Revista: Turydes Revista Turismo y DesarrolloDESTINO TURÍSTICO COMO CONSTRUÇÃO COLETIVA: OS ATORES ENVOLVIDOS E SUA NECESSIDADE DE ARTICULAÇÃO Show Autores e infomación del artículoThiago Duarte Pimentel Mariana Pereira Chaves Pimentel Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo: Este ensaio visa explicitar as condições necessárias, embora não suficientes, à produção dos destinos turísticos (DT). Discutimos a organização como condição necessária à emergência de um DT, cuja tarefa essencial é fazer convergir os diferentes atores e fatores necessários à produção. Analisamos quatro hipóteses explicativas acerca da interdependência de fatores necessários a organização do turismo: a produção de externalidades e bens públicos, na economia; a noção de esfera pública inerente ao espaço de betweeness, na sociologia; a esfera pública civil e a seleção de temas/ações “legítimas” de tratamento neste espaço, na ciência política; e a operacionalização dessas entre indivíduos, mas, sobretudo, entre organizações que estruturam a atividade turística, na administração. Evidenciamos diferentes possibilidades de organização de um DT a partir de uma matriz de relações de articulação dos atores/fatores, pautada em diferentes cenários. Concluímos sugerindo o princípio da “organização” como fator inerente à estruturação do DT, além de uma tendência de associação entre o grau de organização e desenvolvimento turístico. Palavras-chave: destino turístico, atores sociais, articulação social, construção coletiva. Abstract: This essay aims to explicit the necessary conditions, though not sufficient, for the production of tourist destinations (TD). We discuss the organization as a necessary condition to the emergence of a DT, that the essential task is to converge the different actors and factors needed for production. We analyzed four explanatory hypotheses about the interdependence of factors needed to tourism organization: the production of externalities and public goods, the economy, the notion of the public sphere inherent space betweeness, sociology, civil public sphere and the selection of subjects/" legitimate " actions treatment in this space , in political science, and the operationalization of these among the individuals, but especially between organizations that structure the tourism activity, in administration. We show different possibilities of organizing a DT from a matrix of relationships articulation of actors/factors, based on different scenarios. We conclude by suggesting the principle of " organization " as a factor inherent in the structure of the DT, and a trend for association between the degree of organization and tourism development. Keywords: tourist destination, social actors, social articulation, collective construction. Para citar este artículo puede uitlizar el siguiente formato: Thiago Duarte Pimentel y Mariana Pereira Chaves Pimentel (2015): Destino turístico como construção coletiva: os atores envolvidos e sua necessidade de articulação, Revista Turydes: Turismo y Desarrollo, n. 18 (junio 2015). En línea: http://www.eumed.net/rev/turydes/18/destino-turistico.html
O turismo é uma atividade que depende de uma multiplicidade de atores, ações e fatores diferentes, não podendo ser produzido por uma única pessoa ou empresa isoladamente. Quando falamos de gestão de destinos turísticos, a primeira imagem que nos vem à mente é quem faz essa gestão; qual o órgão, a entidade pública ou privada responsável por isso. Tradicionalmente, os destinos turísticos tiveram seu planejamento e gestão atrelados ao poder público estatal. Porém, no atual cenário de revisão das competências do Estado que, no Brasil, iniciou-se na década de 1990, essa responsabilidade tem se modificado de uma forma centralizada, focada no controle do Estado, para uma forma descentralizada, com vistas ao exercício de gestão compartilhada entre o poder público estatal, a iniciativa privada, e mais recentemente a sociedade civil organizada. Mas, para seu exercício, essas novas formas de gestão em parceria precisam construir uma estrutura própria de gestão, uma organização específica, para que possa ter a autonomia de reunir esforços, realizar atividades e avaliar seus resultados, enfim, que seja responsável pela gestão do turismo no território. É a partir dessa organização que será possível executar políticas públicas de turismo, realizar o plano de desenvolvimento turístico local, criar ações para a promoção do
destino e a captação de fluxos turísticos, além de se pensar em formas de distribuição dos benefícios auferidos com o turismo para a comunidade. Frequentemente assume-se que o turismo requer a participação e o envolvimento de diferentes atores, cujas lógicas e interesses na maioria das vezes são díspares, mas apesar disso, as discussões, tanto acadêmicas como profissionais, tomam por ponto de partida aquilo que pretendem explicar. Mas que características nos permitem compreender o caráter intrinsecamente coletivo e organizado do destino turístico? Quais as condições necessárias para sua emergência? Como é possível a existência de um destino turístico? Como a realidade tem que ser para que ele seja possível? 2. O Turismo como Atividade Coletiva O turismo não existe apenas porque existem turistas. Tampouco haveria hotéis, restaurantes e agências de viagem se não houvesse um fluxo de pessoas em trânsito, saindo de seus locais de residência e dirigindo-se a outros locais, a fim de satisfazer diversas necessidades e/ou desejos, e depois retornando à sua vida cotidiana. Isto porque seria muito difícil ou improvável haver turismo sem legislação dos governos, estradas, sistemas de comunicação, controle de tráfego de pessoas, bem como da garantia de paz entre os países, por onde transitam as pessoas e onde estão as empresas que prestam serviços turísticos, etc. Igualmente, não é possível pensar no turismo sem a existência de atrativos ou fatores motivadores do deslocamento de pessoas individualmente ou em grupo. Como foi demonstrado por Beni (2001), o turismo é um sistema de atividades e processos relativamente autônomos, mas interdependentes, que são estruturados e organizados, com maior ou menor grau de formalização, pelas organizações (em seus diversos formatos e estatutos jurídicos) específicas do setor (ex.: operadoras e/ou órgãos públicos de gestão) e também, em parte, pelos próprios atores sociais (trabalhadores, residentes e turistas), no sentido de prover um produto, em geral na forma de uma experiência, a ser consumido. Nas práticas socioeconômicas, comumente, as atividades são organizadas em um sistema produtivo de sequenciamento de atividades que transformam as matérias-primas (recursos) em bens acabados (produtos), através da agregação de valor pela atividade de transformação realizada. A este tipo de processo convencionou-se chamar de indústria. Jean-Michel Hoerner e Caterine Sicart, num célebre livro chamado A Ciência do Turismo (La science du tourisme: Précis franco-angais de tourismologie), que foi dedicado a uma revisão crítica das principais
categorias e conceitos utilizados pela OMT (Organização Mundial de Turismo), propõe a necessidade de se considerar as viagens e a indústria do turismo para definir os rumos da Turismologia (a ciência do turismo) como a síntese de uma ciência social multidisciplinar e também uma ciência aplicada. Além disso, este termo é usualmente mobilizado no sentido de se referir à cadeia produtiva do turismo. Este aspecto de totalidade integrada de atividade turística é importante, pois amplia o escopo de análise do fenômeno, ao mesmo tempo em que torna possível a sua aplicação empírica na forma de pesquisas socioeconômicas sobre o fenômeno. Dessas concepções, há duas consequências. A primeira, diz respeito aos resultados da OMT, ao negligenciar turistas locais de centros turísticos próximos às áreas urbanas. A segunda, explica nossa oposição voluntária entre viajantes e turistas do ponto de vista socioeconômico. Enfim, o que nos importa é ressaltar que tanto a noção de indústria turística ou atividade turística, que acontece na realidade como sistema turístico, como um esquema de compreensão e representação abstrata dessa realidade, apontam-nos para duas características:
Estas relações devem, ao contrário, ser minimamente deliberadas e programadas, a fim de se assegurar sua repetitividade, permanência e previsibilidade, podendo assim, de um lado, serem
oferecidas pelas empresas do setor como um produto a espera de um cliente-turista e, de outro, por parte do turista, terem sua existência reconhecida e serem consumidas, ou desfrutadas, como produto.
O fato de o turismo ser uma atividade resultante da interação de várias ações parciais de empresas, órgãos governamentais e da sociedade civil pode ser explicado a partir de diferentes pontos de vista: a) econômico; b) sociológico; c)
político; d) administrativo. 3.1 A visão da economia: o DT e a dependência dos bens públicos e das externalidades Segundo Pindyck e Rubinfeld (1994) os bens públicos possuem duas características: não são disputáveis e não são exclusivos. Não ser disputável significa que uma vez que um bem é produzido, ele pode ser consumido ou usado por uma ou inúmeras pessoas. Dito na linguagem econômica, o custo marginal, para fornecê-lo a um consumidor adicional é zero. Por exemplo, uma
vez criado um canal de rede de televisão pública, o seu custo é o mesmo independente se cem ou um milhão de pessoas assistirem-no. Já a não exclusividade significa que é muito difícil, dispendioso, senão impossível impedir que várias pessoas utilizem este bem, alternada ou simultaneamente. Assim, quando um turista chega a uma cidade turística, já existe um conjunto de bens, infraestrutura e recursos públicos, de livre acesso e uso a todos os moradores, e que poderão ser igualmente utilizados pelos turistas. Esses bens públicos não ficam restritos à infraestrutura, mas também envolvem, sobretudo, os próprios atrativos, que em sua maioria são elementos de grande expressão, dificilmente produzidos e/ou controlados por uma única pessoa ou organização – como o carnaval, a cultura, a paisagem de um local – na verdade, trata-se de bens gerados, em sua maioria, na forma de externalidades decorrentes de diferentes ações de vários indivíduos, interligados (tanto as ações quanto os indivíduos) espaço-temporalmente. 3.2 Uma visão da Sociologia: o turismo e a dependência da esfera pública Originalmente, a ideia de “coisa pública” ou do que é público é creditada aos filósofos da Grécia Antiga, onde Platão destaca-se como um dos pioneiros a registrar suas ideias sobre o assunto. Habermas (2003), ao tratar historicamente da mudança estrutural da esfera pública desde a polis grega até a sociedade moderna, analisa também historicamente as categorias “público”, “privado” e “esfera pública” e considera que são chamados “públicos” certos eventos acessíveis a qualquer um, o mesmo ocorre ao referir-se a locais públicos. Quando se trata de “prédios públicos”, o sentido não é de acesso livre, mas que tais prédios abrigam instituições do Estado e como tais, são públicos, pois fazem referência à coletividade, à provisão de bens públicos, de bens comuns a todos os cidadãos. Ainda este autor chama a atenção para o emprego mais frequente da categoria “público” como se referindo a uma opinião pública, ou seja, uma esfera pública informada que começa a surgir no século XVIII com os clubes de leitura, cafés e espaços para a troca de opinião entre os burgueses e a aristocracia (pessoas livres da época). (Pimentel & Pimentel, 2010: 2-3). A principal característica da esfera pública é que ela é um espaço social, marcado pela característica de liberdade de expressão e igualdade entre seus membros. O adjetivo “público” diz respeito ao caráter coletivo, isto é, de acesso ao domínio de mais de uma pessoa; enquanto que o substantivo “esfera” denota um espaço não físico, mas social, marcado pela circularidade que confere a ideia de
igualdade entre os membros, em que todos estão equidistantes do centro. Importa ressaltar que neste espaço de relações sociais há necessariamente o envolvimento de diferentes atores. Através de sua interação é que se produzem resultados que afetam os atores envolvidos. Porém, ao contrário da economia onde uma ação individual ou isolada pode afetar a coletividade – por exemplo, uma empresa despejar resíduos num rio, externalizando seus custos de
produção –, na esfera pública é necessária a interação dos atores, sendo, portanto, imprescindível a comunicação e as bases para a ação individual ou de grupo coletivamente amparada. 3.3 A visão da ciência política: o turismo como um assunto público A Ciência Política dirige sua atenção para o estudo da política3 , isto é, do “conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado” (Weber,
2006:56). (1) definição da agenda, quando se decide se um tema deve ser inserido na pauta política ou excluído ou adiado para uma data posterior; A ciência política interessa-se em identificar e investigar os atores que irão participar do processo de definição dos assuntos de interesse público e que, portanto, devem interessar à coletividade. Caso um assunto seja definido como de caráter público e adquira o status de ser tratado como uma
questão pública, os diferentes atores passarão a enveredar esforços e recursos no sentido de tratar as questões relativas ao assunto. Kingdon (1998) dedica-se a investigar o que faz com que um tema adquira relevância política e alcance a agenda pública. Ele descobre que as agendas são mais afetadas por fluxos de problemas, em função da emergência de um novo problema, que captura a atenção do governo; ou por fluxos políticos, devido a uma mudança de gestão, de partido, de ideologia etc. Uma mudança nos fluxos políticos parece explicar a ascensão do turismo à agenda pública brasileira na última década. 3.4 A visão da administração: o turismo como uma cadeia produtiva e as inter-relações organizacionais Já no campo da administração, o foco central reside nos aspectos organizacionais necessários para que a produção da atividade turística possa existir, ou seja, o conjunto dos recursos e a forma como eles estão dispostos para a produção do produto final, o turismo. A explicação para o fato do turismo não poder existir como uma atividade isolada reside no fato de que nenhuma empresa sozinha conseguiria produzir e ofertar todos os produtos ou serviços necessários à satisfação das necessidades e desejos dos turistas. Nesta concepção, o turismo seria o resultado de uma série de ações parciais, produzidas por diferentes organizações. Porém, estas ações parciais não podem ocorrer aleatoriamente. Se não houver uma integração mínima entre algumas empresas do setor, a atividade turística não pode ser realizada. Por exemplo, em um destino turístico em que existem empresas de transporte, mas inexistem empresas prestadoras de serviços de alimentação ou hospedagem, a atividade turística ficaria seriamente comprometida, podendo até mesmo ser questionada a natureza da atividade (se seria turismo ou excursionismo). Assim, tais ações precisam ocorrer com determinado ordenamento e articulação, a fim de prover o produto turístico. Diferente da economia, onde o foco reside no equilíbrio da oferta e consumo, a lógica da administração foca os aspectos organizacionais internos à produção de cada empresa ou os aspectos organizacionais internos à produção do
destino turístico. No primeiro caso, a empresa compra seus insumos no mercado e fabrica o produto do jeito que lhe apraz. No segundo caso, o da produção na escala do destino turístico, cada empresa passa a ser vista como um subsistema (ou “um departamento”) de um sistema (uma “organização maior”), o destino turístico, que deve organizar os esforços e recursos dessas empresas individuais para prover a produção de um produto turístico final, o próprio destino. Em geral, os elementos indispensáveis são o transporte, os meios de hospedagem, os meios de alimentação e os atrativos. Estes quatro elementos precisam de alguma forma, seja pelo próprio turista, seja por uma empresa especializada, estar articulados a fim de assegurar a execução da atividade turística. 4. Análise do Campo Turístico Em geral, a atividade turística é composta por atores sociais individuais (turistas, moradores, guias etc.), coletivos privados (empresas de transporte, as agências, os hotéis, os restaurantes etc.) e públicos (instâncias de governança, prefeituras, agências locais de regulação, regionais, estaduais e federais etc.) que atuam em campos sociais diferentes e que ao fazerem isso, num espaço social específico, formarão o campo 6 turístico. Assim, o campo turístico, do ponto de vista da oferta de bens turísticos dos destinos, está estruturado pelos atores agrupados nos setores público, privado e da sociedade civil. Em geral, tais atores buscam atrair turistas para o destino, sendo este elemento (os turistas) o principal objeto de disputa e interesse. Todas as empresas, a cidade e os
órgãos públicos desejam a atração de turistas, pois identificam diferentes benefícios decorrentes disso, sejam econômicos (aumento do fluxo financeiro no destino), sejam sociais (possibilidade de se acessar novos relacionamentos, estabelecer contatos e gerar oportunidades), sejam culturais (aumento do status da cidade, pela demonstração de sua relevância, já que consegue obter visibilidade e anuência de relevância pelas pessoas de fora). 5. À guisa de Conclusão Resgatando o objetivo deste ensaio teórico que foi o de discutir e explicitar a questão da organização e estruturação das relações
como uma condição necessária, embora não suficiente, a produção dos destinos turísticos (DT), pode-se constatar, justificadamente através de quatro grandes tradições teóricas, que o turismo é uma atividade que depende de diferentes atores para o seu acontecimento. Assim, do ponto de vista da oferta do destino turístico, torna-se necessária a existência de várias empresas e organizações articuladas, para se ofertar um produto em um destino turístico. Batalha, M. O. (2001). “Gestão agroindustrial.” (2ª ed.). São Paulo: Atlas Press. Dye, T. (2009). “Understanding public policy.” (13ª ed.). New York: Longman Press. Escalona, F. M. (2010). “Una Función Ignorada: la de producción de turismo” (Segundo Memorial de Agravios). Revista Turismo y desenvolvimento (TURyDES), vol.3, n. 7, p.1-24. Hirschman, A. O. (1970). “Exit, Voice, and Loyalty: Responses to Decline in Firms, Organizations, and States.” Cambridge, MA: Harvard University Press. Kingdon, J. (1998). “Agendas, Alternatives, and Public Policies.” Boston: Little, Brown Press. Simon, H. (1965) “Comportamento administrativo.” Rio de Janeiro: FGV. Weber, M. (2006). “Ciência e Política: duas vocações.” (Collection major book from of each author, full text). São Paulo: Martin Claret Press. 1 O realismo crítico (RC) é um movimento na filosofia e nas ciências humanas de caráter interdisciplinar e internacional, cuja formulação inicial e estabelecimento de suas principais teses se devem aos trabalhos de Roy Bhaskar e seu esforço de introduzir, ainda no início dos anos 1970, reflexões sólidas e solidamente argumentadas sobre a questão ontológica, tanto no domínio da filosofia quanto – na sua posterior transposição para o – das ciências humanas (Vandenberghe, 2010). Segundo Vandenberghe (2010: 213) o realismo crítico considera “[...] o mundo como um conjunto de estruturas e mecanismos gerativos reais, transfactuais e causalmente eficazes, estruturas e mecanismos dotados de poder causal. [...] Em virtude de sua estrutura intrínseca, as coisas possuem poderes causais. Quando o poder causal da coisa é atualizado, ele pode entrar em ação e funcionar como um mecanismo gerativo que produz certos efeitos empiricamente observáveis no mundo da vida. No mundo social, sistemas sociais, coletividades e indivíduos possuem propriedades causais emergentes. 2 Mesmo coniderando a liberdade e intencionalidade do ator individual na determinação do seu curso de ação, como demonstrou Simon (1965), sua escolha é pautada pelos condicionantes de sua acionalidade limitada, dentre os quais, o conhecimento do ambiente (no caso de destino) e suas instalaçãoes físicas e equipamentos de suporte cumprem um papel determinante, já que o turista – por qualquer definição que se queira adotar – não pode carregar consigo todos os elementos de que necessita para usufruir do espaço visitado. Deste modo, então, mesmo a concepção de orientação individualista, frequentemente psciológica e/ou economicista, pressupoe algum agrau de integração em relação a outros atores e organizações, o que denota (e este é o argumento que se quer destacar) o caráter estrutrado e organizado do fenômeno em questão como uma condição necessária para a sua existência. 3 A política surge na Grécia quando o discurso deixa de ser profético e filosófico e assume a condição de “meio de confronto das diversas opiniões discordantes, tendo em vista a obtenção de um consenso em torno do que deve ou não ser feito” (Azambuja, 2008: 14). O Estado, por sua vez, “é um órgão habilitado a empregar o poder e a coerção, e dirigido por peritos e especialistas da ordem e do bem-estar do povo – um instrumento a serviço do homem” (Maritain apud Azambuja, 2008: 49). Para atingir seus objetivos, os Estados ou seus governos estabelecem e impõem normas e regras que orientam sua ação e disciplinam as atividades dos indivíduos e grupos que o compõem. 4 O valor agregado é a percepção que o cliente (consumidor) tem de um bem (produto ou serviço) que atenda a seu conjunto de necessidades, considerando a relação custo/benefício em comparação com um bem disponível na concorrência. É atributo de qualidade (não tangível) somado, adicionado, enfim agregado a um bem (produto ou serviço), um diferencial que na percepção do cliente justifica sua escolha entre demais bens substitutos, ofertados no mercado. 5 Segundo Crozier e Friedberg (1995), da ação de vários atores, colocados numa situação de interação interdependência é que emerge a ação coletiva, organizada. Sua organização significa que a ação coletiva emergente assumiu uma determinada forma, uma direção, um padrão. Este é dado pela coalização dominante. Devido ao caráter de interdependência, todos os atores se posicionam de uma determinada maneira, a fim de perseguirem seus interesses próprios, - embora, cada um possa ter um interesse distinto – pois todos eles são minimamente interessados na solução do ‘problema’. Para resolvê-lo é preciso aceitar os constrangimentos externos e “jogar” com as suas fichas (possibilidades) juntamente com os demais indivíduos participantes daquele sistema. É nesse sentido que se destaca aqui a concepção de jogo. 6 Tomamos aqui emprestada a noção de campo de Bourdieu. A metáfora do campo é invocada no sentido de uma arena social dentro da qual lutas e manobras sobre o aceso a recursos específicos (Jenkins, 2006[1992]). Ela refere-se a um campo de forças – assim como na física – dado por uma estrutura, pré-existente, que constrange – devido a existência limitada de recursos e do próprio espaço (físico e social) onde se situam – os agentes envolvidos, levando-os necessariamente a engajarem-se em lutas sociais, conforme suas posições relativas no campo, com vistas a ter ou aumentar o seu acesso aos recursos (ou capitais) existentes no campo, que culminará com a conservação ou transformação de sua estrutura inicial (Bourdieu, 1996, p.50). Para uma fundamentação da compatibilidade das relações entre jogo, em Crozier e Frieberg; de campo, em Bourdieu; e de sistemas de ação coletiva (sistemas adaptativos complexos), de Buckley; amarradas por uma orientação da filosofia da ciência do realismo crítico, cf. Pimentel (2012). Recibido: 11/03/2015 Aceptado: 22/04/2015 Publicado: Junio de 2015 Nota Importante a Leer:
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