Qual a importância do café para a implantação da indústria no Brasil?

Hoje, no Dia Mundial do Café, vem à tona toda a importância da indústria cafeeira no mundo, já que o café é a segunda bebida mais consumida no planeta, perdendo apenas para a água. Data especial também para destacar a produção e indústria nacional, que têm suas histórias cruzadas no desenvolvimento do nosso país.

O que poucos sabem é que o café possui três datas comemorativas no calendário. O dia 14 de abril foi instituído para ressaltar a indústria cafeeira e o maior consumo no mundo, enquanto o dia 24 de maio, Dia Nacional do Café, data comemorativa apenas no Brasil, que foi oficializada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) em 2005, entra em cena simbolizando a época de abertura das colheitas na maior parte das regiões produtoras do país. E ainda o dia 01 de outubro, com o Dia Internacional do Café, data que foi a data foi escolhida em 2015, pela Organização Internacional do Café (OIC), com o objetivo de unificar as celebrações ao redor do mundo.

História do cultivo e do papel do café na economia do Brasil

Muito da história mostra o café como “grão de ouro”, moeda de troca e precursor de uma nova fase do crescimento da economia no Brasil. Desde 1730, com importância crescente no mundo, o café já era comercializado como commodities, ganhando força com a fundação da primeira bolsa de café em Nova York. No Brasil, o café não encontrou grande interesse comercial na região Norte do país e chegou ao Rio de Janeiro entre 1760 e 1762, sendo cultivado em diversas áreas da capital.

Em 1820 começaram a ser colhidas as primeiras safras do grão em grande escala e, passados dez anos, o café já era o segundo item da pauta de exportação brasileira, o primeiro era o açúcar. Em 1885 o Rio de Janeiro era responsável por 70% de toda a produção brasileira de café. O fim do ciclo da mineração impulsionou a atividade cafeeira no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mas o auge da produção teve início quando o café entrou no Vale do Paraíba, que possuía condições climáticas muito favoráveis e solo muito fértil. O cafeeiro necessita de temperaturas amenas, solo fértil, não suporta geadas e demora de 4 a 5 anos para começar a produzir. Essas características foram determinantes para a migração do café para essas regiões mais altas e com clima temperado.

A expansão do café no Brasil coincidiu com o declínio de grandes produtores mundiais como Java, Ceilão e Haiti. Assim, em 1890 o Brasil era o responsável por 70% da produção mundial, embarcando cerca de 15 milhões de sacas anuais para um mercado consumidor de 20 milhões.

Consumo e o comportamento da indústria cafeeira em 2020 e 2021

De acordo com dados recentemente divulgados pela ABIC, o papel do café é reforçado como um alimento importante para os brasileiros e para a indústria nacional. Os números de consumo revelam que, apesar da crise econômica gerada pela pandemia, que afetou diversos setores em 2021, a procura por café seguiu seu ritmo de crescimento: houve alta de 1,71% em relação ao mesmo período analisado no ano anterior.

Foram 21,5 milhões de sacas entre novembro de 2020 e outubro de 2021, alta de 1,71% em relação ao período anterior, considerando dados de novembro de 2019 a outubro de 2020. Este volume representa 45,3% da safra de 2021, que foi de 47,7 milhões de sacas, segundo a Conab. Brasil segue como segundo maior consumidor do grão do mundo.

Os números coletados pela ABIC revelam ainda que, no ano passado, o Brasil manteve a posição de segundo maior consumidor de café do mundo. A diferença para o primeiro lugar, ocupados pelos Estados Unidos, é de 4,5 milhões de sacas. Vale ressaltar que o Brasil é o maior consumidor de cafés nacionais. Quando analisado o consumo per capita, observa-se que, em 2021, ele foi de 6,06 kg por ano do grão cru e 4,84 kg por ano do torrado. O bom desempenho na mesa do consumidor teve impacto direto na indústria: as empresas associadas à ABIC registraram um crescimento de 2,77% no período.

Atualmente, as indústrias associadas respondem por 72,9% da produção do café torrado em grão e/ou moído, e representam 85,4% de participação (share) no mercado. A ABIC registra em seu banco de dados mais de 3.000 produtos certificados.

Já a Síntese do mercado (Março 2022) elaborada pela Fundação Procafé, analisa a sagra 2022, colocando que, no Brasil, após a perda da florada, devido aos problemas de frio, de seca e de baixo crescimento, as perdas já estão consubstanciadas para o que poderia ser uma safra recorde em ano de alta produção dentro do ciclo de bienalidade da cultura.

Para safra de 2023, pesquisadores da Procafé avalia que houve um bom início de ano, com os dois primeiros meses de clima favorável a uma boa produção nacional. E comentam: “No entanto, é importante expor que as chuvas do mês de março, já não foram tão favoráveis, com precipitações irregulares, esparsas e abaixo das médias históricas. Desta forma, apesar de muitos crerem que a produção de 2023 será volumosa, ainda é necessário acompanhar o comportamento do clima nos próximos meses e, essencialmente, neste mês de abril, que deverá ser crucial para o bom ou mau desempenho produtivo do referido ano”.

Técnicos de campo alertam para o fato de que, durante o mês de março, em algumas regiões produtoras, foi possível observar o murchamento de plantas em função dos baixos índices de precipitações.

“Já para o ano de 2024, embora muito cedo para se avaliar, é interessante considerar que, caso as condições climáticas colaborem, é muito provável que a safra seja volumosa, pois algo em torno de 35% dos cafeeiros atingidos pela geada foram recepados e devem voltar a produzir em 2024”.

Estimativa para a safra 2022/2023

O Rabobank revisou sua estimativa para a safra 2022/2023 para 64,5 milhões de sacas de 60 kg, uma redução de 2 milhões de sacas em relação à sua estimativa anterior de 66,5 milhões de sacas. Do total desta mais recente estimativa, o banco aponta a produção de arábica em 41,4 milhões de sacas e do robusta em 23,1 milhões de sacas.

De acordo com os analistas da RaboResearch, Carlos Mera e Guilherme Morya, “houve um nítido contraste entre a excelente produtividade das fazendas de conillon (robusta) e a produtividade mais baixa das fazendas de arábica, especialmente considerando que esta era para ser uma temporada ‘no ciclo de alta’ em áreas de arábica”.

Segundo a OIC, o consumo mundial do grão, que no ciclo 2020/2021 foi de 164,9 milhões de sacas de 60 kg, deverá ter um crescimento de 3,3% no ciclo 2021/2022, indo para 170,3 milhões de sacas. Com uma produção estimada em 167,2 milhões de sacas, o balanço entre oferta e demanda apontado pela entidade fica deficitário em 3,1 milhões de sacas.

Em especial, o aumento do consumo diante a pandemia do Covid-19, contribuiu como fator de sustentação para as cotações. Apesar de que, ao final do mês, os estoques certificados da ICE Future US (Bolsa de Nova York) apontaram leve recomposição, é importante ressaltar que no decorrer do mês, estes mesmos estoques chegaram a ir abaixo de 1,1 milhão de sacas de 60 kg, um patamar que não se via a mais de duas décadas e um percentual de 40% a menos quando comparado com o mesmo período do ano passado.

Além disso, ao final do mês de fevereiro, a GCA (Green Coffee Association) informou que o volume de café verde armazenado nos portos dos Estados Unidos caiu 0,5%, indo para 5,76 milhões de sacas de 60 kg. Os estoques de café verde nos Estados Unidos, maior consumidor mundial da bebida, têm caído por vários meses consecutivos em meio a um aperto na oferta global devido a problemas climáticos em países produtores como o Brasil e uma escassez de contêineres que prejudicou o transporte dos grãos.

Produção do café e os impactos diante do conflito da Ucrânia e da Rússia

 Ainda seguindo ponderações da Procafé, é preciso falar que, se por um lado, o conflito da Ucrânia e da Rússia vem pressionando as cotações do café em função da aversão ao risco e de possíveis impactos negativos em seu consumo, é importante ressaltar que, por outro lado, existe o risco eminente do conflito impactar na produção dos próximos ciclos. Grande parte dos fertilizantes utilizados nas lavouras brasileiras vem da Rússia.

Portanto, o risco deste panorama impactar na produção cafeeira, sobretudo do próximo ano, existe e não é pequeno. Além da disparada nos preços dos fertilizantes, é preciso considerar que a elevação dos custos envolvidos na produção é generalizada. Alguns consultores técnicos, que prestam assistência a diversos cafeicultores e que, portanto, possuem o registro de dados relacionados aos custos de produção dos últimos anos, apontam que, ao compará-los com as novas perspectivas de custos, é possível constatar um acréscimo percentual médio de aproximadamente 150%, isto é, mais do que o dobro. Cientes disso, nas atuais bases de preços ofertadas, os produtores seguem fora do mercado, negociando somente o necessário e segurando parte da oferta.

Dentre os fatores de pressão ao mercado está a guerra no leste europeu, com pouco mais de um mês de duração e ainda em andamento, que derrubou as cotações do café que, até então seguia firme frente aos fundamentos sólidos, diante um quadro de aperto na oferta mundial do produto. Frente a novos desafios, novas oportunidades e avanços começam a surgir. E com o mercado de café não é diferente.

Fonte: ABIC, Fundação Procafé

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