Quais foram os motivos que fizeram o aumento da urbanização no Brasil?

por KELI DE OLIVEIRA SILVA

Graduanda em Ci�ncias Sociais na Universidade Estadual de Maring� (DCS/UEM)

 

Keli de Oliveira Silva

Resumo: O artigo procura introduzir o leitor no processo que levou as cidades brasileiras a apresentarem hoje grandes desigualdades entre seus moradores. Logo no in�cio da urbaniza��o, ap�s a Segunda Guerra Mundial, havia grandes expectativas quanto a melhoria na qualidade de vida de todos. A industrializa��o levou muitos camponeses �s cidades em busca de maiores ganhos. Mas estas n�o foram capazes de atender o aglomerado de pessoas que chegavam. Muitos tiveram que se instalar em moradias desprovidas de infra-estrutura, como corti�os e favelas, e mais recentemente em �reas perif�ricas ou conjuntos habitacionais, que n�o disp�em de condi��es m�nimas de habitabilidade e s�o distantes dos servi�os b�sicos, como o consumo, a sa�de e o lazer. A urbaniza��o acabou criando grandes problemas sociais, como o desemprego, a falta de habita��o, a criminalidade, entre outros. Este trabalho procura ent�o, fazer um pequeno resgate, baseado em alguns autores, dos conceitos de urbaniza��o, segrega��o e periferia.

Palavras-chave: Urbaniza��o, segrega��o e periferia.

Caused Periphery Production for the Unequal Brazilian Urbanization

Abstract: The article looks for to introduce the reader in the process that took the Brazilian cities today to present great inaqualities between its inhabitants. Soon in the beginning of the urbanization, after the Second World War I, had great expectations how much the improvement in the quality of life of all. Industrialization took many peasants to the cities in search of bigger profits. But these had not been capable to take care of the accumulation of people who arrived. Many had had that if to install in housings unprovided of infrastructure, as tenement houses and slum quarters, and more recently in peripheral areas or housing estates, that do not make use of minimum conditions of habitability and are distant of the basic services, as the consumption, the health and the leisure. The urbanization finished creating great social problems, as the unemployment, the habitation lack, crime, among others. This work looks for then, to make a small rescue, established in some authors, of the concepts of urbanization, segregation and periphery.

Word-key:Urbanization, segregation and periphery.

Urbaniza��o

As cidades, como conjuntos complexos, possuem uma hist�ria que as faz resultar no que s�o hoje. A partir da coloniza��o e da urbaniza��o de um territ�rio � poss�vel encontrar as causas da desigualdade e da segrega��o existente na maioria delas.

O processo de urbaniza��o no Brasil inicia-se na d�cada de 50[1] com o aumento da popula��o e o desenvolvimento do espa�o urbano. Os moradores do campo mudam-se para as cidades atr�s de melhores condi��es de vida, surgindo ent�o uma correla��o imediata entre emprego e metropoliza��o. Mas, ainda antes, durante o s�culo XVIII, a urbaniza��o come�a a se desenvolver, se intensificando, ent�o, durante o s�culo XIX, principalmente ap�s a Segunda Guerra Mundial. A taxa de urbaniza��o que em 1940 era de 26,35%, em 1980 alcan�a 68,86% (SANTOS, 1998).

Em pouco mais de uma gera��o a partir dos meados deste s�culo, o Brasil, um pa�s predominantemente agr�rio, transformou-se em um pa�s virtualmente urbanizado. Em 1950, tinha uma popula��o de 33 milh�es de camponeses � em crescimento -, com 19 milh�es de habitantes nas cidades, ao passo que hoje tem a mesma popula��o no �campo� - agora diminuindo - e a popula��o urbana sextuplicou para mais de 120 milh�es. � claro que transforma��es quantitativas de tal magnitude implicam transforma��es qualitativas profundas. O pa�s, se n�o est� inteiramente �urbanizado�, tem seguramente car�ter preponderantemente urbano (DE�K & SHIFFER, 1999, p. 11-12).

O fen�meno da urbaniza��o � conseq��ncia de fatores antigos, pois, com a crise do sistema colonial houve uma mudan�a na economia que favoreceu o mercado urbano, assim grande parte da m�o-de-obra utilizada no campo, muda-se para a cidade. Ent�o, para compreende-lo � fundamental fazer uma refer�ncia ao passado, segundo Ruben Oliven:

A forma��o de um modo de produ��o urbano-industrial capitalista  no Brasil est� ligada ao enfraquecimento da economia colonial e o surgimento de uma economia de mercado [...] o longo per�odo de crescimento das exporta��es de caf� levou ao uso crescente de m�o-de-obra na agricultura de exporta��o, em detrimento das atividades de subsist�ncia e de manufatura. A isto deve-se acrescentar a substitui��o do trabalho escravo pelo trabalho livre (principalmente imigrantes) e o crescimento das cidades devido as atividades de exporta��o (OLIVEN, 1984, p. 61).

A influ�ncia da coloniza��o brasileira persiste nos dias de hoje. A oposi��o entre os senhores de engenho e os escravos foi substitu�da pela rela��o entre o empregador e o empregado. A dist�ncia entre a Casa Grande e a Senzala foi substitu�da pelo centro e a periferia. O Estado e os agentes imobili�rios[2] (CORR�A, 2002) continuam criando espa�os particulares que diferencie e separe as classes com maiores e menores condi��es financeiras.

A urbaniza��o est�, ent�o, vinculada ao processo de industrializa��o. A cria��o de uma ind�stria, f�brica ou empresa, principalmente de grande porte, tende a atrair � regi�o onde se instalou um alto n�mero de pessoas. Ela gera empregos diretos e indiretos, fazendo com que novos im�veis e prestadores de servi�os se instalem aos seus arredores.

A partir dos anos 1940-1950 a industrializa��o n�o pode ser entendida apenas como a cria��o de atividades industriais, mas tamb�m como um processo social complexo, formando um mercado nacional, expandindo o consumo, impulsionando as rela��es e ativando a urbaniza��o, envolvendo todo o pa�s e acelerando a urbaniza��o das m�dias e grandes cidades, que s�o as primeiras a receber estas ind�strias (SANTOS, 1998). Mas ambos n�o necessariamente se confundem:

A urbaniza��o, entretanto, apresenta um padr�o diferente da industrializa��o. A primeira se torna muitas vezes relativamente independente do desenvolvimento industrial regional. O crescimento das cidades menos industrializadas apresenta um ritmo quase t�o intenso como o das cidades mais industrializadas. As cidades que crescem se espalham por todo o litoral brasileiro, n�o se observando uma macrocefalia urbana, nem uma concentra��o geogr�fica da industrializa��o semelhante � que ocorre na ind�stria (OLIVEN, 1984, p. 70).

Ou seja, h� ainda outros fatores que favorecem o desenvolvimento das cidades, como a migra��o interna; p�los educacionais, econ�micos e pol�ticos; pontos tur�sticos, qualidade de vida e dos servi�os de sa�de, entre outros.

At� agora trabalhamos com o termo urbaniza��o, mas � interessante distingui-lo de outro semelhante: o urbanismo.

O urbanismo moderno realiza e manifesta tamb�m, por meio das formas que constr�i, uma nova rela��o do homem com a cidade, passando a conceb�-la com totalidade, a partir de uma nova vis�o unit�ria tornada poss�vel, em um primeiro momento, com a perspectiva e as vias retas abrindo espa�os e interligando os peda�os da cidade e, posteriormente com planos de conjunto de melhoramento, embelezando e expans�o, que marcaram a  urban�stica a partir do s�culo XIX [...]

Atrav�s da reforma da cidade se busca a nova sociedade, e o urbanismo ser� o instrumento mobilizador dessa opera��o, meio para constru��o de um cotidiano civilizado (ANDRADE, 1995, p. 339-340).

O urbanismo se preocupa com a caracter�stica est�tica da cidade. Ele prop�e uma constru��o de forma harmoniosa com as atividades dos homens e tem o intuito de por ordem ao caos.

A cidade surge ent�o, principalmente, para atender as necessidades dos homens, sejam elas econ�micas, pol�ticas ou sociais, assim o espa�o urbano � tra�ado enfocando-as. Os locais em que as satisfazemos, ou seja, o local em que moramos, trabalhamos, estudamos ou nos divertimos, s�o espa�os distintos, distribu�dos pelo munic�pio.

Segundo Maria Ad�lia A. de Souza (1999) o espa�o urbano n�o se limita a cidade, esta e o espa�o rural se mesclam. A partir dessa defini��o podemos pensar a urbaniza��o como o local onde est� a produ��o, as classes sociais e a divis�o do trabalho. Ent�o, ela � resultado de um conjunto de a��es humanas, que procuram modificar a natureza para seu conforto e melhoria na qualidade de vida.

Mas com o acumulo crescente de habitantes, elas se tornam grandes �reas de risco, com altos �ndices de mis�ria, desigualdades, desemprego, viol�ncia e outros problemas, principalmente nas metr�poles[3]. As cidades t�m diferen�as, por�m uma caracter�stica � comum: s�o marcadas de um lado pela exclus�o de muitos, e de outro, pelas melhores condi��es de vida de poucos. A urbaniza��o, ent�o, acaba criando grandes problemas, segundo Milton Santos:

Por um lado, h� a hip�tese de que a urbaniza��o � necess�ria para o processo do crescimento nacional pelas economias de aglomera��o e escala que cria, pelas oportunidades de emprego e melhoramento de posi��o social que oferece e, finalmente, por seu clima favor�vel � elabora��o de ideologias progressistas. Por outro lado, por�m, acusa-se a urbaniza��o de agravar desequil�brios s�cio-econ�micos e disparidades regionais, de gerar subemprego, degrada��o da habita��o e defini��o de servi�os essenciais. As pessoas reagem como se a origem, tanto das boas coisas como das m�s, fosse a cidade e, por conseq��ncia, devesse esta elaborar suas respostas em seu pr�prio interior (SANTOS, 1982, p. 181).

A cidade n�o estava, e ainda hoje n�o est�, preparada para o grande contingente de pessoas que se mudaram do campo. Ela veio crescendo de forma descontinua e sem planejamento, prejudicando seriamente a qualidade de vida ao n�o disponibilizar a todos emprego, sa�de, educa��o, habita��o e lazer. Milton Santos aponta que n�o � a cidade a respons�vel por todas car�ncias, mas outros agentes, podemos citar como exemplo o poder p�blico e os propriet�rios.

Para Milton Santos �Quanto mais intensa � a divis�o do trabalho numa �rea, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentes s�o uma das outras� (SANTOS, 1998, p. 52). Ou seja, quanto mais uma regi�o produz, mas ela vai se desenvolver, pois criar� um maior n�mero de necessidades.

O processo de urbaniza��o tem altos e baixos. Ele veio para melhorar a qualidade de vida da popula��o e diminuir as dist�ncias, mas acabou tornando-se uma quest�o complexa, pois trouxe grandes problemas, que cada vez aumentam mais e se tornam dif�ceis de serem solucionados. Um deles � a desigualdade social que ser� trabalhado no decorrer.

Segrega��o

Com a intensifica��o da urbaniza��o, espa�os distintos come�am a ser criados, identificando seus moradores de formas opostas, divididos entre os bairros de classes baixa, m�dia e alta.

Com o crescimento da popula��o e a falta de planejamento das cidades ocorre um grave problema: a segrega��o, tanto espacial (dist�ncia entre moradias de diferentes grupos) como social (dist�ncia de condi��es no que diz respeito ao acesso, elabora��o e execu��o de pol�ticas p�blicas). A primeira est� relacionada � valoriza��o excessiva dos im�veis que disp�em dos servi�os b�sicos, como asfalto, saneamento b�sico e transporte, e uma localiza��o estrat�gica que facilita o acesso ao trabalho, com�rcio e lazer, al�m, ainda, da constru��o dos conjuntos habitacionais na periferia. A segunda diz respeito a dificuldade de alguns grupos t�m para conseguir servi�os de melhor qualidade, como escolas, m�dicos, emprego, cultura e lazer. As duas formas de segrega��o s�o extremamente ligadas e concentradas nos grupos com menores rendas.

A segrega��o no Brasil est� relacionada �s condi��es econ�micas. Desde o per�odo colonial � pregado o bem estar dos ricos em detrimento dos pobres. A dist�ncia espacial era um meio de distinguir os moradores da Casa Grande e da Senzala. Por�m, apesar de j� existir a muito tempo, � no Capitalismo que ganha mais for�a (ARA�JO, 2004). Este sistema � predat�rio e n�o permite que todos tenham os mesmos direitos aos bens de consumo, privilegiando, assim, uma minoria com condi��es econ�micas melhores.

Os principais respons�veis por estes espa�os com caracter�sticas geogr�ficas, econ�micas e est�ticas diferenciados s�o o Estado e a iniciativa privada. Eles s�o representados pelo capital imobili�rio, constru��o civil e o estoque de terras urbanas (ARA�JO, 2004). Os investimentos p�blicos e privados se concentram em determinadas �reas, valorizando-as ao disponibilizar saneamento b�sico, asfalto, transporte e seguran�a, enquanto a �rea perif�rica, como os corti�os, os bairros distantes do centro e os conjuntos habitacionais, s�o esquecidos. Os primeiros espa�os citados s�o reservados para a elite e leva os que n�o possuem recursos financeiros � periferia.

O Estado, ainda, � respons�vel pelo planejamento urbano, ou seja, a maneira como o espa�o � organizado. Esse planejamento, na maioria das vezes, n�o � devidamente adequado a toda sociedade. Ele concentra as atividades, tanto comerciais como sociais, em determinado local, colocando a elite a sua volta e afastando os que possuem menores rendas. Assim, o Estado acaba por expressar a influ�ncia das classes dominantes, que desejam um espa�o particular para sua reprodu��o social, da� a inviabilidade de um planejamento democr�tico e igualit�rio (MARICATO, 2002).

Ligadas ao planejamento urbano est�o as leis de zoneamento (distin��o entre os espa�os de uma cidade). Elas dirigem o uso e a ocupa��o do solo, separando �reas para com�rcio, lazer, ind�strias e habita��es. Neste �ltimo n�vel se d�o as desigualdades que s�o mais marcantes. Ao mencionar um bairro, os seus moradores s�o automaticamente relacionados a essa separa��o. Eles recebem um r�tulo: se morarem pr�ximos ao centro e das atividades comerciais e sociais s�o bem sucedidos, cidad�os dignos de respeito; se morarem na periferia s�o rotulados como pobres, violentos ou sujos e muitas vezes nem mesmos s�o tratados como cidad�os pelas autoridades como a pol�cia por exemplo, e pela sociedade de modo geral.

Ent�o, dentro do processo de segrega��o, surgem problemas, principalmente referentes a quest�o da moradia: alugu�is altos, im�veis ilegais, periferiza��o e d�ficit habitacional. Os bairros que possuem acesso f�cil as atividades comercias e sociais, como escolas, hospitais e supermercados, se valorizam cada vez mais, impedindo que muitos adquiram um im�vel nesta regi�o. A isso se soma a especula��o imobili�ria que mant�m imensos vazios na cidade � espera de valoriza��o. H� pouco investimento p�blico no setor imobili�rio para habita��es populares, onde, muitas vezes, a classe m�dia acaba por ocupar as habita��es que eram destinadas a popula��o de baixa renda, gra�as a burocracia do cadastramento e a dificuldade dessas fam�lias em pagar a quantia mensal exigida para adquirir um im�vel, mesmo que popular.

A quest�o habitacional deve ser analisada com base nas quest�es sociais, econ�micas e pol�ticas. Segundo Kowarick (1993) � necess�rio observar, al�m do pre�o da terra urbana, o setor imobili�rio�construtor e o Estado; � preciso tamb�m considerar o conjunto da composi��o social do capital e a forma como se reparte o trabalho excedente do necess�rio, resgatando assim, id�ias marxistas. Ou seja, quando a oferta de empregos � insuficiente ou os sal�rios s�o muito baixos, dificultam a aquisi��o de uma moradia digna, que disponha de saneamento b�sico, com�rcio e lazer.

Neste contexto, ocorre ent�o, a restri��o do mercado privado, em especial do imobili�rio, al�m de pol�ticas sociais insuficientes, fazendo com que os moradores para que possam ter direito a habita��o, tenham que procurar em lugares cada vez mais distantes do centro, ou mesmo busquem im�veis ilegais ou construam suas casas nas chamadas �reas de grande risco. Segundo Meyer (1979) podemos avaliar uma estrutura urbana a partir do grau de segrega��o, ou seja, quanto menos segregada uma cidade, mais est� � desenvolvida. A autora ainda distingue dois modos no processo de segrega��o: as favelas e as cidades-dormit�rios.

As favelas caracterizam�se por serem im�veis ilegais. Estas, geralmente n�o surgem na periferia, mas pr�ximas ao centro. Trata�se de barracos, constru�dos precariamente, sem qualquer tipo de saneamento b�sico e seguran�a. O espa�o constru�do � m�nimo, muitas vezes formado por um s� c�modo, onde quarto, sala e cozinha est�o juntos. Esse tipo de moradia, n�o fornece nenhum tipo de conforto a seus moradores, mas � a �nica forma de habita��o que eles conseguiram ter acesso.

As cidades�dormit�rios s�o munic�pios pequenos vizinhos a um maior e mais pr�spero. A segrega��o atinge uma amplitude que extrapola os limites da cidade, sem condi��es de adquirir um im�vel nem mesmo na periferia, fam�lias inteiras mudam-se para regi�es vizinhas onde a valoriza��o excessiva ainda n�o ocorreu por se tratar de locais pouco urbanizados. Segundo Meyer, as cidades-dormit�rios n�o oferecem um lugar para se morar, elas s�o apenas para o descanso e n�o para o desenvolvimento de atividades produtivas. De um lado temos o espa�o onde nos alojamos e de outro onde trabalhamos, esta dist�ncia, n�o � s� f�sica, mas acaba se tornando tamb�m social.

Ent�o, sem condi��es de adquirir im�veis no centro, as fam�lias com menores rendas, ao se estabelecerem na periferia, acabam criando uma identidade pr�pria, diferente daquela dos moradores dos bairros com maiores rendas. N�o freq�entam restaurantes, n�o colocam seus filhos em escolas particulares e praticamente s� saem do bairro para trabalharem. Ambos criam sua pr�pria forma de cultura e lazer, se adaptando as condi��es que lhes s�o dadas, condi��es estas de car�ter econ�mico. A segrega��o ainda faz com que gera��es inteiras n�o mudem de posi��o social, os filhos herdam as condi��es econ�micas dos pais e as repassam, num ciclo vicioso que torna a mobilidade social quase que imposs�vel, enquanto a concentra��o de renda continua em dom�nio da elite.[4]

Diante desde quadro os moradores da periferia n�o t�m perspectivas de um futuro melhor. Eles se sentem exclu�dos do sistema social e das oportunidades de progresso, aumentando o consumo de drogas, delinq��ncia e ainda outros fatores que favorecem a sua degrada��o social (SABATINI, 1986). Estas condutas funcionam como uma fuga da realidade e condi��o de exist�ncia, abandonados pelo Estado s� podem contar consigo mesmos.

Nos �ltimos anos vem surgindo um fato novo: o confinamento dos grupos com maiores rendas em condom�nios fechados. Eles est�o se mudando para estes espa�os em busca de maior seguran�a. Suas vidas s�o monitoradas por porteiros, que controlam a entrada e a sa�da de pessoas no local, vinte e quatro horas por dia. Seus moradores adquirem um status diferente do restante da popula��o, porque nem todos t�m acesso a este espa�o. Estas �reas est�o se valorizando cada vez mais, intensificando a segrega��o.

Mas, a segrega��o, n�o � apenas um processo de separa��o dos moradores de uma cidade, ela est� baseada em desigualdades maiores, principalmente no que diz respeito a condi��es sociais. Para Francisco Sabatini h� tr�s dimens�es da segrega��o social e urbana. A primeira diz respeito a diferen�a no n�vel de vida entre os bairros, relacionada a condi��es econ�micas. A segunda dimens�o � geogr�fica, apresentando dois aspectos: de escala (as fam�lias com mesmas condi��es socioecon�micas podem morar em um mesmo bairro ou bairros vizinhos) ou de rela��es (as dist�ncias s�o agravadas pelo estado de pobreza de seus moradores que pouco saem do seu bairro). E uma terceira dimens�o, subjetiva, � percebida quando os habitantes procuram morar pr�ximos daqueles que lhes s�o semelhantes, seja atrav�s de crit�rios de classe, �tnicos, religiosos ou de origem migrat�ria. Como exemplo temos os bairros de imigrantes japoneses ou italianos em S�o Paulo.

A classe m�dia alta, o Estado e o mercado imobili�rio segregaram e continuam segregando a popula��o mais pobre, especialmente por dois motivos: primeiro acreditam que estando distantes destes grupos aumentam a pr�pria seguran�a, visto que os relacionam pobreza a delinq��ncia. E, segundo, porque favelas e im�veis antigos ou em condi��es prec�rias desvalorizam os im�veis vizinhos. Os pobres no centro n�o s�o, no que diz respeito a est�tica da cidade, bem vindos, eles mostram o lado negativo da organiza��o urbana, causando inc�modo e desconforto aqueles que s�o respons�veis pelo processo de segrega��o-espacial.

Quanto mais a cidade cresce, mais se intensifica a segrega��o. N�o h� moradia suficiente para todos nas regi�es pr�ximas ao centro, obrigando muitos a se distanciarem cada vez mais. � certo que n�o � poss�vel instalar uma prefeitura em cada bairro, mas � essencial que aumente sua representa��o, medidas devem ser tomadas para diminuir as dist�ncias. A a��o governamental, al�m de melhorar a infra-estrutura dos bairros, deve incentivar o desenvolvimento do com�rcio, do transporte e do lazer nestas regi�es.

Periferia

A periferia surge quando ocorre uma alta eleva��o do valor dos terrenos do centro da cidade, fazendo com que os moradores com menor poder aquisitivo procurem moradias com valores acess�veis, por�m, em �reas distantes e desprovidas de infra-estrutura. Esse processo est� relacionado a din�mica das cidades, elas crescem e n�o agregam todos os moradores de forma semelhante, sua expans�o causa a expuls�o dos pobres do centro e os segrega em regi�es pouco desenvolvidas.

� prudente, antes de definir a periferia, descrever quais grupos, ou classes, que pertencem a cidade. Segundo Pastore e Haller (1993) a sociedade � dividida em seis classes, apresentadas em ordem decrescente de rendimentos. A primeira � a classe m�dia alta, que re�ne pessoas de alto poder econ�mico e importante influ�ncia pol�tica, como exemplo pode se citar fazendeiros com muitas posses e altos executivos. A segunda � a classe m�dia superior, onde a maioria das ocupa��es s�o n�o manuais qualificadas ou propriet�rios de m�dio porte, como, por exemplo, administradores de grandes empresas e professores universit�rios. A terceira � a classe m�dia m�dia, que se concentra em ocupa��es n�o manuais qualificadas como pequenos comerciantes e caixas de banco, a partir desta o poder de influ�ncia come�a a  se tornar limitado. A quarta � a classe m�dia baixa, a maioria das ocupa��es s�o manuais qualificadas, como pedreiros e costureiras, a partir dessa classe h� baixos n�veis educacionais. A quinta � a classe baixa superior, com ocupa��es manuais n�o qualificadas, como entregadores e empregadas dom�sticas. A sexta e �ltima � a classe baixa inferior, a m�o-de-obra � rural n�o qualificada, como pescadores e garimpeiros.

Essas classes recebem um status em virtude dos lugares que freq�entam, dos produtos que consomem ou ainda a maneira como se comportam. A periferia, em geral, � ocupada pelos que pertencem as tr�s �ltimas classes. Ela ser� analisada com base em oito esferas: consumo, moradia, educa��o, emprego, transporte, fam�lia, discrimina��o e lazer. Ainda h� outras esferas, mas estas j� auxiliam para a percep��o do n�vel de segrega��o em que esses grupos se encontram.

Partindo do consumo � poss�vel ressaltar que o poder de compra das fam�lias que moram na periferia � limitado. Em rela��o a bens n�o-dur�veis, como roupas e alimentos, seus integrantes consomem produtos de baixa qualidade, enquanto que bens dur�veis, como eletrodom�sticos, m�veis e outros o acesso � bastante restrito. Se para a elite produtos como computadores, microondas e dvds s�o ess�ncias, para os moradores da periferia eles s�o quase que desconhecidos.

A car�ncia de recursos financeiros tamb�m se reflete na moradia. Estas s�o modestas e geralmente est�o em prec�rias condi��es. Al�m de se localizarem em lugares distantes, muitas vezes h� falta de �gua, luz, esgoto, asfalto e coleta de lixo. Quando localizados em conjuntos habitacionais tratam-se de casas de segunda linha[5] e quando em favelas de barracos[6]. Sua dimens�o � pequena, n�o agrega os moradores confortavelmente e sempre h� uma reforma a ser feita. Quando termina a constru��o da casa dos pais come�a a dos filhos. Muitas vezes quando se casam constroem sua moradia nos espa�os vagos do terreno dos pais ou moram na mesma casa.

As rendas baixas s�o reflexo da pouca escolaridade de seus moradores. Muitos, porque n�o freq�entaram a escola, s�o analfabetos ou freq�entaram somente n�veis educacionais muito baixos. Os jovens, assim como seus pais o fizeram, deixam de freq�entar a escola para trabalhar e aumentar a renda da fam�lia, no futuro, possivelmente, repassar�o esta condi��o tamb�m para seus filhos num ciclo vicioso que torna a mobilidade social inexistente por gera��es, fato que podemos perceber em v�rios bairros por todo o Brasil. Quando conseguem freq�entar a escola p�blica a qualidade do ensino nem sempre � boa, pois muitas n�o recebem recursos suficientes do Estado, al�m da falta de condi��es dos pais em fornecer material escolar, uniforme e transporte. As escolas particulares, em muitas situa��es melhores que as institui��es de ensino p�blicas, t�m o acesso ainda mais restrito gra�as as mensalidades.

A baixa escolaridade prejudica a entrada e perman�ncia no mercado de trabalho da popula��o perif�rica. Por falta de qualifica��o quando conseguem uma vaga, isso se conseguem, s�o mal remunerados. As profiss�es mais freq�entes s�o: carpinteiro, eletricista, costureira, mec�nico, empregada dom�stica, doceiros, bab�s, vendedores, motoristas, ambulantes, catadores de papel, e outras, estas s�o pouco reconhecidas pela sociedade e conseq�entemente mal remuneradas. Poucos t�m a oportunidade de um emprego com carteira assinada, a maioria � submetida a rela��es informais ou exercem atividades por conta pr�pria, os chamados �bicos� ou �biscates�. Impossibilitados de participarem de treinamentos ou cursos profissionalizantes, por falta de condi��es econ�micas, tempo (fazem horas extras para complementar a renda da fam�lia ou cuidar dos servi�os de casa) ou ainda por falta de apoio do Estado (que n�o fornece cursos profissionalizantes gratuitos) s�o submetidos a p�ssimas condi��es.

Quanto ao transporte, apesar dos grupos que moram na periferia serem os que mais necessitam deste servi�o, porque moram distantes das atividades comerciais e sociais, s�o os que menos t�m acesso (DURHAM, 1988). Sem condi��es de adquirir e manter um ve�culo pr�prio, dependem do sistema p�blico de transporte, que � prec�rio e insuficiente. As tarifas s�o altas se relacionadas aos rendimentos desses usu�rios, transportam grande volume de pessoas desconfortavelmente, (principalmente nos hor�rios de maior movimento) e n�o passam com freq��ncia pelos bairros.

As rela��es familiares tamb�m acabam por refletir esse quadro de car�ncias. Segundo Roberto C. Albuquerque (1993) as fam�lias pobres tendem a ser mais numerosas, muitas mulheres se tornam m�es precocemente e n�o h� campanhas de esclarecimento sobre o controle de natalidade atrav�s dos m�todos anticoncepcionais. O autor continua defendendo que a renda na maioria dos casos depende dos ganhos do chefe da fam�lia, estes s�o geralmente jovens e se declaram de cor negra ou parda. Mas, a maior propor��o das fam�lias pobres � chefiada por mulheres, talvez seja reflexo do grande n�mero de m�es solteiras e maridos que abandonaram o lar.

H� ainda a quest�o do preconceito e da discrimina��o contra esses grupos. Os moradores da periferia s�o marginalizados e relacionados a criminalidade, a atitude incorreta de alguns � tomada como se fosse a a��o geral, o que n�o ocorre com a popula��o de altas rendas. Muitos empregadores evitam contratar moradores desta regi�o por acreditar que n�o s�o honestos.

Finalizando a an�lise de algumas esferas vemos que o lazer destes grupos tamb�m � comprometido. Por exemplo, eles n�o freq�entam o cinema ou o teatro, se limitam a op��es oferecidas no pr�prio bairro com baixo ou nenhum custo, como churrascos ou jogos de futebol em locais impr�prios. Esta regi�o � carente de espa�os culturais, como exposi��es ou oficinas de teatro e arte; e esportivos, como quadras, campos ou piscinas.

Todas essas condi��es enumeradas acima dificultam a ascens�o social e conseq�entemente a melhoria na qualidade de vida dos moradores da periferia, mas favorecem o desenvolvimento de tipos de sociabilidade, avalia��o do mercado de trabalho e formas de percep��o da sociedade que lhes s�o pr�prias (DURHAM, 1988), distinguindo-os de outros grupos da sociedade.

A falta de estrutura leva muitos a perderem a perspectiva quanto ao futuro e outros ao conformismo. Dos primeiros, alguns se revoltam e entram na criminalidade para melhorar as condi��es de vida, outros, diante da baixa escolaridade, empregos mal remunerados e baixas perspectivas de melhora, se v�em diante de um conflito pessoal, sendo a fuga a busca por drogas, principalmente o �lcool. Quanto aos segundos, que conseguiram adquirir a casa pr�pria, muitos acreditam que est�o melhores do que aqueles que pagam aluguel, ou quando eles pr�prios o pagavam, as condi��es da moradia podem ser prec�rias, mas s�o de sua propriedade e n�o de terceiros.

A periferia vem crescendo mais do que as cidades. Al�m da alta taxa de natalidade, ela atrai um grande n�mero de imigrantes, seja de outros bairros ou munic�pios, gra�as ao baixo custo de vida. Quando h� um aumento da densidade populacional as reivindica��es ganham maior for�a e a prefeitura leva para esta regi�o, ao longo de v�rios anos, infra-estrutura. As condi��es prec�rias do in�cio da ocupa��o diminuem e muitas transforma��es ocorrem, influenciando a valoriza��o dos im�veis, mas isso faz com que surjam outras regi�es perif�ricas, ainda mais distantes que a primeira, pois, alguns moradores n�o conseguem arcar com os custos do imposto, esgoto e outras despesas que acompanham o processo de reformas e, ainda, outros acabam vendendo sua moradia para adquirirem um im�vel de menor valor e poder investir o que resta em outros bens, como autom�vel, m�veis, eletrodom�sticos ou construir uma casa maior ou melhor do que a anterior. Isso faz com que enquanto na cidade uma minoria aumenta sua qualidade de vida, a grande maioria pouco melhora, quando n�o piora de condi��es.

A periferia ainda funciona como trampolim pol�tico. Em �pocas de campanhas eleitorais, candidatos de todas as partes da cidade prometem melhorar as condi��es de vida dos moradores, mas, em geral, quando se elegem nada � feito.

Ela � a express�o da grande concentra��o de renda que se reflete em todos os n�veis no Brasil. Apesar de n�o ser um fato novo ou mesmo exclusivo do nosso pa�s, nas �ltimas d�cadas vem ganhando �ndices assustadores. Mesmo havendo pessoas com baixas condi��es financeiras em toda a cidade � na periferia que eles se concentram em um n�mero maior (DURHAM, 1988).

Considera��es finais

O processo de urbaniza��o elaborado ao longo dos anos no Brasil causou um processo de segrega��o, levando uma quantidade cada vez maior de fam�lias a deixar as �reas mais centrais da cidade e se dirigirem � periferia. Esta, desprovida de uma infra-estrutura adequada e distante da vida produtiva da cidade, faz com que a vida destas se torne muito dif�cil. Essa situa��o se mant�m porque permite lucros sempre crescentes a um pequeno grupo: representantes do Estado, empres�rios, construtoras, loteadoras, imobili�rios e demais participantes deste mercado, intensificando seus ganhos e aumentando a concentra��o de renda, de forma que seja imposs�vel uma reviravolta.

Pol�ticas criadas pelo Estado s� minimizam essa situa��o, dando aos moradores uma falsa sensa��o de posse. Acreditam que, mesmo tendo dificuldades, agora possuem um terreno e uma casa, mesmo que sejam distantes dos servi�os b�sicos. Parece que � de interesse do governo retirar tais pessoas do cen�rio pol�tico, diminuindo suas reivindica��es, para poder assim, se concentrar em outros setores.

Os bairros pobres s�o vistos hoje como uma bomba pronta a explodir. Os n�veis de criminalidade est�o cada vez maiores e a qualidade de vida cada vez pior. Eles necessitam de uma aten��o especial do Estado com programas emergenciais que busquem minimizar os problemas mais graves, e propor a elabora��o de projetos que permitam uma solu��o vi�vel a essas regi�es.

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[1] De 1950 a 1960 a popula��o urbana aumentou em 60% (SOUZA, 1999).

[2] Respons�veis pelo com�rcio de im�veis

[3] Segundo Milton Santos: �Metr�pole pode ser definida como o organismo urbano onde existe uma complexidade de fun��es, capazes de atender a todas as formas de necessidade da popula��o urbana e nacional ou regional.� (SANTOS, M. 1982: p 36-37).

[4] Caracter�sticas que distinguem a periferia do centro ser�o desenvolvidas no pr�ximo item.

[5] Geralmente em alvenaria, atingindo apenas os padr�es considerados m�nimos de habitabilidade.

[6] Constru��es feitas com material prec�rio e de baixo valor, como folhas de zinco, papel�o, madeira, etc. Muitas vezes sem sanit�rios ou contando apenas com um c�modo.

Quais foram os motivos que fizeram o aumento da urbanização no Brasil?

Quais foram os principais motivos da urbanização no Brasil?

A urbanização brasileira foi motivada, principalmente, pelas péssimas condições de vida na zona rural brasileira. A miséria da vida no campo e o início do processo de industrialização do país, motivaram massas de trabalhadores rurais a migrarem para a cidade em busca de melhores condições de vida.

Quais os motivos para o aumento da urbanização?

- O aumento da população nas grandes cidades está associado ao êxodo rural, ou seja, ao fato de a população deixar a zona rural para dirigir-se aos centros urbanos. - O processo de urbanização ocorre segundo fatores atrativos, como a industrialização, e fatores repulsivos, como a modernização do campo.

Quais as principais razões que levam ao crescimento da urbanização no Brasil a partir da década de 1960?

implantação de indústrias nas cidades brasileiras, que atraiu muitas pessoas da zona rural para a urbana em busca de trabalho e melhores condições de vida, provocando assim o êxodo rural brasileiro.

Quais são as causas e as consequências do fenômeno da urbanização?

A urbanização desordenada, que pega os municípios despreparados para atender às necessidades básicas dos migrantes, causa uma série de problemas sociais e ambientais. Dentre eles destacam-se o desemprego, a criminalidade, a favelização e a poluição do ar e da água.