Estudo da CNT revela principais problemas na construção das rodovias
O fato é que apesar do asfalto, tipo de pavimento mais comum no País, ter vida útil estimada entre 8 e 12 anos, na prática, os problemas estruturais começam a aparecer bem antes: em alguns casos, apenas sete meses após a conclusão da rodovia.
E por que isso acontece? Na tentativa de buscar respostas para essa questão, a equipe técnica da CNT (Confederação Nacional do Transporte) analisou o estado de conservação dos pavimentos das rodovias nos últimos 13 anos. Foram pesquisados métodos e normas que regem as obras rodoviárias no Brasil e em outros países, bem como levantados resultados de auditorias realizadas por órgãos de controle, além da opinião de especialistas dos setores público, privado e da academia.
A conclusão é que, quando se trata de pavimentação de rodovias, o Brasil utiliza metodologias ultrapassadas para o planejamento de obras, apresenta deficiências técnicas na execução, investe pouco e falha no gerenciamento de obras, na fiscalização e na manutenção das pistas.
Os principais problemas
O estudo divulgado pela CNT mostra que a metodologia utilizada no Brasil para projetar rodovias tem uma defasagem de quase 40 anos em relação a países como Estados Unidos, Japão e Portugal. Para citar apenas um exemplo: enquanto Portugal, país do tamanho do Estado de Pernambuco, utiliza três zonas para calcular o impacto das variações climáticas sobre as técnicas e os materiais utilizados na construção de rodovias, o método empregado no Brasil não faz essa diferenciação importante para dar mais precisão ao projeto.
A falta de fiscalização é outro problema. Muitas obras são entregues fora dos padrões mínimos de qualidade, exigindo novos gastos para correção de defeitos que podem corresponder a até 24% do valor total da obra. Com poucas balanças em operação e sem fiscalização adequada, também cresce o problema do sobrepeso no transporte de cargas, cujo impacto reduz a vida útil do pavimento.
De acordo com o estudo, a má qualidade dos pavimentos se agrava com a falta de investimentos em manutenção preventiva. Para se ter uma ideia, estima-se que quase 30% das rodovias federais sequer têm contrato de manutenção.
Grande parte das rodovias brasileiras foi construída na década de 1960. Os especialistas ouvidos pela CNT avaliam que a maioria já ultrapassou a vida útil prevista no projeto, porém, sem receber manutenção adequada nesse período. Para a recuperação, pode haver necessidade de reconstrução parcial ou total em casos particulares, com uso sugerido do próprio pavimento reciclado.
É preciso investir mais
Esses e outros fatores citados no estudo da CNT explicam por que os pavimentos das rodovias brasileiras não duram. Os dados também indicam soluções que podem contribuir para minimizar dificuldades no transporte de cargas e de passageiros e reduzir o alto custo operacional dos caminhoneiros autônomos e das empresas transportadoras, que aumenta, em média, 24,9% devido às más condições das rodovias. Somente em razão da má qualidade do pavimento, em 2016, o setor de cargas registrou um gasto excedente de 775 milhões de litros de diesel, que provocou um aumento de custos da ordem de R$ 2,34 bilhões.
Por: Redação Na Boléia
Dados do último anuário do transporte da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de 2021, mostram que 61,9% das rodovias brasileiras avaliadas, em 2020, apresentaram algum tipo de problema no estado geral. O estudo informa que 52,2% dos trechos avaliados têm problemas no pavimento.
EDIÇÃO DO DIÁRIO com agências
Especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior, com mais de 50 anos de experiência, explica como as más condições das estradas prejudica o crescimento do país.
Embora o sistema rodoviário seja o principal modal de transporte do País, a malha pavimentada cresceu apenas 0,5% entre 2009 e 2019, de acordo com o Anuário 2021 da CNT. Os dados revelam que 58,9% dos trechos avaliados apresentam deficiência na sinalização e 62,1% dos trechos têm falhas na geometria. O especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior, Paulo César Alves Rocha, explica que a precariedade das rodovias brasileiras impõe um crescimento menor e mais lento ao país.
“Uma avaliação preliminar no setor de transportes de carga em outros países nos da conta de que este é, sem dúvida, um dos grandes desafios dos governantes nos próximos anos. Em um país continental como o Brasil, essa avaliação ganha amplitude e extrema relevância. Ao longo das últimas quatro décadas, vimos uma evolução muito tímida na criação de alternativas para o setor de transporte de cargas no país. Este assunto não pode mais esperar. É urgente”, afirma Paulo César Rocha, que dirige a LDC Comex Experienced .
O especialista, que tem mais de 50 anos de experiência, está correto. Os dados da pesquisa da CNT mostram que a frota cadastrada para transporte de cargas no Brasil em 2020 foi de 1.382.651 veículos de empresas, 859.729 registrados como autônomos e 28.481 veículos de cooperativas. Totalizando assim, 2.270.861 veículos autorizados para realizar transporte de cargas no Brasil.
Rocha esclarece que a lentidão para investimentos e a falta de um planejamento a longo prazo faz o Brasil literalmente parar no tempo. Para ele, não há razões que justifiquem a lentidão para o país ter uma malha viária que seja condizente com a atividade industrial e do transporte de cargas.
“Se considerarmos, por exemplo, que mais de 77% das estradas brasileiras tem problemas de geometria, 31,1% apresentam ângulos das pistas em situação péssima, veremos que o problema é muito mais grave do que pensamos. É lamentável que um país como o nosso tenha que seguir enfrentando problemas de ordem tão rudimentar como este e também a questão do saneamento básico”, afirma o especialista.
Outras deficiências de sinalização foram encontradas e mapeadas pela CNT. Os dados mostram que em 59,2% das rodovias analisadas, 13,2% a sinalização é péssima e em 14,1% é ruim. Os problemas no asfalto atingem 50% dos trechos, com pavimentação péssima em 2,8% dos casos e ruim em 13,2%.
*Paulo César Alves Rocha é especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior com mais de 50 anos de experiência em infraestrutura, transportes, logística, inovação, políticas públicas de habitação, saneamento e comércio exterior brasileiro. Mestre em Economía y Finanzas Internacionales y Comércio Exterior e pós-graduado em Comércio Internacional pela Universidade de Barcelona. É mestre em Engenharia de Transportes (Planejamento Estratégico, Engenharia e Logística) pela COPPE-UFRJ. Pós-graduado em Engenharia de Transportes pela UFRJ e graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal Fluminense. Tem diversos livros editados nas Edições Aduaneiras.