Qual a importância do desenvolvimento econômico e social na sua vida?

Qual a importância do desenvolvimento econômico e social na sua vida?

DESENVOLVIMENTO SOCIAL E QUALIDADE DE VIDA: ALGUMAS PERSPECTIVAS DE PESQUISA

Simon Schwartzman

Preparado para o "Semin�rio sobre Pol�tica de Desenvolvimento Social", Funda��o Get�lio Vargas, Escola Brasileira de Administra��o P�blica, 3 a 5 de setembro de 1973. Publicado em Revista de Ci�ncias Sociais (Fortaleza) 5, 2, 1974, pp. 101-111.

1. Desenvolvimento Econ�mico e Qualidade de Vida

2. Limites do Enriquecimento

3. Estrat�gias de desenvolvimento nacional

4 Qualidade: car�ncias e plenitude de vida

5. Avalia��o e Interven��o

Notas



1. Desenvolvimento Econ�mico e Qualidade de Vida

Se o fim do desenvolvimento econ�mico � homem, � necess�rio poder avaliar se este fim est� sendo atingido quando a economia se desenvolve, e em que medida. Existe uma conhecida correla��o entre riqueza econ�mica e bem estar, que � bastante obvia no n�vel dos indiv�duos e tende tamb�m a ser verdadeira no n�vel das na��es. Da� a utiliza��o das medidas globais de renda "per capita" como crit�rio de avalia��o gen�rica do bem estar de uma popula��o dada. Mas existe uma s�rie de limita��es a este uso, umas mais triviais, derivadas da pr�pria natureza do indicador como �ndice agregado, e outras mais espec�ficas e menos �bvias. A lista destas limita��es permite uma boa abertura para as necessidades de pesquisa no campo da avalia��o direta da qualidade de vida. Elas s�o as seguintes:

a) Medidas de renda per capita, ou taxas de crescimento da renda, s�o valores m�dios, e tendem a ocultar desigualdade de distribui��o. Este � um defeito intr�nseco de qualquer m�dia, a ser remediado com dados de distribui��o.

b) Estas medidas ignoram varia��es e altera��es do sistema produtivo, e por isto varia��es em renda indicam crescimento, e n�o necessariamente desenvolvimento. A solu��o para este problema � a utiliza��o combinada de uma s�rie de indicadores alternativos que se refiram � mudan�a de estrutura do sistema econ�mico; s�o cl�ssicos aqui os indicadores t�picos de industrializa��o, tais como o consumo de energia, produ��o e consumo de a�o, etc.

c) O crescimento ou desenvolvimento econ�mico traz consigo problemas e tens�es sociais. Esta proposi��o expressa a possibilidade da no��o popular de que "riqueza n�o traz felicidade', mas vai mais al�m: ela sugere que o aumento da riqueza, que n�o � homog�neo para toda a popula��o, pode gerar uma s�rie de deslocamentos populacionais, desorganiza��o de sistemas sociais previamente bem estabelecidos, crises institucionais de v�rios tipos, etc. A maneira mais apropriada para avaliar estas conseq��ncias (ou "disfun��es") do processo de crescimento econ�mico � atrav�s de an�lise de correla��es, em dois n�veis. Primeiro, no n�vel individual, correla��es entre riqueza e enriquecimento e medidas correntes de "stress", tais como a incid�ncia de enfermidades de componente psicossom�tico reconhecido (�lceras, cardiopatias), enfermidades mentais, div�rcio, suic�dio, etc. Depois, em n�vel agregado, correla��es ecol�gicas entre crescimento e concentra��o d� riqueza em certas �reas e o surgimento de problemas sociais evidentes, tais como criminalidade, desemprego, densidade populacional "excessiva" (em fun��o de condi��es sanit�rias, de transporte, e demais servi�os urbanos), polui��o e agrega��es dos indicadores de "stress" individual. Todas estas limita��es dos indicadores de riqueza e suas alternativas n�o colocam em discuss�o a id�ia fundamental de que a riqueza econ�mica � importante, e deve ser estimulada ao mesmo tempo em em suas poss�veis disfun��es (problemas de distribui��o, de crescimento mal orientado, de disfun��es individuais e sociais) sejam avaliadas e controladas. Os anos recentes, no entanto, come�aram a colocar em d�vida esta pr�pria id�ia. Alguns dos problemas da tese do crescimento cont�nuo e indefinido s�o indicadas mais adiante.

2. Limites do Enriquecimento

a) O "gap" crescente. Desde as proje��es pessimistas de Hermann Khan sobre o crescimento da economia dos pa�ses subdesenvolvidos, inclu�do o Brasil, em rela��o ao crescimento dos pa�ses mais avan�ados, o problema do "gap" crescente entre os mundos desenvolvido e subdesenvolvido vem adquirindo cada vez mais relev�ncia. Exerc�cios aritm�ticos de proje��o de taxas de crescimento s�o realizados freq�entemente, e um deles, a partir de dados apresentados pelo "Clube de Roma"(1), pode ser visto abaixo:

País renda em 1968 (US$) taxa média de crescimento 1961-8 (per capita) renda per capita em 2000
Brasil 280 1.6% $440
USA 3,98 3,4% 11000
Brasil (hipótese otimista) 280 7,0% 2,335

Isto significa que, se o Brasil mantiver a taxa de crescimento anual "per capita" de 7% (o que significa 10% de crescimento bruto, menos cerca de 3% de crescimento), ainda assim a diferen�a com os pa�ses mais desenvolvidos, representados pelos Estados Unidos, continuar� grande. Ela ter�, no entanto, diminu�do? Depende do ponto de vista. No exerc�cio acima, a renda dos Estados Unidos em 1968 � 14 vezes � do Brasil, em termos "per capita", enquanto que, a vigorar a hip�tese otimista, esta diferen�a ser� somente de 4,7 vezes no ano 2.000. Em termos absolutos, no entanto, a diferen�a aumenta de 3.700 para 8.665 d�lares, com tudo o que isto significa em termos de maior poder econ�mico, pol�tico, militar, etc. Com o Brasil duplicando sua renda cada 10 anos, e os Estados Unidos cada 20 (que � o que significam as taxas de crescimento de 7% e 3,5%, respectivamente), s� nas imedia��es de 2040 os dois pa�ses teriam um n�vel equivalente de renda, na casa dos 50 a 60 mil d�lares per capita. Mantida a taxa de crescimento populacional de 3 por cento ao ano (que significa dobrar a popula��o cada 23 anos), o Brasil teria, ent�o, cerca de um bilh�o de habitantes, o que o transformaria sem d�vida em uma pot�ncia mundial de primeira grandeza. Os Estados Unidos, enquanto isto, duplicando sua popula��o cada 50 anos a uma taxa de 1,4%, teriam cerca de 700 milh�es de habitantes, em uma posi��o inferior.

Resta saber se tudo isto � um mero jogo inconseq�ente de n�meros ou pode ser constituir, de forma efetiva, na base em um programa de desenvolvimento s�cio-econ�mico e de presen�a internacional. � �bvio que todo este exerc�cio est� baseado na hip�tese de constantes de todo tipo, desde as taxas de crescimento at� o contexto interno, e n�o toma em considera��o o problema dos "tetos" de crescimento, sejam eles os apresentados pelo Clube de Roma, abaixo referidos, ou outros. � imposs�vel prever como ser� o mundo em 2.040(2), ainda que seja bastante razo�vel supor que o ritmo de crescimento da popula��o e do produto industrial e agr�cola dos �ltimos dec�nios n�o devera continuar indefinidamente. A prazo muito mais curto, parece ser bastante claro que a diferen�a entre os n�veis de renda do Brasil e dos pa�ses mais desenvolvidos tende a aumentar em n�meros absolutos, ainda que possa se reduzir em termos proporcionais. N�o caberia, ent�o, colocar a pergunta de se n�o estar�amos apostando uma corrida perdida de antem�o?

b) O Clube de Roma. As teses do Clube de Roma sobre os limites do crescimento econ�mico em escala mundial voltaram � evid�ncia ap�s o recente desencadeamento da crise do petr�leo. Em resumo, estas teses prev�m um limite ao crescimento espont�neo da economia mundial na forma em que ele se vinha processando ate aqui, nas cinco vari�veis globais mais importantes: popula��o, produ��o de alimentos, polui��o ambiental, utiliza��o de recursos naturais e produ��o industrial. Estas vari�veis s�o interdependentes, e limita��es no crescimento em uma delas traz conseq��ncias para todas as demais. As proje��es indicam pontos cr�ticos de crise dentro de 20 a 30 anos, ou no m�ximo no in�cio do s�culo XXI; mas a crise do petr�leo parece sugerir que os pontos cr�ticos podem se antecipar mais do que se supunha.

O debate produzido pelas teses do "Clube de Roma" � demasiado extenso e complexo para ser trazido aqui. De uma forma geral, discute-se seu pessimismo em rela��o as revolu��es cient�ficas ou tecnol�gicas que possam superar os limites projetados, assim como a falta de qualquer considera��o de ordem pol�tica e institucional a respeito das proposi��es apresentadas de "crescimento zero". De qualquer forma, fica reconhecido o m�rito de chamar a aten��o para a gravidade e a urg�ncia dos problemas trazidos pelo crescimento econ�mico ilimitado em escala mundial.

3. Estrat�gias de desenvolvimento nacional

A consci�ncia dos limites do enriquecimento cont�nuo coloca em evidencia a necessidade de uma estrat�gia mais qualificada de desenvolvimento nacional. Existem dois polos poss�veis na busca desta estrat�gia. O primeiro consiste em tratar de aumentar a todo custo o estoque de riqueza no territ�rio nacional; a l�gica deste racioc�nio consiste em considerar que, apesar das limita��es conhecidas para o crescimento da renda "per capita", um pais com as dimens�es do Brasil pode acumular um produto bruto suficientemente grande para jogar um papel de primeiro n�vel no cen�rio internacional, e com isto trazer outros benef�cios para o pa�s O outro polo consiste em buscar uma presen�a nacional e internacional atrav�s da eleva��o do n�vel educacional, cient�fico, e cultural da popula��o. � poss�vel pensar no exemplo da industrializa��o for�ada da Uni�o Sovi�tica na �poca de pr� e p�s-guerra como exemplo puro do primeiro polo; e nos pa�ses n�rdicos como exemplo do segundo.

� bastante claro que estrat�gias mistas s�o poss�veis, e devem conduzir eventualmente a uma vis�o bastante complexa e diferenciada do papel do pa�s em uma comunidade de na��es cada vez mais inter-dependente e presa aos limites do que Boulding denominou "a Espa�onave Terra". Esta vis�o dever� necessariamente se afastar do modelo do isolamento nacional e autarquia, sem cair na utopia f�cil do desaparecimento dos estados nacionais e do mundo sem fronteira. Ela dever� incluir uma perspectiva revigorada das antigas no��es de divis�o internacional do trabalho e custos internacionais comparados. Mais do que isto, ela dever� incluir cada vez mais a no��o de que a exist�ncia de um pa�s, tanto para si quanto para os demais, n�o � uma simples fun��o do poderio de seu centro pol�tico, por maior que este seja; e sim a resultante da multiplicidade de a��es, op��es, cria��es e presen�a de sua popula��o em termos econ�micos, culturais, cient�ficos, etc. Como lograr este objetivo? Incrementando ao m�ximo a qualidade de vida da popula��o.

4. Qualidade: car�ncias e plenitude de vida

A maioria dos esfor�os de dimensionar a qualidade de vida de uma popula��o dada tende � ser feita atrav�s de vari�veis de tipo negativo, que se referem a car�ncias: defici�ncias alimentares, aus�ncia de servi�os urbanos, mortalidade infantil, m�s condi��es de moradia, etc. O acompanhamento da melhoria da qualidade de vida se faz, ent�o, pela mensura��o de �ndices referidos a estas car�ncias. O problema se torna mais complexo, no entanto, quando certos padr�es considerados m�nimos s�o atingidos, e n�o � mais poss�vel considerar o simples aumento indefinido do n�vel de renda e su� distribui��o como padr�o adequado de melhoria, no sentido do que poder-se-ia chamar "plenitude" de vida, ou um ideal qualquer de felicidade. Neste ponto o consenso que porventura existisse sobre a natureza da qualidade de vida tende a se esfacelar, e o problema que se confronta n�o e muito distinto do que existe em rela��o � sa�de mental: existe muito mais acordo quanto as suas manifesta��es patol�gicas que quanto a uma conceitua��o adequada de seus aspectos de sanidade. Existem v�rias tentativas de colocar e tentar resolver o problema, como veremos a seguir.

a) Necessidade e prefer�ncias. � certamente muito mais f�cil planificar a satisfa��o de necessidades que o atendimento a prefer�ncias. � claro que o conceito de "necessidade" n�o � facilmente defin�vel a partir de certo m�nimo, j� que o tempo, o costume e o meio ambiente tendem a criar necessidade antes n�o existentes - a "necessidade" de autom�vel pr�prio, ou de consumo de certos produtos difundidos por mecanismos de propaganda, etc. Historicamente, no entanto, a tend�ncia parece ter sido a de um aumento cont�nuo destas "necessidades" b�sicas, levando � no��o de um crescimento cont�nuo do consumo de bens e servi�os, e deixando pouco lugar ao exerc�cio de op��es de prefer�ncia, a n�o ser para a escolha entre bens de consumo alternativos e similares. A conseq��ncia desta situa��o tem sido a de identificar "plenitude" de vida com consumo m�ximo, e desenvolvimento da qualidade de vida com o aumento indefinido de produtos � disposi��o dos consumidores. Adicionalmente, prop�e-se proporcionar ao consumidor a possibilidade de escolha entre v�rios tipos de cada produto, de tal maneira que suas prefer�ncias possam ser expressas. Este �, evidentemente, o modelo da "sociedade de consumo de massas , cujo ocaso aparentemente j� se vislumbra.

b) A liberdade de escolha �, assim, um dos crit�rios mais comumente propostos para a aferi��o da qualidade de vida de uma popula��o dada. Aqui j� se entra quase no terreno da especula��o filos�fica, quando se identifica bem estar com liberdade de escolha. A implica��o deste conceito � que n�o se deve tentar planificar de antem�o as necessidades de consumo de uma popula��o determinada, mas sim estabelecer um sistema pelo qual estas necessidades s�o continuamente aferidas e atendidas. O mecanismo ideal cl�ssico para este sistema � o de mercado, no qual demanda e oferta se ajustam espontaneamente. Dadas as limita��es hoje consensualmente admitidas da sociedade de mercado, no entanto, o problema d� satisfa��o das prefer�ncias individuais adquire um car�ter eminentemente pol�tico, e deve ser enfrentado em termos sociais e coletivos.

c) O aspecto talvez mais importante deste afastamento do modelo de ajustes autom�ticos de mercado � a percep��o de que o problema da qualidade de vida n�o � unicamente, e talvez nem mesmo prioritariamente, de consumo. E poss�vel pensar, por exemplo, que o que satisfaz a um cidad�o que escolhe comprar determinados objetos n�o � tanto a posse da� advinda, mas o simples exerc�cio do ato de escolha e aquisi��o, que o define de certa maneira em rela��o ao resto d� sociedade. Existem, assim, esfor�os em definir por outros caminhos o conceito de "qualidade de vida", que se refira a coisas mais b�sicas e permita abandonar o beco sem sa�da do crescimento ilimitado da riqueza.

d) Necessidades psicol�gicas fundamentais. Uma destas formas consiste em uma amplia��o t�o completa quanto poss�vel de no��o de necessidade, saindo do n�vel meramente fisiol�gico e passando ao n�vel psicol�gico. Erik Allardt, p�r exemplo, prop�e a exist�ncia de tr�s tipos de valores que correspondem � necessidades humanas fundamentais, ou seja, ter, amar e ser(3). Ter se refere � satisfa��o das necessidades de sobreviv�ncia f�sica e de seguran�a, o que tem a ver com as fun��es econ�mica e pol�tica d� sociedade global. Amar se refere �o relacionamento entre pessoas, sua integra��o ao meio, e tem a ver com os sistemas sociais chamados "integrativos" (fam�lia, associa��es religiosas, associa��es volunt�rias); ser, finalmente, se refere �s fun��es de conhecimento, educa��o, auto-respeito e insubstituibilidade em seu meio social.

e) Outra maneira de encarar o problema tem a haver com a extens�o do conceito de participa��o. Um ensaio cl�ssico de T. H. Marshall, retomado posteriormente por Reinhard Bendix em sua an�lise das transforma��es sociais e pol�ticas das sociedades ocidentais(4), coloca a quest�o com bastante clareza, em termos da expans�o dos direitos civis, pol�ticos e sociais atrav�s do tempo. Nesta perspectiva, a melhoria da qualidade de vida tem a ver com a expans�o e consolida��o destes direitos, que evoluem desde sua defini��o mais formal e abstrata da "igualdade perante a lei", que subsiste em condi��es de grandes desigualdades econ�micas e pol�ticas efetivas, ate a consolida��o e efetivo uso dos direitos de associa��o, de educa��o elementar, do voto secreto, e de condi��es m�nimas de sobreviv�ncia e seguran�a econ�mica.

Vale a pena notar que toda esta an�lise da experi�ncia europ�ia parte essencialmente de uma expans�o de direitos a partir do sistema produtivo que se inicia com o direito de associa��o sindical e chega a incluir o direito de organiza��o do sistema pol�tico-partid�rio em termos da divis�o social do trabalho. Assim, o direito � educa��o tende a assumir a forma de um direito � aquisi��o de um valor maior no mercado de trabalho; o direito ao voto tende a ser visto como uma maneira de melhorar, atrav�s do sistema pol�tico, as condi��es de trabalho; e assim por diante. Existem duas formas pelas quais este sistema ampliado de participa��o social a partir do sistema produtivo entra em crise, crise esta que se confunde com a pr�pria crise de funcionamento dos sistemas pol�ticos representativos contempor�neos; todas as duas t�m a ver com a relativa diminui��o da import�ncia da atividade produtiva para as popula��es.

A primeira forma � t�pica das sociedades mais desenvolvidas. Uma vez satisfeitas as necessidades econ�micas fundamentais, estabelecidas as garantias sociais e econ�micas m�nimas, e elevado o n�vel global de produtividade da economia, muitas outras coisas al�m da vida do trabalho passam a ter import�ncia: o lazer, a educa��o como forma de auto-realiza��o, os sistemas de vizinhan�a, a participa��o em sub-grupos profissionais com seus crit�rios pr�prios de atribui��o de prest�gio, sistemas de valores contr�rios � compulsividade da antiga �tica protestante do hard work, tudo isto coloca em quest�o todo um sistema educacional, pol�tico e social baseado na amplia��o progressiva dos direitos de participa��o no sistema produtivo. A segunda forma, t�pica de contextos menos desenvolvidos como o brasileiro, tem dois componentes principais. O primeiro � de tipo pol�tico-institucional, e tem a ver com o fato de que direitos sociais e formas de participa��o pol�tica e profissional tendem a ser estabelecidos e promovidos pelo Estado muito antes que o sistema produtivo adquira o desenvolvimento e a complexidade correspondente a n�veis semelhantes de participa��o em contextos de desenvolvimento mais antigo. Concretamente, por exemplo, fixa-se sal�rios m�nimos, desenvolve-se sistemas previdenci�rios, regula-se o trabalho de menores, o sistema de f�rias, garantias contra desemprego, etc. independentemente e por encima dos mecanismos de mercado e sua extens�o � arena pol�tica. A conseq��ncia deste componente � que as formas de participa��o e o estabelecimento de direitos de tipo social e pol�tico adquirem preced�ncia sobre os de tipo econ�mico, j� que este muitas vezes s�o definidos e implementados a partir daqueles, e n�o o contr�rio. O segundo componente tem a ver com a implanta��o de sistemas produtivos de alta tecnologia e concentra��o de capital em um contexto de grande concentra��o populacional e baixa industrializa��o. Em situa��es de mercado aberto, a conseq��ncia desta implanta��o de sistemas produtivos de alta tecnologia consiste freq�entemente na gera��o de desemprego, e a cria��o de dualidades s�cio-econ�micas estridentes. Em outras situa��es, no entanto, a implanta��o de alta tecnologia poderia simplesmente liberar m�o de obra para outras atividades produtivas, ou para atividades de outra natureza.

O que isto significa � que o problema do lazer, da ocupa��o do tempo livre, de formas de participa��o social diferenciada, etc., n�o � um simples luxo de pa�ses super-desenvolvidos, mas uma realidade j� presente em um contexto como o brasileiro e que, a n�o ser encarado de frente, assume os aspectos de subemprego, marginalidade, aliena��o, disponibilidade, etc.

5. Avalia��o e Interven��o

A discuss�o anterior evidencia que o problema da qualidade de vida, quando vis to al�m dos problemas de car�ncia, implica uma no��o clara e expl�cita de uma pol�tica de desenvolvimento social, em que op��es s�o explicitadas e assumidas, e as conseq��ncias das diversas pol�ticas governamentais que a elas se refiram s�o continuamente avaliadas. Da� o chamado "movimento de indicadores sociais", um esfor�o j� hoje internacional de desenvolver medidas que possam aferir e acompanhar a qualidade de vidas das popula��es. Os esfor�os de estabelecer estes indicadores padecem, usualmente, de duas dificuldades b�sicas. A primeira tem a ver com o pr�prio fato da dificuldade de um conceito positivo de bem estar; os indicadores sociais tendem a se limitar a mensura��es conceitualmente triviais de car�ncias de v�rios tipos, com poucas tentativas de ir mais adiante.

A segunda dificuldade tem a ver com a vincula��o entre estes indicadores e os sistemas de planejamento econ�mico e social em desenvolvimento e implanta��o. Na maioria das vezes, as vari�veis de tipo social s�o consideradas como de tipo "soft", dif�ceis de precisar e quantificar, e mais dif�ceis ainda de incluir de forma sistem�tica em sistemas bem estruturados de planejamento; por isto, tendem a permanecer como "conseq��ncias sociais" do desenvolvimento econ�mico e t�cnico, e avaliadas e tratadas, quando poss�vel, "a posteriori".

A solu��o para o primeiro problema consiste em trabalhar com teorias sociais mais audaciosas, e em utilizar t�cnicas de avalia��o e prospectiva mais sofisticadas. � poss�vel, por exemplo, imaginar-se sistemas sociais de participa��o no qual o setor produtivo tenha uma import�ncia relativamente min�scula, enquanto que o setor familiar, ou esportivo, adquira preponder�ncia cada vez maior. Pesquisas em profundidade podem detectar situa��es emergentes deste tipo, simula��es de tipo homem-m�quina podem avaliar suas possibilidades de desenvolvimento, etc. � necess�rio, em resumo, mais id�ias, mais imagina��o social na cria��o de novas formas de participa��o, e a utiliza��o de metodologias avan�adas como instrumentos heur�sticos para este fim.

Existem dois tipos de abordagem para o segundo problema. O primeiro consiste em sofisticar cada vez mais os modelos de tipo econ�mico, de forma tal a incluir as vari�veis mais soft, de tipo social. O segundo consiste em perceber que nem todos os aspectos da sociedade podem ou devem ser inclu�dos em sistemas "fechados" e bem delimitados. � poss�vel, na realidade, admitir a exist�ncia de um cont�nuo de interven��o social, que vai do extremo do laissez-faire ao extremo da planifica��o completa e total (ou totalit�ria). Estas diversas formas, ou n�veis de interven��o poss�veis, s�o as seguintes:(5)

a) Planejamento formalista. Este tipo de planejamento sup�e um conhecimento perfeito de todas as vari�veis relevantes para o processo desejado, assim como suas interrela��es. Dif�cil de ser implementado em n�vel global, o planejamento formalista ocorre freq�entemente em sub-�reas delimitadas e de tecnologia conhecida - implanta��o de sistemas de comunica��o, sistemas de transporte, cria��o de servi�os urbanos, etc. O problema com este tipo de planejamento � o do que sejam "vari�veis relevantes". Usualmente, vari�veis ex�genas ao sistema (de tipo social, comportamental, ambiental, etc.) tendem a ser desconsideradas, ou vistas apenas como "conseq��ncias" ou "impactos" provocados pelos sistemas em implanta��o, e tratadas "a posteriori".

b) Abordagem heur�stica de planejamento: � um sistema de planejamento "aberto", em que n�o � poss�vel prever o comportamento das vari�veis consideradas "end�genas" . A implanta��o de um sistema integrado de transportes interurbanos, por exemplo, que inclua as vari�veis ambientais, de deslocamento populacional, de estabelecimento de desigualdades regionais, etc., tenderia a transform�-lo de um sistema fechado, formal�stico, a um sistema aberto, heur�stico. Neste caso tornar-se-ia imposs�vel definir de antem�o todas as possibilidades, e em seu lugar, uma s�rie de princ�pios de decis�o a serem aplicados em casos de situa��es emergentes devem ser estabelecidos. A abordagem heur�stica se combina, idealmente, com uma s�rie de instrumentos de pesquisa prospectiva (simula��es, proje��es de todo tipo, "delphi", etc.), que permitam avaliar o desenvolvimento poss�vel de algumas vari�veis n�o completamente conhecidas e tomar as decis�es pertinentes.

c) Abordagem por unidades operacionais. � uma abordagem relativamente mais simples, e que consiste em trabalhar n�o com sistemas de vari�veis dependentes e independentes, mas com unidades (pessoas, m�quinas, institui��es) selecionadas cuidadosamente ou preparadas para produzir certo tipo de resultados. Por exemplo, uma abordagem ao problema da ci�ncia e tecnologia de tipo sist�mico formal tenderia a definir as metas de desenvolvimento cient�fico e tecnol�gico necess�rias, os meios necess�rios par� atingi-las, a distribui��o de recursos necess�rios no tempo, etc. A abordagem por unidades operacionais consistiria basicamente em criar v�rios n�cleos de produ��o cient�fica e metodol�gica, dot�-los de recursos suficientes e confiar a eles a tarefa de encontrar e definir uma pol�tica de desenvolvimento cient�fico e metodol�gico para o pa�s.

d) Abordagens "ad hoc", ou incrementais - s�o aquelas que n�o implicam defini��es pr�vias de modelos, princ�pios de decis�o ou unidades operacionais, mas que partem de situa��es existentes e tratam de avaliar, em cada momento, o que pode ser feito para melhorar a situa��o a curto prazo, quer de um ponto de vista remedial, quer em fun��o de um objetivo a longo prazo definido em termos suficientemente amplos.

A percep��o destas diversas abordagens ao planejamento leva tamb�m a uma vis�o muito mais complexa e diferenciada das necessidades e possibilidades de estudos e pesquisas na �rea de indicadores sociais. Ela permite passar da vis�o estritamente utilitarista de vari�veis sociais (em termos de for�a de trabalho, estoque de recursos humanos, mobilidade geogr�fica, fecundidade) ou de qualidade de vida em sentido de car�ncias (habitacionais, alimentares, educacionais) e abre a perspectiva para a an�lise de distribui��es sociais, produ��es governamentais, sociais e individuais, correla��es e dispers�es de vari�veis que, ligadas ou n�o a modelar sistemas preditivos ou unidades operacionais espec�ficas, permitam ir ao mesmo tempo concebendo e avaliando as possibilidades de melhoria cada vez maior da qualidade de vida e de participa��o da popula��o em seu pa�s e do pa�s no contexto internacional das na��es.



Notas:

1. Meadows, Meadows, Randers e Behrens III, The Limits of Growth (New York: Potomac Associates, 1972), 1 pp. 42-43.

2. Todos estes c�lculos s�o aproximativos, j� que o que importa s�o as magnitudes, e n�o a precis�o dos n�meros. Uma das no��es centrais do modelo do Clube de Roma, na realidade, � a de que os valores iniciais n�o s�o muito importantes quando estamos tratando com processos exponenciais de crescimento. Assim, por exemplo, a utiliza��o de terras ar�veis para a produ��o de alimentos dever� ir aumentando at� ocupar toda a terra ar�vel dispon�vel pouco depois do ano 2.000, de acordo com a atual tend�ncia; a quadruplica��o da produtividade agr�cola conseguiria apenas adiar o ponto de satura��o por 50 anos, se a �rea total dispon�vel para a agricultura n�o diminuir, como se espera (The Limits of Growth, Quadro 10, p. 50)

3. Erik Allardt, "A Welfare Model for Selecting Indicators of National Development", trabalho apresentado no Semin�rio de Indicadores e Modelos de Desenvolvimento Nacional do International Social Science Council, Rio de Janeiro, Maio de 1972.

4. T. H. Marshall, Class, Citizenship and Social Development (New York: Doubleday, 1964); e R. Bendix, Nation Building and Citizenship (Berkeley: Univ. of California Press, 1964), especialmente os cap�tulos 3 e 4.

5. Para uma ampla exposi��o desta perspectiva, cf. Robert Boguslaw, The New Utopians (A study of system design and social change), Prentice-Hall, 1965. <

Qual a importância do desenvolvimento econômico social na sua vida?

Tal desenvolvimento é capaz de gerar riquezas e melhoria na qualidade de vida da população de uma região, enquanto contribui para o equilíbrio social, o respeito ao meio ambiente e à cultura regional.

O que é desenvolvimento social e econômico?

O desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condições de saúde, alimentação, educação e ...

Qual a importância do conceito de desenvolvimento econômico?

Desenvolvimento econômico é definido como a melhora do bem-estar geral da população, indicado pela elevação dos indicadores quantitativos da economia, tais como o PIB, é também esperado um avanço de indicadores qualitativos a respeito da qualidade de vida da população.

Qual a importância da educação para o desenvolvimento econômico e social de um país?

Um País mais educado gasta menos com saúde pública, tem níveis de segurança mais elevados, já que apresenta criminalidade mais baixa. Maior escolaridade faz com que, direta ou indiretamente, uma economia funcione com mais eficiência.