Por que remover uma restrição ao comércio tal como uma tarifa poderia levar a um crescimento econômico mais rápido?

CAP�TULO 2

EXPERI�NCIAS INTERNACIONAIS DE ABERTURA E INSER��O EXTERNA

Entre o discurso que defende a estrat�gia de abertura e a pr�tica efetiva das principais economias n�o se pode fazer uma deriva��o direta. Ao contr�rio, as principais economias do mundo n�o apresentam conformidade direta entre discurso e pr�tica. � justamente dessa incongru�ncia que trata a primeira parte deste cap�tulo.�

Em seguida, na segunda e terceira partes, respectivamente, s�o analisadas a experi�ncia de inser��o internacional dos pa�ses asi�ticos, nas duas �ltimas d�cadas, e os principais experimentos neoliberais na Am�rica Latina nos anos 70 e 90. Procura-se, em primeiro lugar, diferenciar a inser��o externa ativa dos pa�ses asi�ticos da inser��o passiva que caracteriza as experi�ncias na Am�rica Latina desde os anos 70 e, em segundo lugar, comprovar o pioneirismo desta �ltima regi�o na implementa��o das pol�ticas neoliberais.

2.1-ABERTURA EXTERNA E REFORMAS DE MERCADO NOS PA�SES CENTRAIS: DISCURSO E PR�TICA

����������� As reformas de mercado passaram a ter afirma��o ideol�gica concreta a partir dos governos de Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA, na virada da d�cada de 70 para a de 80. Entretanto, no que se refere � desregulamenta��o financeira do sistema americano, este processo teve in�cio no final dos anos 60.

����������� A constru��o da estrutura institucional do sistema financeiro americano, no in�cio dos anos 30, se deu como uma rea��o � grande crise que se estabelecera nos mercados financeiros �quela �poca[1]. A regula��o do sistema financeiro se d� com base no Glass-Steagall Act (1933) e no Securities Exchange Act (1934) e tem como princ�pios fundantes dessa estrutura��o as restri��es � competi��o entre institui��es financeiras e a prote��o estatal, incluindo um sistema de seguro de dep�sitos, e mecanismos de supervis�o. A restri��o � concorr�ncia entre as institui��es, tanto em seus ativos como em seus passivos, criou uma estrutura segmentada para o sistema. Al�m disso, cresceu o papel da autoridade monet�ria na regulamenta��o e supervis�o das institui��es financeiras. �Esse arcabou�o institucional, montado nos anos 30, operou de forma not�vel no imediato p�s-guerra ... a liquidez das institui��es financeiras, o baixo n�vel do endividamento privado e o seguro de dep�sito mantiveram as taxas de juros em n�veis baixos e est�veis. Nesse contexto, as incertezas sobre os custos de capta��o das institui��es de dep�sito foram reduzidas, e facilitou-se a expans�o dos empr�stimos a taxas de juros fixas� (Cintra, 1998: 181).

����������� Entretanto, em meados dos anos 60, o crescimento da infla��o e dos juros, associado aos mecanismos de restri��es � concorr�ncia, provocou uma limita��o na capacidade adaptativa dos bancos e, consequentemente, uma instabilidade no sistema. O pr�prio mercado se encarregou de criar (inovar em) algumas formas de escape ao marco regulat�rio existente. O estabelecimento de tetos nas taxas de juros, por exemplo, desencadeou a desintermedia��o financeira na medida em que os bancos tiveram seus recursos transferidos para os mercados monet�rios. Outro exemplo importante diz respeito � cria��o de certificados de dep�sitos negoci�veis no euromercado. Com isto, os clientes da matriz americana contornaram as restri��es do mercado dom�stico, uma vez que as alternativas de aplica��es oferecidas pelas filiais no exterior eram muito maiores.

����������� A capacidade inovativa das institui��es, com a cria��o de novos produtos financeiros, a volatilidade das taxas de juros americanas, a crise do endividamento, que reduziu a lucratividade do setor banc�rio, e o desenvolvimento tecnol�gico que permite acesso mais r�pido e barato � informa��o, s�o normalmente apontados como as raz�es do processo de desregulamenta��o do sistema financeiro americano[2]. Esse processo provocou altera��es profundas no sistema[3], de forma que foi dilu�da a especializa��o das institui��es por tipo de servi�o (segmenta��o), a din�mica dos mercados passou a ser ditada pelo processo de securitiza��o e pelos mecanismos de transfer�ncia de risco, estabeleceu-se uma extrema flexibilidade nos prazos e nas taxas de remunera��o, e �ap�s 1982, modificou-se o papel dos bancos e aumentou-se a import�ncia dos intermedi�rios financeiros n�o-banc�rios nos processos de gest�o da riqueza, de cria��o de cr�dito, e de monitoramento dos meios de pagamento na economia americana� (Cintra, 1998: 188).

����������� A liberaliza��o financeira externa que, no caso americano, impulsionou a internacionaliza��o do mercado financeiro mundial, foi estimulada por excedentes em d�lares gerados pelo d�ficit do balan�o de pagamentos americano, em espec�fico, nas transa��es correntes. A forma��o do euromercado, nos anos 60, al�m das restri��es impostas na conta de capital pelo governo dos EUA, j� havia sido impulsionada pelos desequil�brios externos americanos. Agora, al�m do d�ficit externo, o crescimento da d�vida p�blica e da necessidade de seu financiamento desencadearam a liberaliza��o financeira e sua internacionaliza��o. O crescimento da d�vida p�blica, que se d� muito por conta do grande diferencial entre as taxas de juros e as de crescimento econ�mico, provocou a necessidade de financiamento externo em forma de compra de t�tulos p�blicos nacionais, isto �, a liberaliza��o financeira externa[4]. Embora este encadeamento d�ficit p�blico � globaliza��o financeira tenha come�ado nos EUA, consubstanciado pelos d�ficits g�meos a partir dos anos 80, outros pa�ses centrais tamb�m utilizaram a liberaliza��o financeira externa como forma de financiar as contas p�blicas. A tabela 1 mostra o brutal crescimento da d�vida p�blica entre 1980 e 1992, enquanto que a tabela 2 apresenta o crescimento do percentual dessa d�vida detido por n�o-residentes, o que comprova tanto a eleva��o da d�vida p�blica quanto o seu financiamento pela compra de t�tulos por parte de n�o-residentes.

Tabela 1 � Estoque de d�vida p�blica para t�tulos acima de 1 ano (US$ bilh�es)

Pa�s \ Ano

1980

1993

Taxa de crescimento (%) entre 80 e 93

EUA

132,4

544,7

311,4

Jap�o

61,6

461,5

649,19

Alemanha

11,5

97

743,48

Fran�a

9,3

63,7

548,95

It�lia

15,3

97,8

539,22

Gr�-Bretanha

34,9

87,3

150,14

Fonte: Lima (1997: 165), com dados do IMF � International Capital

�Markets � set.1994.

Tabela 2 � Percentual de t�tulos da d�vida p�blica detida por estrangeiros

Ano\Pa�s

EUA

Jap�o

Alemanha

Fran�a

It�lia

Reino Unido*

1979

18,5

2,3

5,0

0,0

1,2

15,0

1992

20,4

5,6

25,9

31,8

6,1

27,7

���� *1985 e 1991 respectivamente.

���� Fonte: Plihon (1999: 108).

����������� O processo de desregulamenta��o financeira dos mercados dom�sticos foi implementado em outros pa�ses. Na Gr�-Bretanha, em outubro de 1986, foram alteradas as regulamenta��es do mercado de a��es atrav�s do Financial Services Act (FSA). As principais altera��es foram a aboli��o das taxas de comiss�es fixas, o fim da separa��o entre brokers e dealers[5], e a elimina��o da restri��o feita �s empresas estrangeiras ou com mais de 29,9% de capital estrangeiro de participarem como membros do London Stock Exchange (LSE). A Fran�a, por sua vez, iniciou o seu processo de reformas nos anos oitenta come�ando pelo setor financeiro, sendo que �em 1989, a Fran�a removeu os controles existentes sobre o c�mbio e consequentemente abriu o caminho para a liberaliza��o do com�rcio intra � CEE com servi�os financeiros� (Langhammer, 1993: 180).

����������� Este processo na Alemanha parece apontar para a constitui��o de uma Finanzplatz, al�m de se apresentar como o centro financeiro da Comunidade Econ�mica Europ�ia. Isso se deve � desregulamenta��o financeira que se d� desde meados da d�cada de 80. As institui��es financeiras alem�s, como aponta Nassuno (1998), t�m como caracter�sticas a universaliza��o de suas atividades, como decorr�ncia do acirramento da concorr�ncia, e a internacionaliza��o do sistema financeiro alem�o. Essa inser��o internacional se deve tanto ao movimento aut�nomo das institui��es financeiras como a adequa��o do sistema dom�stico �s tend�ncias internacionais.

����������� A altera��o da regulamenta��o dom�stica do sistema financeiro alem�o incluiu a liberaliza��o dos movimentos de capitais com o exterior. No imediato p�s-guerra, o controle sobre a movimenta��o de capitais se dava por conta da insufici�ncia de reservas, sendo que a exporta��o de capitais pelos investidores dom�sticos era proibida. J� na primeira metade dos anos 50, a libera��o da exporta��o de capitais se deu ap�s a obten��o de super�vits no balan�o de pagamentos, o aumento das reservas e a regulariza��o da d�vida externa[6]. Na d�cada de 80, os controles sobre importa��o de capital foram sendo abolidos, completando um processo que se iniciou nos anos 70[7]. As mudan�as no sistema financeiro alem�o se traduziram na predomin�ncia de bancos universais, seja pela diversifica��o de produtos e constitui��o de conglomerados financeiros pelos bancos universais, seja pela amplia��o das atividades dos bancos especializados, e na eleva��o da aplica��o em portfolio no exterior durante a d�cada de 80. A partir desse momento, a Alemanha se transformou em exportadora de capital de portfolio.

����������� Levando tudo isso em considera��o, pode-se afirmar que o processo de desregulamenta��o financeira, iniciado nos EUA, foi implementado por outros pa�ses centrais e que o seu desdobramento em processo de internacionaliza��o, tamb�m capitaneado pelos EUA, tem no crescimento da d�vida p�blica e do seu financiamento pelas transa��es internacionais de t�tulos p�blicos a principal caracter�stica dos processos de liberaliza��o financeira externa.

����������� � mais no campo comercial do que no financeiro que o paradoxo entre o discurso neoliberal e a pr�tica pol�tica se apresenta. Apesar do discurso propagado pr�-abertura comercial tanto no �mbito regional como supranacional, o protecionismo comercial americano e europeu s�o bastante conhecidos. Embora o com�rcio exterior (exporta��es mais importa��es) como propor��o do seu PIB tenha crescido nos EUA, passando de 6,1% em 1950 para 8,3% em 1970, 10,1% em 1980, 14,4% em 1990 e 20% em 2000, a pol�tica comercial americana tem uma caracter�stica muito mais pragm�tica e protecionista do que de abertura[8].

����������� As barreiras n�o-tarif�rias, sua principal caracter�stica, superaram as tarifas como forma dominante de protecionismo nos anos 70 e 80. Nos anos 90, at� mesmo as barreiras tarif�rias funcionaram como forma de prote��o; o intervalo tarif�rio saltou de 0 � 72% em 1992 para 0 � 188% em 1996, demonstrando o recrudescimento do protecionismo americano (Serra, 1998: 21), muito embora a tarifa m�dia ponderada de todas as importa��es nos EUA tenha passado de 3,3% em 1992 para 2% em 1998 e 1,8% em 1999 (Baumann e Franco, 2001: 15-17). Mas, s�o, de fato, as barreiras n�o-tarif�rias que mais est�o presentes na pol�tica comercial americana.

����������� As barreiras externas impostas pelos EUA se traduzem em quotas tarif�rias que s�o aplicadas contra importa��es de produtos aliment�cios (para valores acima das quotas s�o aplicadas tarifas elevadas e, em alguns casos, proibitivas), em dificuldades para acessar o mercado de compras governamentais, por conta do Buy American Act (que pro�be a aquisi��o de bens e servi�os de fornecedores e imp�e requisitos de fabrica��o local), em normas e regulamenta��es extremamente complexas, que n�o os padr�es estabelecidos internacionalmente, e possui 3 n�veis de regulamentos diferentes (federal, estadual e local), em processos antidumping e anti-subs�dios[9], em barreiras fitossanit�rias e cl�usulas sociais e/ou ambientais, em procedimentos e direitos compensat�rios e na utiliza��o indiscriminada do crit�rio da �melhor informa��o dispon�vel�. Vale salientar que existem limites para investimentos estrangeiros em �reas como telecomunica��es (20-25% do capital das empresas) e companhias a�reas (49% do capital das empresas), sendo que uma emenda de 1988 possibilita ao presidente suspender qualquer opera��o de investimento estrangeiro que se julgue �lesiva � seguran�a nacional� (Serra, 1998: 25)[10].

����������� Em rela��o �s exporta��es brasileiras n�o � diferente. Baumann e Franco (2001: 16) atestam que �...permanece em vigor a cobran�a de direitos compensat�rios nas importa��es de diversos produtos brasileiros, e picos tarif�rios afetam diversos produtos importantes para o Brasil, como suco de laranja, cal�ados e t�xteis (a tarifa ou o equivalente tarif�rio m�dio imposto pelos EUA nos 15 principais produtos de exporta��o brasileiros atingem 46%, enquanto o n�vel tarif�rio m�dio imposto pelo Brasil nos 15 produtos de exporta��o mais importantes dos EUA � de apenas 14%)�.

����������� Na Uni�o Europ�ia, al�m da forte incid�ncia de tarifas sobre importa��es de produtos aliment�cios e agr�colas estabelecidas pela PAC (Pol�tica Agr�cola Comum) � produtos que ainda possuem fortes subs�dios em suas produ��es dom�sticas -, existe tratamento preferencial para v�rios produtos e regi�es (caf� colombiano e suco de laranja do mediterr�neo, por exemplo), e a estrutura de prote��o revela forte progressividade, isto �, existe elevada prote��o efetiva para produtos de maior valor agregado. Dentre as barreiras n�o-tarif�rias, al�m de quotas, destacam-se as exig�ncias de etiquetagem para identificar possibilidades de reutiliza��o e reciclagem de embalagens, que acabam elevando custos, os processos anti-dumping e anti-subs�dios[11], e os mecanismos de importa��o n�o-autom�tica e do Sistema Geral de Prefer�ncias (SGP). Atrav�s do primeiro mecanismo, as importa��es que est�o sujeitas a restri��es quantitativas, medidas de salvaguarda ou monitoramento n�o usufruem da licen�a autom�tica. J� o SGP estabelece um esquema de retirada de benef�cios para certos pa�ses considerados competitivos em determinados produtos. Este mecanismo � o que d� o car�ter individualizado (por pa�s) � pol�tica comercial europ�ia.

����������� A discrep�ncia entre o discurso e a pr�tica nos pa�ses centrais n�o se restringe ao aspecto comercial. De fato, �� de se destacar, igualmente, que a ades�o dos Estados Unidos ao neoliberalismo restringiu-se ao terreno do discurso pois, na pr�tica, a pot�ncia hegem�nica adotou, de in�cio, um keynesianismo b�lico cl�ssico, sucedido por investimentos e reestrutura��o industrial e atra��o de capitais estrangeiros...� (Tavares e Melin, 1997: 74). De fato, a Reaganomics se caracterizou nos EUA pelo elevado gasto p�blico (principalmente b�lico), sendo que a liberaliza��o financeira externa se tornou necess�ria para financiar os d�ficit g�meos (em transa��es correntes e a d�vida p�blica). Em que pese toda a avers�o neoliberal � presen�a do Estado, a d�vida p�blica cresceu substancialmente em todos os pa�ses centrais, como atesta a tabela 3.

����������� Mesmo as imposi��es do Tratado de Maastricht para a Uni�o Europ�ia referentes ao setor p�blico n�o eram respeitadas at� 1995. Segundo Plihon (1999: 103), imp�s-se por aquele tratado que o d�ficit p�blico dos pa�ses membros deveria ser inferior a 3% do PIB e a d�vida p�blica n�o superaria os 60% do PIB. Entretanto, em 1995, os pa�ses da Uni�o Europ�ia apresentavam um d�ficit p�blico de 4,5% do PIB e uma d�vida p�blica correspondente a 70% do PIB.

����������� No que tange � pol�tica industrial, Erber e Cassiolato (1997: 43-44) constatam que �a t�o mencionada necessidade de retra��o completa do Estado no dom�nio industrial n�o encontra correspond�ncia nas pol�ticas efetivamente implementadas nos pa�ses mais avan�ados�.

Tabela 3 - Estoque de d�vida p�blica em US$ bilh�es � EUA e OCDE (1980-1994)

Ano

EUA (1)

EUA (% do PIB)

OCDE* (2)

(1) / (2)

1980

738

27,2

2159

34,2

1981

825

27,2

2188

37,7

1982

988

31,4

2505

39,4

1983

1174

34,5

2840

41,3

1984

1373

36,5

3058

44,9

1985

1598

39,6

3962

40,3

1986

1813

42,5

4995

36,3

1987

1954

43,0

5950

32,8

1988

2097

42,8

6108

34,3

1989

2244

42,7

6254

35,9

1990

2548

46,1

7411

34,4

1991

2845

49,7

8123

35,0

1992

3142

52,0

8752

35,9

1993

3382

53,3

-

-

1994

3542

52,6

-

-

*inclui EUA, Jap�o, Alemanha, Fran�a, It�lia, Gr�-Bretanha, Canad�, Espanha, Holanda, Austr�lia, Su��a, Su�cia e B�lgica.

Fonte: Cintra, M.A.M. (1998: 217).

����������� Essa discrep�ncia entre o discurso e a pr�tica dos pa�ses centrais n�o se fez sentir em outras �reas das reformas de mercado. Na Gr�-Bretanha do per�odo Thatcher, abandonou-se o controle de sal�rios e pre�os, foram eliminadas as restri��es ao cr�dito, os servi�os foram liberalizados, a reforma financeira (Big Bang) removeu as restri��es ao setor, e ocorreram substanciais privatiza��es e reformas trabalhistas e sociais. Os efeitos foram uma grande redistribui��o pr�-rendas de propriedade, a redu��o do poder dos sindicatos e dos servi�os p�blicos, e a eleva��o da pobreza (Calvet, 1994). Nos EUA, as conseq��ncias da Reaganomics foram sentidas sobretudo nas reformas fiscais de car�ter regressivo, com a queda da press�o fiscal sobre as maiores rendas,� a redu��o da press�o fiscal sobre as empresas e o corte de programas de assist�ncia social e de seguro desemprego. Calvet (1994: 250) estima que os 15% mais pobres nos EUA pioraram sua situa��o econ�mico-social em torno de 10% durante os anos 80.

����������� Na Fran�a, a desregulamenta��o dos anos 80, que come�ou pelo setor financeiro, reverteu o programa de nacionaliza��o dos anos 70, atrav�s de consider�veis processos de privatiza��o e reprivatiza��o, abandonou todos os controles de pre�os em vigor desde 1945. Foi no segundo mandato de Mitterand (iniciado em 1988) que a disciplina monet�ria e a abertura de mercado (intra-CEE) foram implementadas como forma de engajamento na Uni�o Europ�ia.

����������� As reformas de mercado atingiram tamb�m a Alemanha, onde a Economia Social de Mercado aderiu ao princ�pio do mercado aberto, complementado por pol�ticas redistributivas de taxa��o de renda, e se comprometeu com as imposi��es bastante restritivas na pol�tica econ�mica para adequar-se � Uni�o Europ�ia. Ali�s, o estabelecimento do euro e da uni�o monet�ria exigiram pol�ticas contracionistas, disciplina fiscal e restri��o credit�cia, que provocaram redu��o do crescimento europeu na d�cada de 90[12].

����������� Em que pesem as reformas liberais para o mercado dom�stico (e regional no caso da Uni�o Europ�ia e do NAFTA), as estrat�gias pr�ticas de abertura externa nos pa�ses centrais est�o muito distantes do discurso propalado, assim como a presen�a do Estado na economia, tanto que o grande crescimento da d�vida p�blica desses pa�ses teve um papel importante na abertura e internacionaliza��o financeiras.

2.2- A OP��O DE INSER��O INTERNACIONAL DOS PA�SES ASI�TICOS

����������� A inser��o internacional dos pa�ses asi�ticos tem se caracterizado pelo papel ativo que o Estado apresenta na condu��o do programa econ�mico de cada pa�s. Isso � percept�vel desde a �poca em que o Jap�o, a partir de uma situa��o econ�mica de grande atraso, conseguiu tornar-se uma das pot�ncias mundiais j� no in�cio da Primeira Guerra Mundial. �Para tanto, era condi��o necess�ria dotar o pa�s n�o s� de um ex�rcito nacional e de institui��es modernas, mas tamb�m de uma ind�stria capaz de, sob o controle de capitais nacionais, garantir o fornecimento dos meios necess�rios ao enfrentamento tanto dos ex�rcitos ocidentais quanto dos pa�ses vizinhos� (Torres Filho, 1999: 223).

����������� J� em sua reinser��o internacional p�s-guerras, o Jap�o conseguiu um verdadeiro milagre econ�mico. Entre 1953 e 1973, a taxa de crescimento m�dia foi de 10% ao ano. Segundo Torres Filho (1999: 225), o pa�s logrou este resultado em menos de 15 anos, com uma pol�tica comercial protecionista, avesso ao capital estrangeiro e com forte interven��o estatal.

����������� Na Cor�ia do Sul ocorreu algo similar, quando o governo autorit�rio do general Park Chung Hee dirigiu o pa�s em marcha for�ada para a industrializa��o, atrav�s de sucessivos planos q�inq�enais, nos anos 60 e 70. A partir de meados dos anos 60, a taxa m�dia anual de crescimento da Cor�ia foi de 9,5% (Coutinho, 1999: 353)[13].

����������� O sucesso de alguns pa�ses da regi�o, em termos de crescimento econ�mico, h� alguns anos atr�s, tamb�m pode ser creditado a uma especificidade nas suas formas de inser��o internacional. Medeiros (1997 e 1998) e Cunha (1998) defendem que a compreens�o disso s� � poss�vel a partir da din�mica regional de desenvolvimento que se apresentou na regi�o.

����������� Com o Acordo do Plaza, estabelecido pelo G7 em 1985, inaugura-se uma ofensiva comercial dos EUA para reverter seu d�ficit comercial estrutural com o Jap�o, e � consubstanciada uma forte valoriza��o (endaka) do iene frente ao d�lar. A press�o comercial americana, em conjunto com a perda de competitividade das exporta��es japonesas, define um processo de deslocamento produtivo regional em dire��o aos pa�ses do leste e sudeste asi�tico, primeiro para os 4 tigres (Cor�ia, Cingapura, Hong Kong e Taiwan) e depois para os pa�ses do ASEAN-4 (Tail�ndia, Indon�sia, Mal�sia e Filipinas) e China[14]. Os pa�ses asi�ticos tiveram uma inser��o internacional com exporta��es de manufaturas de baixo valor unit�rio � com exce��o dos tigres � e com recep��o de elevados investimentos estrangeiros diretos, em particular vindos do Jap�o, que se aproveitaram do fato desses pa�ses n�o possu�rem um c�mbio t�o apreciado frente ao d�lar como o iene. Medeiros (1997: 303) ressalta que os dados mostrariam uma indu��o do desenvolvimento dos 4 tigres rumo ao ASEAN-4, no sentido de que �a acelera��o do crescimento dos pa�ses do ASEAN-4 deveu-se ao boom das exporta��es e ao investimento, sobretudo sob a forma de investimento direto estrangeiro do Jap�o e demais �tigres� �.

����������� A din�mica regional asi�tica foi redefinida pelo deslocamento do capital produtivo japon�s para os demais pa�ses da regi�o, que se transformou em investimentos que combinam substitui��o de importa��es com promo��o de exporta��es. Assim, ao mesmo tempo que esses pa�ses exportavam manufaturas baratas para EUA e Europa Ocidental, serviam como mercado para os bens de capital japoneses.

����������� Essa forma de integra��o regional e a exist�ncia de mercados na OCDE para as exporta��es dos pa�ses asi�ticos resultaram em consider�veis taxas de crescimento econ�mico. No per�odo entre 1979-1988, per�odo em que o deslocamento do investimento direto japon�s se deu rumo aos 4 tigres, estes �ltimos apresentaram uma taxa m�dia de crescimento de 7,9% ao ano, enquanto o mundo crescia a 3,4% e os pa�ses do ASEAN-4 (mais a China) cresciam a 5,8%. J� no per�odo compreendido entre 1989 e 1996, quando a din�mica regional de deslocamento de investimentos produtivos juntamente com crescimento de exporta��es se desloca para o ASEAN-4 e China, este �ltimo grupo cresce, em m�dia, 7,8% ao ano, enquanto os tigres o fazem a 6,9% e o mundo a apenas 3,2%.

����������� Mesmo com a insist�ncia de liberais como Anne Krueger[15], o sucesso dessa inser��o internacional asi�tica, sob a din�mica de uma economia de car�ter regional, em nada se relaciona com os preceitos do laissez-faire. Medeiros (1997: 318) constata que �a influ�ncia positiva do Jap�o sobre o desenvolvimento capitalista asi�tico foi exercida mais como modelo para a a��o estatal do que como mercado ou fonte de financiamento para o desenvolvimento econ�mico�. Coutinho (1999: 367), por sua vez, nota que, no caso coreano, �embora a ret�rica dos planos q�inq�enais [5� e 6� - 1982/86 e 1987/91 respectivamente] fosse de crescente liberaliza��o e de �nfase no livre funcionamento dos mecanismos de mercado ... n�o resta d�vida de que o Estado continuou determinando os rumos e as prioridades do processo de desenvolvimento, embora delegasse um espa�o bem maior para que o setor privado tomasse iniciativas e escolhesse alternativas, por�m, dentro das diretrizes oficiais�.

����������� Ao contr�rio do alardeado e esperado por liberais renitentes[16], os problemas come�aram a aparecer, talvez por mera �coincid�ncia�, depois que os pa�ses asi�ticos passaram a sofrer press�es pela abertura externa.

����������� J� no in�cio dos anos 80, principalmente por press�o americana, deu-se a liberaliza��o do mercado financeiro japon�s. A valoriza��o do iene n�o corrigiu os desequil�brios nas contas correntes dos EUA com o Jap�o, demonstrando o car�ter estrutural da competitividade japonesa. Dessa forma, o ac�mulo de recursos externos no Jap�o levou � elimina��o gradual dos controles sobre movimenta��o de capitais, sob a forma de desregulamenta��o financeira e novos produtos financeiros, e, dado o car�ter valorizado do iene, � internacionaliza��o dos bancos e dos investimentos[17].

����������� Antes de sua flexibiliza��o, o sistema financeiro japon�s foi sempre muito restritivo ao capital internacional. Sua principal caracter�stica era a exist�ncia de v�rios subsistemas especializados em financiamento quase que exclusivo da atividade produtiva. Os controles sobre os fluxos de capitais se traduziam em restri��es proibitivas �s transa��es em moeda estrangeira; �ademais as divisas resultantes de super�vits em transa��es correntes eram entregues ao governo, de modo que, na pr�tica, n�o havia mercado de c�mbio� (Levi, 1998: 296).

����������� A flexibiliza��o do sistema financeiro japon�s nos anos 80, se deu com a desregulamenta��o interna (liberaliza��o das taxas de juros para dep�sitos acima de 1 milh�o de ienes com maturidade de no m�nimo 3 meses; aumento do valor m�ximo de emiss�o de certificados de dep�sitos; desenvolvimento do mercado secund�rio de t�tulos p�blicos; desregulamenta��o do mercado dom�stico de b�nus privados; etc.) e a liberaliza��o externa (amplia��o do acesso das empresas a instrumentos de endividamento direto no exterior; cria��o em 1985 do mercado dom�stico de b�nus denominados em moeda estrangeira, emitidos por n�o-residentes, os chamados shogun bonds; permiss�o para bancos estrangeiros atuarem na rec�m aberta bolsa de futuros; in�cio das opera��es no Japan Offshore Market em dezembro de 1986, passo decisivo para a abertura financeira para opera��es internacionais, etc.)[18]. Apesar dessa abertura do mercado financeiro japon�s, trata-se de um processo lento e �as restri��es para a entrada de institui��es financeiras estrangeiras s�o ainda muito severas� (Lima, 1997: 28).

����������� As medidas de liberaliza��o financeira no resto da regi�o se traduziram em desregulamenta��o das taxas de juros, reformas e privatiza��es nos sistemas banc�rios e desregulamenta��o nos mercados cambiais, levando ao aumento no grau de abertura financeira dessas economias[19]. No caso espec�fico da Cor�ia, Coutinho (1999) assinala que o governo implementou as reformas liberalizantes no per�odo 1993-1996, especificamente nos mercados financeiros e, em segundo lugar, na conta de capital. No que se refere a esta �ltima, o Banco Central afrouxou os controles, facilitando a tomada de empr�stimos de curto prazo pelos bancos locais junto aos internacionais, o que redundou em novos empr�stimos junto aos bancos dom�sticos, em crescimento da alavancagem e da fragilidade financeira dos grupos coreanos[20].

����������� Com isso, dados os preceitos liberais, estariam abertas as portas para a decolagem econ�mica da �sia. N�o foi bem isso que ocorreu.

����������� Os problemas j� aparecem no in�cio da d�cada de 90, quando ocorreu o estouro da bolha especulativa no Jap�o, com o endurecimento da pol�tica monet�ria operada pelo Banco do Jap�o (BoJ). O crescimento da especula��o financeira levou � fragilidade financeira dos agentes (empresas e fam�lias) que, defrontados com a iliquidez decorrente da pol�tica do BoJ, desembocou em uma defla��o de ativos. A crise financeira no Jap�o se traduziu em uma retra��o da economia japonesa, que dura at� hoje, e s� entre 1990 e 1997 fez com que o pa�s crescesse em m�dia m�seros 1,5% ao ano (Torres Filho, 1999: 244).

����������� Nos demais pa�ses da regi�o os problemas vieram depois. A eleva��o do grau de abertura externa redundou em valoriza��o de ativos e alavancagem especulativa de cr�ditos, que provocaram o aumento da fragilidade financeira. Este processo, em conjunto com a ado��o de regimes de c�mbio (quase) fixo[21], deflagrou a crise financeira e cambial do sudeste asi�tico.

����������� A crise asi�tica de 1997 se configurou em ondas, de forma que, em primeiro lugar, ela atingiu a Tail�ndia, Filipinas e Mal�sia, em julho daquele ano; depois foram Taiwan e Hong Kong tr�s meses depois; e, por �ltimo, Cor�ia e Indon�sia em dezembro de 1997. Segundo Miranda (1998), as press�es baixistas no mercado de c�mbio da Tail�ndia se iniciaram em maio de 1997, levando � sa�da de divisas e ao abandono do regime de c�mbio fixo. A crise financeira realimentou a crise cambial, visto que a desvaloriza��o do baht tailand�s era inevit�vel. Logo depois a crise contagiou a regi�o.

Tabela 4 � Conta corrente em % do PIB (1993-1996)

Pa�s\Ano

1993

1994

1995

1996

Jap�o

3,1

2,8

2,2

1,4

Hong Kong

7,0

1,6

-2,3

1,0

Cor�ia

0,1

-1,2

-2,0

-4,8

Indon�sia

-1,8

-1,9

-1,8

-3,3

Mal�sia

-4,6

-5,9

-8,3

-5,2

Tail�ndia

-5,4

-5,6

-8,1

-8,0

�� Fonte: Cunha (1998: 324).

����������� Os sinais da crise j� eram vis�veis antes com a eleva��o da fragilidade financeira interna e externa das economias ao longo dos anos 90. A tabela 4, por exemplo, apresenta a deteriora��o das contas externas de alguns pa�ses asi�ticos. Deve-se notar que a sens�vel piora se d� justamente em pa�ses que entraram na primeira onda da crise (Mal�sia e Tail�ndia). � de ressaltar tamb�m o fato de que a conta de transa��es correntes da Cor�ia em 1993 passa de um super�vit de 0,1% do seu PIB, para apresentar um d�ficit de 5% em rela��o ao PIB em 1997. A d�vida externa, tamb�m como propor��o do PIB, passou de 17,3% em 1993 para 22,9% em 1996 na Cor�ia, enquanto na Tail�ndia saiu de 41,7% em 1993 para quase 50% em 1996.

����������� Os pacotes de ajuda externa que foram formulados, sob ger�ncia do FMI, s�o, no m�nimo, curiosos. Esses pacotes totalizaram US$ 58,2 bilh�es para a Cor�ia, US$ 36,6 bilh�es para a Indon�sia e US$ 17, 1 bilh�es para a Tail�ndia (Medeiros, 1998: 152). Entretanto, na base dos acordos estavam as exig�ncias de que os pa�ses realizassem e/ou aprofundassem as reformas financeiras, privatiza��es, aberturas comerciais, ajustes fiscais, abertura das contas de capital e, explicitamente para a Cor�ia, reforma no mercado de trabalho. Ao prescrever a eleva��o ainda maior do grau de abertura externa, os formuladores dos tais pacotes s� poderiam estar acreditando em uma de duas coisas: ou seria mera coincid�ncia que as crises (financeira no Jap�o e financeiro-cambial no restante da regi�o) tenham ocorrido exatamente ap�s a implementa��o de reformas financeiras pr�-mercado, ou ent�o, o que seria mais grave, at� admite-se alguma rela��o, mas insiste-se na prescri��o como se alguma transforma��o qualitativa adviesse da pura insist�ncia nas reformas.

2.3- POL�TICAS NEOLIBERAIS E ABERTURA EXTERNA NA AM�RICA LATINA: PRIMEIRAS EXPERI�NCIAS E DECEP��ES

����������� Mesmo antes de serem chamadas como tais, as pol�ticas neoliberais do Consenso de Washington foram implantadas no cone sul americano durante a d�cada de 70. O Chile foi o primeiro pa�s a faz�-lo, ap�s o golpe militar de 1973, sendo seguido pelo Uruguai no ano seguinte e pela Argentina em 1976.

����������� Alguns autores, como Cintra (1999: 129), afirmam que a seq��ncia correta das reformas, assim como preconizado pelo argumento seq�encial de Mckinnon, s� foi seguida pelo Chile, ao ponto deste pa�s ter sido considerado o primeiro exemplo a ser observado e imitado. Em determinado momento, afirmou-se que �a ordem correta da liberaliza��o ... se aproxima � do exitoso experimento chileno posterior a 1975. O Chile h� de tornar-se a norma ou padr�o de refer�ncia� (Mckinnon, 1982: 159 � it�licos n�o originais). Por escolha ir�nica do destino, pouco tempo depois desta afirma��o, o Chile se tornou de fato o padr�o de refer�ncia para as experi�ncias de liberaliza��o mas, ao contr�rio do desejado por Mckinnon, como prova de seus fracassos. S�o as experi�ncias na Am�rica Latina que se passa a analisar.

2.3.1- Chile: o campo de testes e o fascismo de mercado

As reformas estruturais foram implementadas neste pa�s no ano seguinte � instala��o do governo militar autorit�rio de Pinochet, e se estenderam at� o in�cio da d�cada seguinte. A reforma tribut�ria, por exemplo, foi implantada em 1975 e caracterizou-se por ser extremamente regressiva, envolvendo redu��o tanto de gastos p�blicos como de investimentos estatais, assim como na cria��o de alguns impostos. O imposto sobre valor agregado foi criado� para incidir sobre vendas e importa��es com a al�quota de 20% (Cano, 2000: 311). Deve-se� destacar que esta reforma levou o d�ficit operacional de 22,7% do PIB em 1973 para 2,9% do PIB dois anos depois (Gatica e Mizala, 1990: 55). Os efeitos desta reforma tamb�m podem ser vistos na tabela 5. O d�ficit prim�rio como percentagem do PIB foi reduzido drasticamente de 24,6% em 1973 para 2,6% em 1975 e, a partir de 1979, o governo passou a apresentar um super�vit prim�rio.

O processo de privatiza��o, por seu turno, se caracterizou pelo retorno da propriedade privada para v�rias empresas que haviam sido nacionalizadas pelo governo Allende. Essas reprivatiza��es fizeram com que, do controle estatal de 464 empresas em setembro de 1973, restassem apenas 53 em 1977 para serem privatizadas (Gatica e Mizala, 1990: 54).

As reformas no mercado de trabalho envolveram tanto a repress�o aos sindicatos a partir de 1973, a suspens�o da negocia��o coletiva[22], expans�o de contratos individuais e flex�veis. Por outro lado, a reforma da previd�ncia envolveu, entre 1974 e 1978, a maior unifica��o de diferentes sistemas e benef�cios e o fim da identidade entre os sal�rios dos funcion�rios p�blicos ativos e a pens�o do aposentado. J� em 1980, foi criado um sistema de capitaliza��o privado, de forma que foi incentivada a transfer�ncia do antigo para o novo sistema e a obrigatoriedade de filia��o ao novo para todos os novos assalariados a partir de 1981, com exce��o das for�as armadas e os carabineiros (Cano, 2000: 314).

Tabela 5 � Indicadores Macroecon�micos e Sociais (Chile: 1973-1982)

Indicador

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

Infla��o

605,9

369,2

343,2

197,9

84,2

37,2

38

31,2

9,9

20,7

Crescimento econ�mico1

-5,6

1,0

-12,9

3,5

9,9

8,2

8,3

7,8

5,5

-14,1

Investimento1

14,3

25,8

14

13,6

14,4

16,5

19,6

23,9

27,6

11,1

Desemprego2

-

9,2

16,4

19,9

18,6

17,9

17,7

17,3

15,6

26,1

Capacidade produtiva utilizada3

93,3

97,3

79,9

81,4

86,8

90,4

94,9

97,6

99

82,6

Forma��o bruta de capital fixo1

14,7

17,4

15,4

12,7

13,3

14,5

15,6

17,6

19,5

15,0

D�ficit prim�rio1

24,6

10,5

2,6

2,3

1,9

0,9

-1,7

-0,6

-3,0

-2,3

Gasto social per capita4

-

110,1

82,5

80,1

89

86,6

87,5

77,9

72,9

87,9

�ndice de Gini

-

0,468

0,484

0,543

0,534

0,524

0,526

0,522

0,531

0,534

�ndice de Gini5

-

0,518

0,566

0,618

0,599

0,588

0,589

0,578

0,579

0,624

1-em % do PIB.

2- incluindo os programas emergenciais de emprego (PEM e POJH).

3-em % da produ��o potencial.

4- 1970 = 100.

5- considerando os desempregados e a renda dos mesmos sendo nula.

Fontes: Foxley (1988: 48) para taxa de desemprego e para o gasto social, Ffrench-Davis et al. (1992: 38) para forma��o bruta de capital e capacidade utilizada, e Edwards e Edwards (1992: 184) para o restante.

����������� O programa de estabiliza��o implementado pode ser dividido em quatro fases[23]. Na primeira, entre setembro de 1973 e mar�o de 1975, a pol�tica de estabiliza��o teve como objetivo principal desmantelar o controle de pre�os que era feito no governo de Allende, al�m da j� citada forte redu��o no d�ficit prim�rio. Nessa fase de liberaliza��o, portanto, a pol�tica de estabiliza��o foi gradualista, englobando medidas como a introdu��o do imposto sobre valor agregado, a elimina��o ou redu��o de v�rios tributos diretos sobre o capital � inclusive com a aboli��o do imposto sobre patrim�nio e lucros de capital � e liberaliza��o de todos os pre�os (com exce��o de 30 que o foram mais gradualmente). Al�m disso, foi feita uma desvaloriza��o da moeda nacional em 230% entre setembro e outubro de 1973, sendo seguida de minidesvaloriza��es, que duraram at� 1979. A caracter�stica gradualista da pol�tica ainda foi observada na redu��o do cr�dito, que procurou conter a demanda agregada e, portanto, os pre�os, de forma n�o traum�tica. Para isto ainda contribuiu a deteriora��o dos sal�rios reais, conseq��ncia das reformas no mercado de trabalho.

����������� Embora a taxa de infla��o n�o fosse mais a observada no per�odo anterior, sinais de seu �recrudescimento�, em conjunto com a fort�ssima retra��o da economia em 1975 (queda de 12,9% do PIB), somados � piora no saldo em transa��es correntes e no servi�o da d�vida, for�aram a mudan�a na pol�tica econ�mica.

����������� Entre abril de 1975 e junho de 1976, a nova pol�tica de estabiliza��o, caracterizada pelo tratamento de choque, procurou reduzir abruptamente a demanda agregada, ao mesmo tempo em que se aprofundaram as reformas estruturais. Dentre as medidas destacam-se a redu��o dos gastos e investimentos p�blicos em 27%, em termos reais, no ano de 1975, substanciais aumentos nas tarifas p�blicas, eleva��o do imposto de renda e elimina��o de isen��es no IVA, modifica��o da base de refer�ncia para reajuste salarial - o que provocou maior arrocho - e a acelera��o da redu��o da oferta monet�ria.

����������� At� o final de 1975, a infla��o foi reduzida, passando de 69% no segundo trimestre do ano para 26% no quarto trimestre, e a perda de reservas internacionais foi diminu�da. Entretanto, o retorno da acelera��o da infla��o no primeiro semestre de 1976 levou a uma nova mudan�a.

����������� Sendo assim, o programa de recupera��o econ�mica, que durou de junho de 1976 a junho de 1979, alterou o diagn�stico da infla��o, estabelecendo como sua causa os custos e as expectativas[24]. As medidas implementadas foram a revaloriza��o do peso em 10% em junho de 1976, a redu��o de tarifas sobre importa��es e o estabelecimento de um calend�rio de futuras paridades cambiais. A taxa de desvaloriza��o preanunciada (chamada La Tablita) se ajustava, no in�cio, de acordo com a infla��o passada e, a partir de 1978, reajustando-se em um n�vel inferior � infla��o passada, isto �, implicando em uma valoriza��o real da moeda chilena. Os impactos, como se pode ver na tabela 5, foram a dr�stica redu��o da infla��o e a retra��o nas taxas de desemprego. Contudo, o d�ficit em transa��es correntes volta a se apresentar em 1976 e, al�m disso, mais do que dobra em 1977 e 1979, passando de US$551 milh�es para US$1,19 bilh�es (Tabela 6).

Tabela 6: Balan�o de Pagamentos � Chile (1973-1982) em US$ milh�es

Conta

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

Exporta��es

1316

2152

1590

2116

2186

2460

3835

4705

3836

3706

Importa��es

1329

1901

1520

1473

2151

2886

4190

5469

6513

3.643

Saldo comercial

-13

250

70

643

35

-426

-355

-764

-2677

63

Conta de servi�os

-281

-556

-572

-543

-682

-759

-937

-1320

-2164

-2474

Transa��es correntes

-279

-292

-490

148

-551

-1088

-1189

-1971

-4733

-2304

Conta de capital

70

-63

374

61

568

1946

2248

3165

4698

1215

Fonte: IMF, International Financial Statistics.

����������� A quarta fase do programa de estabiliza��o, que se inicia em junho de 1979, pode ser caracterizada pelo enfoque monet�rio do balan�o de pagamentos. Nesse m�s, a taxa de c�mbio nominal � desvalorizada em 5,7% e depois fixada em 39 pesos por cada d�lar. A id�ia � a de que, seguindo a hip�tese de paridade do poder de compra, uma vez completada a abertura da economia, a taxa de varia��o dos pre�os externos regular� automaticamente a infla��o interna e, depois de um certo tempo, esta �ltima seria igual � primeira. Os resultados desse tipo de pol�tica foram a redu��o da infla��o e a manuten��o de altas taxas de crescimento (tabela 5). Por outro lado, a converg�ncia da infla��o interna com a externa n�o se verificou, o que provocou uma forte valoriza��o real do c�mbio (tabela 7). Isto, em conjunto com a abertura comercial, levou a fortes d�ficits em transa��es correntes que, entre 1979 e 1981, tiveram um crescimento de 298% ! Estes d�ficits s� foram financiados gra�as � enorme entrada de capital externo, em maior volume a partir de 1978/79 (tabela 6).

Independentemente das especificidades de cada fase, os programas de estabiliza��o de todo o per�odo, dentro das vari�veis infla��o e d�ficit p�blico, parecem ter sido extremamente bem sucedidos. No que se refere � primeira, ela passa de 605,9% em 1973 para 9,9% em 1981. No que diz respeito ao saldo prim�rio, o d�ficit sai de 24,6% do PIB em 1973 para 2,3% em 1976 e, a partir de 1979, o resultado passa a ser superavit�rio.

Tabela 7: Taxa de c�mbio real efetiva* � Chile (1977-1982)

1� trimestre

2� trimestre

3� trimestre

4� trimestre

1977

83,6

78,5

81,8

89,5

1978

97,5

100,3

103,3

105,1

1979

106,3

105,8

109,4

102,5

1980

100,2

95,9

93,8

87,1

1981

82,1

75,2

71,3

72,8

1982

69,9

70,8

82,8

97,2

*o �ndice expressa a propor��o entre a m�dia ponderada dos �ndices de pre�os, expressos em moeda chilena, dos dez principais s�cios comerciais do pa�s, e o IPC chileno, para 1975=100.

Fonte: Edwards e Edwards (1992: 93).

����������� No tocante � abertura comercial, antes da implementa��o da reforma, a dispers�o tarif�ria era alta (0%-750%) e os bens finais tinham maiores graus de prote��o efetiva (Cano, 2000: 309). A abertura comercial chilena do per�odo teve o intuito n�o apenas de reduzir as tarifas de importa��o, mas tamb�m eliminar/reduzir rapidamente as barreiras n�o-tarif�rias, al�m de simplificar e reduzir as posi��es tarif�rias. No lado da promo��o das exporta��es, as pol�ticas foram t�midas e n�o seletivas.

����������� A tarifa m�dia sobre importa��es, que chegou a ser de 105% em 1973, apresentou ao final desse ano um valor de 94%, valor este que foi sendo reduzido rapidamente (52% no in�cio de 1975 e 44% em meados do mesmo ano). Em 07 de junho de 1976, a tarifa m�dia de importa��o atingiu 33%, ficando assim abaixo da que prevalecia na maioria dos pa�ses em desenvolvimento (Edwards e Edwards, 1992: 126). No final desse processo de redu��o tarif�ria, em meados de 1979, estabeleceu-se uma tarifa �nica (com exce��o do setor automobil�stico) de 10%. A seq��ncia dessa redu��o tarif�ria pode ser acompanhada na tabela 8, que ainda apresenta a tarifa m�xima e a quantidade de produtos sujeitos ao valor m�ximo.

��������������� O importante a destacar, al�m da redu��o da tarifa m�dia de importa��o, � que a abertura comercial chilena tamb�m incluiu a substancial redu��o do valor m�ximo da tarifa, at� igualar-se ao valor m�dio em junho de 1979. Nesse momento, 99,5% dos produtos estavam sujeitos � tarifa m�xima que, naquele momento, era tamb�m a m�dia, atingindo o objetivo de reduzir a dispers�o tarif�ria que constava antes do regime militar.

Tabela 8: Seq��ncia da abertura comercial � Chile (1973-1979).

Datas

Tarifa m�xima (%)

(%) de produtos sujeitos ao valor m�ximo

Tarifa nominal m�dia (%)

31/12/1973

220

8,0

94,0

27/03/1974

160

17,1

80,0

16/01/1975

120

8,2

52,0

09/02/1976

80

0,5

38,0

07/06/1976

65

0,5

33,0

02/05/1977

45

0,6

22,4

03/12/1977

25

22,9

15,7

06/1978

20

21,6

13,9

06/1979

10,1

99,5

10,1

Fonte: Edwards e Edwards (1992: 127).

����������� A r�pida redu��o das barreiras n�o-tarif�rias pode ser ilustrada pelo fato de que, antes da reforma, �havia trezentos itens proibidos e quase a metade das posi��es tarif�rias dependia de aprova��o formal pelo banco central. A quase totalidade dessas restri��es foi eliminada entre 1974 e 1976�. Foi ainda suspensa em 1974 a depend�ncia que v�rios produtos tinham de um dep�sito pr�vio, sendo que dois anos depois essa depend�ncia foi eliminada (Cano, 2000: 309).

����������� Os efeitos dessa abertura comercial foram, segundo Foxley (1988: 80):

(i) uma expans�o inicial das exporta��es;

(ii) a mudan�a na estrutura de importa��es, sendo que os bens de consumo mostram o crescimento mais acelerado[25];

(iii) um efeito diferenciado sobre os diversos agrupamentos industriais e sobre as empresas dependendo do tamanho[26];� e,

(iv) queda do emprego industrial[27].

����������� O processo de liberaliza��o financeira teve in�cio em 1974 com a desregulamenta��o financeira interna e, s� mais tarde, com a abertura para a atua��o do capital externo. No in�cio de 1974, foram reduzidos os requisitos de reservas nos bancos que, em 1973, superavam os 100%, passando a 42% em 1979 e 10% em 1980 (Edwards e Edwards, 1992: 70), assim como foi dada a permiss�o para opera��o de novas institui��es financeiras n�o-banc�rias (as chamadas Financieras) que atuavam com poucas restri��es. Em maio de 1974 foi permitida a livre determina��o das taxas de juros pelas Financieras e, no ano seguinte, as taxas de juros cobradas e pagas pelos bancos comerciais foram liberalizadas. Antes desta �ltima medida, deu-se in�cio � privatiza��o dos bancos que haviam sido nacionalizados no governo Allende. Tudo isto� contribuiu para que as taxas de juros praticadas fossem sendo elevadas, o que em um contexto de redu��o inflacion�ria leva a taxas reais de juros n�o apenas positivas, mas crescentes. A desregulamenta��o sobre prazos de vencimento e aloca��o de cr�dito, conformou a desrepress�o financeira interna nos moldes da teoriza��o de Mckinnon (1973 e 1991).

����������� A liberaliza��o financeira externa se processou posteriormente. Como afirma Edwards (1991: 140), �ainda que o mercado interno de capitais tenha sido reformado no in�cio de 1975 � ao serem liberalizadas as taxas de juros e permitida a cria��o de novas institui��es financeiras � as correntes de capital estrangeiro estiveram estritamente controladas at� meados de 1979�. Isto em que pese o fato de que j� em 1974 modificou-se a legisla��o cambial para permitir a tomada de empr�stimos no exterior por empresas e indiv�duos; lei que em 1977 foi estendida para os bancos. No que se refere ao investimento direto estrangeiro, outra ressalva deve ser feita, uma vez que a partir de 1974 inicia-se a desregulamenta��o do capital estrangeiro, dando-lhe ampla possibilidade de aloca��o setorial, notadamente na minera��o, nos servi�os de transporte a�reo e mar�timo (Cano, 2000: 310). O processo de liberaliza��o financeira externa, entre 1978 e 1980, permitiu �s empresas nacionais maior acesso ao financiamento externo. Autorizou-se a redu��o do encaixe banc�rio sobre empr�stimo externo, que, para um prazo de 2 a 3 anos, passou de 25% para 15%; para os empr�stimos de prazo entre 4 e 5 anos manteve-se o encaixe a 10%. Foi facilitada tamb�m a entrada de bancos estrangeiros.

����������� Em junho de 1979, foi eliminada a restri��o sobre a propor��o m�xima de obriga��es externas de um banco com respeito a um ativo. Um ano depois, no m�s de abril, decretou-se o fim da restri��o quanto ao incremento m�ximo mensal para obriga��es externas dos bancos. �Esta medida gerou um crescimento surpreendente nos passivos externos dos bancos (...) os cr�ditos externos dos bancos que entraram no pa�s subiram em 1980 mais de tr�s vezes!� (Edwards e Edwards, 1992: 72).

����������� Dessa maneira, a liberaliza��o financeira externa foi implementada ap�s a desregulamenta��o financeira interna e, mesmo assim, a entrada de capital de curto prazo n�o esteve autorizada at� julho de 1982, quando passou a ser permitida por breve per�odo[28]. Isto n�o impediu que o processo de abertura externa tivesse suas conseq��ncias. A entrada de capital externo explode a partir de 1977/78 (tabela 6), o que, se de um lado serviu para cobrir os d�ficits em transa��es correntes, por outro levou a uma brutal acelera��o no d�ficit na conta de servi�os � crescimento de mais de 250% entre 1977 e 1982.

O efeito delet�rio da abertura externa ainda pode ser observado pelos indicadores da tabela 9, ressaltando o brutal crescimento da d�vida externa a partir de 1979, a altera��o da composi��o da d�vida, com o predom�nio da parcela privada a partir de 1980, e a explos�o do servi�o dessa d�vida como propor��o das exporta��es.

����������� � fundamental ressaltar ainda que, pelos dados da tabela 7, o forte movimento de valoriza��o do c�mbio real se d� a partir do 4� trimestre de 1979, justamente no per�odo em que a liberaliza��o financeira externa se acelera. Esta �ltima, portanto, al�m de provocar o forte endividamento externo e o crescimento do d�ficit na conta de servi�os (por conta do pagamento de juros e remessa de lucros e dividendos), foi respons�vel pela valoriza��o do c�mbio real que, em conjunto com a abertura comercial, provocou os enormes d�ficits comerciais observados a partir de 1978[29].

Tabela 9: Endividamento externo chileno (1973-1982) em US$ milh�es

Indicador

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

D�vida externa

3664

4435

4854

4720

5201

6664

8484

11084

15542

17153

-parcela p�blica

3244

3966

4068

3762

3917

4709

5063

5063

5542

6660

-parcela privada

423

469

786

958

1284

1955

3421

6021

10077

10493

Servi�o da d�vida1

-

35,1

55,6

52,7

52,8

58,7

50,8

47,7

70,8

88,5

1-como propor��o das exporta��es.

Fonte: IMF, International Financial Statistics e Foxley (1988: 48) para o servi�o da d�vida.

����������� Esse quadro de insolv�ncia externa n�o passou desapercebido para o capital externo. A crescente necessidade de financiamento das contas externas s� podia ser feita pela entrada do capital externo, o que requereria a eleva��o das taxas de juros que, em termos reais, chegaram a 59,2% em 1981. Para piorar a situa��o, o capital externo era direcionado em grande medida para financiar o consumo interno e a especula��o financeira e imobili�ria. A eros�o das contas externas chilenas se traduziu na incapacidade de sald�-las, levando � fuga do capital externo. A vulnerabilidade externa do Chile provocou a crise cambial que levou � desvaloriza��o for�ada de 18% em junho de 1982.

����������� A vulnerabilidade externa se manifestou tamb�m no aumento da fragilidade financeira das empresas e bancos ao longo do per�odo; �o problema das quebras alcan�ou propor��es de crise em 1982, quando ocorreram 810 casos de quebra, mais do dobro do que a m�dia dos cinco anos anteriores� (Edwards e Edwards, 1992: 96)[30]. A fuga de capitais em 1982 representou um resultado na conta de capital 74% inferior ao ano anterior (tabela 6). Os efeitos da crise foram a impressionante retra��o de 14% do PIB ainda em 1982, a taxa de desemprego de 26% da popula��o economicamente ativa no mesmo ano, e 34% no ano seguinte. Al�m disso, ocorreu o enorme crescimento da d�vida p�blica, que passou de US$ 5 bilh�es em 1980 para US$ 10 bilh�es em 1983, em muito por causa da estatiza��o da d�vida externa, sob a forma da estatiza��o do sistema banc�rio, como atestam Foxley (1988) e Edwards e Edwards (1992).

����������� Se observado durante todo o per�odo de reformas, o resultado tamb�m � totalmente desfavor�vel. � bem verdade que os ganhos de estabiliza��o � redu��o dr�stica da infla��o e do d�ficit p�blico prim�rio, sendo que este se transformou em super�vit a partir de 1979 � foram consider�veis, do ponto de vista do curto prazo que caracteriza o primeiro elemento do programa neoliberal. As taxas de crescimento da economia no per�odo 1977/81 tamb�m foram invej�veis, uma m�dia anual de 10,5%. Por esses resultados � que o Chile se tornou o primeiro �exemplo� a ser seguido.

����������� Entretanto, a livre entrada de capital externo e, por determinado per�odo, a manuten��o de uma paridade fixa do c�mbio (ou ent�o de taxas de desvaloriza��o inferiores �s da infla��o) levaram a uma sobrevaloriza��o do c�mbio real que, em conjunto com a abertura comercial, provocou d�ficits comerciais a partir de 1978. A liberaliza��o financeira externa, por sua vez, sob o pretexto de financiar os d�ficits em transa��es correntes, resultou em uma maior remessa de juros, lucros e amortiza��o da d�vida, o que gerou uma substancial piora na conta de servi�os. Outro efeito perverso foi o superendividamento externo p�blico e privado, que no per�odo 1973/82 cresceu 368%.

����������� N�o bastasse isso, a taxa m�dia de crescimento do PIB entre 1973/82 foi de apenas 1,9%, muito inferior aos pouco mais de 4% da �poca de substitui��o de importa��es. A forma��o bruta de capital fixo, como propor��o do PIB, foi sempre inferior a 20% por causa das altas taxas de juros, pela redu��o do investimento p�blico, do processo de desubstitui��o de importa��es decorrente da abertura comercial, e da baixa taxa m�dia de utiliza��o da capacidade instalada. Assim, mesmo na fase de crescimento (1977/81), a retomada baseava-se muito mais na capacidade ociosa do que no acr�scimo de capacidade instalada.

����������� Adicionalmente, o per�odo inteiro de reformas se caracterizou pela concentra��o de renda como atesta o crescimento dos coeficiente de Gini na tabela 5, e a queda de 15% nos sal�rios reais entre 1970 e 1987, efeito que n�o foi alvo de nenhuma pol�tica compensat�ria, uma vez que o gasto social per capita caiu durante o per�odo[31]. Tudo isso redundou em uma eleva��o, entre 1973 e 1990, no percentual de fam�lias pobres de 30% para 40% (Ramos, 1997: 18).

����������� Considerando todas as conseq��ncias produzidas pelas reformas neoliberais no Chile da d�cada de 70, a avalia��o n�o � nada positiva. �Em s�ntese, os resultados do experimento monetarista no Chile s�o negativos em quase todos os aspectos. Quedas de produ��o, investimento e emprego, s�o acompanhadas por um forte d�ficit no balan�o de pagamentos e um superendividamento externo at� 1982. O desemprego sobe dramaticamente e os indicadores distributivos mostram uma marcada deteriora��o para os setores assalariados� (Foxley, 1988:49). A primeira experi�ncia neoliberal redundou em um rotundo fracasso.

����������� Vale salientar que o Chile s� se recuperou no per�odo 84-89 porque tomou algumas medidas anti-neoliberais a partir de 1983, como a promo��o de exporta��es n�o-tradicionais (atrav�s de subs�dios impl�citos), aumento dos gastos p�blicos em obras e habita��o, fixa��o de pre�os agr�colas m�nimos e, principalmente, a redu��o do grau de abertura externa. O retrocesso na liberaliza��o financeira j� se d� em 1982, quando o governo assume por 6 meses a corre��o cambial sobre as sa�das de capital e limita o endividamento externo dos bancos. No imediato p�s-crise, ocorre a estatiza��o da d�vida de curto prazo do setor privado e, entre 85-89, promove-se a renegocia��o da d�vida externa, com convers�o da d�vida em investimentos (US$ 9 bilh�es) e novos empr�stimos do FMI (US$1,3 bilh�o). S�o tomadas tamb�m medidas para aumentar o controle sobre a entrada de capital, com o objetivo de evitar o transtorno e a instabilidade que haviam provocado[32]. O retrocesso na abertura comercial se deu tanto pela reintrodu��o de bandas de controle de pre�os externos, como pela cria��o de um sistema de defesa antidumping e a amplia��o das tarifas m�dias sobre importa��es. Elas s�o duplicadas para 20% em mar�o de 1983, sobem para 35% no ano seguinte, e voltam a ser reduzidas para 30% em mar�o de 1985 e 20% em junho do mesmo ano.

����������� A recupera��o posterior da economia chilena, entretanto, n�o conseguiu atingir a situa��o pr�-crise: �na crise de 1982 o produto por habitante caiu 15% e a partir de 1984 tem se recuperado a taxas insuficientes para superar os n�veis pr�-crise. Com efeito, o produto por habitante em 1987 era 6% inferior ao do ano de 1981� (Gatica e Mizala, 1990: 60).

����������� O desastre da experi�ncia neoliberal chilena da d�cada de 70 ocorreu mesmo que sua reforma tenha sido feita de acordo com a seq��ncia �tima propagandeada pela vis�o convencional, isto �, o Chile abriu primeiramente a conta corrente para depois promover a liberaliza��o da conta de capital. Na mesma �poca, Argentina e Uruguai implementavam as reformas neoliberais, mas n�o o teriam feito na seq��ncia �correta�, o que n�o lhes rendeu a mesma �honra� outorgada ao Chile de �padr�o de conduta�[33].

2.3.2- Argentina: abertura externa em dois momentos

����������� A experi�ncia da Argentina com os programas neoliberais de desenvolvimento n�o se restringe a apenas um per�odo, mas � compreendida por dois momentos. O primeiro durou de 1976 at� 1983 com a mesma caracter�stica pol�tica da experi�ncia chilena, isto �, foi dominado por um fascismo de mercado que se estabeleceu ap�s o golpe militar de 24 de mar�o de 1976, sob o comando, durante grande parte do tempo, do ministro da economia Mart�nez de Hoz. O segundo momento da aventura neoliberal argentina se inicia em 1989 com a elei��o de Carlos Menem para a presid�ncia do pa�s.

2.3.2.1- Abertura externa sob a ditadura pol�tica e mercantil

����������� O programa econ�mico implementado logo da instaura��o da ditadura militar teve um cunho extremamente ortodoxo com congelamento de sal�rios, liberaliza��o de pre�os, abertura comercial, desregulamenta��o das finan�as e do controle ao capital externo, e redu��o da oferta de moeda. Sourrouille e Luc�ngeli (1983) dividem as pol�ticas de estabiliza��o em dois per�odos, o primeiro at� 1978, caracterizado pela pol�tica monet�ria ortodoxa com pouca vincula��o entre os mercados de capitais interno e externo, e o segundo a partir de 1979, caracterizado pelo mesmo enfoque monet�rio do balan�o de pagamentos que inspirou a pol�tica econ�mica chilena.

����������� Calvo (1991: 118-120) identifica quatro fatos estilizados para o primeiro per�odo:

(a) no in�cio do mandato de Mart�nez de Hoz s�o tomadas medidas para aumentar o pre�o relativo dos bens export�veis (em espec�fico, os tradicionais);

(b) redu��o dr�stica do d�ficit p�blico (exclu�dos os juros);

(c) em mar�o de 1977, � imposto o controle de pre�os durante um trimestre, enquanto que em junho do mesmo ano � liberalizado o sistema banc�rio e o d�ficit do governo passa a ser financiado principalmente por t�tulos e n�o mais por emiss�o monet�ria; e,

(d) controlou-se a taxa de c�mbio, inicialmente para acompanhar a infla��o (1 ou 2 trimestres), mas durante 1978 a taxa de desvaloriza��o cai consideravelmente at� recuperar-se levemente no �ltimo trimestre do ano.

����������� Nesse per�odo, a pol�tica cambial foi utilizada para controlar a infla��o, de forma que a valoriza��o da moeda argentina foi de 33% em 1976, em rela��o ao ano anterior, e em 1978 de 25% (Cano, 2000: 111).

����������� J� a partir de 1978, assim como no Chile, foi implementada a Tablita, mas as taxas de desvaloriza��o preanunciadas eram inferiores �s da infla��o, o que provocou uma valoriza��o real m�dia de 40% entre 1978 e 1981. As pol�ticas de estabiliza��o, no caso argentino, n�o deram t�o certo como no in�cio da experi�ncia chilena, como atestam os dados da tabela 10.

�����������

Tabela 10: Indicadores Macroecon�micos � Argentina (1976-1983)

Indicador

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

Infla��o anual

444

176

175,5

159,5

100,8

104,5

164,8

343,8

Crescimento econ�mico1

-0,2

6,5

-3,4

7,2

1,9

-6,9

-5,5

2,9

Investimento interno1

18,0

19,3

25,9

26,8

27,2

24,4

22,7

22,2

D�ficit p�blico prim�rio1

12,9

11,9

10,1

9,0

11,3

16,4

17,2

-

Servi�o da d�vida p�blica1

6,0

5,9

8,3

6,6

4,1

8,2

11,9

-

Varia��o de sal�rio real

-32,7

-1,4

-1,4

14,3

11,3

-10,3

-

-

Taxa de c�mbio real2

121,2

105,7

84,6

60,95

50,43

60,6

100,1

117,3

1-em % do PIB.

2-para 1990=100

Fontes: IMF, International Financial Statistics; World Bank; Calvo (1991: 118) para o setor p�blico; Sourrouille e Luc�ngeli (1983: 100) para os sal�rios reais; e, Damill e Keifman (1992: 107) para a taxa de c�mbio.

Os dados mostram que os ganhos com a redu��o da infla��o anual nunca fizeram com que ela ficasse abaixo dos tr�s d�gitos e, a partir de 1980, ela volta a subir. J� no que se refere ao d�ficit p�blico prim�rio, obteve-se uma redu��o de at� 9% do PIB em 1979 mas, ele voltou a subir a partir desse momento e, ao contr�rio do Chile, super�vits prim�rios nunca foram obtidos.

����������� A abertura comercial se caracterizou, de imediato, pela elimina��o do c�mbio m�ltiplo, elimina��o de restri��es �s exporta��es (redu��o de impostos sobre exporta��es tradicionais e redu��o de incentivos para exporta��es n�o-tradicionais), redu��o da tarifa m�dia de importa��o de 93% para 52% e eleva��o dos incentivos para exporta��es tradicionais em at� 25%.

����������� O sistema tarif�rio de com�rcio exterior vigente em 1976 tinha sido sancionado quase 10 anos antes (1967). J� no final de 1976 � unificado o c�mbio para opera��es comerciais e financeiras, s�o liberalizadas as restri��es financeiras sobre importa��es e reduzidos os direitos de importa��o como o regime de tratamento preferencial. Em 1978 estabeleceu-se o segundo acontecimento importante no desenvolvimento da abertura comercial[34]. Tem in�cio a reforma tarif�ria geral, que pretendia levar a prote��o nominal contra importa��es a um n�vel m�dio de 15% at� 1984, com uma dispers�o m�nima em rela��o ao n�mero de produtos. Com isso, a tarifa m�dia cai de 55% para 29% entre meados de 1976 e o final de 1978, e atinge 26% no in�cio de 1979.

����������� Algumas medidas refor�aram os efeitos dessa redu��o tarif�ria, como a redu��o das normas de importa��o para bens de capital. Al�m disso, �ajustou-se a tarifa e foi autorizada a importa��o, at� ent�o proibida ou restringida, de um consider�vel n�mero de produtos que ca�am na qualifica��o de �suntu�rios� � (Sourrouille e Luc�ngeli, 1983: 56). Em julho de 1980, as barreiras n�o-tarif�rias passavam a ficar incorporadas formalmente � tarifa de importa��o, mediante uma modifica��o dos direitos existentes e a revoga��o das leis ou decretos que lhes davam origem.

����������� Os efeitos da abertura comercial entre 1976 e 1980-81 podem ser observados na composi��o das importa��es. Os bens de consumo passam de 2,2% do total de importa��es para 17,6%, enquanto os bens de capital e os bens intermedi�rios passam, respectivamente, de 16,6% para 22,4% e de 63,4% para 49,5%. A abertura comercial quadruplica as importa��es de bens de capital, mas as de bens de consumo crescem 13 vezes! (Cano, 2000: 113) O total de importa��es cresce, principalmente a partir de 1979, tanto pela abertura comercial como pela valoriza��o do c�mbio real, como mostra a tabela 11. As exporta��es, por sua vez, crescem bastante j� a partir de 1977.

Tabela 11: Balan�o de pagamentos � Argentina (1976-1983) em US$ milh�es

Conta

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

Exporta��es

3918

5651

6401

7810

8021

9143

7623

7835

Importa��es

2765

3799

3488

6028

9394

8431

4859

4119

Balan�a comercial

1153

1852

2913

1782

-1373

712

2764

3716

Balan�o de servi�os

-520

-757

-1125

-2352

-3424

-5402

-5151

-6168

Transa��es correntes

651

1126

1856

-513

-4774

-4712

-2353

-2436

Conta de capital

487

583

267

4430

2377

1646

2123

577

Fonte: IMF, International Financial Statistics.

����������� Do lado financeiro, a desregulamenta��o interna se processou atrav�s de uma reforma banc�ria que �deu aos bancos e �s �financieras� um grau consider�vel de liberdade na determina��o das taxas de juros (exceto para dep�sitos � vista, que tiveram suas taxas de juros mantidas em zero), no direcionamento do cr�dito e no n�mero de sucursais� (Calvo, 1991: 114-115). Foi em junho de 1977 que entrou em vigor o novo Regime de Entidades Financeiras, que, al�m da liberaliza��o generalizada das taxas de juros ativas e passivas, recriou um sistema de reservas fracion�rias[35], estabeleceu plena garantia de dep�sitos[36], e recriou a fun��o de emprestador de �ltima inst�ncia para o Banco Central. A redu��o das restri��es internas sobre o movimento de capitais ainda incluiu a diminui��o para um ano no prazo m�nimo de contrata��o de empr�stimos financeiros, prazo este que foi eliminado posteriormente.

����������� No front externo, a liberaliza��o financeira se processou mais radicalmente a partir de 1978. Em 1977 houve uma altera��o na regula��o sobre movimentos de capital; passava-se a regular agora a entrada dos capitais, ao contr�rio do esquema tradicional de controle de sa�da, o que n�o impediu que o capital externo continuasse entrando, atra�do principalmente pelas altas taxas de juros. Mas, foi a partir de 1978 que a desregulamenta��o sobre o fluxo de capital externo se intensificou[37]. O Regime de Entidades Financeiras foi sofrendo modifica��es, de forma que o Banco Central n�o mais regulou os pre�os no mercado de divisas; deu-se tratamento n�o-discriminat�rio para institui��es estrangeiras e foi habilitado um mercado a termo para as divisas em julho de 1978. Em dezembro desse ano foram tomadas as medidas que tornaram gradativamente menos restritiva a entrada de capital externo: (i) autoriza��o de capta��o de dep�sitos em moeda estrangeira pelos bancos argentinos; (ii) limita��o a um ano do prazo m�nimo para capta��o de empr�stimos externos; e, (iii) redu��o gradual desse mesmo prazo, at� sua elimina��o em 1979. N�o � por outro motivo que a entrada de capital externo em 1979 supera a do ano anterior em 1559% (tabela 11)!

����������� Os resultados do processo de abertura externa na Argentina dos anos 70 parecem ter sido ainda piores do que os chilenos, j� que a Argentina n�o contou nem com ganhos substanciais no combate � infla��o, nem com per�odos de crescimento que pelo menos pudessem dar confian�a, ainda que momentaneamente, aos entusiastas da abertura externa como �nica alternativa de desenvolvimento[38] A crise argentina j� � vislumbrada em 1980 quando o capital externo n�o ingressa mais com a vol�pia do ano anterior e a economia argentina apresenta um crescimento p�fio de 1,9%.

O capital externo n�o se comportou dessa maneira por mero capricho em seu humor. O d�ficit em transa��es correntes aparece em 1979 (US$ 513 milh�es) e explode, n�o coincidentemente, a partir da�, chegando a US$ 4,8 bilh�es em 1980. Ainda mais claro do que no Chile, o saldo da balan�a comercial � o menor culpado por esse resultado, j� que ele s� foi negativo em 1980. Por outro lado, o saldo na conta de servi�os � deficit�rio em todo o per�odo, mais do que duplica em 1979, e atinge um d�ficit de US$ 5,4 bilh�es em 1981. Os impactos da liberaliza��o financeira externa ainda podem ser notados pelo fato de que a maior valoriza��o do c�mbio real se deu no per�odo 1977-79, per�odo em que foi acelerada a abertura financeira. Deve-se ressaltar ainda o superendividamento externo provocado por essa estrat�gia de inser��o internacional, como demonstram os dados da tabela 12. O estoque da d�vida externa se eleva constantemente no per�odo todo (1976-83), mas o faz em maior propor��o na �poca de maior liberdade para a movimenta��o de capital externo (1978-81). O agravamento cont�nuo e crescente de indicadores como a propor��o da d�vida externa sobre o PIB e a propor��o da mesma sobre o total de exporta��es s� podia sinalizar um fato para os investidores externos: a incapacidade cada vez maior que a economia argentina tinha para honrar seus compromissos externos. A vulnerabilidade externa da economia argentina, provocada pela estrat�gia de abertura externa, foi a respons�vel pela crise que se abateu no pa�s. Os efeitos distributivos podem ser atestados pela remunera��o m�dia industrial urbana que � 37% inferior em 76-81, em compara��o com 1974, 25% menor em 1979-81 e 37% inferior em 82 (Cano, 2000: 115).

Tabela 12: Endividamento externo argentino (1976-1983) em US$ milh�es

Indicador

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

Estoque total

8379

9678

12496

19034

27162

33534

43634

45069

D�vida privada

3190

3634

4139

9074

127703

14526

15018

13360

D�vida p�blica

5189

6044

8357

9960

14459

19008

28616

31709

Total/PIB

17,1

17,4

21,6

26,3

30,9

40,1

53,7

53,6

Total/exporta��es

2,13

1,71

1,95

2,43

3,38

3,66

5,72

5,75

Fontes: Sourrouille e Luc�ngeli (1983: 99) e Damill e Keifman (1992: 106), a partir de dados do FMI.

����������� Dessa maneira, �a primeira experi�ncia de liberaliza��o da conta de capital e de abertura praticamente irrestrita ao fluxo de fundos do exterior foi implementada a partir de dezembro de 1978 e esteve em vig�ncia por pouco mais de dois anos at� que, no primeiro trimestre de 1981, sofreu um completo colapso no contexto de uma corrida sem precedentes contra a moeda dom�stica, alimentada por uma fuga de capitais tamb�m sem precedentes� (Fanelli e Machinea, 1997: 140). O processo culminou, em 1982, com o aprofundamento da crise, o que obrigou, novamente, a uma revers�o nas reformas, com o controle das importa��es e das transa��es externas, inclusive com a centraliza��o do c�mbio em abril de 1982. Deve-se notar que, durante a d�cada de 80, o pa�s n�o desenvolveu um sistema de indexa��o de ativos, como fez por exemplo o Brasil, o que, em per�odos de alta infla��o, como foi o caso dessa d�cada, provoca a tend�ncia � fuga da moeda local, a �desmonetiza��o� e a dolariza��o informal (Hermann, 2000: 11-12). Estava preparado o terreno para a segunda experi�ncia neoliberal na Argentina.

����������� O per�odo 1983-1989 foi, ao mesmo tempo, caracterizado pelo processo de redemocratiza��o, a partir da vit�ria nas elei��es de Ra�l Alfons�n, que assumiu a presid�ncia em outubro de 1983, e pelos efeitos da crise da d�vida externa e da acelera��o inflacion�ria, que se abateram sobre os pa�ses da regi�o ao longo da d�cada de 80.

����������� As tentativas fracassadas de estabiliza��o nesse per�odo, como no caso do Plano Austral de 1985, constitu�do basicamente pelo congelamento de pre�os e sal�rios, e de revers�o no quadro das contas externas deficit�rias, levaram ao desgaste pol�tico do governo e � vit�ria da oposi��o nas elei��es presidenciais de maio de 1989.

2.3.2.2- abertura externa e dolariza��o

����������� A elei��o de Carlos Menem em 1989 deu in�cio a uma nova e mais radical implementa��o do ide�rio neoliberal na economia argentina. Em julho desse ano, o novo governo j� assume com uma infla��o acumulada de 715% e p�e em marcha o Plan BB de cunho extremamente ortodoxo, que compreendeu medidas como: (i) aumento de tarifas p�blicas e redu��o nos gastos p�blicos (inclusive investimentos); (ii) suspens�o por 6 meses de todos os subs�dios e incentivos fiscais; (iii) aumento de impostos sobre exporta��es e fortes desvaloriza��es cambiais; (iv) baixos reajustes salariais; e, (v) corte na oferta monet�ria que elevou as taxas de juros, embora ainda inferiores � infla��o.

Tabela 13: Indicadores macroecon�micos � Argentina (1989-1999)

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

G

-6,2

-1,8

10,6

9,6

5,7

5,8

-2,8

5,5

8,1

3,9

-3,4

P

4924

2314

171,7

24,9

10,6

4,2

3,4

0,2

0,8

0,9

-1,2

FBKF

15,5

13,9

14,6

16,7

19,0

19,9

17,9

18,0

19,3

19,9

17,8

Notas: G � a taxa de crescimento anual da economia, P � a taxa de infla��o anual e FBKF a forma��o bruta de capital fixo como propor��o do PIB.

Fonte: IMF, International Financial Statistics.

����������� A perman�ncia da infla��o e a profunda recess�o (taxa de crescimento de �6,2% em 1989 � tabela 13) levaram � ado��o de um novo plano econ�mico em janeiro de 1990. O Plan Bonex foi mais duro do que o anterior, levando as taxas de juros a n�veis superiores aos da infla��o, o que redundou em taxas reais de juros positivas que, entre abril e setembro de 1990, oscilaram entre 80% e 150% ao ano. O tratamento de choque ainda foi sentido na troca compuls�ria dos dep�sitos a prazo nos bancos por t�tulos de d�vida p�blica dolarizados (os Bonex), pag�veis em 10 anos, com diferen�a cambial a favor do governo. Contrariamente ao plano anterior, o c�mbio foi valorizado em 41% de 1989 para 1990. A recess�o continuou e a infla��o mostrava resist�ncia � baixa; a taxa de crescimento da economia foi, em 1990, igual a �1,8% e a infla��o atingiu 2314,7%.

����������� Em janeiro de 1991, � lan�ado o Plano de Convertibilidade que engloba a proibi��o por lei de mecanismos de indexa��o, a fixa��o de sal�rios e tarifas p�blicas por tempo indeterminado, a acelera��o da abertura comercial e a lei de convertibilidade, que fixou o� c�mbio em 10.000 austrais (moeda argentina da �poca) por d�lar e, posteriormente (01/04/1991), fixou a taxa de c�mbio em 1 d�lar por peso (nova moeda). Mais do que isso, essa lei, em seu artigo 4, criava a exig�ncia de uma cobertura de reservas internacionais de 100% para a base monet�ria, incluindo-se nas reservas do Banco Central seus outros ativos externos (al�m das divisas) e os t�tulos p�blicos emitidos em moeda estrangeira nele depositados[39]. O Plano de Convertibilidade se aproveitou da grande dolariza��o j� atingida pela economia naquele momento. A tabela 14 mostra a evolu��o e a composi��o dos dep�sitos banc�rios. Esses dados evidenciam dois fatos importantes. Em primeiro lugar, a desmonetiza��o que havia caracterizado a d�cada de 80 � revertida pelo crescimento dos dep�sitos tanto em moeda nacional como em d�lares, a partir de 1991[40]. Em segundo lugar, os dados mostram o maior crescimento dos dep�sitos em d�lares, chegando em 1995 como o maior componente dos dep�sitos banc�rios.

Tabela 14: Composi��o dos dep�sitos banc�rios � Argentina (1988-1998)� US$ bilh�es

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

19981

Total

12,6

10,6

10,2

14,5

24,6

38,2

45

43,2

53,2

68,4

76,8

Em pesos2

90,2

88,5

72,2

55

55,5

52,8

-

45,7

46,9

46,4

44,9

Em US$2

9,8

11,5

27,8

45

45,5

47,2

-

54,3

53,1

53,6

55,1

1-dados at� setembro.

2- como % do total.

Fonte: Hermann (2000: 35).

����������� Os resultados do programa, em termos de estabiliza��o s�o satisfat�rios, pois a infla��o � fortemente reduzida (171,7% em 1991 e 24,9% em 1992) e as contas p�blicas apresentam uma melhora em virtude da forte redu��o dos juros reais em 1992-1993, com uma m�dia anual de cerca de 13%, gra�as tamb�m � queda dos juros internacionais. Al�m disso, a arrecada��o � elevada, n�o s� pelas receitas do programa de privatiza��es[41], mas tamb�m em virtude do forte crescimento econ�mico de 1991 (10,6%). Depois desse ano, os ganhos de estabiliza��o no tocante � infla��o foram se mantendo.

����������� A maior parte da abertura comercial do per�odo de reformas se processou entre 1989 e 1993 com a elimina��o dos regimes de consulta pr�via para importar � chegando praticamente a desaparecer em 1991 a necessidade de permiso previo de importaci�n -, aumento de impostos sobre exporta��es e redu��o de subs�dios tribut�rios, com objetivos fiscais emergenciais. Em 1992 as exporta��es passaram a ser incentivadas novamente. Em outubro de 1990, foram retirados todos os �nus sobre importa��es de bens de capital e a redu��o das posi��es com restri��o de importa��o de 2000 produtos para 25. As restri��es foram totalmente eliminadas em janeiro de 1991.

����������� A estrutura tarif�ria, por sua vez, tamb�m sofreu profunda altera��o com a abertura comercial. A tabela� 15 mostra a evolu��o dessa estrutura at� meados de 1991.

Tabela 15: Evolu��o da estrutura tarif�ria � Argentina (1988-1991)

M�s\Ano

In�cio*

09/89

01/90

03/90

07/90

09/90

04/91

Tarifa m�dia

28,86

26,46

16,36

15,47

18,45

17,29

9,73

Tarifa m�xima

40

40

24

24

24

24

22

Tarifa m�nima

5

0

0

0

5

5

0

Posi��es com tarifa m�xima

2325

2311

3139

3020

3113

3821

3808

Posi��es com tarifa m�nima

849

777

783

1419

795

926

5165

*situa��o vigente em 1988.

Fonte: Damill e Keifman (1992: 119).

����������� Deve-se ressaltar a consistente redu��o da tarifa m�dia de importa��o, assim como a da tarifa m�xima que sai de 40% no in�cio do processo de abertura comercial para chegar a 22% em abril de 1991. A tarifa m�nima de 5% foi eliminada, sendo que o n�mero de posi��es nessa tarifa chega a impressionantes 5165 em abril de 1991. Nesse mesmo momento, � eliminada a tarifa espec�fica que detinha entre 150 e 300 posi��es. Desde abril de 1991, rapidamente, as tarifas baixam ainda mais e s�o estratificadas em tr�s grupos (0%; 11% e 22%), sofrendo posteriormente um reescalonamento em oito n�veis crescentes que sa�am de 0% at� 20%, na raz�o de 2,5%. � preciso lembrar, como faz Cano (2000: 129), que em 1992 a crise brasileira fez com que o governo argentino tomasse medidas que levaram a tarifa m�dia para cerca de 18%[42].

A liberaliza��o financeira externa foi ainda mais radical do que a abertura comercial. Segundo Bouzas (1996: 116), j� no final de 1989 foram suprimidas todas as� restri��es sobre transa��es em divisas e investimento externo (seja investimento direto ou de carteira). De fato, esta segunda experi�ncia de liberaliza��o financeira � extremamente radical, levando o grau de abertura financeira a um n�vel bastante pr�ximo do seu limite. Entretanto, esse processo n�o se deu de forma imediata em 1989. Conforme Hermann (2000: 12-13), podemos apontar as principais medidas nessa dire��o da seguinte forma:

(a) Lei de Emerg�ncia Econ�mica (08/89): concedeu as mesmas condi��es de tratamento regulat�rio, credit�cio e tribut�rio para o capital externo, sob a forma de investimento direto estrangeiro, que as possu�das pelo capital nacional;

(b) Lei de Reforma do Estado (08/89): regulamentou as privatiza��es (incluindo bancos nacionais e de prov�ncias), com incentivos � participa��o estrangeira no processo;

(c) Normas do Banco Central que, em 07/89 e 03/91, regulamentam a capta��o de dep�sitos e opera��es de cr�dito em d�lares pelos bancos argentinos e, em 12/89 e 04/91, a liberaliza��o do mercado de c�mbio;

(d) Plano/Lei de Convertibilidade (03/91): pro�be a indexa��o de valores, permite os pagamentos em moeda estrangeira, institui o regime de currency board, estabelecendo a livre convertibilidade entre a moeda nacional e o d�lar e autoriza a realiza��o de contratos em moeda estrangeira[43];

(e) Decreto de Desregulamenta��o do Mercado de Valores (11/91): eliminou impostos e outras restri��es �s opera��es com t�tulos mobili�rios[44];

(f) Nova Carta Org�nica do Banco Central (09/92): definiu sua independ�ncia, vetando sua atua��o como financiador do Tesouro Nacional[45] e restringiu seu papel de emprestador de �ltima inst�ncia[46];

(g) autoriza��o, no final de 1993, de ingresso de novas entidades financeiras (a regulamenta��o de n�o autoriza��o j� durava mais de 10 anos); e,

(h) Decreto 146/1994: liberou e regulamentou a opera��o de institui��es financeiras de capital estrangeiro, fornecendo-lhes tratamento regulat�rio id�ntico �s nacionais.

Este conjunto de medidas representa, de forma muito mais radical, a volta ao quadro institucional existente no final dos anos 70, ou seja, abertura financeira com concentra��o de capital financeiro, a exist�ncia de bancos universais que operam sem restri��es de mercado, e a desnacionaliza��o. A participa��o dos bancos privados estrangeiros no ativo total do sistema argentino sai de 39,9% no fim de 1996 para 51,2% em setembro de 1998 (Hermann, 2000: 38).

����������� Com isso tudo e, principalmente, o perfil dolarizado que assume o sistema financeiro argentino, eleva-se a fragilidade financeira de suas institui��es e, portanto, a vulnerabilidade externa do pa�s. Em 1995, por exemplo, o efeito tequila proveniente da crise mexicana de dezembro de 1994 reduziu drasticamente a entrada de capital (caiu de US$ 9,3 bilh�es em 1994 para m�seros US$ 540 milh�es no ano seguinte), o que provocou uma forte press�o cambial com eleva��o da fragilidade das institui��es financeiras e um ajuste interno recessivo (taxa de crescimento de �2,8% em 1995)[47]. Essa extrema depend�ncia do capital externo faz com que a economia argentina apresente um ciclo de crescimento bastante inst�vel, ora com taxas muito positivas, ora com retrocessos expressivos (tabela 13). Como afirmam Freitas e Prates (1998: 181), �a vulnerabilidade do sistema financeiro argentino � revers�o dos fluxos de capitais, intr�nseca ao regime de conversibilidade, � agravada pela liquidez dos dep�sitos em d�lares (e pesos) e pela concentra��o dos empr�stimos em setores non-tradables, que ampliam a exposi��o das carteiras dos bancos �s desvaloriza��es cambiais�.

����������� Como efeito do processo de liberaliza��o financeira externa, ocorreu no pa�s uma forte entrada de capitais, sendo que, entre 1991 e 1994, essa entrada totalizou US$44 bilh�es, dos quais apenas US$ 12 bilh�es como investimento direto estrangeiro e, destes, US$ 5,3 bilh�es destinados a privatiza��es. A abertura comercial, em conjunto com a forte valoriza��o do c�mbio real[48] - conseq��ncia tanto do regime de c�mbio nominal fixo como da livre entrada de capitais externos � fizeram com que as importa��es quintuplicassem entre 1990 e 1994. Como decorr�ncia dos d�ficits comerciais e da conta de servi�os, o d�ficit em transa��es correntes como propor��o do PIB passou de 2,4% em 1992 para 3,6% em 1994 e 4,8% em 1998.

����������� Em outras palavras, o processo de abertura externa na Argentina da d�cada de 90, aprofundado e agravado por um regime de c�mbio nominal fixo, levou a d�ficits cr�nicos em suas contas externas, ao aumento do endividamento externo p�blico e privado, que passa de US$ 62 bilh�es em 1990 para US$ 79,5 bilh�es quatro anos depois, sendo que a parcela do setor p�blico, no mesmo per�odo, sai de US$ 49 bilh�es para US$ 61 bilh�es[49], e � volatilidade nas taxas de crescimento da economia. O valor m�dio da taxa de crescimento entre 1989 e 1999 foi inferior a 3% ao ano[50], mas o que � mais indicativo � o fato de que os anos recessivos (1995 e 1999) foram justamente aqueles em que o capital externo mais se retraiu, evidenciando a fragilidade e vulnerabilidade externas da Argentina, que provocam uma forte restri��o externa ao seu crescimento. Isto em termos distributivos tamb�m trouxe seus efeitos. Se a distribui��o de renda tem sido regressiva nos �ltimos 25 anos, no �ltimo per�odo ela regrediu mais ainda, pois, entre 1990 e 1998, a participa��o dos 20% mais pobres passa de 5,7% da renda para 4,2%, e a dos 20% mais ricos de 50,8% para 53,2% (Cano, 2000: 151).

����������� Apesar do agravamento da situa��o, o governo argentino parecia decidido a manter a convertibilidade e o grau de abertura externa, dez anos ap�s o in�cio do projeto neoliberal. No in�cio de 2001, o governo chegou a anunciar um projeto para flexibilizar o regime cambial do pa�s onde a cota��o do peso passaria a ser igual a 50 centavos de d�lar somados a 50 centavos de euro. Chegou tamb�m a ser anunciado um sistema cambial diferenciado para as transa��es comerciais e as financeiras. Entretanto, o compromisso com a convertibilidade ainda era afirmado explicitamente. Isto continuou impondo dois problemas para o pa�s. O primeiro foi a manuten��o de sua total inexist�ncia de soberania no manejo da pol�tica econ�mica, o que n�o apareceu como um grande problema para os seus governantes. O segundo foi, como conseguir crescer e, ao mesmo tempo, obter reservas para manter o c�mbio est�vel? Se o Banco Central argentino n�o pode emitir d�lares e o FED americano n�o acenou para a incorpora��o de um novo �Porto Rico� aos seus Estados Unidos, a Argentina s� teria duas sa�das: vultosos saldos positivos na balan�a comercial ou continuidade da entrada de capital externo para financiar suas contas. A primeira alternativa n�o se mostrou muito promissora, n�o s� pelos efeitos delet�rios da abertura comercial, mas tamb�m pela valoriza��o cambial que a Argentina sofreu em rela��o a seus principais parceiros comerciais. A segunda alternativa tampouco se mostrou sustent�vel, uma vez que a pergunta relevante ainda estava presente: at� quando os investidores externos aceitariam financiar um pa�s com superendividamento externo, d�ficits estruturais em transa��es correntes e restri��o externa ao crescimento?

����������� A eclos�o da crise, inclusive na esfera institucional, em novembro de 2001 mostrou que o experimento neoliberal argentino fracassou rotundamente.

Em janeiro de 2002, o pa�s foi obrigado a abandonar oficialmente a lei que impunha a paridade entre o d�lar e o peso. Inicialmente, foi anunciado um sistema de c�mbio duplo com uma taxa fixa para com�rcio exterior e pagamento da d�vida externa federal, e outra flutuante para as demais opera��es (turismo, poupan�a e importa��o de bens de consumo). Ao longo do ano, a incapacidade do pa�s em honrar seus compromissos externos e a crise que se desenvolveu por conta da insufici�ncia de d�lares no sistema banc�rio, frente � demanda dos correntistas, que desejavam retirar seus saldos em d�lares, conformou uma intensa crise cambial e financeira no pa�s.� Qualquer atitude frente a essa crise n�o escapar� de altos custos econ�micos e sociais para o pa�s que, sem d�vida alguma, devem ser debitados em qualquer balan�o geral que se fa�a das pol�ticas neoliberais na Am�rica Latina. Saliente-se que, entre outras coisas, a crise j� deixa, em meados de 2002, cerca de 25% da popula��o desempregada e 51% da mesma vivendo em condi��es de pobreza.

2.3.3- M�xico: mais um experimento no in�cio da d�cada de 90

����������� Apresentado como caso exemplar de um suposto sucesso na aplica��o das pol�ticas neoliberais, chegando at� � indica��o do cargo m�ximo da OEA para seu presidente Salinas, o M�xico passou a ser refer�ncia dos resultados que essas pol�ticas promovem. Ao inv�s de um exemplo de sucesso, como queriam os defensores e ide�logos do neoliberalismo, o M�xico demonstrou, mais uma vez, a fragilidade e vulnerabilidade externas como conseq��ncia de um processo radical de abertura externa, processo que culminou com a grave crise de dezembro de 1994.

����������� Este pa�s come�ou a implementar este tipo de pol�tica ap�s passar pela crise da d�vida externa no in�cio da d�cada de 80. O ano de 1982 representou n�o apenas uma exacerba��o da crise, mas tamb�m uma profunda modifica��o na estrat�gia de desenvolvimento. O governo de L�pez Portillo, entre 1979 e 1982, pode ser entendido como �a transi��o de uma postura mais nacionalista para outra francamente mais atrelada � pol�tica dos EUA, mais conservadora, fechando acordos com o FMI e colocando como eixo central da pol�tica econ�mica a op��o pelo petr�leo, ainda que para isso tivesse sido necess�rio um endividamento externo. A gest�o Portillo representou, ent�o, o fim de um processo de pol�ticas de industrializa��o substitutivas de importa��es e o in�cio � frustrado pela crise � de uma pol�tica liberalizante� (Cano, 2000: 408-409 � it�lico original).

����������� A gravidade da crise em 1982 levou � suspens�o do pagamento do servi�o de uma d�vida externa que passou de US$ 40 bilh�es em 1980 para US$ 90 bilh�es dois anos depois. Para piorar a situa��o, ocorreu uma revers�o abrupta da taxa de crescimento da economia, que passa de 8,8% em 1991 para �0,6% em 1982, a explos�o inflacion�ria que sai de 28,7% em 1981 para atingir 98,8% no ano seguinte. Al�m disso, o desequil�brio financeiro do setor p�blico se torna cr�nico quando em 1982 o d�ficit p�blico como propor��o do PIB atinge 17%. A gravidade dessa crise fez com que as reformas liberalizantes fossem adiadas, com exce��o do programa de desestatiza��o, e as pol�ticas de estabiliza��o passassem a ser a prioridade na agenda do novo governo empossado em novembro de 1982.

����������� Autores como Paula (1994) e Ferreira (1994) dividem a implementa��o das pol�ticas de estabiliza��o em duas fases[51]. A primeira compreenderia o per�odo entre 1982 e 1987, englobando tanto as medidas emergenciais de 1982 para fazer frente � crise da d�vida, como o Plano Imediato de Reordena��o Econ�mica (PIRE). As pol�ticas executadas para contornar a insolv�ncia externa foram:

(a) reestrura��o da d�vida externa e estabelecimento de um novo calend�rio para o pagamento do seu servi�o (que voltou a ser pago em 1983);

(b) o Estado assume os passivos privados, inclusive com a nacionaliza��o dos bancos em 01/09/1982[52];

(c) ajuste fiscal englobando a redu��o do gasto e do investimento p�blicos, assim como o reajuste de pre�os p�blicos;

(d) imposi��o em setembro de 1982 de controles cambiais e estabelecimento do c�mbio dual, com um c�mbio controlado para o com�rcio e para a d�vida externa, e um c�mbio livre para as demais opera��es;

(e) cria��o de um licenciamento pr�vio de importa��es e suspens�o tempor�ria dos pagamentos em d�lares dos dep�sitos banc�rios nacionais nessa moeda.

�����������

Tabela 16: Balan�o de pagamentos � M�xico (1982 � 1988) em US$ milh�es

Conta

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

Exporta��es

21230

22312

24196

21663

16031

20655

20657

Importa��es

14437

8550

11255

13212

11432

12222

18905

Balan�a comercial

6793

13762

12941

8451

4599

8433

1752

Transa��es correntes

-4878

5403

4194

1130

-1673

3968

-2905

IDE1

1655

461

390

491

1160

1796

1726

Investimento de portfolio

946

-653

-756

-984

-816

-397

1929

Varia��o de reservas

3470

-2183

-2355

2972

232

-5684

6789

1-Investimento direto estrangeiro.

Fonte: IMF, International Financial Statistics.

A pol�tica cambial tamb�m foi utilizada como forma de enfrentar o problema externo, com a taxa de c�mbio sofrendo uma desvaloriza��o entre o in�cio de 1982 e o final de 1984, sendo que o c�mbio controlado continuou sendo desvalorizado at� 1987 atrav�s de um �deslizamento� di�rio[53]. Ainda que as desvaloriza��es tenham incrementado a carga financeira sobre o gasto p�blico e a fragilidade financeira dos agentes endividados em d�lar, essas medidas contribu�ram para controlar o desequil�brio externo, como mostra a tabela 16.

����������� De cunho ortodoxo, mas mantendo alguns elementos heterodoxos como o controle de c�mbio e de importa��es, o PIRE procurou obter um ajuste gradual da conta corrente, um ajuste fiscal e a redu��o da infla��o, utilizando para isso os instrumentos de rigidez na pol�tica fiscal (o imposto sobre valor agregado, por exemplo, passou de 10% para 15%), tetos para expans�o do cr�dito interno e um maci�o programa de privatiza��es. Dessa maneira, em termos de seus objetivos, o programa pode ser considerado relativamente bem sucedido, uma vez que o d�ficit em transa��es correntes saiu de cerca de US$ 5 bilh�es em 1982 para um super�vit de quase US$ 4 bilh�es em 1987 (tabela 16). O d�ficit prim�rio do setor p�blico, que atingiu 3,9% do PIB em 1982, passou para um super�vit de 4,7% do PIB em 1987, e o d�ficit operacional de 5,2% do PIB, no in�cio desse mesmo per�odo, se transformou em super�vit de 1,2% do PIB (Landau, 1991: 08).

����������� Entretanto, o governo de Miguel de la Madrid (1982-1987) n�o conseguiu esses resultados sem custos. A tabela 17 apresenta esses custos.

Tabela 17: Indicadores macroecon�micos � M�xico (1982-1988) em %

Indicador

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

Crescimento

-0,6

-4,2

3,6

2,6

-3,8

1,4

1,1

Crescimento per capita

-2,2

-7,4

1,3

0,2

-5,9

-0,9

-1,1

Taxa de juros ao ano

73,62

77,02

62,83

69,33

112

155,14

78,4

Taxa de infla��o

98,8

80,8

59,2

63,7

105,7

159,2

51,7

Investimento / PIB

22,9

17,5

17,9

19,1

19,4

18,4

19,1

Taxa de desemprego

4,2

6,6

5,7

4,4

4,3

3,9

3,6

Fonte: IMF, International Financial Statistics e CEPAL.

����������� Os dados para o crescimento e o crescimento per capita da economia mexicana mostram claramente a estagna��o econ�mica do per�odo, o que � facilmente explicado pela manuten��o de altas taxas reais de juros no per�odo e pela redu��o do investimento como propor��o do PIB. S� o investimento p�blico, que representava 12,1% do PIB em 1982, caiu para 5% do PIB. Al�m disso, o consumo caiu de 75% do PIB em 1982 para 73% em 1988. Levando em conta a revers�o do d�ficit p�blico, o �ltimo componente da demanda agregada, o saldo comercial, era o �nico que poderia sustentar um certo crescimento econ�mico. Entretanto, os saldos positivos obtidos foram utilizados para o pagamento da d�vida externa, de forma que a sangria de recursos para o exterior consumiu pouco mais de 6% do PIB ao ano entre 1982 e 1988 (Cano, 2000: 427).

����������� A taxa de desemprego, que se elevou ao longo do per�odo, recuou at� atingir 3,6% em 1988. Contudo, a taxa de informalidade no mercado de trabalho passa de 24,2% para 36%, em muito por causa do grande crescimento do emprego na ind�stria maquiladora, frente ao fechamento de postos na ind�stria n�o maquiladora. Em termos distributivos, os 20% mais pobres, que em 1984 recebiam 2,9% da renda passam a receber, em 1989, 6,2% (Cano, 2000: 422). Os sal�rios como propor��o do PIB, por sua vez, passam de 35% em 1982 para meros 15,8% em 1988!

����������� N�o bastasse isso, a explos�o inflacion�ria em 1986 e 1987 (tabela 17), muito por conta das desvaloriza��es do per�odo e da revis�o dos pre�os p�blicos, provocou uma guinada da pol�tica de estabiliza��o. Em dezembro de 1987, Miguel de la Madrid prop�s o Pacto de Solidariedade Econ�mica (PSE), que aglutinou medidas ortodoxas e heterodoxas. �s primeiras pertenceram o corte de cr�dito e de oferta monet�ria, a acelera��o da abertura comercial e das privatiza��es, e o enxugamento do Estado com a dispensa de funcion�rios, desestatiza��o e extin��o de entidades p�blicas[54]. O car�ter heterodoxo do PSE se deu por uma pol�tica �concertada� de rendas, onde governo, empres�rios e trabalhadores se comprometiam a manter um controle tempor�rio sobre pre�os e sal�rios. Especificamente, concedeu-se um aumento salarial �nico no in�cio do PSE e estabeleceu-se o compromisso de indexar os sal�rios � infla��o, a partir de mar�o de 1988, compromisso este n�o efetivado na pr�tica. A taxa de c�mbio controlada foi ajustada para acabar com o �gio existente no c�mbio livre, sofrendo desvaloriza��o de 22% em 16/12/1987, e sendo fixada at� 1989[55]. A utiliza��o da taxa de c�mbio como �ncora da estabiliza��o foi possibilitada pela exist�ncia de reservas cambiais na ordem de cerca de US$ 14 bilh�es no in�cio do plano, posteriormente acrescidas pelo ingresso de capital externo p�s-liberaliza��o financeira.

����������� Com o in�cio do governo Carlos Salinas de Gortari em 1989, e a infla��o substancialmente reduzida � ela passou de quase 160% em 1987 para 51% em 1988 � manteve-se o principal do PSE, mas estabeleceu-se o Pacto pela Estabilidade e de Crescimento Econ�mico (PECE) com tr�s objetivos adicionais: (i) liberaliza��o de pre�os; (ii) retomada do crescimento; e, (iii) renegocia��o da d�vida externa. A id�ia da pol�tica era a da estabilidade macroecon�mica com redu��o do papel do Estado e o crescimento encabe�ado pelo setor privado, ou seja, uma vez conseguida uma certa estabiliza��o[56], o processo de abertura externa e desregulamenta��o interna garantiria a retomada dos investimentos externos e internos e, portanto, o crescimento econ�mico.

����������� Entretanto, para que isso fosse feito, era necess�rio que o pa�s voltasse a acessar os mercados de capitais internacionais, o que s� seria poss�vel com uma renegocia��o da d�vida externa. Essa renegocia��o se deu sob os moldes do Plano Brady[57] e foi conclu�da entre 1989 e 1990.

����������� O processo de abertura externa, antes da liberaliza��o financeira, j� vinha sendo implementado com a abertura comercial. A gravidade da crise no in�cio dos anos 80 fez com que as licen�as pr�vias para importa��o, entre 1981 e 1982, passassem a atingir 100% das importa��es, a tarifa m�dia sobre as mesmas chegasse a 27% (16,4% ponderado pela produ��o dom�stica), e a amplitude tarif�ria se definisse pelo intervalo 0% e 100%, existindo 16 n�veis tarif�rios. Entretanto, esse quadro foi prontamente revertido e o processo de abertura comercial teve seu in�cio j� em 1984 quando essas licen�as para importa��es atingem 83% do total destas. Como a acelera��o da abertura comercial se d� em 1985, autores como Paula (1994) e Ten Kate (1992) identificam esse ano como o in�cio do processo, mas a sua concep��o j� estava delineada e os seus primeiros passos foram dados antes[58]. Uma vez que o sistema de prote��o � ind�stria mexicana se baseava em controles quantitativos (quotas e permiss�es pr�vias de importa��o), tarifas nominais elevadas e um sistema de pre�os oficiais de importa��o, que serviam para o c�lculo do valor tarif�rio m�nimo e para evitar subfaturamento, a abertura comercial mexicana se traduziu na redu��o da incid�ncia desses mecanismos no total das importa��es, como mostra a tabela 18.

Tabela 18: Evolu��o do regime de prote��o mexicano (1980-1991)

M�s / Ano

Incid�ncia de permiss�o pr�via � importa��o1

Tarifa m�dia (%)2

Incid�ncia de pre�os oficiais de importa��o1

04/1980

64

22,8

13,4

06/1985

92,2

23,5

18,7

12/1985

47,1

28,5

24,4

06/1986

46,9

24

19,6

12/1986

39,8

24,5

18,7

06/1987

35,8

22,7

13,4

12/1987

25,4

11,8

0,6

06/1988

23,2

11,0

0

12/1988

21,3

10,2

0

06/1989

21,8

12,6

0

12/1989

19,8

12,5

0

06/1990

19,6

12,5

0

12/1990

17,9

12,4

0

12/1991

-

12,0

0

1-% do total de importa��es

2-ponderada pela produ��o dom�stica.

Fonte: Ten Kate (1992) e Agosin e Ffrench-Davis (1993).

����������� Deve-se destacar que a tarifa m�dia sobre importa��es come�a a cair em 1984, mas s�o reajustadas em 1985 para compensar a redu��o significativa das licen�as para importa��o. Os pre�os oficiais de refer�ncia de importa��es tamb�m passam a atingir uma propor��o maior das importa��es em 1985 para compensar o primeiro efeito[59]. A partir da�, entretanto, os tr�s mecanismos de prote��o passam a ser reduzidos. Em julho de 1985, foram eliminados os controles quantitativos para um grande n�mero de posi��es, sendo que s� 908 de um total de 8000 posi��es ficaram sob controle, a maioria referente a bens de consumo final (Ten Kate, 1992: 67). No in�cio de 1986 foi abolida a tarifa de 100% e a tarifa m�xima passou a ser de 50%. Em mar�o do mesmo ano foi anunciado um cronograma de redu��o tarif�ria para que a tarifa m�xima chegasse a 30% at� outubro de 1988, em quatro fases. O processo todo se d� de forma que a abertura comercial estava praticamente conclu�da em 1988, sendo que a partir da� foram feitos alguns ajustes, como a pequena eleva��o tarif�ria para compensar a redu��o de outras restri��es n�o-tarif�rias. Uma das caracter�sticas da abertura mexicana � o fato de que o n�mero de categorias de tarifas reduziu-se de 16 em 1982 para apenas 5 em 1990.

����������� A entrada do M�xico no GATT em meados de 1986, embora n�o tenha implicado em mudan�a de sua pol�tica comercial, uma vez que o pa�s j� tinha ido mais al�m na abertura comercial do que o estipulado pelo GATT, representou uma �amostra por parte das autoridades mexicanas de sua firme inten��o de levar o programa de abertura a suas �ltimas conseq��ncias, sem possibilidade de volta atr�s� (Ten Kate, 1992: 67). A incorpora��o do M�xico no NAFTA, em janeiro de 1994, possui o mesmo significado, sendo que o pa�s se comprometia a seguir reduzindo tarifas frente aos EUA e Canad�, a aprofundar o processo de liberaliza��o para os setores de servi�os e a dar maior abertura aos movimentos de capital.

����������� No que se refere � liberaliza��o financeira externa, o processo de abertura come�ou a ser implementado posteriormente. O per�odo entre 1982 e 1988, a reforma financeira limitou-se � adequa��o frente as mudan�as internacionais. Sobre esse per�odo Cano (2000: 421-422) afirma que, apesar da exclusividade do governo para a atividade banc�ria, fruto da reforma constitucional de 1983, �j� se permitiria aos bancos a emiss�o de aceites com taxas e prazos livres, redu��o do controle sobre taxas passivas, diminui��o da aloca��o dirigida para o cr�dito�. Entretanto, � s� com a lei burs�til de dezembro de 1989 que o processo de liberaliza��o financeira � de fato posto em marcha. Esta lei ampliou o acesso do investimento estrangeiro ao mercado de a��es, possibilitando-lhe a aquisi��o de a��es do tipo que garantem (ou podem garantir) o controle de capital; essas a��es, anteriormente, eram exclusividade para investidores nacionais.

����������� O elemento central da liberaliza��o da conta de capital mexicana foi a abertura do mercado de t�tulos p�blicos. A proibi��o de aquisi��o desses t�tulos por n�o-residentes que vigorava desde 1980 foi eliminada em 1990. Em maio desse mesmo ano, foi institu�da uma taxa �nica de 1% (�selo fiscal�) sobre repatria��o dos recursos aplicados no exterior. O regime de c�mbio dual, vigente desde 1982, foi abolido em novembro de 1991 e, um m�s depois, foram autorizadas as negocia��es com Certificados de la Tesorer�a (Cetes), que s�o t�tulos do governo denominados em pesos, al�m de terem sido liberalizadas as aplica��es em t�tulos privados de renda fixa.

����������� No que diz respeito � conversibilidade entre moedas, a liberaliza��o financeira externa tamb�m foi aprofundada. Se no per�odo entre 1986 e 1991 os dep�sitos em moeda estrangeira eram permitidos s� para empresas localizadas na fronteira com os EUA, em 1991 esses dep�sitos foram liberados para pessoas f�sicas dessas localidades e pessoas jur�dicas mexicanas em geral. Dois anos depois, as condi��es de acesso para n�o-residentes a estes dep�sitos foram liberalizadas[60]. Ainda foi autorizada a emiss�o de t�tulos denominados em moeda estrangeira, isto �, com cobertura cambial (como os Tesobonos, que t�m um prazo de apenas 1 a 3 meses e s�o indexados em d�lar), e de Certifiados de Dep�sito Banc�rio denominados em d�lar.

����������� J� o marco regulat�rio do capital estrangeiro no tocante aos bancos tamb�m foi liberalizado. Em julho de 1990 foi promulgada uma nova lei das institui��es de cr�dito flexibilizando as condi��es de acesso para as institui��es estrangeiras. Especificamente, estabeleceu-se que as sucursais podiam transacionar apenas com n�o-residentes e autorizou-se uma participa��o minorit�ria estrangeira no capital social das corretoras. Em abril de 1994, em face da entrada para o NAFTA, foi autorizada a abertura direta de filiais de bancos e corretoras americanos e canadenses. Tudo isso se deu em meio � reprivatiza��o dos bancos entre 1990 e 1992[61]. A participa��o estrangeira no sistema financeiro mexicano n�o cedeu nem no per�odo p�s-94 (ano da crise), sendo que em dezembro desse ano 1,2% do total de ativos era de propriedade estrangeira e tr�s anos ap�s essa propor��o j� estava em 19,9%.

����������� Esse processo de abertura externa provocou v�rios efeitos delet�rios sobre a economia mexicana. O endividamento externo privado, por exemplo, teve um crescimento de 170% entre 1988 e 1994, sendo que s� a d�vida externa banc�ria nesse per�odo foi acrescida em US$ 18 bilh�es. A forte entrada de capitais externos, fen�meno que se acelerou a partir de 1991 (tabela 19), no per�odo entre 1990 e 1993, se efetivou 21% na forma de investimento direto e 67% na forma de investimento em carteira (Griffith- Jones, 1996: 156); s� no ano de 1993, o investimento externo em portfolio superou o investimento direto estrangeiro em 6,5 vezes ! Deve-se ressaltar que o investimento de portfolio passa a superar o investimento direto estrangeiro exatamente quando a liberaliza��o financeira externa � intensificada no governo Salinas.

Tabela 19: Balan�o de pagamentos � M�xico (1989-1997) em US$ bilh�es

Conta

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

Exporta��es

35,1

40,7

42,7

46,2

51,9

60,9

79,5

96,0

110,4

Importa��es

34,7

41,6

49,9

62,1

65,3

79,3

72,4

89,4

109,8

Saldo comercial

0,4

-0,88

-7,2

-15,9

-13,4

-18,4

7,1

6,6

0,62

Transa��es correntes

-5,8

-7,4

-14,8

-24,4

-23,4

-29,6

-1,5

-2,3

-7,4

Investimento direto estrangeiro

2,7

2,5

4,7

4,4

4,4

10,9

9,5

9,2

12,4

Investimento

de portfolio

0,35

3,3

12,7

18,0

28,9

8,2

-9,7

13,4

5,0

Conta de capital

4,7

8,4

25,1

27,0

33,7

15,7

-10,4

6,1

18,9

Fonte: IMF, International Financial Statistics e Huerta (2000: 57) para a conta de capital.

����������� A forte entrada de capital externo, em conjunto com a utiliza��o da taxa de c�mbio como �ncora da estabiliza��o, provocou uma significativa aprecia��o real do c�mbio (tabela 20). Isto, aliado ao amplo processo de abertura comercial, resultou nos d�ficits comerciais que ocorreram no per�odo 1990/1994.

Tabela 20: Indicadores macroecon�micos � M�xico (1989-1998) em %

Indicador

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

Crescimento

3,3

4,4

3,6

2,6

0,6

3,5

-6,2

5,2

6,8

4,8

Crescimento per capita

1,3

2,4

1,7

0,9

-1,5

1,5

-7,5

3,8

4,9

2,8

Infla��o anual

19,7

29,9

18,8

11,9

7,7

6,5

52

27,7

15,7

18,6

Poupan�a interna1

-

20,3

18,7

16,6

15,1

14,7

19,4

20,4

21

20,6

Taxa real de c�mbio2

95

90

82

76

72

74

110

96

86

85

Taxa de desemprego

-

-

2,7

2,8

3,4

3,7

6,2

5,5

3,7

3,2

1-como propor��o do PIB.

2-deflacionado pelo IPC e com 1988=100 (a redu��o do �ndice indica aprecia��o).

Fonte: IMF, International Financial Statistics e CEPAL, Anu�rio Estad�stico de Am�rica Latina y El Caribe.

����������� A significativa diferen�a entre os d�ficits na balan�a comercial e em transa��es correntes durante todo o per�odo evidencia o pesado d�ficit na conta de servi�os, consubstanciado na elevada magnitude das remessas de juros e dividendos e pagamentos de juros. Esses d�ficits externos cr�nicos eram cobertos por mais ingresso de capitais, que implicaram em maiores remessas de lucros (no caso de investimento direto estrangeiro ) e pagamento de juros (empr�stimos externos), e no crescimento do passivo externo; entre 1990 e 1994 o passivo externo l�quido elevou-se em US$ 92 bilh�es (Ffrench-Davis, 1997: 30). A cr�nica incapacidade de cobrir o d�ficit em transa��es correntes, que, em rela��o ao PIB, sai de 1,5% em 1988 para 3,0% em 1990, 5,1% em 1991 e 7,7% tr�s anos depois, se tornou um c�rculo vicioso que desembocou na grave crise cambial de dezembro de 1994[62].

����������� Essa crise j� deveria ter acontecido em princ�pios do ano, mas o governo cobriu o d�ficit externo com reservas monet�rias, contraindo empr�stimos de curto prazo. Ao longo desse ano, ocorreram seis ataques especulativos contra a moeda mexicana, sendo que a tentativa do governo de desvalorizar o c�mbio em 15,6% em dezembro levou a uma fuga em massa dos capitais externos e ao esgotamento das reservas. A varia��o destas em 1994 foi de - US$ 18,9 bilh�es.

Tabela 21: Investimentos estrangeiros em d�vida p�blica

M�xico (1991-1996) em US$ bilh�es*

Obriga��es do governo

1991

1992

1993

1994

1995

1996

Cetes

3,0 (54)

9,2 (64,3)

15,4 (70,2)

2,5 (12,3)

2,8 (82)

3,0 (89,2)

Tesobonos

0,3 (4,7)

0,2 (1,4)

1,3 (5,9)

17,4 (85)

0,2 (5,6)

-

Outras

2,2 (41,3)

4,8 (34,3)

5,2 (23,9)

0,6 (2,7)

0,4 (12,4)

0,4 (10,8)

Total

5,5

14,2

21,9

20,5

3,4

3,4

*os n�mero entre par�nteses mostram a propor��o em rela��o ao total.

Fonte: Freitas e Prates (1998: 182).

Esses problemas de financiamento externo levaram a uma queda no PIB de 6% , a uma forte deprecia��o de sua moeda e a um repuxo inflacion�rio no ano seguinte (tabela 20). A crise cambial ainda foi complicada por dois fatores. O primeiro foi o encurtamento e dolariza��o da d�vida para atrair investidores no in�cio de 1994. Os t�tulos do governo denominados em pesos (Cetes) foram sendo substitu�dos por t�tulos com cobertura cambial (Tesobonos). Estes �ltimos passaram de US$ 1,3 bilh�o em 1993 para US$ 17,4 bilh�es em 1994 (tabela 21). O segundo fator complicador foi o crescimento da postura especulativa de bancos e institui��es financeiras nos mercados cambiais, o que provocou o aumento do endividamento privado e da fragilidade do sistema financeiro[63].

����������� Para tentar socorrer a economia mexicana foi montado um pacote de ajuda, sob a supervis�o americana, de mais de US$ 50 bilh�es, dos quais US$ 20 bilh�es dos EUA, US$ 17,8 bilh�es do FMI (com prazo de 5 anos) e US$ 10 bilh�es do BIS. As exig�ncias americanas para efetivar o pacote reuniam faturas das exporta��es mexicanas de petr�leo, depositadas em conta no FED como garantia, a continua��o da implementa��o do receitu�rio de pol�ticas do FMI e o pagamento de todas as despesas inerentes ao pacote. Apesar de apenas pouco mais de US$ 11 bilh�es terem sido utilizados, �a d�vida externa, acrescida pela abertura, passa (em US$ bilh�es) de 102 em 1987 para 131 em 1993, disparando para 166 em 1995. Tal aumento foi possibilitado justamente pelo socorro dos EUA e do FMI, que permitiram ao M�xico voltar ao mercado financeiro internacional para (...) reendividar-se ainda mais� (Cano, 2000: 444).

����������� A crise de dezembro de 1994 foi o ponto culminante de uma experi�ncia que vinha sendo mostrada como a prova definitiva de que os pa�ses perif�ricos deveriam implementar pol�ticas claras de abertura externa para poderem sustentar per�odos consistentes de desenvolvimento. Tr�s anos antes da crise, Landau (1991: 24-25, it�licos n�o originais) afirmava que �pelos resultados obtidos at� hoje, a pol�tica de estabiliza��o mexicana se transformou em exemplo de sucesso de ajustamento � crise externa e de combate � infla��o� e, mesmo, com os dados j� piorando, �n�o resta d�vida, por�m, de que a relativa estabilidade macroecon�mica alcan�ada, ap�s sete anos de ajuste, criou ambiente prop�cio para a recupera��o dos investimentos e a retomada do crescimento�. Ten Kate (1992: 76), por sua vez, entendia o caso mexicano como um wirtschaftswunder (milagre econ�mico).

����������� O fracasso dos ensaios chileno e argentino de 12 anos antes parece n�o ter sido suficiente para evidenciar que a abertura externa tende a provocar problemas de financiamento das contas externas e a conseq�ente vulnerabilidade externa da economia. A inevit�vel crise mexicana de 1994 cumpriu o papel de tentar relembrar estes efeitos para os arautos da abertura externa. � bem verdade que alguns autores, como Griffith-Jones (1996), n�o atribuem a crise � natureza do processo de abertura, mas � velocidade como ele � implementado. A estes autores deve-se lembrar que o PIB per capita do M�xico entre 1982 e 1996 caiu 0,6% ao ano em m�dia, frente a um crescimento m�dio de 3,3% ao ano entre 1950 e 1981, e que o d�ficit em transa��es correntes em 1998 j� superava os US$ 15 bilh�es, voltando aos n�veis do in�cio da d�cada. Al�m disso, o sal�rio m�nimo real de 1997 correspondia a 55,3% do de 1988, sendo que este era igual a apenas 55,2% do que vigorava em 1980! (Cano, 2000: 452). Ou seja, o processo de abertura externa no M�xico produziu, assim como nos outros casos, um regime de baixas taxas de crescimento e de concentra��o de renda, al�m de majorar a possibilidade de crises financeiras e/ou cambiais que, neste caso espec�fico, transbordaram a barreira da possibilidade e se tornaram uma necessidade.

As desastrosas experi�ncias de abertura externa do Chile, M�xico e Argentina - este �ltimo tanto na d�cada de 70 como na de 90 � n�o parecem ter servido de exemplo. Na d�cada de 90, um neoliberalismo tardio tornou-se hegem�nico no Brasil e, embora com condicionantes hist�ricos diferenciados, possibilitou a implementa��o de uma estrat�gia de abertura externa com a mesma orienta��o destas outras experi�ncias latino-americanas. O pr�ximo cap�tulo tem por objetivo mostrar como esta estrat�gia foi implementada no Brasil durante esse per�odo.



[1] Para uma an�lise detalhada da estrutura��o do sistema financeiro americano nos anos 30, veja-se Cintra (1998).

[2] �O in�cio do processo de desregulamenta��o, ou mais propriamente, de uma nova regulamenta��o (ou re-regulamenta��o) iniciou-se nos anos setenta e intensificou-se na d�cada de 80 nos EUA, desencadeado devido � press�o de v�rios grupos de interesse perfeitamente representados nas administra��es do presidente Reagan, mas, sobretudo, pelas condi��es macroecon�micas vigentes e por inova��es financeiras...� (Lima, 1997: 21).

[3] Lima (1997: 245-247) sintetiza as principais altera��es entre 1972 e 1990.

[4] Ao contr�rio do discurso liberal que prega o car�ter natural do desenvolvimento dos mercados, �� desse modo que, no in�cio, as autoridades p�blicas liberalizaram e modernizaram os sistemas financeiros para satisfazer suas pr�prias necessidades de financiamento� (Plihon, 1999: 108).

[5] Brokers designam a pessoa f�sica ou jur�dica que recebe comiss�o por intermediar compra/venda de t�tulos, enquanto dealers s�o os agentes que assumem risco da transa��o de compra/venda, adicionando uma margem ao pre�o do papel por isso.

[6] �Nesse processo ocorreu entrada e sa�da de capitais; bancos estrangeiros ingressaram e bancos alem�es se internacionalizaram, t�tulos em marco foram emitidos no exterior e dinamizaram o mercado de capitais. Contudo, o governo, em nenhum momento, descartou sua prerrogativa de controlar riscos e minimizar fatores desequilibradores de suas vari�veis macroecon�micas� (Braga, 1999: 217).

[7] Saliente-se que, mesmo para pa�ses centrais, a liberaliza��o financeira n�o se processa sem conseq��ncias. Eichengreen (2000: 185) lembra que a crise cambial na Europa em 1992-1993 se manifestou por forte alargamento das bandas cambiais, ap�s a elimina��o dos controles de capital.

[8] Como destacaram Lipset e Hayes (1995), a pol�tica comercial americana nos anos 70 e 80 se caracterizou pela diverg�ncia ou converg�ncia com os princ�pios do livre com�rcio, de acordo com seus interesses moment�neos, a auto-sufici�ncia econ�mica nacional (que n�o pode ser confundida com autarquia), e as regi�es com que o pa�s possui ou n�o acordos de prefer�ncia. � essa flexibilidade e validade de acordo com o pa�s e/ou regi�o que fornece pragmatismo � pol�tica comercial americana. De neoliberal ela s� parece se vestir no discurso.

[9] Os EUA s�o o �nico pa�s no mundo que contabiliza supostos subs�dios impl�citos na privatiza��o de empresas estatais como forma de dumping.

[10] S�o feitas an�lises minuciosas das barreiras externas para os produtos exportados para os EUA, inclusive para exporta��es de origem brasileira, em Serra (1998) e Fernandes e Rios (1999).

[11] Contra produtos brasileiros, a incid�ncia destes processos � maior nos EUA do que na Uni�o Europ�ia (Fernandes e Rios, 1999: 26).

[12] A taxa de crescimento na Alemanha passa de 5,7% em 1990 para 2,0% em 1997, enquanto na Fran�a ela cai de 2,5% em 1990 para 1,6% em 1996 (Huerta, 2000: 139). Por sua vez, a taxa de desemprego nos pa�ses da Uni�o Europ�ia passa de 3,7% da PEA no per�odo 1970-79 para 8,8% em 1980-89 e 9,5% em 1990-95 (Plihon: 1999: 102). Os efeitos sobre pa�ses perif�ricos da Uni�o Europ�ia s�o ainda mais dr�sticos. Na Espanha, por exemplo, o d�ficit comercial foi multiplicado por 4 entre 1985 e 1989, chegando a impressionantes 7,3% do PIB (Seco, 1994: 136)!

[13] Coutinho (1999) faz uma interessante compara��o da industrializa��o na Cor�ia e no Brasil, ressaltando suas especificidades e diferentes estrat�gias a partir dos anos 80.

[14] O caso espec�fico da China n�o pode ser tratado da mesma maneira que os outros pa�ses, uma vez que as reformas pr�-mercado n�o retiraram do planejamento econ�mico sua primazia na organiza��o dos recursos econ�micos; o mercado � instrumento auxiliar do planejamento. Em rela��o ao seu desempenho, �estrat�gias ativas de inser��o internacional t�m aumentado a capacidade da China de atrair investimento externo direto e de realizar a absor��o de tecnologia com base em rela��es benef�cio-custo altamante favor�veis para o pa�s� (Gon�alves, 2002: 146). Embora a forma preferencial de financiamento externo seja o investimento direto, ele � feito atrav�s de joint ventures com empresas estatais, e est� subordinado �s diretrizes do planejamento. Gon�alves (2002), Amin (2001) e Medeiros (1999) s�o boas refer�ncias para o caso chin�s.

[15] Krueger (1993) teve a desfa�atez de creditar o sucesso asi�tico em sua inser��o internacional �s reformas liberalizantes empreendidas!

[16] Mais um ato de f� da senhora Krueger (1993: 28-29): �De qualquer forma, os pa�ses que atravessam programas s�rios de reformas econ�micas orientadas para o mercado, com o realinhamento genu�no para remover o vi�s �s vendas no mercado dom�stico, t�m uma boa oportunidade no futuro da economia internacional�.

[17] �Gra�as � liberaliza��o financeira, parte dos novos investimentos direcionou-se para o exterior, atra�dos por expectativas de retorno substancialmente maiores que as encontradas no Jap�o e pela redu��o do pre�o em iene dos ativos denominados em moeda estrangeira, em decorr�ncia da valoriza��o cambial� (Torres Filho, 1999: 242).

[18] As medidas de desregulamenta��o e flexibiliza��o do sistema financeiro japon�s podem ser encontradas, de forma detalhada, em Levi (1998) e Lima (1997).

[19] �A despeito de sua import�ncia, a abertura financeira na �sia n�o � compar�vel com a ocorrida na Am�rica Latina. A manuten��o de pol�ticas seletivas de cr�dito e as restri��es �s opera��es de n�o-residentes nos mercados financeiros nacionais ainda observadas em pa�ses como Cor�ia, Indon�sia e Formosa n�o mais encontra paralelo no continente latino-americano� (Medeiros, 1998: 304 � nota 23).

[20] Painceira (2001) analisa a crise financeira da Cor�ia do Sul em 1997 a partir da hip�tese de fragilidade-instabilidade financeira, reportando-se tamb�m �s principais medidas de liberaliza��o durante os anos 90.

[21] Este aspecto � muito ressaltado em Miranda (1998).

[22] Em 1979, a negocia��o coletiva foi restaurada, mas s� por empresa (Cano, 2000: 313).

[23] Edwards e Edwards (1992) tamb�m dividem o per�odo em quatro fases, mas n�o seguem o crit�rio dos programas de estabiliza��o para faz�-lo. Utiliza-se aqui a periodiza��o e, portanto, os crit�rios usados em Foxley (1988) para os programas de estabiliza��o.

[24] �Foi ent�o que as autoridades econ�micas mudaram sua hip�tese sobre a causa da infla��o e come�aram a falar de uma infla��o de custos e de expectativas inflacion�rias� (Gatica e Mizala, 1990: 56).

[25] �As importa��es de m�quinas e equipamentos mostram um crescimento nulo entre 1970 e 1979, enquanto sua participa��o sobre o total cai de 20% para 12%. Por sua vez, sua participa��o no PIB (...) caiu em um quinto� (Ffrench-Davis et al., 1992: 44). Cano (2000: 316) ainda mostra que, em conjunto com a valoriza��o cambial, a abertura comercial multiplicou o total de importa��es em 5, entre 1973 e 1981 (ver tabela 6), sendo que as importa��es de bens de consumo dur�veis aumentaram 4 vezes a mais� do que as de insumos e bens de capital. Deve-se citar ainda que a participa��o do setor industrial no PIB passa de 29,5% em 1974 para 18,9% em 1982 (Edwards e Edwards, 1992: 133).

[26] As formas que as empresas e os diversos setores adotaram para se ajustar (fal�ncia ou fechamento de plantas; fus�o ou suspens�o de linhas de produ��o; importa��o de substitutos de sua produ��o anterior) provocaram uma forte concentra��o econ�mica.

[27] An�lises mais pormenorizadas sobre os efeitos da abertura comercial no setor industrial e na estrutura produtiva do Chile podem ser encontradas em Cano (2000) e Foxley (1988).

[28] Com a exce��o do financiamento ao com�rcio exterior, �ao contr�rio de Argentina e Uruguai, o Chile proibiu os movimentos de capital de curto prazo at� os desesperados dias da crise de 1982.� (Edwards e Edwards, 1992: 71).

[29] �o desequil�brio maior das contas externas foi causado pelo lado financeiro (notadamente juros, amortiza��es e remessas de lucros) e menos pela balan�a comercial, salvo em 1980-1981, quando ocorreram os dois fatores� (Cano, 2000: 317).

[30] A situa��o foi t�o grave que em janeiro de 1981, o governo foi obrigado a intervir, liquidar e nacionalizar alguns bancos.

[31] Segundo Gatica e Mizala (1990: 59), o gasto em educa��o por habitante, entre 1970 e 1985, caiu 24%, enquanto os gastos em sa�de e habita��o por habitante, no mesmo per�odo, decresceram 36% e 34% respectivamente.

[32] �...uma interven��o muito forte do Estado nos mercados financeiros e cambiais, apoiada pela entrada de recursos externos oficiais, ajudou a atravessar a crise de 1982-84. Depois de 1985, as pol�ticas macroecon�micas e de reconvers�o industrial n�o tiveram nada de liberais e, em todo caso, supuseram uma participa��o efetiva e um grau de interven��o do Estado, tanto quantitativa como qualitativamente, muito superiores �s demais experi�ncias de ajuste latino-americanas� (Tavares, 1996: 85). Sobre as medidas implementadas para controlar o ingresso de capitais existem v�rios trabalhos como Aninat e Larra�n (1996) e Ffrench-Davis et al. (1997).

[33] J� seria de se perguntar: se os tr�s pa�ses sofreram crises brutais no in�cio da d�cada de 80, e Argentina e Uruguai n�o seguiram a seq��ncia �tima para as reformas, enquanto o Chile o fez, n�o seria porque os problemas n�o residem na corre��o ou n�o da seq��ncia de abertura, mas na pr�pria natureza da abertura em si?

[34] Em 28 de dezembro de 1978, a resolu��o 1634 do Minist�rio da Economia modificou as tarifas de todas as posi��es e estabeleceu um programa de redu��o tarif�ria trimestral at� janeiro de 1984, programa este que foi antecipado no decorrer do tempo.

[35] �Algumas regulamenta��es, como os coeficientes m�nimos de encaixe, foram mantidas, mas eliminadas gradualmente�� (Calvo, 1991: 115). Os coeficientes m�nimos de encaixe obrigat�rio iniciaram o per�odo em 45%, passando para 33% no fim de 1978, 21% um ano depois e, finalmente, para 10% em dezembro de 1980.

[36] Ao contr�rio do que ocorreu no Chile e no Uruguai, �uma grande propor��o dos dep�sitos nos bancos e outras intermedi�rias financeiras estavam assegurados pelo Banco Central� (Calvo, 1991: 115-116).

[37] Ainda que a convertibilidade da moeda tenha se expandido com a unifica��o do mercado de divisas em dezembro de 1976, todavia existia um imposto sobre empr�stimos externos de mais ou menos 20% em 1978 (Calvo, 1991: 116).

[38] Ainda assim, o experimento argentino parecia funcionar at� 1980. Entre 1976 e 1980, o consumo havia crescido 16% e o investimento 22%. Entretanto, no mesmo per�odo as importa��es haviam crescido 274%, enquanto que as exporta��es aumentaram 115% (Cano, 2000: 113).

[39] Esse sistema de currency board, na pr�tica, restringiu a atua��o e a autonomia da pol�tica monet�ria, pois �com isso a expans�o dos meios de pagamento em moeda nacional ficou restrita ao aumento das reservas e �s altera��es do encaixe banc�rio�� (Cano, 2000: 138).

[40] Como o crescimento da oferta monet�ria, inalterado o encaixe banc�rio, s� acontece se ingressarem reservas internacionais, o crescimento da entrada de capital externo (passa de US$ 182 milh�es em 1991 para US$ 7576 milh�es no ano seguinte) garante a remonetiza��o e recupera��o da intermedia��o financeira. Segundo Freitas e Prates (1998: 180), �o �xito do Plano de Convertibilidade dependeu, em grande medida, das novas condi��es vigentes nos mercados financeiros internacionais a partir do final da d�cada de 80�.

[41] �O processo de privatiza��o j� tinha sido tentado pelo governo anterior (Alfons�n), s� que mais timidamente e sem chegar a concretizar sua implementa��o� (Neffa, 1996: 162).

[42] Nesse momento tamb�m foram aplicadas salvaguardas e a��es antidumping contra importa��es provenientes do Brasil.

[43] �Dessa forma, a desregulamenta��o do mercado de c�mbio foi total. N�o somente inexistem, agora, regulamenta��es de qualquer tipo para a compra e venda de divisas como, inclusive, n�o existem bons registros estat�sticos das opera��es. Nesse contexto, o custo de ingresso e sa�da de capitais reduziu-se a quase zero� (Fanelli e Machinea, 1997: 150).

[44] A convertibilidade total da conta de capital foi obtida com a desregulamenta��o do mercado de capitais em 1991 (extin��o do imposto sobre opera��es burs�teis e autoriza��o para empresas e bancos emitirem obligaciones negociables em moeda estrangeira e commercial papers) e a ado��o da Lei de Anistia Fiscal de 1992 (isen��o de tributa��o � repatria��o de recursos argentinos no exterior).

[45] Nesse sentido, foi proibido o financiamento monet�rio do d�ficit p�blico e restringida a venda de t�tulos p�blicos a um montante n�o superior a 1/3 das reservas do banco e com um limite de 10% para o seu incremento anual (Cano, 2000: 130).

[46] Foi suprimida a garantia oficial de dep�sitos e limitada severamente a concess�o de redesconto e empr�stimos para institui��es financeiras.

[47] Em 1999, essa situa��o se repetiria. A taxa de crescimento da economia nesse ano foi de �3,3%, refletindo tanto os efeitos da crise russa no final do ano anterior, como da crise cambial brasileira de janeiro de 1999, sendo que o Brasil � o principal parceiro comercial da Argentina no Mercosul.

[48] Portugal (1995: 209) estima que a maior parte da valoriza��o do c�mbio real na d�cada de 90 se deu entre 1989 e 1990, isto �, antes do Plano de Convertibilidade, o que permite estabelecer que a forte entrada de capital externo tem muito mais responsabilidade na deteriora��o desse pre�o relativo do que o estabelecimento do c�mbio nominal fixo. Segundo suas estimativas, utilizando o IPC, a taxa de c�mbio real sai de 202,42 em 1989 para 100 em 1990 (ano base de sua estimativa), chegando em 1994 a 54,29.

[49] �A despeito das privatiza��es, entre 1989 e 1996, a d�vida externa do governo aumentou em 17,6 bilh�es de d�lares e a do setor privado em 16,8, sofrendo, juntas, um aumento de 53% no per�odo� (Cano, 2000: 128).

[50] Em 2000 a taxa de crescimento foi mais p�fia ainda, atingindo 0,6%.

[51] Landau (1991) prefere uma divis�o em tr�s fases para apontar o in�cio do governo Salinas de Gortari em 1989 como uma fase espec�fica, quando procurou-se, al�m de garantir a estabilidade econ�mica, a retomada do crescimento e a renegocia��o da d�vida.

[52] �A profundidade da crise do sistema financeiro levou o governo a estatiz�-lo: assim 56 institui��es (principalmente bancos e suas empresas coligadas) passaram ao acervo p�blico em setembro de 1982� (Cano, 2000: 417).

[53] Mesmo assim, a taxa de desvaloriza��o se manteve abaixo da infla��o, de forma que �entre meados de 1983 e dezembro de 1984 a taxa de c�mbio [real] controlada e livre se apreciou, respectivamente, em torno de 20% e 30%� (Paula, 1994: 45).

[54] O detalhamento dessas medidas pode ser encontrado em Landau (1991) e Paula (1994).

[55] Segundo Cano (2000: 49), o PSE praticaria, a partir de mar�o de 1988, uma indexa��o descendente de pre�os, sal�rios e c�mbio, mas, com os resultados obtidos at� aquele momento, resolveu-se pelo congelamento informal desses pre�os, sendo que os sal�rios tiveram um pequeno reajuste de 3%.

[56] �O M�xico tinha conseguido conter a infla��o de princ�pios da d�cada de 90 mediante uma estrat�gia ortodoxa, que incluiu a elimina��o do d�ficit fiscal, a liberaliza��o do com�rcio e a aplica��o de restri��es monet�rias� (Ram�rez de la O, 1996: 27).

[57] �Na ess�ncia, o Plano Brady provia al�vio por meio da reestrutura��o das d�vidas para com os bancos comerciais a taxas de juros mais favor�veis e por meio da possibilidade de securitizar essas d�vidas por t�tulos de renda fixa� (Botaro, 2001: 56). O� M�xico foi o primeiro benefici�rio das renegocia��es da d�vida externa sob a forma do Plano Brady, e concluiu seu refinanciamento conseguindo renegociar mais da metade dos US$ 48,5 bilh�es que totalizavam a sua d�vida externa no final de 1989.

[58] �O governo mexicano inicia a partir de 1983 uma nova pol�tica de com�rcio exterior. Transita-se rapidamente de uma pol�tica protecionista de importa��es para uma pol�tica de liberaliza��o comercial, que objetiva o incremento e a diversifica��o das exporta��es e uma maior competitividade da planta produtiva� (Urdiales, 1991: 18).

[59] Essa compensa��o nas medidas � o que parece fazer com que Paula (1994) e Ten Kate (1992) identifiquem o ano de 1985 como o marco inicial do processo de abertura comercial.

[60] �Apenas representa��es oficiais dos governos estrangeiros, organismos internacionais e pessoas f�sicas estrangeiras que prestam servi�os a essas institui��es podem abrir contas em moeda estrangeira no M�xico� (Freitas e Prates, 1998: 177).

[61] �O processo de r�pida liberaliza��o da conta de capitais coincidiu com um processo de reprivatiza��o dos bancos� (Griffith-Jones, 1996: 153).

[62] Existe uma vasta literatura sobre a crise mexicana de 1994, dentre a qual podemos destacar Gonz�lez (1995), Baeza (1997), Chesnais (1999b), Ram�rez de la O (1996), Ffrench-Davis (1997), Bejar (1995) e Huerta (2000).

[63] Sendo assim, o caso mexicano combinou uma amplia��o do endividamento p�blico, da fragilidade financeira dos bancos, com a vulnerabilidade externa da economia.

O que poderia impedir um formulador de políticas públicas de tentar elevar a taxa de poupança?

O que poderia impedir um formulador de políticas públicas de tentar elevar a taxa de poupança? Resp. Com uma maior poupança, tem se um aumento no investimento e assim, um aumento na capacidade produtiva instalada (estoque de capital).

O que é o crescimento da produtividade?

O aumento da produtividade está associado ao aumento da qualidade de vida de um país e da competitividade de suas empresas.

Quanto maior a taxa de poupança e investimento em um país maior será o padrão de vida no futuro?

Um aumento da taxa de poupança levaria a um maior crescimento, por algum tempo, e a um padrão de vida mais elevado, no futuro. A determinação do produto no longo prazo está fundamentada em duas relações entre produto e capital: 1) O volume de capital determina o montante de produto que pode ser obtido.

Por que os formuladores de políticas públicas devem se preocupar com o PIB?

4) Por que os formuladores das políticas devem se preocupar com o PIB? R: Devem se preocupar pois ele não é um indicador perfeito, logo deixa de fora vários aspectos importantes, como saúde, educação, distribuição de renda e etc. O PIB também considera a economia informal.