Show João Guimarães Rosa - Grande sertão: veredas - Editora Companhia das Letras - 552 Páginas - Capa e projeto gráfico: Alceu Chiesorin Nunes - Ilustrações das orelhas e do miolo: Poty Lazzaroto - Lançamento: 25/02/2019 (Leia aqui um trecho em pdf
disponibilizado pela Editora). "Agora, bem: não queria tocar nisso mais – de o Tinhoso; chega. Mas tem um porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma... Invencionice falsa! E, alma, o que é? Alma tem de ser coisa interna supremada, muito mais do de dentro, e é só, do que um se pensa: ah, alma absoluta! Decisão de vender alma é afoitez vadia, fantasiado de momento, não tem a obediência legal. Posso vender essas boas terras, daí de entre as Veredas-Quatro – que são dum senhor Almirante, que reside na capital federal? Posso algum!? Então, se um menino menino é, e por isso não se autoriza de negociar... E a gente, isso sei, às vezes é só feito menino. Mal que em minha vida aprontei, foi numa certa meninice em sonhos – tudo corre e chega tão ligeiro –; será que se há lume de responsabilidades? Se sonha; já se fez... Dei rapadura ao jumento! Ahã. Pois. Se tem alma, e tem, ela é de Deus estabelecida, nem que a pessoa queira ou não queira. Não é vendível. O senhor não acha? Me declare, franco, peço. Ah, lhe agradeço. Se vê que o senhor sabe muito, em ideia firme, além de ter carta de doutor. Lhe agradeço, por tanto. Sua companhia me dá altos prazeres." (p. 25) A guerra é uma constante na vida de Riobaldo e, quando ele e seu bando estão cercados na famosa batalha da Fazenda dos Tucanos, a passagem do fuzilamento dos cavalos é uma espécie de pintura de tão visual. Os inimigos do grupo de Riobaldo, liderados pelo terrível Hermógenes, que supostamente teria um pacto com o diabo, decidem atirar nos cavalos presos no curral. Os animais são humanizados na descrição, com "mãos" e "queixos", e não têm como escapar da morte brutal, sendo reproduzido no texto todo o horror da imagem dos pobres cavalos assassinados, sem chance de fuga. O corretor ortográfico briga com este texto que transborda de neologismos como uma forma magistral de pintar esta Guernica nordestina.
Uma dificuldade, entre tantas outras, para o resenhista nessa imensa travessia está na classificação do romance, seria um épico sertanejo com base na tradição oral, romance de formação ou simplesmente uma história de amor? A relação de Riobaldo com Diadorim é um dos maiores contrastes do livro, amizade masculina que se transforma em amor e que não pode ser revelada e concretizada no meio violento em que convivem. O amor proibido entre jagunços, e em pleno sertão, não deixa de ser também uma abordagem moderna (mesmo com o final pouco convincente, na minha opinião, quase que uma concessão à sociedade da época).
De todos os clássicos da literatura brasileira, talvez Grande sertão: veredas seja o mais reverenciado, intransponível na sua inventividade e, infelizmente, o menos lido. Nesta experiência com o romance, em uma fase mais madura da minha vida, encontrei a força e a mágica que somente as grandes obras têm de se transformarem junto com a gente, mudando com o tempo. Afinal, como eu sempre me pergunto, mudamos nós ou mudaram os livros? "Viver é negócio muito perigoso...", já dizia Riobaldo, velho de guerra!
Onde encontrar o livro: Clique aqui para comprar Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa Como dizia Guimarães Rosa?“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”. “Tudo que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito”.
O que a vida quer da gente é coragem poema?O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem.
De quem é a frase o que a vida quer da gente é coragem?O que ela quer da gente é coragem.” Serra cita em seu discurso um trecho de Grande Sertão: Veredas, do escritor mineiro Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que era isso que a desordem da vida?O que era isso, que a desordem da vida podia sempre mais do que a gente? Viver é negócio muito perigoso.... Mesmo na comutatividade, haverá sempre uma álea à espreita, mas mesmo na álea será contratada a esperança, emptio spei: Claráguas, fontes, sombreado e sol.
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