceite que seu tempo é limitado. Aprenda a valorizá-lo dedicando tempo para o que realmente é importante para você. - Entenda que você nunca será capaz de saber de tudo. Dessa forma, é preciso escolher o foco do que se quer saber.”

Informação de qualidade
O mundo tecnológico moderno tem como característica principal a velocidade das mudanças. No entanto, é preciso buscar fontes confiáveis e leituras que provocam a reflexão e nos ajudem a entender nosso papel na sociedade

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- Foto: Vagner Souza/DivulgaçãoInfoxicação não é um termo tão novo assim. Foi criado há mais de 20 anos, pelo físico espanhol Alfons Cornellá, para designar as consequências da situação em que uma pessoa tenta (sem sucesso) receber e analisar um número de informações muito maior do que a capacidade de seu cérebro. O médico preventivista da Unimed de Itapetininga, em São Paulo, Antonio Monteiro, que também é mestre em saúde coletiva pela Faculdade de Medicina de Botucatu, constata que o mundo tecnológico moderno tem como característica principal a velocidade das mudanças. “No entanto, nós, seres humanos, continuamos com praticamente as mesmas capacidades biológicas do homem existente na época do nosso descobrimento. Assim, o conflito entre nossos potenciais biológicos e a necessidade de nos adaptarmos a essa incrível velocidade de mudanças, que a cada dia nos apresenta uma novidade e torna obsoleta a de ontem, vem exigindo de nossa capacidade biológica algo para a qual ela não está preparada e nunca estará! Um desses conflitos, sem dúvida, está entre a quantidade de informações de que hoje dispomos e nossa capacidade real de processá-las.” Para Antonio Monteiro, se não nos dermos conta de que temos esse limite e adotarmos medidas preventivas contra isso, sem dúvida, viveremos uma situação extremamente estressante com todas as suas consequências. “Não diria que é necessário ser um paranoico para se sentir ameaçado por esse tsunami de informações. Creio, sim, que é essencial que as pessoas entendam essa situação e suas limitações naturais para enfrentá-la e, claro, estabeleçam prioridades que possam ser atendidas com seu cérebro humano.” O médico preventivista afirma que há duas ações básicas para que cada pessoa processe as informações e mantenha a saúde mental. A primeira é estabelecer, honestamente, de que tipo de informação precisa realmente, seja por necessidades de trabalho ou para sua vida pessoal. A segunda é fazer criteriosa análise de confiabilidade. Isto é, saber selecionar muito bem o que é sério e bem fundamentado daquilo que é mera informação, sem qualquer base ou interesse comercial, político ou ideológico. “Para isso, é fundamental que possamos conhecer o máximo possível (sem neuras) quem é o autor da informação, que instituições ele representa.”

DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS

O médico avisa que quem vive nesse turbilhão em algum momento apresentará transtornos para sua saúde. “Já são muito bem conhecidas as consequências dos distúrbios emocionais sobre nosso funcionamento orgânico. As doenças psicossomáticas são efeito dessa relação. Assim sendo, respeitadas as diferenças individuais, cada um terá consequências maiores ou menores, mas que sempre serão percebidas. E, muitas vezes, sem entender a verdadeira causa do problema, que não está no órgão onde surgem esses sintomas ou sinais. Entre esses sintomas encontramos, com grande frequência, distúrbios do sono, depressão, problemas gástricos e intestinais, distúrbios respiratórios, enfim, sintomas em qualquer órgão, porque, afinal, tudo é comandado por nosso encéfalo.” A sensação de ter que saber de tudo é o mal do século 21 e a grande culpada seria a tecnologia? Para Antonio Monteiro, a tecnologia não tem culpa de nada. “Afinal, fomos nós que a criamos. A culpa, se é que podemos dizer que há culpados, é de nós mesmos, que não conseguimos domar essa tecnologia usando-a para melhorar a vida de toda a humanidade. Pelo contrário, a maioria dos atuais grandes problemas é do comportamento humano: egoísmo, individualidade excessiva, degradação do meio ambiente, violência e intolerância.” Antonio Monteiro enfatiza que a diversidade sempre é muito interessante e saber entendê-la e respeitá-la torna os homens melhores. “A troca de opiniões, experiências e valores é fator essencial para a evolução humana. Só não podemos cair na armadilha de buscar informações ou trocá-las apenas com pessoas que pensam como nós.” Mas a busca por informação, por estar 100% informado, é uma corrida inglória. “Lutar contra nossa condição humana é uma luta inglória e um dia, mais cedo ou mais tarde, se pagará por essa tentativa. A detecção desse problema é muito simples: toda vez que você se sentir infeliz ou angustiado por não conseguir consumir e processar todas as informações de que é cobrado, cuide-se. Você está em risco.”

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- Foto: Quatro perguntas para... Fabiano de Abreu - filósofo e pesquisador 1) Vivemos na era digital, com volume absurdo de informação. Como lidar com isso?

Com moderação! Penso que tudo na vida deve ser moderado. Não podemos confundir a vida com a realidade virtual. É necessário iniciarmos o processo de salvação humana baseados na conscientização. Mídias sociais aumentam a sensação de solidão, pois invertem a realidade. Imagine passar o dia inteiro em frente ao computador, vivendo aquela realidade virtual e, ao olhar para o lado, ver paredes e “ninguém”? Nosso cérebro primitivo não nos permite e não acredito que nos permitirá vivermos sozinhos, sem presença física humana. Há quem acredite que estamos ligados por uma energia. Se é real ou não, não podemos duvidar de que somos energia e, pode sim, haver uma ligação. Devemos filtrar as informações e, para isso, a imprensa se faz necessária. Aliás, ela deveria ter um ministério que pudesse controlar as fake news, para não perder a credibilidade e, assim, ser o carimbo confirmador daquela informação, para que ela não tenha diferentes versões, ou que tenha menos versões e, assim, com a razão e o raciocínio lógico, possamos tirar nossas conclusões.

2) Há pessoas que adoecem porque querem, mas não conseguem absorver tanta informação.

Adoecer é a última opção, quando as ações das pessoas, para resolver seus problemas, já não dão resultado. Novamente, devemos moderar, filtrar as informações e aproveitar melhor o tempo. Repare que as notícias que não levam a lugar nenhum e deseducam têm mais audiência do que aquelas que nos trariam mais informações de conhecimento. O que devemos fazer é aproveitar melhor nosso tempo, filtrando as informações que realmente façam a diferença em nossas vidas. O tempo, nos dias de hoje, é a maior preciosidade. Tivemos um súbito avanço tecnológico. Estamos evoluindo sob “pressão” em relação ao tempo que existimos (vida humana) e isso faz com que haja um excesso de informação e nosso cérebro tenha dificuldade de organizar toda ela. Não podemos esquecer de que há pouco tempo não tínhamos todas essas informações. O transtorno do excesso de informação é a confusão mental de um cérebro primitivo tendo que se adaptar a uma realidade presente como consequência do avanço tecnológico.

3) As pessoas têm acesso à informação, mas não têm tempo para pensar. Como agir?

Procurar desenvolver raciocínio sobre a informação recebida e colocar para fora. Costumo passar para o papel, para o computador. Há pessoas que contam ao familiar ou amigos. É preciso registrá-la ou, então, será esquecida, como uma máquina, uma inteligência artificial que recebe a informação e não a processa. Então, ela se apaga ou fica armazenada sem respostas. Temos que expôr nossas opiniões e transportar esse conhecimento.

4) Como filósofo, o que recomendaria para quem tem sede de saber e uma oferta inatingível?

Tem uma dúvida? Anote-a, busque na internet, em lugares confiáveis sobre o assunto. Não se contente apenas com uma fonte. Junte todas elas e chegue a um denominador comum. Passe isso para o papel, computador ou grave em voz para que possa ouvir novamente. Passe adiante para quem tenha interesse em escutar ou até mesmo publique em sua rede social. Não ligue para as críticas, os inteligentes não criticam, eles comentam seu ponto de vista sem ofensas. O resto não importa, não interessa, há pessoas para diminuir e somar. Aproxime-se do que possa te fazer bem e ignore o que te faz mal. Tenha sempre um raciocínio lógico, com razão, mas sem se desfazer da emoção, pois o sentimento é a locomotiva do saber e querer saber mais.

Sou capaz de identificar pontos que diferenciam a mesma notícia em diferentes meios de comunicação.
- Foto: Oito passos para a desintoxicação digital*

- Bom senso para que o uso das tecnologias não se torne abuso no cotidiano - Fique atento às consequências físicas (privação de sono, dores na coluna, problemas de visão) e psicológicas (depressão, angústia, ansiedade) devido ao uso abusivo das tecnologias - Dose o uso de tecnologias no cotidiano. Verifique se seu desempenho acadêmico, no trabalho, na família ou pessoal está sendo prejudicado pelo uso abusivo das tecnologias - Não troque atividades, compromissos ou encontros ao ar livre para ficar conectado às tecnologias - Reflita sobre seus hábitos cotidianos efaça diferente - Prefira uma vida social real à virtual. Escolha relacionamentos e amizades reais em vez de virtuais - Pratique exercícios físicos regularmente. Crie intervalos regulares durante o uso das tecnologias fazendo alongamentos - Não abale o seu humor com publicações virtuais. Não acredite em tudo o que é postado e cuidado com o que você publica na internet

* Fonte: www.institutodelete.com

FIQUE POR DENTRO Reflexos da infoxicação


Para saber mais sobre a “doença” que afeta as pessoas conectadas demais, a infoxicação, o programa da TV Brasil Um olhar sobre o mundo, comandado pelo jornalista e ex-correspondente internacional Moisés Rabinovici, entrevistou, direto de Barcelona, Espanha, o criador do termo, em 1996, o físico espanhol Alfons Cornellá, que definiu como mal dessa civilização a soma de informação com intoxicação. Uma epidemia graças “ao vírus que está na internet, TVs, jornais, videogames, blogs, redes sociais, com que todos nós corremos o risco de nos infectar. Com o excesso de notícias, a informação não é totalmente digerida e, por isso, sentimos sintomas como dispersão, estresse e ansiedade, entre outros”. Acesse o link e assista à entrevista: https://tvbrasil.ebc.com.br/um-olhar-sobre-o-mundo/2018/08/um-olhar-sobre-o-mundo-06082018 .