Qual a origem do açúcar que consumimos?

A história do açúcar

O açúcar é hoje relativamente comum em nossas casas e está presente em vários produtos de consumo diário. A sua história começou na Papua Nova Guiné e estendeu-se a todo o mundo ao longo de milhares de anos.

A cana-de-açúcar terá sido domesticada na Papua Nova Guiné entre 9 e 8 mil anos antes de Cristo, estendendo-se a sua produção à Polinésia, à China, à Pérsia e a diversos locais no mediterrâneo.

O açúcar foi, ao longo de quase toda a sua história, um produto raro, normalmente um sinal de riqueza e de ostentação quando surgia à mesa. Era ainda utilizado em pequenas quantidades para adoçar as drogas produzidas nas boticas, as farmácias da época.

Em Portugal a primeira referência que se conhece ao açúcar data de 1339 e, a partir do século seguinte, a Madeira tornou-se um dos grandes centros de produção europeus.

Atualmente o açúcar é conhecido especialmente por ser uma gulodice responsável  por várias doenças, entre as quais a diabetes, que atinge entre 8 e 10 por cento da população mundial. Está também a ser utilizado para a produção de combustíveis.

Ficha Técnica

  • Título: A Madeira e a Viagem do Açúcar - Da Polinésia à Madeira
  • Tipologia: Extrato de Programa
  • Autoria: Francisco Faria Paulino
  • Produção: RTP/ Edicarte
  • Ano: 2017

Açúcar, doce açúcar.

Surgido na Índia, popularizado pelos árabes, tornado especiaria pelos europeus, um dos responsáveis pela escravidão no Novo Mundo, e atualmente consumido em excesso, sendo culpado pela disseminação de cáries e obesidade, o açúcar tem bastante história para contar.

Mas o que é o açúcar, afinal?

Mesmo com tantas variações, como o refinado, demerara, mascavo e melaço, o açúcar é essencialmente uma molécula química pequena, composta por duas menores: glicose e frutose. Essas moléculas menores compõem um grupo chamado de monossacarídeos: mono vem de unidade, e sacarídeo é o latim para açúcar, saccharum. Sendo açúcares simples, os monossacarídeos combinam-se para formar dissacarídeos ou os polissacarídeos, que são os açúcares complexos; assim, a combinação de glicose e frutose forma o dissacarídeo sacarose, nome da molécula do açúcar que usamos em nosso dia a dia.

Representação da molécula de sacarose, com a glicose e a frutose devidamente identificadas para os leigos em química. Perceba a similaridade entre ambas. Fonte: https://www.infoescola.com/bioquimica/dissacarideos/

Além das variações do açúcar, também o encontramos em outros alimentos, como o mel e o leite. No primeiro, temos cerca de 40% de frutose, 30% de glicose, 10% de outros açúcares como a própria sacarose e os 20% restantes de água. Por ser mais doce que a glicose e a sacarose, a frutose é o que torna o mel mais doce que o açúcar.

Semelhante à sacarose, a lactose, presente no leite, é um outro dissacarídeo, porém, formado por uma molécula de glicose e outra de galactose,. A semelhança entre essas duas moléculas e a da frutose é que todas possuem o mesmo número de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio – sendo chamadas de isômeros, diferenciando-se apenas pelo seu arranjo molecular.

Acima, a molécula da lactose, com as moléculas da galactose e glicose abaixo. Intolerantes à lactose provavelmente sentiram um mal-estar ao identificar essa molécula como sua fonte de dor de cabeça (e de barriga). Fonte: https://programfasr558.weebly.com/blog/glucose-and-lactose

Embora a frutose tenha um arranjo particular, com um anel de cinco carbonos, a glicose e a galactose são praticamente iguais, com a única diferença sendo um grupo OH ligado acima do anel de seis carbonos na galactose, e abaixo no anel na glicose. Difícil perceber isso, não é? Mas intolerantes à lactose certamente sofrem com essa diferença mínima, que é responsável por seus problemas de indigestão. Para que a digestão de di ou polissacarídeos diversos, existem enzimas correspondentes, que quebram as moléculas em monossacarídeos.

Acontece que a enzima lactase, responsável pela quebra da lactose, é geralmente encontrada em pequenas quantidades nos seres humanos adultos. Crianças costumam produzir a lactase em maior quantidade  já que o consumo de leite é importante para a formação dos ossos, mas essa produção diminui com a idade. Estima-se que cerca de 68% da população mundial tenha algum tipo de intolerância à lactose.

Existe uma infinidade de outros tipos de polissacarídeos, mais complexos – desde o amido produzido por plantas, até o glicogênio produzido por humanos e outros vertebrados. Esses dois tipos servem como repositório de energia, sendo compostos por uma longa cadeia de monossacarídeos e “quebrados” para fornecer energia às células. Em outras palavras, açúcar é uma fonte de energia para organismos. Não impressiona sua presença em toda e qualquer civilização para garantir a sobrevivência dos povos.

Apesar de hoje conhecermos a formação científica do açúcar, sua descoberta foi baseada em sabor, de forma bem mais doce que nos laboratórios. Há indícios que o consumo de itens que contenham açúcar remonte à pré-história. Uma das fontes mais comuns é a famosa cana-de-açúcar, originada nas regiões de Nova Guiné, na Oceania, Taiwan e sul da China. Datam de 6.000 a.C. os primeiros registros de seleção artificial das plantas que geravam mais caldo doce. Em seguida, o nordeste da Índia foi a região que recebeu mudas de cana.

Origem e migração das espécies de cana-de-açúcar pela Nova Guiné, sudeste e sul asiáticos. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_sugar

E foi na Índia que novas tecnologias de moagem e processamento surgiram, inicialmente com a produção de melaço do caldo da cana, no século III antes de Cristo. Alguns séculos mais tarde, em 350 d.C., veio ao mundo a primeira leva de açúcar cristalizado da história. Os indianos descobriram que extraindo o caldo e colocando-o para secar ao sol, surgia um granulado similar ao cascalho. Não à toa, a palavra em sânscrito para açúcar é sharkara, que também significa areia ou cascalho. Esse novo açúcar mostrou-se um produto extremamente desejado, e por isso mesmo guardado a sete chaves por seus produtores.

O general Nearchus, que comandava as tropas de Alexandre o Grande no vale do rio Indo em 327 a.C., impressionou-se com o “junco da Índia que produz mel sem a necessidade de abelhas.” Fonte: https://www.saveur.com/sugar-history-of-the-world/

Porém isso não impediu que outros povos fossem atrás do segredo. Monges budistas levaram as técnicas para a China no século VII e imperadores desenvolveram extensas plantações para o processamento da cana. Já no Oriente Médio, aproximadamente no ano 600, houve um grande seminário na universidade persa de Jundi Shapur, no qual estudiosos de diversas civilizações discutiram sobre o “poderoso medicamento indiano” e como cristalizá-lo.

Com a expansão dos árabes muçulmanos no fim do século VII, coube a eles espalhar o açúcar por seus territórios conquistados, especialmente pelo sul da Europa e norte da África. Foram os árabes que disseminaram o conceito de grandes plantações integradas com irrigação e usinas de produção de açúcar, com o intuito de aumentar a produtividade.

Naturalmente, o açúcar despertou o interesse dos europeus, assim como as especiarias do oriente. Um dos primeiros contatos se deu com os soldados que retornavam das Cruzadas do século XI trazendo o “sal doce” das caravanas árabes. Logo o açúcar se tornou uma iguaria cobiçada na Europa, não apenas por suas características supostamente medicinais, mas porque tornava alimentos mais doces – podendo assim disfarçar melhor o ranço e o gosto de comida podre decorrentes da falta de conservação. Ou você acha mesmo que europeus da Idade Média gostavam de comida temperada?

Não tardou para o açúcar alcançar preços extremamente elevados na Europa juntamente com as especiarias. Para fugir do controle das caravanas árabes, os europeus lançaram-se ao mar para conseguir direto na fonte. No processo, descobriram o Novo Mundo, a América. Mas esse assunto fica para o próximo texto.

Podemos dizer que as Grandes Navegações começaram por causa do açúcar? Acredite, sim. E também a colonização do Novo Mundo e, infelizmente, o tráfico negreiro. Fonte: https://www.saveur.com/sugar-history-of-the-world/

Referências

Penny Le Couteur - Os Botões de Napoleão

Qual é a origem do açúcar?

História. A cana-de-açúcar é originária da Índia. Açúcar foi produzido no subcontinente indiano desde a antiguidade. Porém não era de fácil acesso: o mel era usado com maior frequência para se adoçar os alimentos na maior parte do mundo.

Qual a origem do açúcar no Brasil?

Quando os espanhóis descobriram o ouro e a prata das civilizações Azetca e Inca, no início do século XVI, o cultivo da cana e a produção de açúcar foram esquecidos. Oficialmente, foi Martim Affonso de Souza que em 1532 trouxe a primeira muda de cana ao Brasil e iniciou seu cultivo na Capitania de São Vicente.

De quem herdamos o açúcar?

A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é originária da Nova Guiné. De lá, a planta foi para a Índia, se difundindo pelo mundo. Os árabes introduziram seu cultivo no Egito no século X e pelo Mar Mediterrâneo, em Chipre, na Sicília e na Espanha.

Qual é a origem do açúcar mascavo?

De onde vem o açúcar mascavo? O açúcar mascavo é produto da cana-de-açúcar, formado após o resfriamento do xarope feito do caldo concentrado, conhecido como mel-de-engenho ou melado.