Que diferenças existem entre as filosofias de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino?

Atualizado: 1 de jun.

Ao contrário do que o senso comum e até mesmo teóricos dizem a respeito da Idade Média, esse período produziu debates e iluminações de ideias em relação a fé e a razão. Os dois maiores expoentes, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino contribuíram ricamente para a teologia e para a filosofia, influenciando até mesmo movimentos religiosos em períodos pós-medievo.

Que diferenças existem entre as filosofias de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino?

Contextualizando

Com suas ideias baseadas no dualismo de Platão, Agostinho de Hipona adequou a teologia cristã com o pensamento grego clássico. Semelhantemente, baseado no pensamento grego, Tomás de Aquino desenvolveu suas ideias no pensamento aristotélico: das leis da natureza e na metafísica. Para uma compreensão protestante, a semelhança destes dois teólogos é levemente parecida com os debates em torno do calvinismo acerca da eleição pela soberania divina, e do arminianismo em torno da eleição pela presciência. Em Agostinho e Tomás há o fundamento de se usar a razão junto a fé, e durante todo o percurso medieval, a teologia foi baseada nesses dois pontos: crer para entender, por Agostinho e entender para crer, por Tomás de Aquino.

Ambos filósofos tiveram sua importância, cada um em seu respectivos tempos: Agostinho na era patrística (séc IV ao VIII) e Tomás na escolástica (séc IX ao XIII). Foram fundamentais para a riqueza filosófica e teológica para suas épocas, contrariando os tempos pós-medieval (renascimento e iluminismo) em que teorizavam sobre a Idade Média ser um tempo de trevas, não iluminado pela razão e de cultura abaixo do padrão greco-romano.

Após esta contextualização introdutória, o pensamento agostiniano será discorrido de forma pormenorizada, entrando na compreensão sobre a fé e o pecado que, em sequência, a ideia de Tomás de Aquino sobre os mesmos temas será exposto. Por fim, suas distinções e contradições como conclusão, trazendo suas consequências para a reforma.

Agostinho: Crer para entender

Depois de abandonar o maniqueísmo, Agostinho concilia a teologia às ideias neoplatonicas. Tanto na visão dualista de Platão, quanto no maniqueísmo, o conflito de duas dimensões fazem parte de suas doutrinas. Se no dualismo há o mundo sensível e o das ideias, no maniqueísmo existe a dualidade do bem e do mal. Portanto, a teologia agostiniana enxerga esta dicotomia de forma intrínseca na explicação sobre a fé, ou seja, o divino e espiritual, sobre o terreno, que é a matéria; o corpo; portanto, a razão. Sendo esses dois elementos conciliados.

Para se chegar às ideias e verdades eternas, o agostinianismo tem na sua premissa o inatismo. Para Agostinho, se chega à compreensão da verdade através apenas de uma iluminação primária do divino, sendo tudo que nos é participado, primariamente por intermédio de Deus. As ideias inatas são imateriais e espirituais, e o meio pelo qual se dá essas verdades para o homem é explicado com o método platônico de reminiscência, alterado para o cristianismo. "Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus." (Santo Agostinho. Fenomenologia da religião, pag 2). Neste ponto, para Agostinho, a vontade humana é irrelevante para compreensão do divino sem a graça. A graça que Deus concede é essencial para as verdades eternas e sem ela a vontade humana se torna impotente para o bem. Após o pecado original, o homem não pode não pecar, tornando assim, intrínseca na natureza humana o desejo pelo mal, que para Agostinho é a ausência do bem. Nossa natureza é boa em Deus, chegando a esta unicamente por revelação divina, com isso, entendemos a fórmula em torno de Adão, que para Agostinho: o homem na liberdade de Adão - poder não pecar. Depois do pecado original - não poder não pecar. Nos bem-aventurados - não poder pecar.

Tomás de Aquino: Entender para crer

São Tomás de Aquino é também voltado para a razão, porém de uma forma experimental. Por isso, a explicação sobre o divino é visto em torno da teologia tomista como semelhante ao científico. O filósofo medieval é famoso pelas suas inspirações em Aristóteles sobre o motor primário, a qual nada do que existe seria criado a não ser por uma potência inicial, que deu sentido a todas as funções sensitivas e concedeu regras à ordem natural.

A verdade para São Tomás se dá por etapas, se concluindo na evidência, que se encontra por intermédio da demonstração. O conhecimento se torna verdadeiro quando o não evidente se dá por evidente, e o método demonstrativo é a própria filosofia, que se completa junto a teologia. A clareza de ideias e a conclusão da verdade acontece por um sistema particular, dedutivo, tendo o empirismo como um dos fundamentos do tomismo. Para Tomás a observação para se chegar a verdade é a priori à revelação divina, tendo a teologia como arcana, só se chega ao mistério da verdade por meio da dedução e do racional com o objeto: "veritas est adaequatio speculativa mentis et rei". Como dito, para Tomás a teologia é revelada, sendo ela, porém, compreendida pelo empirismo e raciocínio, que segundo ele "a verdade é a conformidade (ou adequação) do teórico e a coisa". Portanto, a matéria e a forma são necessárias para se alcançar a verdade - que é eficiente e a causa final da matéria e a forma - pelo intermédio da razão.

Principal diferença

Enquanto a doutrina agostiniana conhece o divino pela revelação/intuição, ou seja, crer para entender. O aprendizado e desenvolvimento sobre Deus se dá conforme a crença transcende a matéria, portanto, precede a matéria. Sendo a intuição intelecto e imaterial, com isso, espiritual. Já a tomista se inverte a ordem, sendo compreendido o divino a partir da evidência. A demonstração que é sólida e racional é ante ao entendimento de Deus. Se por um lado, Agostinho crê para entender, São Tomás entende para crer. "Contrariamente à doutrina agostiniana que pretendia ser Deus conhecido imediatamente por intuição, Tomás sustenta que Deus não é conhecido por intuição, mas é cognoscível unicamente por demonstração; entretanto esta demonstração é sólida e racional, não recorre a argumentações a priori, mas unicamente a posteriori, partindo da experiência, que sem Deus seria contraditória." (São Tomás de Aquino, Fenomenologia da Religião, pag 4).

Semelhanças do debate no meio Protestante

A teologia reformada a partir do século XVI, bebeu bastante da fonte de Agostinho e Tomás de Aquino. As ideias de Agostinho sobre conhecer a verdade a partir da revelação divina repercutiram na teologia da predestinação e eleição de João Calvino, pois para o teólogo reformado, todos os eleitos são atraídos pelo Deus Pai para o conhecimento do Deus Filho, nisto conhecendo a verdade. Semelhante a Agostinho, Calvino teologizou crendo a partir do princípio da iluminação divina para assim entender. A partir do calvinismo, surgiram outras correntes, uma delas o arminianismo, que como Tomás de Aquino, deu importância à escolha humana, desenvolvendo sua teologia a partir do livre-arbítrio, pois para Tomás o homem é individualizado e dotado de livre vontade, já que a alma é racional e compreende o imaterial e espiritual. Para ele, tanto o corpo e a alma dependem um do outro, dando liberdade ao homem de escolher.

Conclusão

É certo que os dois teólogos medievais foram fundamentais para sabermos de que a teologia e filosofia avançou, tirando assim a ideia de a Idade Média foi um tempo de trevas, pois estes dois homens colaboraram tanto para o cristianismo como para o meio secularizado em assuntos metafísicos que relacionam o homem tanto com o mundo sensível como com o mundo ideal, dando a nós base para compreender diversos assuntos voltados ao divino, à escrituras, ao homem e às matérias.

Qual a diferença entre a filosofia de Tomás de Aquino e de Santo Agostinho?

Embora Santo Agostinho se vincule à tradição platônica, de caráter idealista, e Santo Tomás de Aquino retome a tradição aristotélica, de caráter realista, suas concepções de educação convergem quanto a sua finalidade, que é aquela de formar o cristão.

Quais os conceitos filosóficos apresentados por Agostinho e Tomás de Aquino?

Também estudioso do pensamento de Santo Agostinho, Tomás de Aquino acreditava que o direito pode ser descoberto e criado precipuamente pela razão (o que foi inovador na época, na qual se acreditava que as leis vinham, antes, da revelação divina).

O que defendia Santo Agostinho e São Tomás de Aquino?

Suas obras formularam um novo pensamento filosófico cristão, que destacavam a razão e vontade humana, contrariando os seguidores de Santo Agostinho. São Tomás de Aquino defendeu a filosofia escolástica, que baseava-se no método cristão e filosófico pregado na união entre a razão e a fé.

Quais as semelhanças e as diferenças existentes nos pensamentos de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino?

Como diferenças devemos nos lembrar que Aristóteles era um grego e Aquino um cristão, assim, a felicidade para Aquino estava no conhecimento de Deus e este era a causa final de todas as coisas. Aristóteles entendia que a felicidade estava no agir de cada indivíduo e que a causa final era um motor imóvel.