A mesma paisagem de dia e de noite

se houver oportunidade, uma dica é procurar extrair diferentes "climas" de uma mesma paisagem. Durante o decorrer do dia, a temperatura da luz natural do Sol que ilumina a paisagem vai mudando, é menor ao amanhecer / entardecer e mais alta próximo do meio dia (algumas horas antes e depois). Somado à esse fato, o próprio Sol muda de posição, variando bastante as dimensões das sombras e áreas iluminadas, conforme o ângulo de incidência de seus raios. Com isso variam também os reflexos desses raios, que passam a ser emitidos a partir de superfícies antes não iluminadas, superfícies estas que podem possuir as mais diversas cores e texturas.

Outros fatores também entram no jogo das alterações: a névoa da manhã, a neblina, a passagem ocasional de nuvens, a poeira no ar, a chuva, a iluminação artificial à noite e outros. Levando-se em consideração que esses fatores todos somam-se e interagem uns com os outros, tem-se uma diversidade considerável de tonalidades, brilhos, cores e nuances de uma mesma paisagem, não só ao longo do dia, como dos meses também (decorrentes de mudanças na posição do Sol, da vegetação e do clima em função das estações do ano).

Ao escolher uma paisagem para servir de cenário para uma gravação, sendo possível não efetuar as gravações no mesmo dia e sim retornar em diferentes horários ao local, para observar, dentre as várias diferentes "paisagens", qual a que melhor traduz o "clima" desejado. Observar as áreas de sombras, a posição do Sol (que pode indicar a necessidade de refletores / rebatedores), os fortes contrastes luz / sombra (sempre geralmente ruins), o ângulo de incidência do Sol na paisagem e nas eventuais pessoas e objetos a serem gravados em primeiro plano e outros elementos pode fazer uma diferença significativa na qualidade final do trabalho.

O projeto Day To Night ("Dia Para Noite"), do fotógrafo Stephen Wilkes, está fazendo um enorme sucesso na Internet. A página do profissional vem recebendo muitas visitas de pessoas de todo o mundo que se encantaram com o trabalho do rapaz. As imagens finais são resultado de um enorme trabalho e reúnem momentos do mesmo local capturados em horários diferentes, de noite e de dia.

1 de 4 Nova Iorque foi a cidade mais clicada no projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

Nova Iorque foi a cidade mais clicada no projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

Wilkes teve que trabalhar bastante para conseguir realizar estas fotografias diferentes. De acordo com o site "Peta Pixel", ele clica as imagens utilizando uma câmera no formato 4×5 e a uma altura de normalmente 40 a 50 pés. O fotógrafo passa cerca de 15 horas do dia registrando o local escolhido, gerando aproximadamente 1.400 fotografias.

Depois disso, Wilkes passa em torno de quatro meses na pós-produção da foto final. Ele faz análises das mudanças de luz e de elementos interessantes em cada imagem até encontrar a combinação perfeita. Assim, realiza as edições para fazer com que uma só fotografia pareça ter sido tirada de noite e de manhã ao mesmo tempo.

A aba do projeto Day To Night no site oficial tem 12 exemplos de imagens que foram feitas na série, a maioria delas na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Confira abaixo algumas delas:

2 de 4 Imagem de Shanghai, na China, é uma das mais interessantes do projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

Imagem de Shanghai, na China, é uma das mais interessantes do projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

3 de 4 Central Park foi registrado pelo fotógrafo no projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

Central Park foi registrado pelo fotógrafo no projeto (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

4 de 4 Times Square foi uma das paisagens escolhidas pelo fotógrafo (Foto: Stephen Wilkes) — Foto: TechTudo

Vista do bairro do Pina, Recife-PE

A vista da imagem acima é do bairro do Pina. Nesse dia em específico durante o dia fazia sol, estava quente, lá no horizonte da pra ver o mar, minha vontade era de estar na praia; e a noite, céu limpo, sem estrelas (pois seu brilho é ofuscado pela iluminação urbana), ruas iluminadas, poucos carros circulando, luzes dos prédios acesas, é vida que segue...

A sociedade moderna é completamente dependente da energia elétrica. Sem a iluminação artificial seria bem complicado desempenhar algumas atividades no período noturno. Sem a iluminação dos postes, por exemplo, seria pouco provável que as pessoas se sentissem a vontade para caminhar nas ruas ou frequentar praças e parques. Mas você já parou para pensar o quanto a iluminação urbana (a de postes, letreiros luminosos, monumentos, etc) pode ser invasiva? Observe os exemplos abaixo.

Vista do bairro de Casa Forte, Recife-PE

Na imagem acima, a do período noturno, é possível observar que na edificação da direita há um holofote que ilumina até o 5º andar (mais ou menos) do prédio. É possível observar também que esses andares estão com as luzes internas apagadas.

Vista de uma rua na cidade de Timon-MA

Iluminação urbana invasiva, não é exclusividade para quem mora em edifícios de muitos andares. Na imagem acima é possível observar que a iluminação proveniente dos postes iluminam todas as cadas da rua. Quando chega a noite talvez nem seja necessário acender as lâmpadas de dentro de casa, pois os postes já dão conta.

Vista interna de uma casa em Recife-PE

Mas se a iluminação do poste dá conta, será que o fazem da forma mais confortável e eficiente? Eu acredito que não pois, como podemos observar na imagem acima, e também a partir do relato do morador da casa, "quando o poste acende ilumina diretamente a casa e se alguém estiver sentado no terraço tem que virar de costas para que não seja ofuscado".

Você já havia parado e prestado atenção a isso? Convido você a refletir sobre esse assunto e a fazer o seguinte exercício: fotografe a mesma paisagem em dois momentos diferentes (pode ser uma durante o dia e o outro durante a noite) e faça uma análise das imagens, que pode ser uma crítica, poesia ou uma simples reflexão.