Qual foi o processo que resultou na coroação de Napoleão como imperador?

A coroação de Napoleão Bonaparte

Napoleão Bonaparte não tinha sangue real e queria, de alguma forma, conciliar o prestígio de uma coroação real com o espírito republicano saído da Revolução Francesa. “Império” e “Imperador” era, portanto, o modo mais seguro de legitimar o seu poder de forma grandiosa, majestática e solene sem retomar os hábitos da antiga monarquia de França, que considerava extinta.

Era assim um anúncio de um novo tempo, de uma nova era, em consonância com o novo calendário que a república francesa tinha adotado. Deste modo, depois de ter alcançado o poder absoluto, Napoleão extinguiu a República e proclamou o Primeiro Império, a 18 de maio de 1804, e fez-se coroar imperador (e Josefina, imperatriz), no dia 2 de dezembro.

  • Como foi a cerimónia?

Como era esperado, foi uma cerimónia de enorme luxo e aparato, destinada a conferir a máxima solenidade e impacto junto da população. Teve lugar na Catedral de Notre Dame e foi precedida de desfile pelas ruas, desde as Tulherias. O mais interessante é verificar a forma como Napoleão quis separar a consagração religiosa da civil, emanada dos valores da República. A procissão onde seguiu o Papa Pio VII era distinta daquela onde seguiu ele próprio e, no momento da deposição da coroa imperial, ele próprio colocou a coroa na sua cabeça, em vez de recebê-la das mãos do Papa. Isto era um sinal de que ele era imperador por mérito próprio, e por vontade do povo francês, e não por concessão papal. Napoleão assumiu igualmente um conjunto de insígnias associadas à dignidade real, como o manto púrpura e emblemas da dinastia de Carlos Magno. Seguiu-se um juramento, no qual jurou defender a integridade da França, e uma aclamação.

  • Teve algum efeito político?

Napoleão desejava naturalmente legitimar o seu poder, não apenas pessoal como dos seus descendentes e a sua intenção era criar uma dinastia. O Primeiro Império Francês durou até 1815, precisamente o tempo em que Napoleão esteve no poder. Após a sua queda assistiu-se à restauração da monarquia, com Luís XVIII, cujo reinado durou até 1824. O regime bonapartista só regressou ao poder em 1852, com a instauração do Segundo Império Francês, com Napoleão III, sobrinho de Bonaparte, que durou até à derrota da França na Guerra Franco-Prussiana, em 1870.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Coroação de Napoleão Bonaparte
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2016
  • Coroação de Napoleoão: Jacques-Louis David

Qual foi o processo que resultou na coroação de Napoleão como imperador?

Qual foi o processo que resultou na coroação de Napoleão como imperador?
Retrato de Napoleão Bonaparte.

Enfim! chegou a hora de falar sobre o segundo homem mais estudado da história da humanidade, atrás apenas de Jesus Cristo: Napoleão Bonaparte. Este que até os dias atuais divide opiniões no velho continente. É um tirano ? É um herói ?

Passaremos por todas as fases da vida deste francês para respondermos tais questionamentos, e mostraremos porquê suas conquistas marcaram a história mundial.

A vida amorosa, a relação religiosa e os princípios morais

Apesar de ser conhecido como um notório estrategista de guerra e como um dos principais militares de toda história francesa, podemos dizer que o jovem Napoleão Bonaparte conquistou mais batalhas do que corações.

Nascido no ano de 1769 na Córsega, Napoleão, segundo historiadores da época, não era tão atraente aos olhos femininos. Por exemplo, foi apelidado de “gato de botas” pelas moças que moravam perto da academia militar onde o jovem iniciou sua carreira. O que se pode afirmar é que Napoleão atraía olhares pela posição que tinha dentro do exército francês.

Em um de seus livros, Diálogo sobre o amor , Napoleão demonstrava não ter grandes projetos românticos, como podemos observar nessa passagem:

Acho o amor nocivo a sociedade, à felicidade individual dos homens. Enfim, creio que o amor faz mais mal do que bem” [apud Lévy, 1943:18]

O seu primeiro casamento ocorreu em 1796 com a jovem Josefina nascida na ilha Martinica. Segundo historiadores da época, Napoleão Bonaparte já estava chegando ao auge de sua carreira militar  e também tinha intenções de constituir família com Josefina, porém a jovem estava muito mais interessada nos nobres salões franceses e na boa vida que Napoleão poderia lhe proporcionar. Tal discrepância de interesses resultou em várias traições de ambos os lados.

Com o passar do tempo, o poder de Josefina perante Napoleão decaiu muito. Assim, nos últimos anos de casamento o imperador focou suas atenções para os seus filhos, Eugênio e Hortênsia. Casou-se pela segunda vez, com a então Imperatriz Maria Luísa, com quem teve um filho. Porém Maria Luísa também acaba-o traindo.

Sobre os casamentos de Napoleão, o biógrafo Artur Levy comenta:

“Ele teve duas esposas, e a ambas cumulou de uma igual afeição. Napoleão procurava, por meio de cuidados amáveis, nas mínimas coisas, torna-las felizes, e, entretanto ambas lhe foram infiéis, com a diferença que Josefina não demorou muito a trai-lo, enquanto Maria Luisa só o traiu anos depois do casamento.” [Lévy,1943:138]

Em relação a sua família, Napoleão não se esqueceu de nenhum dos seus inúmeros irmãos, atribuindo-lhes a cada um poderes em países diferentes da Europa – o interesse era de constituir um sistema unitário de poder monárquico continental. Portanto, observa-se que tanto na relação familiar como amorosa, Napoleão demonstrava-se como um indivíduo sempre preocupado com o bem-estar de seus amigos e familiares.

Porém, assim como foi desprezado por suas esposas, também o foi por seus próprios irmãos. Nenhum deles teve destreza o suficiente para exercer as funções políticas que Napoleão os concedeu. E, já ao fim da vida, quando isolado na ilha de Elba, foi abandonado por quase todos os membros de sua família, com exceção apenas de sua mãe e de sua irmã Paulina.

Uma possível resposta para tal desleixo é exemplificada também pelo biógrafo Levy, que aponta o sentimento de soberba existente entre os irmãos de Napoleão. Segundo Levy, eles acreditavam que tinham um direito divino de serem reis e rainhas.

Pode-se afirmar que Napoleão era apaixonado pelo ideal de igualdade burguesa e fiel defensor de seus principais valores: amor ao trabalho, disciplina, cientificismo e culto a vida familiar.

Ainda, utilizou-se da religião católica em um sentido puramente funcional. De modo que, para ele, era na religião católica que deviam-se basear toda a moralidade pública. Sempre deixando muito claro que a religião deveria servir como um instrumento do reino e submetida ao absoluto poder imperial.

A vida política e o período napoleônico

Qual foi o processo que resultou na coroação de Napoleão como imperador?
Pintura de Jacques-Louis David, retrata o momento da coroação de Napoleão Bonaparte em 2 de dezembro de 1804.

No ano de 1794, durante a Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte chegou a ser preso por estar associado aos Jacobinos, grupo mais radical dentre os revolucionários. Na época, entretanto, a França estava a frente de várias guerras contra os austríacos e principalmente nas expedições ao norte da África. Assim, Napoleão foi solto para ajudar o seu país nessas batalhas, e dessa forma foi ganhando poder e respeito dentro do exército francês.

Já como general, foi responsável por liderar a França na conquista do Egito, em busca de acesso a Índia. Porém devido a uma peste bubônica que assolou boa parte de suas tropas e ao avanço de tropas inglesas pelo mediterrâneo, o jovem comandante não consegue chegar até o país indiano.

No ano de 1799, o último ano de revolução, Napoleão através de um golpe de estado conhecido como 18 de Brumário apoiado principalmente pela alta burguesia francesa, chega ao poder através do cargo de Cônsul. Com isso, chegou ao poder exercendo o cargo de Cônsul e a partir disso, começa o período conhecido como era napoleônica.

O período napoleônico ficou marcado, dentre outras coisas que serão abordadas mais adiante, pela consolidação dos princípios da Revolução Francesa e pela difusão desses princípios para para todo o continente europeu.

Como Cônsul francês, na prática, a França era inteiramente governada por Napoleão. Seu governo era marcado por forte autoritarismo, censuras e perseguições políticas.

Dentre as principais melhorias do período napoleônico como cônsul, podemos destacar:

  • A criação do banco da França que tinha por objetivo controlar a forte inflação;
  • Criação do Código Civil Napoleônico que além de consolidar os princípios da revolução foi muito importante para o financiamento da agricultura;
  • Proteção a propriedade privada;
  • Pacificou as relações diplomáticas com a Inglaterra e com a Áustria.

A partir do momento em que a França iria dominando mais territórios, o código civil ia sendo aplicado nas novas áreas, e consequentemente a popularidade de Napoleão alcançou níveis estratosféricos. Aproveitando-se desse momento, o Cônsul convocou um plebiscito em 1804 onde tornou-se, com apoio popular, Cônsul vitalício francês.

Napoleão Bonaparte: de cônsul a imperador

Ainda no ano de 1804, aproveitando-se da boa aprovação popular, Napoleão autoproclama-se imperador francês, dando início a um período chamado “Império da França”(1804-1814.)

Com o avanço das tropas francesas sob o continente europeu, a Inglaterra em conjunto com a Áustria, rompe o acordo de paz feito com a França firmado em 1803 e recomeça a guerra. Em 1805, Napoleão é derrotado na batalha de Trafalgar após uma tentativa de invasão francesa ao território inglês. Essa derrota coloca fim as ambições de Napoleão de conquistar a Inglaterra.

Sabendo que não conseguiria invadir a ilha, a estratégia do imperador francês foi impor um bloqueio continental, em que nenhum país da Europa poderia comercializar com a Inglaterra. Isso significa que o país que se recusasse a aderir o bloqueio seria invadido.

Assim, em 1808, Napoleão decide invadir Portugal – que historicamente sempre teve fortes laços econômicos com os ingleses – obrigando que a corte portuguesa viesse para o Brasil e transferisse toda a estrutura para o Rio de Janeiro, o que acabou por acelerar o nosso processo de independência.

Outro país que se voltou contra ao bloqueio continental de Napoleão Bonaparte foi a Rússia. Isso levou Napoleão, em 1812, a invadir tal país. Estima-se que Napoleão movimentou cerca de 610 mil pessoas em seu exército nesta invasão. Porém, graças a tática de “terra arrasada” – em que os Russos destruíram as próprias terras – o exército de Napoleão, a medida que avançou no território, não encontrou suprimentos para se manter e, assim, sucumbiu a fome e ao frio intenso.

O exército de Napoleão conseguiu chegar até Moscou, mas devido a fragilidade de suas tropas e os contra-ataques russos, os 610 mil franceses foram praticamente dizimados. Somente 100 mil soldados voltaram para a França.

França invadida e Napoleão deposto e exilado: o início do fim

Em 1814, aproveitando-se da fragilidade do exército francês após a tentativa de invasão à Rússia, os inimigos da França (Austríacos, Prussianos e Suecos) se uniram e formaram um exército de coalizão com o objetivo de invadir Paris e depôr o imperador do cargo.

Com a França tomada, Paris inteiramente invadida, Napoleão abdicou do trono e foi exilado na ilha de Elba em 1814. Com apenas um ano preso na ilha, conseguiu convencer todos os guardas a realizarem o seu desejo de voltar a Paris e retomar o poder. Seu novo governo durou um pouco mais de três meses, em um período que ficou conhecido como o “Governo dos cem dias”.

Durante o governo dos cem dias, estava ocorrendo na Europa o Congresso de Viena. Durante o Congresso, foi formado o exército da sétima coalizão com o objetivo de derrotar Napoleão de uma vez por todas.

A resposta de Napoleão foi reunir rapidamente seu exército e marchar em direção ao exército da sétima coalizão que estava em território belga e holandês. A ideia era conseguir uma vitória rápida nessa região e assim desanimar outros exércitos europeus de realizarem ataques contra a França.

Porém, a derrota final de Napoleão ocorre em 18 de junho de 1815, na batalha de Waterloo, em que a França e as tropas da sétima coalizão entraram em conflito. Do lado francês tinha-se 73 mil soldados, já nas tropas da sétima coalizão, tinham-se 68 mil.

As tropas de sétima coalizão sagraram-se vencedores do conflito. Assim, Napoleão Bonaparte mais uma vez foi exilado, só que dessa vez ele vai para a ilha de Santa Helena no meio do atlântico, onde permaneceu até o dia de sua morte, no dia 5 de maio de 1821.

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REFERÊNCIAS

Code Civil des Français: 1804.

Pierre Larousse:  Napoléon (Prefácio de Maurice Aguillon).

Artur Lévy: A vida íntima de Napoleão, 1943.

Brasil Escola

O que ocorreu no momento da coroação de Napoleão?

A Coroação de Napoleão Bonaparte aconteceu na Catedral de Notre-Dame, em Paris, no dia 2 de dezembro de 1804 e marcou uma nova fase na França pós-revolução. Napoleão Bonaparte tornava-se imperador e expandiria os domínios franceses por todo o continente europeu. Essa coroação foi marcada por um gesto simbólico.

Por que Napoleão se tornou imperador?

Napoleão Bonaparte foi um militar que ganhou prestígio ao liderar tropas francesas na luta contra as forças contrarrevolucionárias que procuravam pôr fim à Revolução Francesa. Tornou-se cônsul da França por meio de um golpe, realizado em 1799. Em 1804, autocoroou-se imperador.

Como Napoleão virou imperador dos franceses?

Napoleão Bonaparte, aclamado pelo povo como herói nacional, no dia 9 de novembro de 1799, promoveu num golpe de Estado o “Golpe do 18 de Brumário”. Nesta data, ele derrubou o Diretório, dissolveu a Assembleia e assumiu o governo. Implantou o regime de Consulado e foi nomeado Primeiro Cônsul.

Como foi confirmada a nomeação como imperador da França?

O título de Imperador foi concedido a Napoleão pelo Senado francês em 18 de maio de 1804 e depois ratificado por um plebiscito em novembro do mesmo ano. O governo, contudo, não era absolutista e sim constitucional, pois o imperador foi obrigado a jurar respeito à Carta Magna.