No 31 de julho é comemorado o Dia Mundial do Orgasmo, uma data que entrou no calendário em 1999 a partir da iniciativa de um grupo de sex shops britânicas com o objetivo de aumentar suas vendas e incentivar um diálogo aberto sobre sexo, mas acabou ganhando espaço nas rodas de conversas presenciais e virtuais. Show
Historicamente, a palavrinha é pouco conhecida, na prática, pela maioria das mulheres. Sim, em pleno Século 21, algumas mulheres ainda não se permitem ou não conseguem saber o que é o orgasmo e têm dificuldade de atingir o ápice nas relações sexuais. Um estudo do Departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que 55% das brasileiras não têm orgasmos durante o sexo. Pesquisa da instituição Prazerela, de 2018, apresentou números ainda mais graves: 74% das mulheres gozam com a masturbação, mas apenas 36% atingem o ápice do prazer sexual com os(as) parceiros(as). Privadas da sensação proporcionada por esse momento intenso de prazer, elas ainda vivem sob os efeitos da repressão sexual. Mas uma conversa franca e aberta sobre assunto, muitas vezes, está fora de cogitação. Atualmente, apenas 43% das entrevistadas conversam abertamente sobre sexo com seus parceiros, segundo a pesquisa da Prazerela. Essa realidade que, além de atrapalhar a construção de uma relação saudável, contribui para perpetuar estereótipos antigos como obstáculos no caminho do orgasmo feminino. O resultado é que elas se sentem inadequadas e assumem sozinhas as angústias e questões desse universo, quando o caminho deve ser o oposto. Para a psicóloga e sexóloga Elisangela Pereira, muitas mulheres mais velhas, frutos de uma educação repressora, talvez nunca tenham conhecido o orgasmo. Segundo ela, isso ainda é consequência de uma sociedade castradora, principalmente quando se refere à sexualidade feminina. “Eu vejo que o que mais atrapalha as mulheres a terem o orgasmo é a questão da repressão sexual. A gente está em 2020, mas muitas mulheres têm dificuldade de falar sobre sexo, de se entregar na cama”, afirma. De acordo com a especialista, a lógica “falocentrica” prevalece erroneamente quando se trata de sexo, ou seja, a penetração é a principal forma de se ter prazer. Entretanto, de acordo com pesquisas realizadas, a penetração está em quarto lugar no quesito de sexo mais prazeroso, atrás do oral, da estimulação do clitóris pelo parceiro e da masturbação.
Falta de comunicação entre os parceirosDe acordo com Lelah Monteiro, sexóloga e psicanalista, concorda que ainda há muita dificuldade da mulher se permitir e se entregar. “O orgasmo é um percurso e as pessoas precisam render inteiramente o seu corpo, parar de racionalizar tanto. Então, por isso que ainda é tão difícil”, explica. Segundo ela, a relação que a Humanidade tem com o orgasmo feminino se alterou ao longo dos tempos, entretanto, o foco sempre acabava recaindo sobre a necessidade de impedir as mulheres de sentirem prazer. A falta de comunicação entre os parceiros é outro fator que dificulta o prazer. “A mulher precisa buscar informações sobre sua vida sexual, explorar o seu corpo e ter um diálogo franco com o companheiro”, destaca. A sexóloga acredita que, atualmente, as mais jovens têm mais facilidade e liberdade para abordar a questão. Movimentos coletivos em prol da busca pelo prazer e da libertação de preconceitos têm colaborado para mudar um pouco a realidade. Mas na maioria das vezes, a questão é de foro íntimo mesmo.
Leia mais:Atividade física é aliada no desempenho sexual 10 fatores que podem influenciar na libido masculina Saúde sexual: masturbação ganha novo sentido na pandemia Mitos e verdades sobre saúde íntima masculina O orgasmo feminino na históriaRelatos da Grécia Antiga já evidenciavam a necessidade de reprimir as mulheres sexualmente. No caso de adultério por parte da esposa, por exemplo, entendia-se que a mulher havia “excesso de libido” e, por isso, era obrigada a ficar descalça durante o inverno. Uma das explicações para isso é que se acreditava que o frio diminuía o desejo sexual. Alguns séculos a frente, na época dos Vitorianos (1838 – 1901), a influência da Grécia Antiga continuava perceptível. Assim, o médico Pierre Briquet retoma o conceito de “histeria”, originado do termo grego “hysterika“, que significa útero. Para o profissional, a histeria seria uma doença característica das mulheres, na qual os sintomas seriam desejo sexual potencializado e lubrificação vaginal. Dessa forma, a simples excitação feminina era interpretada como uma patologia, uma condição que deveria ser tratada. Vibrador surgiu em 1891, feito a vaporNo Século XX, Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, bebe dessa fonte, elaborando ainda mais o conceito de histeria ao adicionar ocorrências como falta de autocontrole e pânico. Entretanto, ainda no final do Século XIX, era preciso achar um tratamento para a dita doença. É nesse contexto, mais precisamente em 1891, que surge o vibrador. Visto como uma ferramenta médica, o primeiro dispositivo funcionava a vapor e servia para massagear as mulheres em suas regiões íntimas com intuito de curá-las da histeria por meio do orgasmo. Com o passar dos anos, o vibrador parou de ser visto como parte de um tratamento médico e invadiu vitrines de lojas eróticas. A mudança tornou o dispositivo um objetivo privado, mas considerado digno de vergonha por muitas mulheres. Mas os avanços no que se referem à suposta “histeria feminina” quando o assunto é orgasmo demoraram um pouco mais. Somente em 1952 o termo é retirado dos livros de Medicina e há o consenso na Associação Americana de Psiquiatria de que a “doença”, na verdade, se trata da condição natural da excitação feminina. O abandono da noção de “histeria”, entretanto, não foi suficiente para incentivar as mulheres a lidarem com sua sexualidade de maneira mais espontânea. Um direito reservado apenas ao homem: será?Ainda há uma forte repressão sexual às mulheres. Não é raro, por exemplo, presenciar comentários negativos sobre aquelas que falam abertamente acerca do tema, uma vez que isso é entendido como um direito reservado apenas ao homem. O contexto torna mais difícil para uma mulher buscar informações sobre sua vida sexual, explorar seu corpo e ter um diálogo franco com o parceiro. Essa pode ser uma das razões que faz com que a lógica falocêntrica reine quando se trata de sexo, reiterando a crença de que a penetração é a principal forma de se ter prazer. Conforme levantado pela Prazerela, a penetração está em quarto lugar no quesito de sexo mais prazeroso, atrás de sexo oral, estimulação do clítoris pelo parceiro e da masturbação. Isso quer dizer que, muitas vezes, pela falta de diálogo, os homens se concentram no penetrar da vagina, pensando que essa é a melhor forma de levar a mulher ao orgasmo, o que não é verdade. Ansiedade também atrapalha a vida sexual das mulheresMas, além da falta de comunicação entre os parceiros, existe outro fator que atrapalha a vida sexual das mulheres: a ansiedade. Para Elisangela Pereira, a mente das pessoas está ainda mais acelerada, se comparado há alguns anos. Essa agitação pode ser consequência do estresse da rotina, mas também da própria dificuldade de se ter o orgasmo. É uma ansiedade gigante em ‘preciso ter’, que faz com que essa mente fique desfocada e, automaticamente, o corpo também. O que acontece muitas vezes, então, é a formação de um ciclo nocivo, que compromete muito o prazer da mulher. A mente preocupada em finalmente atingir o orgasmo tende a não ficar presente no no aqui e agora – ou seja, na relação em si”, afirma a especialista. Para Elisângela, isso é um problema, já que durante o sexo é de suma importância que a atenção se volte para o que a pessoa está sentindo. “Você tem que estar imerso nessas sensações para conseguir relaxar e, então, conseguir gozar”, completa Elisangela. Portanto, há uma maior dificuldade de se chegar ao orgasmo, o que gera grande frustração. A frustração, por sua vez, pode aumentar ainda mais a ansiedade para atingir o ápice, formando, assim, a espiral do problema. Auxílio da terapia sexualUma orientação para as mulheres com dificuldade de chegarem ao orgasmo é buscarem apoio profissional. Inicialmente, indica-se uma consulta a um ginecologista a fim de averiguar se há algum desequilíbrio orgânico ou fisiológico que pode justificar a dificuldade. Após esse procedimento, o próximo passo é procurar um especialista em sexualidade humana. “Nessas consultas, vamos tentar identificar o porquê dessa questão e realizar um processo de descondicionamento desses pensamentos”, explica a sexóloga. Elisangela afirma que muitas clientes que procuram sua ajuda ainda têm receio de explorarem os próprios corpos. Qualquer experiência relacionada ao manuseio das partes íntimas vem cercada de culpa e até mesmo nojo.
O suporte profissional irá auxiliar na desconstrução dessa ideia, além de influenciar as mulheres a se descobrirem mais, inicialmente sozinhas. Entretanto, também será possível observar melhorias na vida sexual com o parceiro. O tratamento muitas vezes consiste na possibilidade de falar sobre sexo, de uma maneira natural e casual. Além disso, busca-se descobrir formas e técnicas para que a pessoa consiga se concentrar na relação sexual e não se distraia com pensamentos ansiosos durante o ato. Novidades no mercado erótico dão uma ‘mãozinha’O mercado erótico e a comercialização de produtos diversos – de vibradores a plug anal – também têm contribuído para naturalizar o orgasmo feminino, seja pela promoção de uma relação saudável com a própria sexualidade ou por incentivar um diálogo mais aberto sobre sexo. Uma pesquisa realizada por uma universidade canadense comprovou que mulheres que utilizam vibradores tendem a ter relações heterossexuais mais saudáveis do que as que não usam o aparelho. As justificativas para isso, de acordo com o estudo, variam entre maior conhecimento das suas preferências e facilidade em falar sobre o assunto com o parceiro. Por isso, como explica Elisangela, o benefício de brinquedos eróticos não pode vir sem uma maior compreensão da mulher sobre a sua própria sexualidade.
Campanha ‘Liberdade Vem de Dentro’ destaca contraceptivosCampanha de farmacêutica celebra a sexualidade femininaJá está no ar a campanha “Liberdade Vem de Dentro”, criada pela agência CRANE para a gigante farmacêutica Bayer, que lança um movimento de reconhecimento e celebração da liberdade e da sexualidade feminina, suportada pela evolução dos métodos contraceptivos. A campanha, que se estende até dezembro deste ano, tem seu ápice no Dia do Orgasmo, quando acontece uma live no YouTube do GNT que misturará entretenimento e conteúdo para celebrar a liberdade sexual feminina.
A landing page da campanha foi ao ar no início deste mês, juntamente com um episódio do programa “Mude Minha Ideia”, do Quebrando o Tabu, no YouTube da GNT. O público já pode assistir a websérie “Liberdade Vem de Dentro”, com a apresentação da atriz e embaixadora da campanha Déborah Secco, e convidadas especiais, como Marcela McGowan, Karol Conka, Gaby Amarantos, Mariana Xavier e Magá Moura. Com Assessorias |