Quem eram os tropeiros qual a importância deles para atividade pecuária na região Sul?

Os tropeiros no Brasil Colonial foram responsáveis pela fundação de muitas vilas e cidades.


Quem eram os tropeiros qual a importância deles para atividade pecuária na região Sul?

Tropeiros da época do Ciclo do Ouro (século XVIII) - obra de Rugendas

Quem eram os tropeiros

No Brasil Colonial, principalmente nos séculos XVII e XVIII, os tropeiros tinham uma grande importância econômica. Estes condutores de mulas eram também comerciantes.

Os tropeiros faziam o comércio de animais (mulas e cavalos) entre as regiões sul e sudeste. Comercializavam também alimentos, principalmente o charque (carne seca) do sul para o sudeste.

Como a região das minas estava, no século XVIII, muito voltada para a extração de ouro, a produção destes alimentos era muito baixa. Para suprir estas necessidades, os tropeiros vendiam estes alimentos na região.

Abrindo estradas e fundando vilas e cidades 

Os tropeiros também foram muito importantes na abertura de estradas e fundação de vilas e cidades.

Muitos entrepostos e feiras comerciais criados por tropeiros deram origem a pequenas vilas e, futuramente, às cidades.

Quem eram os tropeiros qual a importância deles para atividade pecuária na região Sul?

Rancho Grande dos Tropeiros, pintura de Benedito Calixto (1921).


Última revisão: 14/10/2020

Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).




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Bibliografia Indicada

Fontes de referência do texto:

- HOLANDA, Sérgio Buarque; Campos, Pedro Moacyr; Fausto, Boris. História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1963.

- LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: Uma Interpretação. São Paulo: SENAC, 2008.


Introdu��o

O Rio Grande do Sul entrou na economia nacional pelas m�os dos tropeiros e patas das mulas. Pois foi o com�rcio de mulas que integrou a regi�o � economia nacional, ainda no s�culo XVII e in�cio do XVIII, antes mesmo que o Rio Grande do Sul existisse formalmente.

A hist�ria do tropeirismo � um dos cap�tulos mais importantes da forma��o ga�cha e um dos menos lembrados � integrou diferentes regi�es do Brasil, e tra�ou a rota da forma��o de muitas cidades da regi�o Sul e Sudeste. Foi atrav�s dessa atividade que se consolidou o movimento comercial do pa�s, que se definiram voca��es econ�micas regionais, e que as enormes extens�es de pampas ga�chos encontraram seu destino, que marca a atividade econ�mica de algumas regi�es do Estado at� os dias atuais.

O gado

Antes de se analisar a atividade dos tropeiros � preciso lembrar da origem da riqueza que exploravam: o gado disperso pelos campos ga�chos.

No in�cio do s�culo XVII chegaram jesu�tas � regi�o formada pelos atuais estados do Paran� e Rio Grande do Sul. Esses padres estabeleceram as Miss�es Jesu�ticas, onde reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, um grande n�mero de �ndios guaranis convertidos. Para sustentar essas popula��es, foi introduzida a atividade pecu�ria, com o gado solto nas pradarias.

Em 1628 j� havia relatos sobre a presen�a de rebanhos nas redu��es jesu�ticas. Mas acredita-se que tenham levado os animais da margem direita para a esquerda do rio Uruguai em 1629, dando origem a um rebanho imenso que ficaria conhecido como Vacaria do Mar na �rea situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacu� e Negro. Essa Vacaria era regularmente predada por espanh�is e portugueses, e para garantir o gado os jesu�tas criam a Vacaria dos Pinhais, na regi�o de campos de cima da serra que ficou conhecia como Campos da Vacaria.

Predadores

A forma��o das Vacarias permitiu que se realizasse, na �rea do atual Estado, a atividade de preia do gado selvagem. Ca�ava-se o gado e se retirava o couro, que era exportado para a Europa. A carne que n�o era consumida pelos preadores, era deixada no campo, apodrecendo. Todos preavam gado: portugueses, �ndios de aldeamentos, moradores das terras espanholas que tinham permiss�o de suas autoridades para vaquear, indiv�duos que vaquejavam por conta pr�pria.

Enquanto isso, Portugal e Espanha continuavam na sua dan�a para ver quem, afinal, seria o dono do Sul do Continente. Tratados n�o cumpridos por ambas as partes e a pol�tica de �� de quem conseguir manter� tornavam a regi�o que � o atual Rio Grande do Sul uma terra de ningu�m, onde as duas coroas disputavam a posse do territ�rio.

Minera��o

Era ainda esse o quadro do territ�rio riograndense quando, no final do s�culo XVII, se descobriu ouro na regi�o das Minas Gerais. A descoberta de ouro (e depois de diamantes) causou um grande afluxo populacional para a regi�o. A popula��o da �rea cresceu exponencialmente, causando a falta de alimentos e de produtos b�sicos. De 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700 mil pessoas imigraram para o Brasil com destino � Minas Gerais. A esses, se somaram um grande n�mero de escravos africanos, bem como migrantes vindos de outras �reas do Brasil e escravos transferidos ilegalmente da regi�o de produ��o de a��car no Nordeste.

N�o � de se admirar, portanto, que no in�cio do s�culo XVIII a falta de g�neros aliment�cios tenha causado grandes crises, acompanhadas por expressiva mortalidade. As crises mais fortes foram as de 1697-1698, 1700-1701 e 1713.

A atividade mineradora, o crescimento das cidades e a forma��o de uma elite com recursos aumentaram a necessidade de animais para transporte de carga.

Onde encontrar esses animais? A resposta era f�cil � no sul do continente, onde estavam as enormes Vacarias. A bem da verdade, a regi�o n�o era propriamente portuguesa. No in�cio do per�odo de minera��o a Am�rica ainda era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, e teoricamente os rebanhos pertenciam � Espanha. Mas isso era um detalhe, resolvido pela pol�tica de ocupa��o efetiva do territ�rio. E foi assim, vindo de uma regi�o de posse duvidosa, que o gado ga�cho entrou na hist�ria brasileira.

O primeiro tropeiro e os caminhos que criou

Por que caminhos andavam esses primeiros tropeiros? Quem eram eles?

O primeiro grande tropeiro foi um fidalgo portugu�s, Crist�v�o Pereira de Abreu, descendente do condest�vel Nuno �lvares Pereira. Crist�v�o de Abreu nasceu em Ponte de Lima, em 1680, e veio para o Rio de Janeiro aos 24 anos. Aqui, casou com D. Clara de Amorim, com quem n�o teve filhos.

Em 1722, aos 42, fez um grande neg�cio. Arrematou o monop�lio de couros do sul do Brasil, mediante o compromisso de pagar 70 mil cruzados para a Fazenda Real anualmente. Tratou de come�ar a explorar esse manancial de ganhos, chegando a exportar 500 mil pe�as de boi por ano, atrav�s da Col�nia de Sacramento (ent�o de posse dos Portugueses).

Crist�v�o de Abreu tamb�m instalou sua pr�pria est�ncia, situada entre o Canal de Rio Grande e a plan�cie de Quint�o. Mas o seu grande feito seria estabelecer um caminho por terra entre os pampas e o mercado que clamava por gado.

Francisco de Souza Faria, morador de Laguna, havia levado dois anos abrindo uma estrada que ia de Morro dos Conventos, em Ararangu�, na plan�cie costeira da atual Santa Catarina, at� os Campos de Curitiba, no planalto. A obra teve in�cio em 1717, e por essa estrada Crist�v�o Pereira subiu pela primeira vez levando 800 cavalos e mulas, possibilitando a liga��o entre o Sul e a vila de Sorocaba em S�o Paulo, que se tornou o grande entreposto de venda de gado durante o per�odo da minera��o, no ano de 1831.

No ano seguinte, em uma segunda viagem � agora com 3 mil animais e 130 tropeiros � Crist�v�o de Abreu alargou e melhorou o caminho, construindo v�rios pontilh�es. Levou um ano e dois meses para atingir Sorocaba � e iniciou um novo ciclo da economia ga�cha.

Mais tarde, Crist�v�o Pereira abriu um novo caminho, que ligava diretamente os campos de Viam�o aos Campos de Lajes. Ao longo desse caminho foram surgindo povoados: Santo Antonio da Patrulha, S�o Francisco de Paula, Capela de Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria.

As aventuras do primeiro tropeiro n�o pararam por ai. Mais tarde, em 1735, foi convocado pelo governo portugu�s para defender as fronteiras portuguesas por terra, enquanto o Brigadeiro Jos� da Silva Paes prestava apoio mar�timo. O governo portugu�s tinha conhecimento de que os espanh�is pretendiam ocupar toda a �rea que ia at� a ilha de santa Catarina, e era preciso garantir a presen�a portuguesa.

Crist�v�o aceitou o desafio e com 160 homens partiu para o Sul, sustentando a entrada do canal de Rio Grande por cinco meses, at� que o Brigadeiro Silva Pais chegou com suas tropas por mar. No ponto onde Crist�v�o de Abreu havia se instalado com seus homens, e onde o brigadeiro desembarcou, foi fundado o quartel e vila de Rio Grande. E seria ali que, em 1755, morreria Crist�v�o Pereira de Abreu, o homem que colocou o Rio Grande do Sul no mapa econ�mico do Brasil.

As duas rotas originais estabelecidas por Crist�v�o de Abreu perderam import�ncia quando se passa a explorar diretamente a regi�o das Miss�es, e se passa a utilizar um caminho que leva diretamente � essa �rea, partindo de Vacaria e indo direto a Cruz Alta, ent�o na fronteira entre Portugal e Espanha.

Os n�meros

Uma vez estabelecidas as rotas de transporte, as tropas se multiplicaram e o com�rcio de gado deslanchou. A prefer�ncia era pelos muares, j� que mulas e burros eram mais adequados para o transporte em uma regi�o montanhosa como Minas Gerais. Mas tamb�m se exportava gado vacum e cavalos.

Estabelecer um n�mero exato de animais exportados � quase imposs�vel. H� relatos falando em mais de 50 mil animais, com grande predomin�ncia de muares, na metade do s�culo XVIII.

As tropas saiam do Rio Grande do Sul em setembro ou outubro, �poca em que, gra�as �s chuvas, encontrariam melhores pastos pelo caminho. Prosseguiam at� Curitiba, onde ficavam por algum tempo, engordando o gado. De l�, partiam para Sorocaba, o grande centro de com�rcio de gado, a tempo de participar das grandes feiras que se realizavam entre abril e maio.

O dia-a-dia

O tropeiro era um homem acostumado �s intemp�ries. � dif�cil definir sua origem. Havia paulistas, rein�is, nascidos no pr�prio Rio Grande que se dedicaram ao tropeirismo nessa primeira fase. Alguns deles enriqueceram, e se tornaram verdadeiros �empres�rios do transporte�.

Ao partir de Viam�o, Cruz Alta ou dos demais centros de envio de tropas, sabia que teria dias duros pela frente. Ao final de cada dia de trabalho, cobria a carga dos animais com couro, e deitava-se no ch�o, sobre um peda�o de couro, ao ar livre, no chamado encosto, o pouso em pasto aberto. Em alguns pontos, encontrava abrigos constru�dos � os ranchos. Neles, o rancheiro oferecia alojamento para os homens, cobrando apenas o milho e o pasto consumidos pela tropa.

Enquanto o gado comia, o tropeiro preparava sua alimenta��o.

Sua alimenta��o se baseava no toucinho, feij�o preto, farinha, pimenta do reino, caf� e fub�. O feij�o tropeiro misturava feij�o quase sem molho com peda�os de carne seca e toucinho, e era servido com farofa e, quando havia, couve.

Entre os animais, destacava-se a �madrinha�, com a crina toda enfeitada com fitas. Era o cavalo, �gua ou mula mais calma, bastante conhecida pelos demais animais, que era a cabe�a da tropa.

Dessa maneira seguiam em uma viagem que levava meses, quase sempre acompanhando o roteiro dos rios e atravessando os campos abertos, desafiando o perigoso Rio Pelotas na divisa entre Rio Grande e Santa Catarina, pousando por algum tempo nos Campos de Curitiba at� chegarem � feira de Sorocaba.

O fim de um ciclo

A atividade de tropeiragem teve seu auge ente 1725 e o final do s�culo, quando a atividade mineradora come�ou a declinar. Nessa �poca, entretanto, um novo produto permitiu que o Rio Grande do Sul continuasse a desempenhar o seu papel de fornecedor de outros centros produtores brasileiros. Era o charque, que come�ou a ser produzido na regi�o de Pelotas por volta de 1780. Com ele, os rebanhos ga�chos encontrariam uma nova destina��o.

Entretanto, os tropeiros continuaram a percorrer os caminhos do Sul, ainda que em menor escala. A tropeiragem sofreu um grande baque com a instala��o das ferrovias, no final do s�culo XIX. Manteve-se, contudo, em menor escala, at� o a d�cada de 50 do s�culo XX.

Homenagem

Uma merecida homenagem a esses homens foi prestada entre mar�o e maio de 2006, quando uma equipe de 18 profissionais saiu com 26 animais da cidade de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, rumo a Sorocaba. Promovida pelo programa de televis�o Globo Rural, a Tropeada percorreu o 1.270 quil�metros em 66 dias, repetindo a rota dos tropeiros pelo Caminho Novo de Vacaria. A tropa saiu de Cruz Alta e passou por Carazinho, Passo Fundo, Lagoa Vermelha, Vacaria e Bom Jesus no Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, passou por Lages, Marombas e Mafra. Seguiu pela Lapa, Rio Negro, Palmeira, Castro e Pira� no Paran�. Cortou terras de Itarar�, Itapeva, Buri, Alambari, Itapetininga, Ara�oiaba da Serra e chegou a Sorocaba, em S�o Paulo.

No caminho, fazendas antigas, museus, bel�ssimas paisagens marcaram o percurso daquele que foi, um dia, o caminho pelo qual o Rio Grande foi se tornando brasileiro � o Caminho dos Tropeiros.

Qual a importância dos tropeiros na região Sul?

O tropeiro foi de fundamental importância no período, pois, em tempos de escravidão e de uma sociedade senhorial pautada pela moral católica de valorização do ócio, o transporte de mercadorias, visto como algo marginal, ficou a cargo de homens livres, pobres, que o desempenharam por ser uma forma de garantir sua ...

Quem eram os tropeiros e qual a sua função?

Além das mulas, a mercadoria mais valorizada na época, os tropeiros (proprietários e/ou condutores de tropas) transportavam também gêneros alimentícios, produtos manufaturados, inclusive os importados da Europa, e também faziam intercâmbio de informações.

Qual é a importância dos tropeiros?

O tropeirismo foi um ciclo de grande importância para a economia e fixação do homem no interior do Brasil, durante os principais acontecimentos econômicos, políticos e sociais ocorridos do século XVIII até o início do século XX.

Quem foram os tropeiros para a economia da região Sul?

Os tropeiros faziam o comércio de animais (mulas e cavalos) entre as regiões sul e sudeste. Comercializavam também alimentos, principalmente o charque (carne seca) do sul para o sudeste. Como a região das minas estava, no século XVIII, muito voltada para a extração de ouro, a produção destes alimentos era muito baixa.