Por Klaus Scarmeloto e Igor Livramento 1. Mao Zedong: a síntese de duas revoluções Como é de conhecimento geral entre os comunistas, Mao Zedong foi o mais representativo, o mais importante líder da história, não só da
população chinesa, mas de toda a Ásia, onde é lido tanto pelos naxalitas na Índia quanto pelos filipinos e nepaleses. Como também se sabe, Mao Zedong não poderia ser outra coisa senão o resultado da revolução democrática de 1911 e da revolução chinesa de 1949 até o ano de sua morte em 1976. Aos 18 anos, Mao participou dos acontecimentos da Revolução Xinhai (1911) e, mais tarde, do Movimento 4 de Maio (1919). Mao tornou-se marxista-leninista quando era aluno da
universidade de Pequim, sendo um dos membros fundadores do PCCh. Conta-se que Mao tinha uma boa instrução em Língua Chinesa, tendo muita facilidade para fazer versos em diferentes estilos. Havendo sido mestre-escola na sua juventude, utilizava versos e fábulas para educar com sucesso as crianças a seu
encargo[1]. O grande contributo de Mao Zedong à Revolução Chinesa é ter integrado, de maneira original e revolucionária, a universalidade do marxismo-leninismo com a práxis concreta e ter resolvido – de maneira justa e correta – as inúmeras contradições que surgiram no decorrer
da revolução, teorizando um método para todos os povos em condições semelhantes subjugados pelo imperialismo na condição colonial ou semicolonial e semifeudal. Assim, as particularidades China, sua condição objetiva, resultavam do pior tipo de opressão por parte das grandes potências imperialistas, como a guerra do ópio, com ocupação liderada pelo império britânico, apoiada pelos franceses, estadunidenses, czaristas russos, holandeses, austríacos, e,
posteriormente, o fascismo japonês. Tudo isso não poderia implicar em outro resultado senão uma onda de revoltas e revoluções contra o ocidente culminadas das mais diversas humilhações sofridas devido ao imperialismo, o qual fora derrotado em boa parte da Ásia. Mao Zedong não nos deixa mentir ao mencionar quais são as práticas imperialistas em países dominados. Compreendendo a dinâmica do desenvolvimento desigual, Mao Zedong
inovou e acrescentou a teoria leninista do imperialismo, uma importante contribuição ao descrever o comportamento econômico político e jurídico das nações imperialistas, até então inexistente entre os teóricos leninistas. Esse conhecimento, como se verá adiante, foi fundamental na condução da Revolução Chinesa e primordial para compreender sua história. Segundo Mao Zedong: O nascimento e desenvolvimento do capitalismo não é mais que um aspecto das modificações
registradas com a penetração imperialista na China. Existe ainda um outro aspecto, concomitante, fazendo obstáculo a essas transformações – é a convivência do imperialismo e das forças feudais chinesas para travar o desenvolvimento do capitalismo chinês. Seguramente, o propósito das potências imperialistas que invadiram a China não era transformar a China feudal em capitalista; o seu objetivo era, pelo contrário, transformar a China em semicolônia e colônia. (MAO ZEDONG apud MOREIRA)
Mao Zedong aponta vários processos e estratégias de dominação pelos quais se efetuava essa ligação colonial e semicolonial da China com potências imperialistas, sendo eles: (1) realização de repetidas guerras de agressão para ocupação de territórios; (2) realização de inúmeros tratados desiguais pelos quais a China permitiu a instalação de forças armadas estrangeiras, dividindo o país em esferas de influência de diversas potências; (3) administração estrangeira direta dos portos, alfândegas e
sistemas de comunicações para controle do comércio exterior; (4) instalação de indústrias estrangeiras para beneficiarem diretamente as matérias-primas e aproveitarem a mão de obra barata; (5) controle monopolista de todo o sistema financeiro; (6) rede de exploração de compradores e usurários em todo o território, desde os portos até os locais de produção camponesa; (7) estímulo aos senhores de terras feudais para se converterem no principal sustentáculo das forças imperialistas; (8) apoio
logístico militar ao governo chinês para reprimir o povo; (9) política de agressão cultural para adormecer e iludir o povo chinês, através de missões religiosas, instalação de atividades de saúde e educação, publicação de revistas e periódicos e indução dos jovens para estudarem no estrangeiro; (10) invasão japonesa em grande parte do território, convertendo a China de semicolônia em colônia
japonesa.[2] [Observação: indicamos ao leitor guardar bem tais caraterísticas, pois são fundamentais para compreender o colonialismo e a situação pré-revolução descritas nos próximos subtítulos.] A China sempre foi um enorme mercado consumidor e fornecedor desejado pelas
potências imperialistas: a produção de seda, chá, porcelanas e artesanatos milenares de luxo sempre foram atraentes para o ocidente. Entretanto, o comércio nos moldes desejados pelo ocidente era de imensa dificuldade, pois baseado nas características apontadas por Mao Zedong, ou seja, espoliação direta. Os Chineses sempre se centraram nos princípios de independência, liberdade e preferência à nacionalidade no comércio – embora com os nítidos limites da sociedade de classes em suas respectivas
épocas. Isso fez o imperialismo travar guerras convencionais e não convencionais contra a China para colonizá-la. No decorrer de 100 anos, ao fim do século XIX, a China foi o centro de contradições no Oriente. Primeiro, a China era uma semicolônia dos imperialistas no mundo, considerada o fruto proibido da discórdia entre elas. Em 1916, no livro Imperialismo, fase superior do capitalismo, Lenin dizia: “É natural que a
luta por estes países semidependentes tenha chegado a ser feroz.”[3] A partilha da China “é só o começo, e a luta entre Japão, EUA, etc., devido a isso, irá se
agudizar”.[4] Em 1927, Stalin descreve[5]: A China é uma nacionalidade compacta com uma
população de milhões de habitantes que constituem um dos mercados de venda e exportação de capitais mais importantes do mundo […] o imperialismo tem que golpear a China, despedaçá-la e despojá-la de províncias, para preservar suas velhas posições, ou reter algumas delas. Ao considerem a China objeto de exploração, os imperialistas formaram grupos para enfrentá-la. Em 1900, as forças aliadas de oito potências imperialistas detonaram os patriotas do movimento Yi Ho
Tuan. Já no ano de 1927, opuseram-se à grande Revolução Chinesa. Dividiram a China entre si. Contudo, a ambição imperialista conduziu a profundas contradições. Vários países imperialistas queriam a China para si e suas forças permaneciam divididas. Segundo: os acordos e desentendimentos entre os imperialistas acentuaram as lutas entre as velhas classes dominantes na China – os senhores feudais, a burguesia compradora – resultando em diversas batalhas entre os
senhores da guerra. Mao Zedong disse em 1928: uma característica essencial da China semicolonial era a existência prolongada e ininterrupta – desde o primeiro ano da República, em 1912 – de contínuas guerras pelas camarilhas dos velhos e novos senhores da guerra apoiados pelos imperialistas a partir do estrangeiro e pela burguesia compradora e os grandes latifundiários residentes no país. Este fenômeno se devia a duas razões: primeira, a fragmentação do país em
regiões isoladas com sua economia agrícola [A China não possuía uma economia capitalista unificada]; segunda, a política imperialista de divisão e exploração da China, para que fosse partilhada em zonas de influência[6] Como cada casta feudal e setor da burguesia compradora
chinesa trabalhavam para distintos países imperialistas essas classes dominantes restavam muito mais divididas que unidas. Terceiro: como se verá adiante, a repressão exercida pelo imperialismo e pelo feudalismo geraram ao povo chinês diversas dores. No entanto, desde a Guerra do Ópio, em 1840, o povo chinês desenvolveu lutas constantes contra o conjunto das classes dominantes e imperialistas. Poucos foram os intervalos. Considerando a China em seu tamanho
territorial e populacional, os conflitos mobilizavam um número gigantesco de chineses bem como cercavam boa parte do território chinês. O povo chinês lutou contra todas as potências imperialistas que invadiram a China e se recusou a ser submetido a qualquer um dos regimes contrarrevolucionários imperialistas. A China mostrava-se compromissada com a revolução: as vontades do povo chinês, do imperialismo e do feudalismo eram antagônicas. O povo chinês converteu-se numa força unificada poderosa. Sintetizando: a China foi, antes de mais nada, o centro da agressiva luta entre os países imperialistas na Ásia; em segundo lugar, o centro da luta pela revolução. Obviamente a vitória da revolução foi a vitória do povo chinês, o qual rompeu as cadeias do imperialismo no Oriente. A notável militância desenvolvida pela classe operária chinesa se deu principalmente por três razões. Primeiro: a classe
dominada foi submetida à opressão das três castas dominantes: o imperialismo estrangeiro, o feudalismo doméstico e o capitalismo. Segundo: os trabalhadores chineses se encontravam concentrados e centralizados. Mesmo subdesenvolvida, a indústria chinesa concentrava trabalhadores ocupados em modernas empresas, cada uma dessas empregando mais de 500 operários. Terceiro: ainda que a minoria populacional fosse de trabalhadores
industriais, os demais proletários e lumpemproletários estratificados formavam uma classe gigante. Se incluirmos os camponeses, tem-se, ao todo, mais da metade da população. A tirania da submissão era desumana. Assim, desenvolveram uma poderosa força, o próprio partido político – o Partido Comunista – que liderou todas as classes revolucionárias chinesas. A China empenhou-se na revolução, determinando um final feliz graças às classes operária e campesina
revolucionárias, e, por isso, tornou-se líder real de todas as forças revolucionárias. O contexto internacional foi marcado por ondas da revolução proletária, que triunfaram na Rússia, depois nas quinze nações que formavam a URSS, que recepcionaram a Revolução Chinesa com o apoio internacionalista. Esse conjunto indiciário demonstrou por que era inevitável a vitória da revolução chinesa e o fracasso do imperialismo e seus lacaios
– a classe feudal e a burguesia compradora. Stalin pontuou, em 1927, quena China a luta contra o imperialismo deve assumir conteúdo popular e caráter claramente nacional, e irá se aprofundar passo a passo, desenvolver-se dentro de encarniçados combates contra o imperialismo até sacudir suas pilastras no
mundo.[7] Esse foi o curso do rio. Naturalmente, nenhuma vitória vem fácil, principalmente num país tão grande a ponto de ser disputado pelos países desenvolvidos como se fosse o fruto proibido, tão grande que ali o feudalismo permanecera vivo durante séculos. A viagem foi longa. Em um artigo escrito em agosto de 1949, Mao Zedong descreveu o processo: eles lutaram, fracassaram, lutaram de novo, fracassaram de novo, voltaram a lutar, acumularam uma experiência de 109 anos, de centenas de lutas, grandes e pequenas, militares e políticas, econômicas e culturais, com ou sem derramamento de sangue e somente então obtiveram a vitória fundamental
atual.[8] A luta revolucionária anti-imperialista e antifeudal – sustentada pelo povo chinês sob a direção do Partido Comunista da China – pode ser dividida principalmente em quatro períodos: primeiro, o período da Grande Revolução ou o período da Guerra Expedicionária do Norte.
Durante esse período, o Partido Comunista da China e o Kuomintang trabalhavam em cooperação e travaram uma luta revolucionária anti-imperialista e antifeudal que tomou a forma de uma Guerra Expedicionária, ao norte do país, contra os senhores da guerra. Mais tarde, a camarilha contrarrevolucionária do Kuomintang, encabeçada por Chiang Kai-shek, que representava os interesses dos grandes senhores feudais e da grande burguesia, traiu a revolução. O segundo momento, período da Segunda Guerra Civil
Revolucionária (1927-1937), comumente chamada de Guerra Civil dos Dez Anos, ou o período da reforma agrária. As principais lutas durante esse período foram: estabelecer e expandir o poder político vermelho, realizar a reforma agrária e oferecer uma resistência armada ao governo reacionário do Kuomintang. O terceiro, período da Guerra de Resistência Antijaponesa (1937-1945); o quarto, da Terceira Guerra Civil Revolucionária (desde o final da Guerra de Resistência em 1945 até a fundação da
República Popular da China em 1949), também chamado de Guerra de Libertação do Povo Chinês. 1.1. China: da dinastia ao semicolonialismo e semifeudalismo No decorrer do século XIX, a expansão europeia soprava péssimos ventos para o oriente em geral. A China talvez seja ou foi – em algum momento – a região mais importante do mundo. Um dos mais antigos centros de civilização, quase
todas as invenções que se tem como europeias são cópias ou evolução de soluções criativas elaboradas anteriormente pelas diferentes civilizações ao longo da história da China. A Europa desfruta em relação à China de uma posição similar à da Grécia, em relação ao Egito e Oriente Próximo. Quase tudo que se conhece como “grego”, veio de uma daquelas regiões. Da mesma maneira, a Europa até o século XVIII era caudatária de muita civilização chinesa. Certamente até, ignora isso. No entanto, a
Revolução Industrial e o desenvolvimento de armamentos a ela associados, permitiu a matança em escala de multidão. Tal levou a Europa, no século XIX, a instalar-se como força colonizadora por toda parte, impondo seus métodos e interesses, quando necessário, pela força bruta e pela violência.[9] Com objetivos comerciais predatórios com a China sem, no entanto, querer dispor de ouro ou prata, os burgueses europeus inseriram ali o comércio do ópio em grande demanda. Assim, as mercadorias trazidas da China se pagavam com a importação compulsória de ópio para os chineses. O ópio era utilizado como dinheiro. Assim, o cartel monopolista de potências europeias denominado “Companha das Índias Orientais” – liderado pelo império britânico e
composto por austríacos, dinamarqueses, franceses, holandeses, portugueses e suecos – avançou sobre o Leste e confrontou as restrições impostas pela dinastia chinesa. Os chineses, historicamente, consumiam poucas mercadorias de outros povos. Diante do quadro, os ocidentais centraram-se na realização de uma guerra não convencional, utilizando ópio como meio de troca – a substância química era proibida desde 1729 na China. Em vez do uso medicinal, tradicional no
Oriente e na China, a função do ópio passou a ser o equivalente geral utilizado como se fosse dinheiro, permitindo a infiltração estrangeira e, com ela, a apropriação das riquezas naturais da China que sempre esteve entre os países mais ricos em matéria-prima. Ao apogeu do colonialismo espanhol e português, quando as políticas coloniais eram ditadas pelos interesses das classes dominantes destas duas monarquias feudais, seguiu-se um período em que a política
colonial da classe burguesa, que, nesta altura se afirmava nos estados Europeus mais progressistas, determinou o curso do desenvolvimento dos territórios de além-mar. Nos séculos XVII e XVIII, foram lançadas as bases de um sistema colonial de acordo com os interesses da poderosa burguesia comercial. Não foi por coincidência que os primeiros passos nesta sua política colonial foram dados pelos Países Baixos que apareceu como Estado independente depois da revolução burguesa ter libertado o país do
domínio da Espanha absolutista. Em 1602 a formação da Companhia Holandesa Unida das Índias Orientais, após a de algumas companhias comerciais rivais, deu origem à primeira sociedade anônima em grande escala com capital subscrito, à qual foi concedido o monopólio do direito de comerciar no Oriente. Esta Companhia seria o modelo de outras companhias semelhantes, em particular a Companhia Inglesa das Índias Orientais, originariamente fundada em 1600. No século XVII os Países Baixos representavam um
exemplo clássico de um país capitalista, e em breve os Holandeses, unidos aos Ingleses num mesmo esforço contra a supremacia colonial espanhola e portuguesa, conseguiram pôr fim ao domínio português (em 1581 Portugal passou a coroa espanhola). Os Holandeses apoderaram-se de muitas antigas colônias portuguesas, tais como a colônia do Cabo, no extremo sul da África, de postos avançados no golfo Pérsico, e Malaca em 1640. Uma aquisição muito significativa foram as Ilhas das Especiarias, onde os
Holandeses se aproveitaram habilmente do ódio da população local aos Portugueses, e da rivalidade entre os principados locais. Mas as ações empreendidas em conjunto com os Ingleses não diminuíram a rivalidade da competição entre as companhias comerciais inglesas e holandesas. Depois do massacre dos Ingleses em Amboína em 1623, a companhia inglesa foi desalojada do comércio de especiarias e, em consequência, da maior parte da Indonésia. O centro do império colonial holandês que se formou no
Extremo Oriente no século XVII foi Java. A companhia holandesa conseguiu conquistar territórios no pequeno principado costeiro de Jakarta, onde uma nova capital colonial, Batávia. Foi construída nas ruínas da antiga capital. Este facto marcou o começo da transformação da companhia comercial holandesa numa organização colonial com possessões territoriais. Durante várias décadas, os Holandeses foram obrigados a negociar acordos com grandes Estados que então
existiam em Java. A violência e as cruéis medidas de repressão a que foi sujeita a população destes países fracos e atrasados, andavam de par com complicadas intrigas que tinham como objetivo instigar conflitos e contendas entre os principados locais.[10] 1.1.1.
Os tratados desiguais O princípio de um longo processo de divisão da China se deu pelo desencadear da Guerra do Ópio, que marca o começo da colonização na China. O Cartel que repartiu a China crescia cada vez mais e era composto pelas seguintes nações: Inglaterra, França, Rússia, Japão, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Áustria, Dinamarca e diversos outros países que, compulsoriamente, fizeram da dinastia Qing um brinquedo por meio do qual
levavam a China a conceder territórios e direitos, através de tratados. Toda iniciativa de resistência às pretensões europeias tinha como consequência o início de uma guerra, que resultava em novos “tratados”, mais destrutivos e mais humilhantes para a China. A partir da primeira guerra do ópio (1839-1842) seguiram-se diversos confrontos históricos: a segunda guerra do ópio (1856-1860), a guerra russo-chinesa (1858), a guerra franco-chinesa (1884-1885), a guerra
sino-japonesa (1894-1895) e a guerra sino-alemã (1898). Além desses, a China perdeu a posse de Macau para Portugal desde 1557; Hong Kong tornou-se propriedade inglesa; Qingdao, província alemã; Manchúria e Taiwan foram conquistados pelos japoneses; e Xangai, Ningbo, Fuzhou, Xiamen e Guangzhou (Cantão) transformaram-se em portos de domínio europeu, com suas instalações dominadas completamente pelos europeus e, posteriormente, os tentáculos ocidentais tomaram as demais regiões litorâneas e
fluviais chinesas. As consequências das Guerras do Ópio e a força da “abertura” da China, e os tratados unilaterais que a China foi obrigada a assinar com as potências europeias minaram ainda mais a sociedade feudal e acarretaram piores condições de vida para o povo. A inundação de artigos europeus minou as artes locais e trouxe o empobrecimento aos artesãos nativos; a importação do ópio esgotou a prata do país e começou a desvalorizar muito a moeda de cobre.
Pelo Tratado de Nanking, a China foi obrigada a pagar uma enorme indemnização de guerra. A dinastia Ch’ing começou a cobrar novos impostos e serviços, o que piorou muito as condições de vida dos trabalhadores. Na realidade, não eram só os camponeses que estavam tão empobrecidos que tiveram de abandonar as suas terras; os artesãos estavam arruinados, e não conseguiam encontrar mercado para os seus artigos, os comerciantes e mesmo certos sectores da classe dos shensi foram atingidos pelos novos
impostos. Isto acontecia sobretudo no Sul, onde houve um afluxo particularmente elevado de mercadorias estrangeiras depois de cinco portos terem sido abertos a comerciantes estrangeiros. Assim, não foram só os trabalhadores que se juntaram à seita de Hung Hsiu-ch’uan. Aderiram também comerciantes de
Shensi.[11] Durante os eventos de 1839–42, os europeus obrigaram os chineses a assinarem o tratado de Nanquim, firmado sobretudo pela dinastia Manchu, colocando fim temporário à primeira onda de guerras do ópio. Tal tratado é considerado desonroso, assinado pela China Qing, o
Japão Tokugawa e a Coreia Chosun com as potências industrializadas ocidentais, entre meados do século XIX e o início do século XX. O diploma continha doze artigos, destacando-se o artigo 2º: abertura de cinco cidades chinesas – Cantão, Fuzhou, Xiamen, Ningbo e Xangai – para a moradia de súditos britânicos e o artigo 3º preconizava a possessão de Hong Kong por tempo indeterminado pela rainha Vitória e seus sucessores. As cláusulas
do tratado envolviam, além do cartel das índias orientais, os Estados Unidos. Os britânicos sempre lideraram a exploração dos países em que se colocavam e permitiam concessões de exploração às demais nações mediante o pagamento de tributos e compensações monetárias. Por isso, em 1844, franceses e estadunidenses conseguiram permissões comerciais e privilégios sobre os chineses. Os resultados dessa interação entre a força
ocidental esmagadora e a habilidade psicológica chinesa foram dois tratados negociados por Qiying e Pottinger, o Tratado de Nanquim e o complementar Tratado de Bogue. O acordo concedia mais do que a Convenção Chuan-pi. Era essencialmente humilhante, embora os termos fossem menos duros do que a situação militar teria possibilitado aos britânicos impor. Ele estabelecia o pagamento de uma indenização de 6 milhões pela China, a cessão de Hong Kong e a abertura de cinco “portos signatários” pelo
litoral, em que os ocidentais teriam permissão para residir e fazer negócios. Isso efetivamente desmantelou o “Sistema de Cantão” pelo qual a corte chinesa regulara o comércio com o Ocidente e o confinou a mercadores licenciados. Ningbo, Xangai, Xiamen e Fuzhou foram acrescentadas à relação de portos do tratado. Os britânicos asseguravam o direito de manter ligações permanentes nas cidades portuárias e de negociar diretamente com funcionários locais, ignorando a corte em
Pequim.[12] No entanto, a China já possuía, naquele período, fortes valores, voltada à própria cultura: cultivava o patriotismo, a independência, a liberdade e a autodeterminação, ainda que numa lógica feudal obsoleta. Não demorou muito para se
iniciar um levante nacionalista, ainda limitado, contra os ocidentais. Os nacionalistas protestavam contra a exagerada penetração de ocidentais no país. A constante manipulação ocidental sobre a China alimentava a necessidade de uma reação por parte dos setores nacionalistas, os quais eram contrários à exacerbada penetração do ópio usado como moeda no lugar do ouro e da prata, à obrigatoriedade da circulação de bíblias, à deportação constante de trabalhadores chineses para as colônias europeias
e aos países imperialistas. Os nacionalistas se opunham à expropriação de sua nação e queriam preservar sua cultura contra a ofensa trazida pelos europeus ao artesanato chinês, bem como não viam necessidade da entrada de produtos europeus e estadunidenses. Uma das revoltas mais marcantes que antecedem a revolução é a rebelião Taiping (1850-1864), uma manifestação do campesinato liderado por Hong Xiuquan contra o governo nacional
central. Xiuquan era um expoente chinês do cristianismo que chegou a tomar a região de Yangtzé, Nanquim e iniciou um ataque a Pequim. Apesar de ter deixado o confucionismo pelo cristianismo e apesar de se proclamar o “irmão mais novo de Jesus Cristo”, era considerado herege pelos europeus. A rebelião manteve controle e estruturou provisoriamente um novo governo que durou mais de dez anos, chegando até os muros de Pequim. Avançaram
outras rebeliões: no decorrer de 1864–78 as minorias muçulmanas do Sul revoltarem-se diante do governo chinês e ocorria, paralelamente, a Rebelião Camponesa de Nien. Os rebeldes perderam, porém demonstraram a fraqueza da união do Império Chinês, estabelecido por uma aliança com setores imperialistas, bem como a forte repressão da população operada pelo poder imperial. Na China, o descontentamento provocado pela exploração feudal num quadro de crise econômica cada
vez mais aguda explodiu em numerosas revoltas populares. Embora os tumultos camponeses que estalaram em várias partes do Império fossem por vezes suficientemente sérias para causar às autoridades centrais muitas preocupações e só pudessem ter sido esmagadas depois de uma longa e amarga luta, foram sobretudo revoltas espontâneas e isoladas. Estes motins, agora tradicionais, eram frequentemente organizados por sociedades secretas e várias seitas religiosas. Tais movimentos refletiam as aspirações
das massas à libertação da opressão feudal e a esperança ingênua dos camponeses de que a igualdade fosse possível, e as antigas comunas, idealizadas como pertencendo a uma Idade de Ouro, pudessem ser restauradas. Ao mesmo tempo, a luta tomou a forma de oposição à dinastia manchuriana Ch’ing, que o povo considerava ser a principal fonte dos seus males. Estas ideias apareceram nos ensinamentos de Hung Hsin-ch’uan (1814-1864), professor de aldeia de origem camponesa que fundou uma seita conhecida
por «Sociedade do Divino Governante em Kwangtung no Sul da China». Nesta nova doutrina, que Hung começou a divulgar em 1837, havia alguns elementos do cristianismo, embora numa interpretação pouco usual. Os ideais de igualdade e a criação dum «Reino Celeste» na Terra, a luta contra o mal e os maus, interpretados neste caso como representantes das autoridades feudais e a libertação do povo, eram os pontos principais da doutrina de Hung Hsiu-ch’uan, que pretendia ser irmão mais novo de Cristo. [13] Nas décadas de 30, 40 e 50 do século XIX, a importação de ópio constituía cerca de metade do total das importações realizadas pela China, enriquecendo a Companhia das Índias Orientais. O Governo Chinês se viu obrigado a combater o contrabando com severas penas: confiscaram
cargas e as atiraram no mar. Alegando diversos prejuízos à propriedade privada, os britânicos e o cartel europeu declaram guerra aos chineses. Inúmeras foram as retaliações praticadas pelos ingleses que levaram às guerras do ópio de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860. Tais eventos resultaram na assinatura de um tratado completamente torpe, o qual servia unicamente aos interesses europeus. A interferência das potências estrangeiras veio
facilitar a tarefa de esmagar as guerras camponesas e de pôr fim ao Estado T’ai-P’ing. Entre 1861 e 1865, as tropas governamentais conseguiram capturar os pontos vitais do Estado T’ai-P’ing. Na primavera de 1865, Nanqing foi cercada e isolada. Chefiados por Tzuch’eng os habitantes cercados defenderam heroicamente a sua cidade num estado de devastação. Hung Hsiu-ch’uan acabou por suicidar-se e em 19 de julho as muralhas de Nanqing caíram sob uma explosão. As tropas contrarrevolucionárias entraram
à força na cidade e repreenderam cruelmente os sobreviventes. Centenas de milhares de soldados e civis foram massacrados e Li Tzu-ch’eng foi morto com animalesca crueldade. Várias unidades T’ai-P’ing espalhadas pelo campo continuaram a lutar. Grupos de guerrilheiros camponeses continuaram ativos em várias regiões e nos anos seguintes a Monarquia Ch’ing não conseguiu reprimir as perturbações camponesas do Norte. No entanto, a grande guerra camponesa estava, a essa altura, perdida. Através do Tratado de Tientsin (1858), Grã-Bretanha, França, Rússia e EUA ganham grandes permissões de exploração do território chinês, já que os chineses admitiram a livre importação do ópio, realizaram dez novos portos para comércio europeu e deixaram os missionários cristãos no país atuarem, além de outras concessões. Diversas declarações documentadas são atribuídas com a designação “Tratado de Tien-Tsin” ou “Tratado de Tianjin”. Diversas
ratificações foram chanceladas em Tianjin em junho de 1858, colocando fim à primeira parte da Segunda Guerra do Ópio (1856-1860). França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos estavam envolvidos. Tais acordos permitiram maior abertura chinesa aos estrangeiros, garantindo a hospedagem vitalícia dos representantes estrangeiros na capital chinesa, flexibilizando a legalização e regulamentando a importação do ópio, além de permitir toda a liberdade da atividade missionária cristã e conceder liberdade
religiosa aos cristãos (incluindo os cristãos chineses). A intransigência do Imperador – medo da ameaça imperialista –, opunha resistência à iniciativa da construção diplomática com os europeus na capital, mesmo após a ratificação dos tratados com os representantes estrangeiros. Essa discórdia deu à Inglaterra e à França, líderes do cartel, motivo para invadir e se manter militarmente em Pequim e colocar fogo no famoso Palácio de Verão em 1860. Assim se inicia a
Segunda Guerra do Ópio. A Rússia, naquele contexto, oportunamente reivindica a vantagem de, naquele ano, ter sua dominação sobre territórios da Sibéria costumeiramente explorados pela China (Província Marítima). A guerra de agressão à nação Chinesa passava a ser constante, fazendo a China ceder a Indochina à França. Em
1896, a Birmânia passa ao controle britânico. Entre 1894 e 1896, o expansionismo japonês, fruto da vitória da restauração meiji e da derrubada do xogunato Tokugawa, traria o início de uma nova onda de guerras entre o Japão
e os demais países da Ásia. Em 1868, o jovem príncipe de 14 anos, Mutsuhito, foi coroado Imperador Meiji, rompendo com as diretrizes ultraconservadoras de seu pai, Imperador Komei. O sucessor teria em seu mandato celestial a missão de restaurar o poder político imperial promulgando um sistema monárquico constitucional que respeitasse a legislação internacional em vigor. Da Restauração Meiji (1868) à Primeira Guerra Mundial, o Japão se transformou numa potência
imperialista. É nessa modernização do Estado que uma rejeição às estruturas feudais – já falidas para os parâmetros da economia mundial – se fazia necessária, além da construção de uma identidade nacional que mantivesse e reformasse o poder econômico dos daymios. Estes eram senhores feudais que, durante o período Tokugawa (1603-1868), foram submetidos às determinações do xogunato: Em primeiro lugar, que a autoridade política foi em grande medida descentralizada nas mãos do senhor (hereditário),
que era vassalo do governante. Em segundo lugar, a classe cujo poder ficou sob o controle da terra e dos seus cultivadores. No entanto, mesmo a este nível é necessário qualificar. Havia dois governantes: um de jure soberano, o Imperador; e um monarca de fato, o Xogun. O poder deste último sobre os senhores e o poder dos senhores sobre os seus servos foram maiores do que era comum na Europa medieval. Fundamentalmente, os samurais eram em grande parte dissociados da terra, morando em cidades
castelos, das quais exerciam autoridade sobre o campo de funcionários, coletando tributos que estavam mais próximos ao imposto de renda. (BEASLEY, W.G. Modern History of Japan. Tóquio: Charles Tuttle, 1989, pp. 13-14) (…) O Japão apontava para a criação de um modelo de nação rica, forte (militarmente) e soberana (fukuoku kyohei), que pudesse cooptar o máximo de contingente possível, até mesmo “socialistas” – em apoio ao imperialismo – e oficiais do exército, para o confisco de riquezas. Segundo
Otto Hintze, o feudalismo é um processo conexo ao imperialismo, que “não avança aos poucos, num permanente e racional esforço de formação do Estado”, mas que busca atalhos para avançar economicamente por expansão, conquista e, principalmente, por uma “ideia religiosa de domínio universal”: “[…] a transição de uma frouxa constituição tribal clânica, de base corporativa, para um ordenamento estatal e social mais firme, estabelecido por dominação” (HINTZE, Otto; GRESPAN, J. L. (trad.) Natureza e
extensão do feudalismo. In: Signum, n. 6, 2004, p. 169).[14] 1.1.2. Tríplice Dominação e a Escravização Coolie De meados até fins do século XIX, os imperialistas, por meio de suas indústrias, inseriram
na China, por um lado, produção de ópio em grandes demandas e expropriaram, por outro lado, seda, porcelana e chá. Maximizaram ganhos com a escravização dos trabalhadores asiáticos, aos quais designavam como coolies, isto é, termo depreciativo usado para falar de trabalhos manuais, como as plantações de cana nas Antilhas, de abacaxi no Havaí, e para a construção de estradas de ferro nos Estados Unidos. A objetificação dos chineses era promovida como
medida essencial para a exploração econômica produzida pelos ocidentais e essa forma de racismo portava suas justificativas morais baseadas na ideia de raça superior também, o cartaz abaixo ilustra bem a questão: . Assim, apesar de haver possibilidade de trabalho livre, esse não era o método mais comum, já que na China os trabalhadores davam preferência ao trabalho realizado em seu território, cultura e povo, nas negociações de trabalho, logo, tornava-se comum a
realização de fraude e má-fé por meio de sequestros que obrigavam a deportação em massa dos asiáticos e, assim, a mão de obra em geral se desvalorizava.[16] Os povos deportados se dividiam com predominância entre ingleses e franceses. Havia inclusive os “caçadores de
talentos”, chamados “agentes coloniais”, que se deslocavam para o oriente procurando contratar, por salários melhores, nativos que não se importavam em explorar os próprios irmãos e traficá-los rumo à deportação, tal qual os capitães do mato no Brasil ou os escravos negros das casas nos EUA. O tráfico de pessoas era realizado também por autoridades feudais, com remuneração relativamente alta. Os nativos contratados conheciam bem as regiões onde havia maior concentração de trabalhos manuais e ali
operavam. A seleção estabelecia em regra a procura por quatro trabalhadoras mulheres para cada dez homens, entretanto, as dificuldades com as mulheres eram grandes e, por isso, as promessas falsas e sequestros eram recorrentes. Em meados de 1845, após o fim da primeira guerra do ópio, foi criado um núcleo para emigração em Shantou, onde se realizou a organização de uma rede que transportava chineses de Guangdong, Amoy e Macau para as Américas, principalmente para as minas de prata do Peru e as plantações de açúcar de Cuba e outras ilhas das Índias Ocidentais. A maior parte dos chineses vieram dos sequestros da província de Guangdong.[17]O mesmo processo de certo modo foi realizado com os trabalhadores endividados da Indochina que foram recrutados pela França e enviados a outras colônias francesas. O tráfico e, em geral, o comércio da classe dos cooliesrepresentava um massacre por consistir numa escravidão de fato. Os trabalhadores eram transportados dentro de navios lotados e muitos acabavam morrendo durante as viagens por desnutrição, doenças ou outros tipos de práticas desumanas. Motins também eram frequentes durante os trajetos. O navio Dea del Mar, que partiu de Macau para Callao, no Peru, em 1865, levando 550 trabalhadores chineses a bordo, chegou ao Taiti com 162 deles vivos.[18] Esse movimento que escravizava a população chinesa, apesar de realizar trabalho escravo, era, entre os imperialistas, considerado “trabalho” e denominado de “comércio” porque formalmente era realizado contrato entre brancos negociando a “mercadoria”. Tal “relação mercantil” remetia à ideia de que escravos eram “bens”, prontos a serem herdados legalmente. Embora muitos dos coolies fossem designados como trabalhadores formalmente por haver relações jurídicas, com um contrato de cinco anos, reminiscências da escravidão restavam em suas relações com seus “chefes” e constantemente prevalecia a disparidade entre a norma jurídica e sua eficácia social, algo muito comum nos países semifeudais. Vários pesquisadores desse “mercado” demonstram as situações desumanas: flagelação, abuso sexual e confinamento restritivo constituindo práticas comuns. A esmagadora maioria desses orientais jamais voltaram à liberdade após a servidão nas plantações, conforme indicava-se em seus contratos. Buscando sugar a mão de obra dos orientais em geral, os imperialistas obtinham também mais conhecimento acerca das riquezas da China. Os ocidentais procuravam importar riquezas naturais a fim de fortificar suas indústrias e seus parques fabris e, com isso, ganhavam duas vezes: (1) fortificavam suas condições de empreendimento para o mundo à medida que também impunham à força a comercialização de seus produtos industriais no interior da China, monopolizando estradas de ferro e portos; (2) impuseram também suas oficinas de montagem e manutenção para melhor dominar o espaço chinês. Assim, além de condenarem a China à semicolonialidade, introduziam um tipo de aliança com as classes feudais, a qual permitia à indústria europeia crescer sobre o povo chinês. Os imperialistas exploravam a China através de guerras e cobravam valores absurdos como ressarcimento e consertos de guerra, nos quais lucravam graças aos privilégios alfandegários e comerciais, bem como pela exportação de suas mercadorias e a monopolização dos modernos sistemas de transporte. Levaram à ruína a possibilidade de investimentos do Estado Qing, desmantelaram o artesanato e as manufaturas locais. Paralelamente, induziram as relações comerciais, deram a conhecer seus progressos industriais e tecnológicos, disseminaram as ideias liberais e diversificaram as classes e estratos da sociedade chinesa. O imperialismo na China acabou guardando a dinastia Manchu, deixando os grandes latifundiários com grande base social do sistema dinástico. As classes feudais não eram importantes explicitamente para o comércio, no entanto instrumentalizavam a paz para a dominação imperialista no interior da China. Ainda que o feudalismo oriental tivesse ideias mais progressistas que no ocidente, seu poder de classe aristocrática advinha tanto da propriedade da terra quanto da consanguinidade familiar e mantinha muita força entre o povo devido a sua inserção na burocracia imperial, pois sabiam ler, tinham influência sobre os magistrados locais e, principalmente, educavam seus militares. Toda a classe dominante agrária tinha alguma importância local, mesmo a pequena e média, tanto exploradora como guardiã do campesinato chinês. Como classe exploradora, expropriava os campesinos por meio de cobrança de tributos na utilização da terra, tornavam-se seus únicos credores e monopolizavam o comércio. Mas, como guardiões, mediavam os antagonismos dos camponeses com os bandidos, fiscais monarcas e abutres de ocasião. A classe burguesa existente nessa época se modificou conforme a inserção dos europeus na China. Antes estavam restritos a comercializar internamente com os imperadores. À medida que o imperialismo passou a dominar a China, as classes dominantes passaram a ter diferentes funções e, por isso, diferentes designações: a burguesia imperialista, essencialmente estrangeira, vivia alienada da sociedade chinesa e a considerava empregada; os setores ligados aos interesses estrangeiros constituíam a burguesia compradora e burocrática atuantes nos comércios e na importação e exportação; por fim, as pequena e média burguesias nacionais, setores que lucravam bastante pela modernização trazida pelos estrangeiros, mas não detinham ligações orgânicas com o imperialismo. Os camponeses eram a maior parcela da população, cerca de 80%. Entre eles, havia os camponeses proprietários abastados, médios e pobres. Havia ainda camponeses sem-terra médios e pobres (foreiros, arrendatários, parceiros). Os pobres constituíam a maioria, trabalhando nas terras dos latifundiários, a quem pagavam rendas elevadas (quarta, terça e meia parte da produção). Em geral prestavam, ainda, serviços em dias determinados nas terras dos proprietários, na maior parte das vezes sem receber nenhuma paga. E tinham que pagar tributos ao fisco imperial e aos chefetes locais. O lumpesinato, ou a classe dos marginais, ou a “gente ruim”, sempre esteve presente na sociedade chinesa, como resultado de seu histórico de guerras, urbanização e conflitos sociais. A penetração imperialista na China ampliou essa camada, tão bem retratada pelo célebre escritor Lu Xuri em seu conto “A verdadeira história de Ah Q”. Sua sobrevivência estava ligada a atividades econômicas e sociais periféricas e muitas vezes conflitantes com o sistema predominante, como a prostituição, o tráfico, o contrabando, a mendicância, o roubo e o banditismo de grupo, urbano e rural. Finalmente, a penetração estrangeira na China deu surgimento ao operariado, classe operária, ou proletariado, empregado nas ferrovias e sistemas de comércio e transporte, e em menor escala nas poucas unidades fabris implantadas no país. E ampliou consideravelmente as classes médias urbanas, uma camada intermediária entre a burguesia e a classe operária, constituída pelos empregados graduados das empresas capitalistas estrangeiras e nacionais, pelos funcionários governamentais de escalão inferior e intermediário, pelos setores profissionais liberais e pelos professores. A tríplice dominação da burguesia estrangeira, dos grandes proprietários rurais, ou senhores de guerra, e da burguesia burocrática, articulada pelo Estado Qing, não estava isenta de rivalidades internas e de dificuldades. A expansão do domínio estrangeiro constituía uma constante ameaça à unidade do império, que só não foi desmembrado em razão das disputas entre as potências imperialistas e do temor das rebeliões populares. A associação dos senhores de guerra e da burguesia burocrática a diferentes potências imperialistas também se tornou uma fonte inesgotável de atritos e mesmo guerras internas. E o grau de exploração das camadas subalternas da sociedade chinesa fazia explodir insatisfações e aspirações que deveriam desembocar, mais cedo ou mais tarde, em rebeliões e num processo revolucionário de novo tipo.[19] 1.1.3. Primeira Guerra Sino-japonesa
1.1.4. Reforma dos 100 dias e a Revolta Boxer
1.1.5. Declínio Qing
1.1.6. A Revolução Nacionalista de Xinhai
A) A importância de Sun Yat-sen: de médico a primeiro Presidente da república chinesa
B) A Filosofia nacionalista de Sun Yat-sen[25]
I. O princípio do “Nacionalismo”, literalmente “Populismo” ou “Governo do Povo”.
II. O princípio Mínquán é comumente referido como “Democracia”, literalmente “O Poder do Povo” ou “Governado pelo Povo”.
C) A Primeira frente Unida
1.1.7. A Era dos Senhores em Guerra 1916 a 1928
B) O conflito de Jinan
C) O atentado de Mukden
D) A Longa Marcha
E) O Kuomintang e a república sob Chiang Kai-shek: O anticomunismo acima da nação
F) A Segunda Frente Unida
1.1.8. A Segunda Guerra Mundial: a segunda Guerra Sino-japonesa; a ocupação Japonesa e o Fim da Guerra
2. A Revolução Comunista
2.1. A retomada da Revolução e o fim da guerra civil
2.2. A Proclamação da República Popular (Era Mao Zedong)
2.3. O Marxismo-Leninismo no Pensamento de Mao Zedong
Como a China reagiu a dominação estrangeira?Entre 1900 e 1901, chineses descontentes com a dominação estrangeira organizaram uma série de levantes e atentados. Conhecida como a Guerra dos Boxers, esse evento foi severamente combatido por uma colisão de forças imperialistas japonesas, europeias e norte-americanas.
Como os britânicos conseguiram ultrapassar as barreiras comerciais chinesas?O principal documento que assentou as bases para tal abertura foi o Tratado de Naquim, assinado em 1842, entre a dinastia chinesa de Manchu e o Reino Unido. Esse tratado foi considerado um dos “Tratados desiguais”, que “encurralavam” o império chinês a se abrir para o comércio com potências ocidentais.
Como ocorreu a Dominacao da China?O imperialismo na China foi marcado por batalhas e revoltas contra o domínio Japonês e inglês. O contexto do imperialismo na China acontece na segunda-fase da Revolução Industrial, onde a aceleração da produção significava maiores buscas por matérias primas e mercados consumidores.
Quando teve início a dominação inglesa sobre a China?A Grã-Bretanha tentava entre 1850 e 1864 estender seus direitos na China, contudo, em 1856, funcionários chineses embarcaram em um navio inglês que havia prendido vários tripulantes da China. Em resposta, um navio inglês bombardeou Canton e houve embate entre as tropas dos dois países.
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