O que pode ser feito para melhorar a vida dos moradores de rua?

Hoje a matéria é sobre o Instituto Construir, ONG que atua no desenvolvimento de projetos e ações humanitárias voltadas ao resgate de pessoas em situação de risco social na cidade de São Paulo. Mas o que seria risco social? Segundo algumas definições encontradas em pesquisa, seriam moradores de rua ou com condições precárias de moradia e saneamento, que não possuem emprego, não possuem família e que em alguns casos, apresentariam sinais de desnutrição.

Há alguns dias fui visitar a ONG e participar de uma das atividades voluntárias, a de Resgate Solidário. Essa atividade ocorre aos domingos e consiste em preparar e servir café da manhã a 80 pessoas, distribuir senhas e coordenar a fila para o banho, fazer uma palestra motivacional ou projetar um filme, e ao final, preparar e servir o almoço. Os assistidos não podem sair da ONG entre o café e o almoço, o que garante a oportunidade de trabalhar na sua educação, motivação e nos seus valores.

Bom, confesso que senti medo. Era a primeira vez que entrava em contato com tantos mendigos, dependentes químicos e praticantes de pequenos (ou grandes) delitos cara a cara. Após ajudar no preparo do café da manhã, fiquei responsável por servir o café com leite e o chocolate quente. Orientaram-me a saudar cada um na fila pelo nome (todos recebem uma fita adesiva com o nome escrito) antes de perguntar o que queriam tomar para que se sentissem reconhecidos e valorizados. Me surpreendi: todos se mostraram extremamente educados, agradecendo o que recebiam e abençoando algumas vezes. E assim foi, um a um, fazendo com que eu perdesse o medo e o bloqueio. Então decidi que iria conversar com alguns deles para entender um pouco mais da sua estória.

Havia desde pessoas que já nasceram na rua, até cidadãos que algum dia tiveram emprego estável e família e acabaram largando tudo por causa das drogas, indo morar nas ruas como indigentes. Alguns discutiram religião comigo, outros contaram estórias pesadas sobre facções criminosas. No meio de tantas descobertas, percebi que ali havia seres humanos com um coração enorme, mas que precisavam de muita persistência alheia para conseguir lhes dar ânimo para sair daquela situação.

Um pouco depois resolvi conversar com o zelador da residência onde fica a ONG. Disseram-me que ele era um desses rapazes em situação de risco social que conseguiu se reerguer e voltar a ter uma vida digna. Pois bem, ele me contou que anos atrás tinha uma empresa em seu nome e uma família. Começou a se envolver com drogas e seus negócios começaram a degringolar, bem como a relação com sua esposa e filhos.

Chegou a um ponto em que foi para rua, onde praticava pequenos delitos para sustentar seu vício, mas sabia que não queria continuar ali. Um dia soube de uma ONG, o Instituto Construir, que servia sopa aos sábados à noite e que encaminhava dependentes químicos para tratamento. Foi ao encontro da mesma e disse a um dos voluntários que queria ir para uma clínica de reabilitação. E assim foi feito.

Na primeira internação, ele ficou um tempo e depois foi embora, o que ocorre em cerca de 80% dos casos. Novamente na rua, sentiu mais uma vez o drama de ser dependente químico e viver em situação precária. Foi quando decidiu pedir ajuda para internação mais uma vez. Sua persistência o salvou – hoje, além de zelador da ONG, reabriu sua empresa e já comprou um carro. Também voltou a ver os filhos e sentir que tem uma família. É um ser humano que se transformou e serve de exemplo para muitos outros que tem uma estória semelhante.

O que fez diferença para esse homem foi não apenas sua vontade de voltar a ter uma vida digna, mas também saber que havia pessoas que se preocupavam com ele. Ele as chamava de “anjos”, pois sacrificavam dias em que poderiam estar descansando, para se dedicar e dar amor e carinho a cidadãos em situação de risco, mostrando que o caminho do bem também existe. É um caso clássico de ação bem sucedida de uma ONG. E é por isso que o Instituto Construir quer ampliar suas iniciativas. Já há projetos desenhados para atuação junto a idosos carentes, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, garotas de programa, bem como programas de geração de renda através da reciclagem de eletrônicos e de óleo vegetal.

Para que esses programas saiam do papel são necessários voluntários, pessoas comprometidas e com sede de transformação social. E é por isso que eu convido a todos para conhecer o site do Instituto Construir. Lá poderão conhecer todas as iniciativas, e quem sabe se apaixonar, arregaçar as mangas e colocar mãos à obra!

Como podemos melhorar a situação dos moradores de rua?

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