Qual a importância que a descoberta dos tipos sanguíneos teve é ainda tem para a saúde humana?

"Sangue de barata", "sangue frio", "sangue azul", "sangue bom", "o sangue subiu à cabeça"... e por aí vai. Estas e outras expressões refletem a forte carga de magia, de fascínio e até de medo ligada ao sangue, ideias que integram as mais diferentes culturas e religiões e perduram, em muitos casos, até os dias de hoje.

As tentativas de se usar o sangue para curar doenças vêm desde a pré-história. Durante muitos séculos, no entanto, os resultados foram totalmente infrutíferos, sendo que as primeiras transfusões, que datam de meados do século XVII, eram quase sempre feitas com sangue de animais.

A transfusão é classicamente dividida em três períodos: a era pré-histórica, que vai até a descoberta da circulação sanguinea pelo médico britânico William Harvey, no início do século XVII. O segundo, o período pré-científico, vai de 1616, ano da descoberta da circulação, até o início do século XX, quando o pesquisador austríaco Landsteiner descobre o grupo sanguineo ABO. O terceiro período – chamado científico – começa com a descoberta de Landsteiner, chegando até os dias atuais.

Já no período científico, a falta de soluções anticoagulantes que permitissem a estocagem do sangue coletado de doadores condicionava a transfusão a ser feita braço a braço. As pesquisas prosseguem e, entre as duas guerras mundiais, desenvolve-se a solução anticoagulante à base de citrato de sódio. Com isto, abre-se a possibilidade da existência de bancos de sangue como são conhecidos atualmente.

A primeira transfusão de sangue coletado e estocado em garrafas de vidro ocorreu durante a guerra civil espanhola, em 1939: um médico da cidade de Toulouse, na França, organiza uma rede de doadores de sangue, simpatizantes da causa dos rebeldes que lutavam contra os fascistas comandados pelo general Franco. Com a eclosão da II Guerra Mundial, surgem os primeiros bancos de sangue e a transfusão generaliza-se e torna-se rotina na prática médica, sendo decisiva para salvar a vida de civis e militares feridos. A guerra, aliás, é o que serve de motivação e estímulo para as primeiras campanhas de doação de sangue. Desde os primórdios, o sistema de doação de sangue alicerça-se na doação altruísta e não remunerada, contando com a solidariedade e benevolência dos cidadãos.

Brasil

"No Brasil, os cirurgiões foram os primeiros nesta prática, mas o melhor relato desta época (por volta de 1910) é de um professor de Clínica Médica de Salvador, Garcez Fróes, que através de um Aparelho de Agote, improvisado por ele, realiza uma transfusão de 129 ml de sangue de um servente do hospital para uma paciente com metrorragia importante por pólipo uterino. Na década de 40, a hemoterapia começa a ser vista como especialidade médica e vários "bancos de sangue" foram inaugurados em diversas capitais brasileiras. O primeiro "banco de sangue" público foi criado na cidade de Porto Alegre, em 1941; em seguida, foi o do Rio de Janeiro, sendo o terceiro inaugurado em 1942, em Recife". (Cláudia M.F.Ribeiro - A hemoterapia no Brasil até 1980 e a criação dos hemocentros públicos nacionais).

Ao contrário da Europa, o sistema transfusional brasileiro baseava-se na doação remunerada: doadores dos bancos de sangue públicos e privados recebiam pagamento. A prática favorece a proliferação dos bancos de sangue privados que traz, em seu bojo, o recrutamento de pessoas doentes, alcoólatras, mendigos e anêmicos. Contra ela, insurge-se a Associação de Doadores Voluntários de Sangue (ADVS), dirigida por Carlota Osório – uma incansável batalhadora da causa pela doação não remunerada e da distribuição gratuita de sangue pelo Estado para quem precisasse.

Em outubro de 1964, por determinação do então presidente da República, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, institui-se no Ministério da Saúde a Comissão Nacional de Hemoterapia (CNH) que estabelece a Política Nacional de Sangue. A Comissão, extinta em 1976, deveria organizar a distribuição do sangue, a doação voluntária, a proteção ao doador e ao receptor, o disciplinamento da atividade industrial, o incentivo à pesquisa e o estímulo à formação de recursos humanos.

Outro fator atesta a precariedade do Brasil na área: em 1969, a Organização Mundial de Saúde (OMS), preocupada com a situação da hemoterapia em todo o mundo, envia ao Brasil o professor francês Pierre Cazal para avaliar o quadro nacional. Cazal visita São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Salvador e elabora relatório onde faz as seguintes observações: doações remuneradas e sem critério; comercialização do plasma (exportação); doador inapto sem assistência; sorologia precária; transfusões sem critérios médicos; predominância de utilização de sangue total; falta de coordenação; carência de recursos humanos.

Em 1980, cria-se o Programa Nacional de Sangue e Hemocomponentes (Pró-Sangue) com a finalidade de regularizar a situação da hemoterapia brasileira. Surgem os Centros de Hematologia e Hemoterapia – os hemocentros. Entre os muitos desafios, o de implantar a doação sistemática de sangue, pondo fim à doação remunerada. E aí, a Fundação Hemominas, o 13º hemocentro a ser criado no país, entra na história.

"Salvem o sangue do povo brasileiro"

O surgimento da Aids, na década de 80, transforma radicalmente o panorama da hemoterapia brasileira: o elevado número de casos de contaminação pelo HIV por meio de transfusão provoca o clamor da opinião pública, culminando na proibição definitiva da doação remunerada. A Constituição de 1988 inclui o artigo 199, proibindo toda e qualquer forma de comercialização do sangue ou de seus derivados, luta liderada pelo cartunista e escritor mineiro Henfil, que cunha, com o irmão Betinho, o mote que empolga a opinião pública: "Salvem o sangue do povo brasileiro". Henfil, que era hemofílico e, como tal, politransfundido, acabou morrendo de Aids em 1989. A Lei Federal n.° 10.205, promulgada em março de 2001, regulamenta o parágrafo 4 do artigo 199.

Referências

  1. Textos de Apoio em Hemoterapia: volume 1 / Organizado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Hemoterapia: uma abordagem histórica e social – Luiz Amorim Filho).
  2. Fundação Hemominas 1985 – 2007: à Guisa de uma introdução: um pouco da história da hemoterapia no mundo e no Brasil – Marco Antônio de Souza.
  3. A hemoterapia no Brasil até 1980 e a criação dos hemocentros públicos nacionais - Cláudia M.F.Ribeiro.
Gestor responsável: Diretoria Técnico-Científica

Qual a importância que a descoberta dos tipos sanguíneos teve e ainda tem para a saúde humana?

Porque médicos conhecem os tipos sanguíneos, eles podem salvar vidas ao fazerem transfusões em pacientes.

Qual a importância da descoberta dos diferentes tipos sanguíneos?

A pesquisa de Landsteiner foi o primeiro passo para transfusões de sangue mais seguras, revelando que as pessoas com o mesmo tipo sanguíneo ou com sangue compatível podem receber transfusões umas das outras. Graças à descoberta, Landsteiner recebeu o prêmio Nobel de Medicina em 1930.

Qual a importância do descobrimento do sistema ABO e do fator Rh sanguíneo?

A descoberta do sistema Rh foi essencial para o desenvolvimento de pesquisas sobre transfusões de sangue, uma vez que esse processo, quando se baseava apenas no sistema ABO, apresentava falhas. A partir dessa descoberta, o sangue passou a ser testado também para o sistema Rh.

Como foi a descoberta dos tipos sanguíneos?

Os tipos sanguíneos foram descobertos no início de século XX pelo médico Karl Landsteiner. Ele descobriu que ao misturar amostras de sangue de diferentes pessoas, as hemácias se aglutinavam.