Alfabetização e letramento são processos distintos, interdependentes e indissociáveis

Mayara dos Santos[1]

Alfabetização e Letramento são temas que vêm sendo amplamente discutidos nos últimos vinte anos. Porém, existem dilemas no que concerne a alfabetização de jovens e adultos, tendo em vista que o processo de aprendizagem destes em relação à criança ocorre de maneira diferente.

Os processos de construção de conhecimento e de aprendizagem dos adultos são muito menos explorados pela psicologia do que os referentes às crianças e adolescentes. Antes de tratarmos de tais processos, tendo como referência teórica Marta Kohl, que escreve sobre a psicologia do aprendizado do adulto, trazendo inúmeras questões pertinentes e importantes ao professor alfabetizador, faremos menção aos conceitos de alfabetização e letramento baseando-se em Magda Soares.

Alfabetização e Letramento são processos indissolúveis embora distintos e com especificidades. Por ocorrerem de maneira concomitante constantemente confundem-se.

A alfabetização diz respeito á técnicas de aprendizagem da escrita e letramento refere-se às habilidades de leitura e escrita no social, seria, portanto, a capacidade interpretativa relacionada à prática social do indivíduo.

De acordo com Magda Soares:

[...] por um lado, é necessário reconhecer que alfabetização - entendida como a aquisição do sistema convencional de escrita – distingue-se de letramento entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais: distinguem-se tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e linguísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos – isso explica por que é conveniente a distinção entre os dois processos. Por outro lado, é necessário também reconhecer que, embora distintos, alfabetização e letramento são interdependentes e indissociáveis: a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja: em um contexto de letramento e por meio de atividades de letramento; este, por sua vez, só pode desenvolver-se na dependência da e por meio da aprendizagem do sistema de escrita. (SOARES, 2004)

Ao serem definidos e distinguidos os conceitos de alfabetização e letramento, entendendo este último como a capacidade interpretativa relacionada à prática social, é preciso, pois pensar que diferente da criança o adulto já possui uma ampla vivência e experiências de vida, e, portanto uma visão de mundo já formada pela sua prática social.

Justamente por compreender essa relação é que Marta Kohl aborda em seus estudos, discussões a respeito da psicologia do adulto, com vistas a entender os processos de ensino e aprendizagem dos mesmos.

Inicialmente é preciso assimilar, que não é possível se pensar uma educação para jovens e adultos na mesma perspectiva de que se ensinam crianças. O adulto diferentemente da criança, para além do fato de ter ultrapassado a idade escolar, sejam por fatores pessoais, econômicos ou sociais, enfrenta a realidade da necessidade do trabalho. Assim, é levando em consideração essa gama de relações e conflitos, que Marta Kohl busca repensar a psicologia da aprendizagem do adulto.

É fato, que muito se sabe sobre bebês e crianças e pouco ou quase nada sobre adultos. As teorias psicológicas pouco se prendem no estudo do adulto, porque em sua grande maioria tratam o desenvolvimento humano em estágios relativamente ligados a fatores ontogenéticos de maturação biológica do ser, e obviamente crianças apresentam características de desenvolvimento biológico mais semelhante entre si, que os adultos.  Na idade adulta, esse estudo se torna mais complexo, pois os sujeitos estão inseridos no mundo do trabalho, nas relações com outros indivíduos, em alguma cultura, que influencia em seu modo de pensar e em suas atitudes. Por isso se torna difícil o estudo da psicologia da aprendizagem sobre o adulto.

Kohl aponta que para compreender esse ciclo de vida, é necessário reconhecer que o adulto está envolvido nas relações sociais e que é por meio dessas relações que ocorre seu desenvolvimento e transformação. Esse processo ocorre de maneira diferente da criança e do jovem porque o adulto:

Traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o adulto fazem

com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação à criança) e, provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem. (Oliveira, 2001, p. 18)

Diante deste panorama, pensamos como deva ser o trabalho do professor alfabetizador na educação de jovens e adultos. Partindo de entendimento de que o adulto já possui relações sociais estabelecidas concretas, que muito contribuem e influenciam no processo de aprendizagem, e na perspectiva de que sua capacidade de reflexão sobre o conhecimento é maior que a da criança, o professor pode e deve se utilizar da prática social do adulto para alfabetizá-lo, partir da realidade do aluno visando superá-la, propiciando a aquisição de um conhecimento que seja significativo para o indivíduo.

Paulo Freire propõe um método de alfabetização de adultos vinculado a temas geradores, que creio ser muito promissor. O método baseia-se no ensino a partir de temas relacionados à vida dos educados, por meio dos quais se reitera o conteúdo. Para Paulo Freire isso propicia um ensino significativo, auxiliando não somente o processo de codificação/decodificação das letras, essa prática também desperta para a decodificação do meio, auxiliando as pessoas a realizarem uma releitura de situações antes olhadas de forma ingênua e acrítica.

Embora nos falte um estudo aprofundado sobre a psicologia do adulto e a construção de tal psicologia esteja fortemente atrelada a fatores culturais, podemos dizer que não há um único caminho de desenvolvimento ou uma única forma de funcionamento psicológico que determine a aprendizagem do ser humano. Assim é importante que o professor alfabetizador de jovens e adultos, esteja sempre buscando novas metodologias de modo a atender cada aluno e sua especificidade. Não é possível homogeneizar e generalizar o processo de aprendizagem como único, mas é necessário considerar toda influencia social e a bagagem de conhecimentos que o individuo já possui. Cada papel que o sujeito desempenha na sociedade, se colocado em diferentes combinações constituem construção de conhecimento e aprendizagem, evidenciando que o desenvolvimento psicológico é um processo de constante transformação e singularidades.

Diante deste panorama compreende-se que o trabalho do professor alfabetizador, quer seja na educação de jovens e adultos ou no ensino de crianças, deve voltar-se a formação social de individuo ultrapassando a alfabetização como simples processo de codificação/decodificação de códigos, mas que essa prática desperte o senso crítico para a decodificação do meio, auxiliando as pessoas a realizarem uma releitura de situações antes olhadas de forma ingênua e acrítica.

 Partindo de entendimento de que o adulto já possui relações sociais estabelecidas concretas, que muito contribuem e influenciam no processo de aprendizagem, e na perspectiva de que sua capacidade de reflexão sobre o conhecimento é maior que a da criança, o professor pode e deve se utilizar da prática social do adulto para alfabetizá-lo, partir da realidade do aluno visando superá-la, propiciando a aquisição de um conhecimento que seja significativo para o indivíduo.

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do Adulto. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 211-229, maio/ago.2004. Disponível em: https://attachment.fbsbx.com/file_download.php?id=229842497208481&eid=ASug7jgMY3pD5ohPDDgC0JYTlKDivIav4BXQJyfUxiJQfgm_DtNmIV4whn97zQvjtOY&inline=1&ext=1410882233&hash=ASuTq5dPc_-trUNO. Acesso: Agosto de 2014.

 SOARES, Magda. Alfabetização E Letramento: Caminhos E Descaminhos, Revista Pátio n.29 fev/abr 2004. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/18892732/Artigo-Alfabetizacao-e-Letramento-Magda-Soares-1. Acesso: Julho de 2014.

[1] Aluna do Mestrado em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Graduada em Pedagogia pela mesma univeridade.

Qual a relação entre a alfabetização e letramento?

Desta forma, a relação entre alfabetização e letramento acontece quando entendemos que alfabetizada é a pessoa que aprende a escrita alfabética com habilidades para ler e escrever, sequencialmente, letramento é a continuação do saber ler e escrever, associado e vivenciado nas práticas sociais.

É necessário reconhecer que embora distintos alfabetização e letramento são interdependentes e indissociáveis?

Por outro lado, também é necessário reconhecer que, embora distintos, alfabetiza- ção e letramento são interdependentes e indissociáveis: a alfabetização só tem sentido quando desenvolvida no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, ou seja, em um contexto de letramento e por ...

O que significa interdependentes e indissociáveis?

adjetivo Diz-se das coisas que dependem umas das outras. Que apresenta interdependência, dependência mútua, relação de dependência entre uma coisa e outra: seres interdependentes. Etimologia (origem da palavra interdependente). Inter + dependente.

Quais as diferenças existentes entre alfabetização e letramento?

Alfabetização é um processo de aprendizagem no qual o indivíduo desenvolve a competência de ler e escrever, enquanto que o letramento se ocupa da função social dessa leitura e dessa escrita. São processos complexos mas que devem caminhar juntos e, talvez esse seja o maior desafio de professores alfabetizadores.