Como garantir segurança alimentar na cadeia produtiva dos alimentos?

A alimentação é um direito básico do cidadão. Apesar disso, foi somente após a EC 064/2010 que essa garantia passou a figurar no texto da Constituição do nosso país. Ao longo do tempo foram tomadas diversas iniciativas para que esse direito fosse assegurado à população. Uma dessas ações foi a instituição do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).

Isso indica que o cidadão precisa ter acesso à alimentação, mas não de qualquer tipo e em quaisquer condições. É necessário garantir também a qualidade desses produtos. O que isso quer dizer e que responsabilidades isso impõe ao produtor rural? Continue a leitura e saiba tudo sobre segurança alimentar!

O termo “segurança alimentar” se refere a um conjunto de práticas e iniciativas que têm como objetivo garantir às pessoas o acesso a alimentos com valor nutricional e na quantidade adequada para uma boa qualidade de vida.

Esse conceito partiu da preocupação gerada nas duas grandes guerras mundiais na primeira metade do século passado. Esses eventos resultaram em uma escassez generalizada pela falta de condições da Europa produzir alimentos saudáveis, em especial devido à contaminação dos recursos naturais por substâncias usadas na fabricação de armas.

Após quase 100 anos desde a 1ª Guerra Mundial, a distribuição de alimentos ainda é uma preocupação em muitos países. Só para se ter uma ideia, conforme noticiado pela Rádio ONU, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) registrou cerca de 795 milhões de vítimas da fome em 2016, e dados mais recentes indicam que esse número está aumentando.

É urgente, portanto, que sejam tomadas ações para promover a produção de alimentos de boa qualidade, reduzir os índices de desperdício e garantir o acesso da população a esses recursos de subsistência.

Com esse objetivo, surgiram diversas iniciativas para promover segurança alimentar e nutricional aos brasileiros. Em 1993, por exemplo, foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) no Brasil. Dez anos depois, o Programa Fome Zero foi implementado. Logo no ano seguinte, em 2004, criou-se o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Como mencionado, garantias adicionais foram incluídas na Constituição Federal por meio do decreto 7.272, em 2010. Entre elas, o direito humano à alimentação adequada e a instituição da Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional.

Esses foram passos importantes em direção à produção de alimentos mais saudáveis e de boa qualidade. As políticas terão pouco valor se os produtores rurais não tomarem medidas práticas para garantir que bons produtos cheguem à mesa do consumidor final. Que questões representam um desafio para o agricultor garantir a segurança alimentar? Vejamos.

Quais são os principais desafios?

Para alcançar a segurança alimentar, é necessário vencer muitos desafios. Vamos elencar aqui os principais deles.

Desperdício de comida

Ao longo do processo de produção, desde a plantação, o produtor enfrenta muitas perdas, especialmente quando são adotadas técnicas antigas de manejo durante a plantação, a colheita e a armazenagem.

O sistema de armazenagem brasileiro enfrenta graves gargalos. Não temos a estrutura necessária para estocar a safra produzida. Podemos citar o caso da soja. Muitas vezes, apenas juntam-se os grãos em um monte e cobre-se com uma lona. Essa estocagem inadequada faz com que o material apodreça.

É claro que a capacidade de armazenagem em silos aumentou nos últimos anos, mas ainda é insuficiente para cobrir a produção brasileira — o que gera muitas perdas.

Questões políticas

A segurança alimentar também depende de políticas públicas que garantam o acesso do alimento às pessoas. Assim, não bastaria aumentar a produção e cuidar de problemas que reduzam o desperdício. Aspectos como acesso de produtores a máquinas agrícolas de boa qualidade e ações que assegurem à população o acesso aos alimentos também devem ser abraçados pelas políticas públicas.

Já existem muitos programas que têm como objetivo melhorar essas questões, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) — o governo compra alimentos de agricultores familiares para formar estoques e distribuir a populações carentes. Também há iniciativas públicas e privadas — como o consórcio de máquinas agrícolas —, que facilitam o investimento para pequenas e médias propriedades.

Mudanças climáticas

O clima é um aspecto importante na produção de alimentos. Condições extremas podem interferir substancialmente nos resultados da safra. Projeções divulgadas pela Embrapa apontaram uma redução média de 30% na produtividade de trigo no Brasil e 16% nas lavouras de milho, levando em conta o período entre 1990 e 2060. Em cenários mais evidentes, percebemos o efeito que temporadas de chuva, ondas de calor e secas apresentam já hoje.

Escassez de recursos naturais

A degradação dos solos e o estresse hídrico são grandes desafios para a produção de alimentos no mundo. Um estudo da FAO em parceria com pesquisadores da Embrapa concluiu que 30% dos solos do mundo estão em estado de degradação. Essa condição resulta em solos com baixa ou nenhuma fertilidade, terras improdutivas, processos erosivos e deslizamentos.

Além disso, dados também divulgados pela FAO revelam que 70% da água consumida no mundo é direcionada para as atividades agrícolas. No entanto, a competição pelo uso da água só aumenta pela maior concentração de pessoas nas grandes cidades e pelo setor industrial.

Diante desses problemas, percebemos que ainda há muito o que ser feito para garantir alimentos de boa qualidade na mesa da população. Saiba tudo sobre segurança alimentar e quais práticas podem reduzir os desafios!

Tudo sobre segurança alimentar: como garantir o bom aproveitamento do consumidor?

Uma vez que a segurança alimentar engloba também o fornecimento de alimentos saudáveis e de boa qualidade, é importante que o produtor rural dê atenção a todas as etapas da produção — desde o preparo do solo até o armazenamento e a distribuição dos produtos para os clientes. Observe que medidas podem ser tomadas em cada etapa.

Controle de defensivos

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Isso não é nada bom, pois o uso inadequado desses produtos pode oferecer riscos à saúde não só do consumidor final, mas do próprio agricultor que está envolvido na aplicação dos defensivos.

Segundo o programa PARA, dirigido pela Anvisa, algumas das maiores causas desses problemas são as contaminações cruzadas, por deriva e do solo. Algumas medidas, porém, podem prevenir ou reduzir as chances de contaminação, como:

  • comprar agroquímicos de boa qualidade e mais adequados à praga e à cultura, sob a orientação de um engenheiro agrônomo;
  • utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);
  • dar atenção à escala de toxicidade do produto — uma classificação que vai de 1 a 4, em que 1 é o mais tóxico e 4 o menos agressivo. Prefira os menos tóxicos;
  • transportar os defensivos corretamente na caçamba de caminhonetes, longe de alimentos ou animais, cobertos por lona e em recipientes íntegros;
  • utilizar equipamentos calibrados e em boas condições;
  • controlar o uso de pulverizadores, que utilizam sistemas automáticos para liberar os químicos de modo seguro, na medida e nos locais corretos, com mais uniformidade;
  • armazenar os defensivos em locais seguros, bem identificados e longe de fontes de água e alimentos;
  • descartar de modo correto nas sacolas de resgate, onde serão enviadas ao revendedor — o local de entrega deve estar especificado na nota fiscal ou no receituário agronômico.

Produção sustentável

O manejo sustentável da produção tem por base o respeito, a responsabilidade e o conhecimento em relação aos recursos do meio ambiente. Existe, então, uma grande preocupação com o impacto que as ações do agronegócio terão sobre a sociedade e a natureza que a cerca.

Esses princípios influenciam todas as etapas da produção, norteando ações relativas à irrigação consciente e à redução ou eliminação do uso de defensivos.

Nesse cenário, surgem cada vez mais iniciativas de agricultura orgânica, que dispensa o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos nas lavouras. Para tanto, seguem-se 4 pilares:

  1. respeito ao meio ambiente pelo uso consciente dos recursos naturais não renováveis;
  2. diversificação de cultura para utilizar defensivos naturais contra pragas;
  3. uso de matéria orgânica como adubação verde, compostos orgânicos e cobertura morta para fertilizar o solo;
  4. autonomia em relação à indústria de insumos.

Cuidado com a embalagem

As embalagens são itens fundamentais para garantir a preservação da integridade do alimento e das suas características nutricionais, bem como para facilitar o transporte e o manuseio. Por outro lado, recipientes impróprios poderiam expor os produtos à contaminação, degradação, rápido amadurecimento e consequentes perdas.

Um estudo realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) constatou que caixas do tipo “K” utilizadas para o transporte de caqui eram responsáveis por 40% das perdas de toda a produção.

Diante disso, existem diversos modelos alternativos no mercado que foram projetados para proteger os alimentos de danos mecânicos e outros agentes nocivos. A própria Embrapa desenvolveu um grupo de caixas que podem ser utilizadas no transporte de hortaliças e frutas. Segundo a empresa, esse produto apresenta uma redução de 17% nas perdas pós-colheita em comparação ao modelo “K”.

Ao escolher o tipo de embalagem mais adequado, é necessário atentar-se ao tamanho e ao peso do produto. Além disso, o material utilizado deve ser o suficiente para proteger o alimento.

No entanto, a embalagem está diretamente ligada a outra questão que também merece atenção: o transporte.

Logística

74% da produção agrícola no Brasil é transportada pelas rodovias, que majoritariamente se encontram em estado ruim de conservação — o que gera um custo adicional refletido no bolso do consumidor.

Portanto, ao decidir qual é o tipo de transporte mais adequado para o produto, é necessário avaliar algumas condições, como:

  • fatores biológicos ou químicos — riscos de contaminação, índice de umidade, ventilação e iluminação exigidas pelo alimento;
  • fatores físicos — tipo de acondicionamento, embalagem e armazenagem;
  • tempo — prazo de entrega do produto até o ponto de revenda.

Adicionalmente, é importante que o produtor busque uma integração maior com varejistas e atacadistas para agilizar o processo de venda e evitar desperdícios.

Além disso, pode-se aumentar a eficiência do trabalhador do campo que manuseia o alimento, utilizando equipamentos que evitem o contato dos produtos com o solo e agilizem a locomoção entre a plantação e o local de armazenamento.

Aplicação da agricultura de precisão

A agricultura de precisão utiliza técnicas, equipamentos e softwares para otimizar os processos de produção. Isso é possível graças à coleta e análise de dados da propriedade, como solo, tipo de lavoura e clima. A combinação desses registros dá ao produtor informações suficientes para a tomada de decisão sobre a aplicação de fertilizantes e defensivos, por exemplo.

Além disso, essas novas ferramentas ajudam o gestor a detectar falhas mecânicas e humanas que poderiam colocar em risco a segurança dos alimentos, expô-los à contaminação ou desperdiçar recursos.

O impacto mais evidente e imediato da agricultura de precisão é o tratamento diferenciado nas lavouras no que se refere à aplicação de fertilizantes, corretivos e defensivos. Com isso, alcança-se mais economia nos insumos em comparação ao manejo tradicional.

Os novos métodos e as tecnologias permitiram produzir mais e melhor, sem necessariamente aumentar o tamanho da área cultivada.

Biotecnologia na agricultura

Quando falamos em biotecnologia na agricultura, a expectativa é que ela garanta mais saúde e nutrição à população por apresentar mais variedade e qualidade de produtos. No Brasil, a tecnologia despontou na década de 80 na Embrapa como ferramenta para o melhoramento genético das culturas do agro.

Por meio dela, é possível desenvolver plantas mais resistentes ou tolerantes a estresse biótico — como pragas e doenças — e abióticos — como secas e temperaturas extremas. O resultado é o aumento da produtividade de alimentos mais abundantes, nutritivos e baratos, pois os custos são reduzidos com o menor uso de defensivos agrícolas e irrigação.

Já é possível observar culturas mais adaptadas a climas adversos ou mais tolerantes a pragas específicas. Os transgênicos, por exemplo, já são amplamente utilizados no Brasil. Esses Organismos Geneticamente Modificados (OGM) são fruto de muita pesquisa científica. Eles têm seus genes alterados para aprimorar suas propriedades. No mundo, os Estados Unidos são os líderes no plantio de transgênicos. Logo depois estão Brasil e Argentina.

Preparação de refeições e alimentos

Quando os alimentos chegam à cozinha e são preparados para o consumo, os cuidados precisam ser redobrados. Há grandes riscos de contaminação por bactérias e fungos, além do armazenamento inadequado. É necessário dar atenção a diversos aspectos para evitar as chamadas DTAs (Doenças Transmitidas por Alimentos).

Concentrando-se no manuseio dos produtos durante a preparação de refeição em restaurantes, confeitarias, panificações e estabelecimentos do gênero, existem diversos aspectos legais e técnicos que asseguram a segurança alimentar.

Em primeiro lugar, existem orientações no Manual de Boas Práticas (MBP) e POPs (Procedimentos Operacionais Padronizados) que definem normas para o local de produção.

Há também planilhas de monitoramento de temperatura de equipamentos e dos alimentos armazenados, em preparação e prontos. É necessário que um responsável crie um fluxograma das preparações para evitar contaminação cruzada entre os pratos.

Outro aspecto importante é a saúde e a higiene daqueles que vão manipular os alimentos. Esse geralmente é o principal meio de contaminação. Práticas simples como lavar as mãos com frequência durante a jornada de trabalho e nas trocas de funções fazem muita diferença.

Além disso, é fundamental que o manipulador não trabalhe com ferimentos expostos, gripado, com vômitos, diarreias, dor abdominal ou qualquer outro sinal de que poderia contaminar os alimentos.

Na lavoura, o agrônomo é o profissional indispensável para orientar práticas que garantam a segurança alimentar. Nas etapas de preparação de alimentos, o profissional responsável é o nutricionista. Ele precisa compreender os processos de qualidade ao longo dos trabalhos.

Como fazer a gestão de risco dos fatores patógenos nas produções agrícolas?

O risco é o potencial de impacto de um evento ocorrer ao longo da cadeia de produção e distribuição do produto. É muito difícil garantir a completa ausência de fatores patógenos nos alimentos, uma vez que é enorme o número de microrganismos nesses produtos. Além disso, há outros aspectos envolvidos nesse risco, como os métodos empregados nas preparações de alimentos e o papel do consumidor na segurança do alimento.

No entanto, essa gestão envolve identificar e quantificar tudo sobre segurança alimentar, listando todos os riscos a fim de mitigá-los ao longo da cadeia de produção e fornecimento.

É importante que o produtor desenvolva uma visão ampla sobre o impacto social e ambiental das suas ações. Como vimos, existem medidas práticas que englobam tudo sobre segurança alimentar, desde a plantação até a mesa do consumidor. Isso permitirá um crescimento sustentável do negócio, com menos perdas e mais produtividade.

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Como podemos garantir a segurança do alimento?

Promover a qualidade e a segurança dos alimentos oferecidos aos consumidores engloba atividades como higiene das mãos de maneira adequada. Também engloba atividades envolvidas na produção do alimento, como por exemplo higienização, cozimento e elaboração do prato até a refeição chegar ao consumidor.

O que é preciso ser feito para garantir a segurança alimentar dos alimentos processados?

Para manter a segurança do alimento é necessário realizar o controle e o monitoramento dos processos durante o processamento. São eles: Entrada e saída de produtos com lotes únicos de identificação. Controle de descarte.

Qual a importância da segurança e qualidade alimentar nas cadeias produtivas?

A importância da segurança alimentar Toda cadeia produtiva pela qual os alimentos passam gera riscos de contaminação e, consequentemente, podem comprometer a saúde do consumidor. Por esse motivo, a segurança dos alimentos deve ser a prioridade máxima de companhias que atuam nesse setor.

Qual a importância da segurança alimentar para produção de alimentos?

A segurança alimentar também pode ser evidenciada pelo aumento da eficiência na produção agrícola e a redução do desperdício de alimentos. Segundo a FAO, mais de 30% da produção mundial é desperdiçada a cada ano entre as fases de pós-colheita e a venda no varejo.