Por que a região Nordeste se destacou na produção de cana de açúcar?

Home Notícias Cana tolerante à seca: mais produção e rendimento para o nordeste

30/04/2020

Por que a região Nordeste se destacou na produção de cana de açúcar?

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A Usina Coruripe está colhendo a maior safra de sua história, algo em torno de 3.4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Com sede em Alagoas e 4 usinas no estado de Minas Gerais, os canaviais da Coruripe se estendem por mais de 54 mil hectares, entre áreas próprias, arrendadas e de fornecedores.

Mesmo trabalhando em regiões sujeitas a longos períodos de estiagem, como a zona da mata alagoana e o triângulo mineiro, a empresa consegue excelentes resultados tanto em produtividade no campo quanto no rendimento industrial: média anual de 85 milhões de litros de álcool e 295 mil toneladas de açúcar.

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Entre as técnicas utilizadas para driblar o clima, estão a irrigação dos canaviais e o plantio de variedades de cana tolerantes à seca. “Dos 31 mil ha de cana própria 83%, cerca de 26 mil ha, são irrigados e apenas 17% são de terras não irrigadas.

A maioria das variedades cultivadas nas áreas da Coruripe em Alagoas é tolerante à seca, independente, de serem plantadas em áreas de sequeiro ou irrigadas.  Porque o ambiente é muito seco e com períodos de estiagem cada vez mais frequentes e longos”, conta Pedro Carnaúba, agrônomo e gerente Agrícola da Matriz da Coruripe.

Carnaúba explica que as variedades tolerantes têm produtividade aceitável, tempo ideal de processamento longo e conferem boa longevidade aos canaviais. “O que valorizamos são variedades tolerantes à seca que também respondam positivamente à irrigação, apresentem alto teor de sacarose no momento da colheita, além de uma eficiente rebrota de socaria. Outra característica que valorizamos é a adaptabilidade à colheita mecânica como porte ereto, alta produtividade, perfilhos numerosos, resistência ao pisoteio e alto teor de sacarose”, ressalta o agrônomo.

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Reforço para a sustentabilidade

Algumas variedades tolerantes à seca também se adaptam muito bem aos cultivos irrigados.  Segundo Pedro Carnaúba, a usina testou diversos materiais em sistemas de irrigação por gotejo, que atendem a demanda de água das plantas de forma mais racional.  “A variedade RB 92-579 se destacou. Chega a produzir 20 toneladas de cana a mais por hectare com rendimento excelente na indústria: um acréscimo de 2 toneladas de açúcar”, afirma.

Além disso, esta cana responde bem ao uso de maturadores, produtos que aumentam o teor de açúcar e permitem que a planta alcance o ponto ideal de corte mais rapidamente. Assim, escalonando o plantio, é possível distribuir a produção ao longo de vários meses, facilitando o manejo e a colheita. ‘Por isso, a RB 92-579 hoje ocupa cerca de 40% dos canaviais próprios da empresa e mais de 80% das áreas de fornecedores”, conta Carnaúba. “Em geral, variedades tolerantes à seca são mais eficientes em uso de água e, portanto, produzem mais consumindo menos. E isso traz sustentabilidade ao negócio”, completa.

Sustentabilidade, aliás, é uma preocupação constante da empresa. A Coruripe foi uma das primeiras indústrias brasileiras a vender créditos de carbono no mercado internacional justamente pela adoção de técnicas que aliam produção e sustentabilidade.

O Ciclo do Açúcar foi uma das principais bases econômicas, sociais e culturais no Brasil Colonial, entre meados dos séculos XVI e XVIII. Sua implementação ocorreu por meio da importação pelos portugueses do sistema de sesmarias, responsável pela distribuição de terras para produção agrícola na, então, colônia portuguesa. Esse processo foi fundamental para a ocupação territorial, que, aos poucos, formou boa parte do que hoje representa a geografia atual do Brasil.

Nesse período, formaram-se os engenhos, que eram as unidades produtivas responsáveis pela moenda da cana-de-açúcar, além de concentrar o exercício de outras atividades importantes para o período, como a produção da cachaça brasileira, por intermédio dos alambiques, entre outras coisas.

Por que a região Nordeste se destacou na produção de cana de açúcar?
Engenho de Pernambuco, por Frans Post. Os engenhos eram as unidades produtivas responsáveis por todo o processo de fabricação do açúcar brasileiro.

Contexto histórico do ciclo do açúcar

O açúcar comum é resultado de um processo de transformação que foi desenvolvido por volta do século VI a.C. a partir da cana-de-açúcar. As Cruzadas foram responsáveis pelo acesso dos povos europeus a essa iguaria, que passou a ser muito apreciada. Por volta do século XII, a então República de Veneza passou a dominar seu processo de produção e abastecer a Europa.

O que podemos chamar de revolução do mercado açucareiro só ocorreu a partir das expansões marítimas europeias por meio, sobretudo, do Oceano Atlântico, no contexto do mercantilismo. Pequenas ilhas passaram a comportar estruturas de produção açucareiras.

Portugal passou a desenvolver a produção de açúcar em maior escala a partir de meados do século XV, nos territórios da Ilha da Madeira, Açores e Cabo Verde. Portanto, antes dessa produção chegar às colônias nas Américas, por volta do século XVI, os portugueses já dominavam as técnicas de produção do açúcar, inclusive com a implementação da mão de obra escrava.

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Após o estabelecimento dos portugueses, em 1500, na terra em que seria chamada de Brasil, a produção do açúcar não foi implementada a princípio. Até 1530, consolidou-se o que ficou conhecido como Ciclo do Pau-Brasil, no qual a madeira que  concede o nome ao ciclo era o principal produto comercializado entre a colônia e a metrópole.

Foi somente a partir da expedição colonizadora designada pelo Império Português a Martim Afonso de Sousa, entre 1530 e 1532, que a produção do açúcar passou a se desenvolver no Brasil, tornando-se, depois, a base da economia colonial até o século XVIII e caracterizando o que ficou conhecido como Ciclo do Açúcar.

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Por que foram instalados os engenhos?

Com a expansão marítima e a descoberta de novos territórios nas Américas pelos espanhóis e portugueses, outras nações, como França, Holanda e Inglaterra, despertaram o interesse em promover suas próprias conquistas e participarem ativamente de todo o comércio decorrente disso. Essa nova configuração ditou o desenvolvimento econômico e político dos principais países europeus entre os séculos XV e XVIII, dentro do contexto do que ficou conhecido como mercantilismo, o conjunto de práticas econômicas adotado pelas nações europeias entre o século XV e o século XVIII.

Nesse sentido, Portugal começou a sentir seu império ultramarino ameaçado, sobretudo pela França e pela Holanda, que, entre os séculos XVI e XVII, chegaram a invadir as terras brasileiras e estabelecerem, mesmo que momentaneamente, projetos de colonização.

Para conter essas ameaças, por volta de 1530, a Coroa portuguesa decidiu enviar uma campanha oficial para o Brasil com o objetivo principal de mapear e demarcar o seu território e estabelecer uma administração colonial. O território, nesse momento, não possuía a mesma extensão territorial dos dias de hoje, mas, mesmo assim, representava sérios desafios administrativos para a metrópole, sobretudo no que dizia respeito à sua defesa.

Em 1532, Martim Afonso de Sousa desembarcou no Brasil e, em 1534, houve a tentativa de implementar um sistema que já existia na pequena Ilha da Madeira: as capitanias hereditárias. Martim Afonso, que se tornou donatário da Capitania de São Vicente (atual São Paulo), iniciou em suas terras o cultivo da cana-de-açúcar, por meio de mudas que teria trazido em viagem, e implementou um dos primeiros engenhos de açúcar do período colonial, sendo uma das principais referências na difusão desse sistema agroindustrial.

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Martim Afonso de Sousa foi um dos principais nomes da administração colonial portuguesa.

O primeiro engenho de que se tem registro em terras brasileiras é datado de 1516, no litoral da Província de Pernambuco, pelo administrador colonial Pepo Capico. Porém, foi a partir da década de 1530 que o engenho foi implementado de fato na colônia, sobretudo em São Vicente e Pernambuco, como forma de sistematização de um processo de produção açucareira de caráter extensivo e também de povoamento das regiões recém-descobertas.

A partir de então, a produção de açúcar passou a desempenhar um papel fundamental sob diversos aspectos de todo o sistema colonial português. Além do seu impacto na alimentação, na colônia e também no mundo, sua produção em grande escala permitiu maiores acessos ao produto. Todo o seu sistema de produção acabou formando também as bases sociais de todo o período e possui heranças até os dias de hoje. Os engenhos foram, portanto, o principal modelo de unidade produtiva de uma das bases econômicas do Brasil Colonial.

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Como funcionavam os engenhos?

Sob a lógica do mercantilismo, Portugal estabelecia uma série de normas e regras às suas colônias com o objetivo de manter uma exclusividade comercial tanto na compra de matérias-primas a preços baratos quanto na venda de produtos manufaturados a preços mais elevados. Esse conjunto de regras e normas ficou conhecido como Pacto Colonial.

Os engenhos eram unidades produtivas que estruturaram boa parte da sociedade colonial. Eram instalados em latifúndios, concedidos a donatários pelo Império Português por meio sistema de sesmarias. Amão de obra utilizada era predominantemente escravagista.

Em um primeiro momento, entre o século XVI e o início do XVII, os indígenas foram utilizados como mão de obra escrava. Contudo, uma série de problemas começou a se colocar frente à escravização indígena. Os primeiros contatos com diferentes povos nativos e complicações como epidemias e choques culturais dificultavam o apresamento desses povos. Ao mesmo tempo, os jesuítas, que chegaram em missão à colônia brasileira em meados do século XVI, passaram a se opor à utilização dos índios para trabalhos forçados.

Diante dessas dificuldades, o tráfico negreiro possibilitou a substituição da mão de obra indígena pelos africanos escravizados. A escravidão africana, os latifúndios e a monocultura de exportação passaram a ser as bases do sistema que ficou conhecido como plantation. Esse quadro é fundamental para entendermos o funcionamento do engenho e como essa dinâmica atingiu diretamente a estrutura social que se formava na colônia.

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Milhões de africanos foram enviados para o continente americano para serem escravizados.

Existiam, basicamente, dois tipos de engenho, entendidos aqui não apenas como um instrumento de moenda da cana-de-açúcar, mas como uma unidade produtiva: os engenhos reais, movidos a água; e os trapiches, movidos por tração animal. Eram compostos pela casa-grande, onde morava o dono da grande propriedade, conhecido como senhor de engenho, e sua família; a senzala, onde ficavam os escravizados; a casa de engenho, onde era feita a moagem; a capela, onde as atividades religiosas eram exercidas; e a propriedade agrícola, onde estavam os canaviais, pastagens e terras dedicadas ao cultivo de alimentos.

Nos engenhos eram produzidas também destilarias para a fabricação da cachaça brasileira, que era utilizada, inclusive, como escambo entre os escravizados. As terras para cultivo eram divididas também entre as que o próprio dono das terras explorava e as chamadas fazendas obrigadas, em que o proprietário da terra cedia o cultivo a um outro lavrador, que, em troca, pagava uma espécie de aluguel pela terra mais metade da sua produção de açúcar. Existiam também os lavradores livres, que cultivavam em suas próprias terras, porém, por não possuírem o engenho propriamente dito, moíam a cana em outro lugar, deixando a metade de sua produção com o dono.

Leia também: Diferenças entre escravidão indígena e escravidão africana

Crise do ciclo do açúcar

Desde o século V, os holandeses desempenhavam um importante papel no refino do açúcar e distribuição para países europeus. Boa parte dos rendimentos obtidos com o comércio do açúcar ficava com os holandeses, por serem eles os responsáveis por esse processo de comercialização. Há indícios, inclusive, de que houve investimentos holandeses para a instalação de engenhos no Brasil Colônia. Havia, portanto, uma colaboração entre portugueses e holandeses no comércio açucareiro.

Contudo, em 1580, o rei de Portugal, D. Sebastião, desapareceu durante uma batalha contra os mouros no Norte da África, criando uma profunda crise política, que resultou na Guerra de Sucessão Portuguesa (1580-1583) e também na União Ibérica, na qual os reinos de Portugal e Espanha foram unificados com Felipe II como monarca.

Embora Portugal mantivesse uma relação comercial estável com os holandeses, essa relação não se sustentava com os espanhóis. A crise diplomática agravou-se ainda mais após o rei Felipe II tentar acabar com a participação dos holandeses na economia açucareira do Brasil. Como retaliação, os holandeses decidiram invadir a colônia portuguesa, dando início às incursões que ficaram conhecidas como Invasões Holandesas.

Em 1637, os holandeses conseguiram estabelecer-se na Capitania de Pernambuco, controlando a produção de açúcar na região. Entre 1645 e 1654, com a Insurreição Pernambucana, os portugueses retomaram o território, expulsando os holandeses das terras brasileiras.

Assim, os holandeses dirigiram-se para o Caribe, com o objetivo de instalar as técnicas de produção de açúcar na região e diminuir a dependência em relação ao açúcar brasileiro. Em seguida, durante o século XVII, os franceses e os ingleses reproduziram a iniciativa holandesa no Caribe, fazendo com que o açúcar brasileiro perdesse significativamente a sua competitividade.

Diante das dificuldades que a economia açucareira passou a sofrer no Brasil,  outro acontecimento acabou por minimizar a importância do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil: a descoberta do ouro, no final do século XVII. Dada a importância do metal como reserva de valor, sobretudo no mercantilismo, a produção do açúcar, longe de acabar, deixou de ter a importância de outrora, dando início, portanto, ao Ciclo do Ouro.

Por que a região Nordeste se destacou na produção de açúcar?

O cultivo da cana-de-açúcar se deu por várias razões favoráveis. O solo do litoral brasileiro é formado por uma composição denominada “massapê”. Esse tipo de solo é mais propício para o cultivo da cana de açúcar. O clima do Brasil também favorecia a planta, permitindo que se desenvolvesse o cultivo em larga escala.

Que fatores contribuíram para o sucesso da produção de cana

A produção de açúcar iniciada no Nordeste do Brasil contava com a existência de um mercado consumidor já desenvolvido e com a experiência dos portugueses nesse ramo de negócio. Além das condições climáticas, estes foram os principais fatores que contribuíram para o sucesso do empreendimento.

Porque o Nordeste foi escolhido para ser o local central da produção de açúcar brasileiro?

clima e solo favoráveis no Brasil - solo massapê e clima quente e úmido quase que o ano todo; domínio das técnicas; alta lucratividades - o açúcar era considerado uma especiaria fina na Europa e, por isso, altamente lucrativa.

Por que Pernambuco se destacou como grande produtor de açúcar?

Localizadas nas costas litorâneas do território, fizeram com que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador de açúcar da época. Pernambuco era a capitania mais rica, tinha as maiores fazendas e era a mais poderosa. Desse estado saiu a maior produção de açúcar do mundo.