Como o coronavirus entra no nosso organismo

Por que pessoas com doenças crônicas tem mais chances de serem infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2)?

Isso se deve pelo fato de o gene ACE2 geralmente ser mais expresso em pacientes com doenças crônicas como hipertensão, diabetes e outras doenças cardiovasculares, o que as torna mais suscetíveis a infecção pelo novo coronavírus. Além disso, o uso de medicamentos inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA) e dos bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA), comumente usados por pacientes com diabetes e hipertensão, pode resultar em um aumento ainda maior da expressão de ACE2 devido a um mecanismo compensatório (upregulation).

Sobretudo, como a entrada do SARS-CoV-2 na célula é feita principalmente por meio da ligação da proteína spike do vírus com o receptor ACE2, o aumento da expressão dessa molécula na superfície das células desses pacientes pode aumentar a chance de infecção e até mesmo influenciar na gravidade da doença.

No entanto, é sempre importante lembrar que cada caso deve ser avaliado de forma individual pelo médico, principalmente com relação à medicação desses pacientes com comorbidades e nunca se deve automedicar nem parar qualquer tratamento sem antes consultar um especialista.

O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.

Medicina

A viagem do coronavírus pelo corpo humano

Acompanhe o que o vírus da Covid-19 pode fazer pelo organismo e suas repercussões — elas não se resumem a ataques ao aparelho respiratório

Por Paulo Eduardo Brandão Atualizado em 6 jul 2021, 10h43 - Publicado em 5 jul 2021, 15h36

Como o coronavirus entra no nosso organismo
Nas formas graves, a Covid-19 pode provocar danos e sintomas sistêmicos. Arte e foto: Ricardo Davino/SAÚDE é Vital

Publicidade

No filme de ficção científica Viagem Fantástica, de 1966, um submarino e sua tripulação são miniaturizados e injetados no organismo de um paciente para tentar resolver um hematoma cerebral. Assim, eles acabam viajando por artérias, coração e pulmões, e lutando contra as células imunológicas. Além de incrivelmente instrutivo, o filme nos serve de inspiração para contar como o vírus da Covid-19 viaja pelo corpo humano.

O Sars-CoV-2 não trafega solto pelo ar, pois seu envoltório é muito sensível ao calor e à falta de água e ele não resiste muito tempo em superfícies. Assim, ele se protege e circula dentro de gotículas de água. Gotículas grandes, que eliminamos quando tossimos, espirramos ou mesmo falamos, podem voar por uns 2 metros de distância. E, daí, conseguem chegar ao nariz ou à boca de outra pessoa.

É por isso que precisamos usar máscaras, um jeito de barrar a entrada e saída dessas gotículas. Mas gotinhas ainda menores contendo o coronavírus também podem ficar no ar no formato de spray e representam uma via secundária de transmissão — mais um motivo para utilizar máscaras. Aliás, as gotículas ainda podem levar o vírus até os olhos, de onde eles abrem caminho, célula a célula, até o tecido respiratório. Não à toa, outra estratégia preventiva é lançar mão de óculos de proteção ou escudos faciais.

Ao aterrissar no interior do nariz, os coronavírus se sentem em seu território. Começam a entrar nas células e a se replicar bem rápido: mil novos exemplares surgem de um só a cada oito horas. As células esgotadas pela exploração viral acabam morrendo e o agente infeccioso vai passando de uma a outra velozmente.

Esse rastro de destruição no tecido interno do nariz pode acabar expondo as terminações nervosas responsáveis pelo olfato, que perdem sua capacidade de traduzir odores e ficam como um fio desencapado. Isso explica por que a perda de olfato ocorre em tantas pessoas acometidas.

Mas o vírus não para por aí: passando de célula a célula pelo sistema respiratório, vai provocando de dor de garganta a pneumonia. Uma imagem de tomografia ou raios X nesse momento da infecção, fundamental para entender a gravidade da Covid-19, costuma mostrar os pulmões com um aspecto de vidro rachado.

Até algum sintoma aparecer podem se passar de 2 a 15 dias, tempo para o vírus crescer em número e causar danos suficientes. Isso tudo depende da imunidade da pessoa e, daí, não é difícil entender a importância da vacinação, que tem por finalidade evitar casos graves da doença e diminuir a transmissão viral pela população.

  • Relacionadas

  • Veja

    Por que ainda é preciso cautela ao misturar vacinas
  • Medicina

    A vida pós-picada: os cuidados depois da vacina
  • Medicina

    Afinal, quando fazer cada teste de Covid-19?

Continua após a publicidade

O coronavírus pandêmico pode ficar se replicando por algo como uma semana, levando a sintomas respiratórios durante esse tempo e, normalmente, o vírus em si desaparece em seguida. Mas não os sintomas e as repercussões no organismo.

Depois dessa primeira semana, o sistema imunológico e o de coagulação, que deveriam nos defender, podem ficar enlouquecidos pela superestimulação desencadeada pelo vírus. E, aí, o quadro passa a ficar bem diferente do que, digamos, uma simples gripe.

Tresloucado, o sistema imune ataca os próprios pulmões, piorando a pneumonia a tal ponto que esses órgãos já não conseguem captar o oxigênio. Isso é tão grave que há pessoas com Covid-19 que precisaram de transplante pulmonar. Mas quem disse que o estrago para nos pulmões?

O sistema imunológico enraivecido pode disparar golpes em todos os os pontos do corpo, atacando os rins, o fígado e até mesmo o cérebro. Outra manifestação é uma doença inflamatória multissistêmica marcada por pontos vermelhos na pele.

O sistema circulatório também desanda, com a formação de coágulos no sangue. Viajando pelos vasos, eles podem entupir as artérias menores e causar infarto, derrame cerebral e mesmo gangrena — pacientes graves de Covid-19 tiveram membros amputados por causa disso.

Esse agravamento bombástico, que ocorre quando o vírus em si já foi embora, pode acontecer na segunda ou terceira semana após o início dos sintomas. O paciente precisa receber cuidados intensivos em UTI, tomar medicamentos que controlam a imunidade (como corticoides) e a coagulação (anticoagulantes) e, em alguns casos, ser entubado.

Mas há casos em que o coronavírus pode continuar se replicando por meses e, apesar do silêncio suspeito, nosso aparato imunológico e o de coagulação acordam mais tarde, fazendo com que pacientes que tiveram alta após a forma grave tenham recaídas potencialmente fatais. Tenhamos em mente que o vírus da Covid-19 não gosta só de células respiratórias, mas de praticamente todas aquelas que temos no organismo, em graus diferentes, o que tende a complicar a doença.

Entender e controlar enfermidades envolve diversos ramos da ciência. Mas, às vezes, para quem está a cargo de conduzir o enfrentamento de uma pandemia, optar por soluções mágicas é mais atrativo, talvez por sua dificuldade em aceitar ou entender a própria ciência. E isso nos remete de volta à ficção científica, na famosa frase do escritor Arthur C. Clarke: “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de mágica.”

Como o Covid se desenvolve no corpo?

A Covid-19 é uma doença respiratória nova, provocada por um tipo de coronavírus que ainda não havia sido identificado em seres humanos. Propagação e transmissão: O vírus pode se propagar de pessoa para pessoa por meio de gotículas do nariz ou da boca que se espalham quando alguém doente tosse ou espirra.

O que acontece quando o Covid entra no corpo?

Fadiga, febre, fraqueza, perda de apetite, erupções cutâneas, redução na capacidade de se exercitar, dores nas articulações, dores inespecíficas, problemas de sono, mal-estar, sudorese, dor nas costas. Fibrose, redução da capacidade de oxigenação do sangue.

Como o coronavírus entra na célula humana?

Entrada na célula: O vírus usa o receptor celular ECA2 para se ancorar nas células hospedeiras, usando para isso a proteína S.

Quantos dias a pessoa fica com Covid no corpo?

O período médio de tempo que o vírus da covid-19 fica no nosso corpo varia entre sete e dez dias, mas isso não tem consenso entre os especialistas, já que a resposta varia em cada indivíduo. Além disso, pacientes com imunidade comprometida respondem de forma diferente à doença.