Quem foi o primeiro rei da monarquia francesa?

A formação da Monarquia Nacional Francesa ocorreu ao longo do século XVII e tornou a França um dos países mais poderosos da Idade Moderna.

A Europa, nos séculos XVI e XVII, foi marcada pelas guerras civis religiosas, deflagradas pelas Reformas Protestantes, que, rapidamente, contaminaram o campo político. Foi nesse contexto de tensão política que se formaram as Monarquias Nacionais Europeias, cujo modelo fundamental foi o absolutismo. Na esfera econômica, prevaleceu o modelo mercantilista. Entre os Estados Nacionais mais expressivos e poderosos dessa época, estava o francês. Para se compreender bem a Idade Moderna, é necessário que se saiba como aconteceu a Formação da Monarquia Nacional Francesa.

No fim do século XVI, a França estava assolada pelas guerras civis religiosas. Os problemas só começaram a ser resolvidos após a assinatura do Edito de Nantes, em 1598, pelo então rei Henrique IV, que estabeleceu trégua com seus inimigos e procurou reajustar o país economicamente. Todavia, Henrique IV morreu em 1610, assassinado, e deixou o trono para seu filho, que tinha apenas nove anos de Idade, Luís XIII. Seguiu-se, então, um período de Regência, comandado pela viúva de Henrique IV e mãe do jovem rei, Maria de Médice, que, em meio ao caos que se instalou no reino da França por causa da morte do rei, convocou os Estados Gerais (nobreza, clero e a nascente burguesia) em 1614. Foi nessa ocasião que se destacou o hábil bispo Richelieu.

O então Bispo Richelieu, que depois se transformou em cardeal, foi o principal “arquiteto” do absolutismo monárquico na França. Durante o período da Regência, no ano de 1624, Richelieu foi nomeado ministro por Maria de Médice e tornou-se o principal agente político do reino, promovendo ações como o restabelecimento do poder absoluto para o rei e diversas medidas para o fortalecimento do Estado. Luís XIII, que reinou de 1617 a 1643, foi o primeiro monarca a se valer dos moldes do Estado Absolutista Francês planejado por Richelieu.

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Em meio à formação desse novo modelo político, a França ainda enfrentava a Guerra dos Trinta Anos, que só terminou em 1648, com a chamada Paz de Westfália. Ao fim dessa guerra, Luís XIII já havia morrido e passado o poder para Luís XIV. Ao cardeal Richelieu, que também morreu, sucedeu o cardeal Mazanino, outro grande articulador do absolutismo, que ajudou Luís XIV a ser um rei ainda mais emblemático que seu pai ao instituir a precedência divina do poder do rei. Com isso, passou-se a entender que o rei era posto no cargo por vontade de Deus.

Luís XIV foi o principal monarca absolutista da Europa e fortaleceu o Estado francês ao longo das décadas de 1650 e 1660. Foi chamado de “Rei Sol”, e é dele a frase que sintetiza o Estado Moderno: “O Estado sou eu!”, isto é, todo edifício político e jurídico do Estado tem sua fonte na pessoa do rei.

Laura de Mello e Souza, responsável pela cátedra de História do Brasil na Lettres Sorbonne Université (Paris).

A dinastia de Borgonha que fundou o reino de Portugal no século XII é, na sua origem, francesa, o que daria margem a se dizer que as relações entre a monarquia portuguesa e a França existiram desde o nascedouro.

Mas nos séculos subsequentes, além dos laços históricos e geográficos que sempre ligaram este reino aos demais da Península Ibérica (reunidos a partir de 1492 sob a coroa da Espanha), foi da Inglaterra que Portugal se aproximou, sobretudo quando a nova dinastia de Avis (ramo bastardo da primeira dinastia) subiu ao trono (1385-1580). Os Braganças também têm a bastardia na origem, desta vez por meio de Dom Afonso, filho havido pelo rei Dom Duarte I (1433-1438) fora do casamento. Em 1580 morreu Henrique I, o último dos Avis, e Portugal tornou-se parte do enorme império de Filipe II de Habsburgo, recuperando a autonomia em 1640 sob o comando do duque de Bragança, a partir de então João IV (1640-1656). Foi sob a nova dinastia dos Braganças que Portugal adotou uma difícil política de neutralidade, procurando manter-se equidistante da esfera de influência das duas grandes monarquias da época, a França e a Inglaterra. A recuperação da soberania política arrastou Portugal para a guerra contra a Espanha, que só reconheceu os Braganças como dinastia reinante em 1668, pressionando o Papado para também adiar tal reconhecimento.

A Guerra da Restauração impôs alianças políticas e busca por auxílios financeiros. Uma das filhas de João IV, Catarina de Bragança, casou-se com Carlos II Stuart, mas antes disso houve a tentativa de ganhar apoio francês por meio do matrimônio entre o herdeiro do trono português, Teodósio, e a sobrinha de Luís XIV, filha do duque de Orleãs. Em plena guerra, lutando na Europa contra a Espanha e nas conquistas ultramarinas contra os holandeses – que se haviam estabelecido em Pernambuco e iam conquistando as possessões portuguesas na Asia – João IV ofereceu a regência de Portugal ao pai da futura noiva até que Teodósio subisse ao trono, dispondo-se ao mesmo tempo a deixar Portugal para viver nos Açores ou ir reinar no Brasil.

Teodósio morreu sem subir ao trono, em 1653; o casamento planejado nunca se fez e o apoio francês ao processo de restauração da autonomia portuguesa mostrou-se sempre hesitante.  Com a morte de João IV e entregue a regência à rainha viúva, Luísa de Guzmán, realizou-se em 1666 o casamento do futuro Afonso VI (1662-1668) com a princesa francesa Maria Francisca de Sabóia. Tendo Afonso VI sido deposto logo depois, o trono e a rainha passaram para seu irmão, Pedro II (1668-1706), sob cujo governo teve início a Guerra de Sucessão da Espanha (1701-1714). Portugal, mais uma vez, oscilou entre a França e a Inglaterra: no início dos conflitos aliou-se à primeira, apoiando as pretensões de Luís XIV no sentido de colocar no trono espanhol seu neto Filipe de Anjou, mas decidiu-se em seguida pela causa do arquiduque Carlos e integrou o grupo dos aliados dos ingleses, o território europeu de Portugal tornando-se cenário das operações bélicas e a cidade brasileira do Rio de Janeiro sofrendo duas invasões francesas protagonizadas pelos corsários Duclerc (1710) e Duguay-Trouin (1711).

No início da guerra ocorreu o importante tratado de Methuen (1703), subordinando mais efetivamente a economia portuguesa à Inglaterra. Com a morte de Pedro II e a ascensão ao trono de seu filho João V (1706-1750) intensificaram-se, porém, as relações culturais entre Portugal e a França, sobretudo por intermédio de dois destacados diplomatas, o conde de Tarouca e Dom Luís da Cunha. Data de então o grande esforço do rei em comprar gravuras e livros em França a fim de enriquecer as coleções reais, que se tornaram notáveis. Nesse tempo, e no de seu filho José I (1750-1777), delineou-se com maior clareza a existência no seio da Corte de fações divididas entre o alinhamento à França ou à Inglaterra. Sob José I a grande figura do governo foi Sebastião José de Carvalho e Mello, conhecido como Marquês de Pombal e adepto do “partido” inglês.

No reinado seguinte, sob Maria I, impôs-se mais uma vez a opção entre a aliança inglesa ou a francesa. A rainha, que demonstrava havia tempos sinais de desequilíbrio mental, foi considerada incapaz em 1792 e o governo passou para as mãos de seu filho, João (mais tarde João VI). A partir de 1793 as relações entre Portugal e a França alternaram períodos de guerra e paz, até que em 1807 a instabilidade tornou-se incontornável. Enquanto o exército francês sob o comando de Junot se movimentava para invadir Portugal, Napoleão decretava que a dinastia de Bragança cessara de reinar naquele reino. Em novembro, com os franceses às portas de Lisboa, a rainha, o Príncipe Regente João, toda a família real e parte da nobreza do Reino fugiram para o Rio de Janeiro, ali estabelecendo o primeiro e único governo monárquico das Américas. Em 1815, no âmbito de negociações entabuladas no Congresso de Viena entre o diplomata português conde de Palmela e o ministro francês Talleyrand, o Brasil foi elevado a reino unido a Portugal.

Após a restauração dos Bourbons no trono da França e reatadas as relações deste país com o governo dos Braganças, sediado no Rio de Janeiro, negociou-se a ida ao Brasil de artistas, letrados, arquitetos e homens de ciência franceses, que chegaram à capital do reino do Brasil a partir de 1816. O pintor Jean-Baptiste Debret foi decisivo na criação de uma icononografia da monarquia portuguesa nos trópicos, desenhando trajes para as cerimônias da Corte e a arquitetura efêmera de festas havidas na capital do reino brasileiro. Com a proclamação da independência feita em 1822 por Pedro, filho de João VI e primeiro imperador do Brasil, os franceses – entre os quais Debret e os Taunay – continuaram a ter um protagonismo importante junto à Corte.

Quando, em abril de 1831, Pedro I abdicou do trono imperial brasileiro em nome de seu filho Pedro II, foi para a França que primeiro se dirigiu, buscando apoio para formar uma expedição que libertasse Portugal do governo absolutista de seu irmão Miguel e pusesse no trono sua filha Maria da Glória, ainda adolescente. Convidado por Talleyrand, Pedro I de Bragança esteve presente nas festas do primeiro aniversário da revolução de julho que levara Luís Filipe de Orleãs ao trono, e nos meses seguintes viu-se amplamente festejado como imperador constitucional, pois dera ao império do Brasil sua primeira constituição e se batia por fazer de Portugal uma monarquia constitucional. Residiu por algum tempo no castelo de Meudon, cedido por Luís Filipe, frequentou salões e espetáculos, fazendo sucesso com sua bonita figura e habilidades de cavaleiro. Apesar das evasivas do rei Luís Filipe foi em França que obteve meios junto a banqueiros e donde partiu com cerca de 7 mil homens para libertar Portugal, o que conseguiu após 3 anos de guerra e a ruína de sua saúde.

Pedro II (1840-1889) deu continuidade aos laços com a França. Isabel, sua filha e herdeira, casou-se com Gastão de Orléans, filho do duque de Nemours e conhecido como Conde d’Eu, o que entroncou os Braganças brasileiros na casa real francesa. Homem de grande erudição, admirador fervoroso da cultura europeia e da francesa em particular, tendo entre seus amigos e correspondentes Gobineau e Charcot, o segundo imperador do Brasil esteve por 3 vezes na França, onde afinal se exilou quando a república foi proclamada no Brasil em 1889. Membro da Academia de Ciências e membro honorário do Instituto de França, morreu em Paris em 1891, celebrado como uma das cabeças coroadas mais notáveis do século XIX.

Publicado em 2018

Legenda : Gravuras comemorativas do matrimônio da Infanta Catarina de Bragança. 1662

Quem foi o primeiro rei francês?

Reino da França.

Quem fundou a monarquia francesa?

A formação do Estado Absolutista Francês, ou da Monarquia Nacional Francesa, está ligada à ascensão da defesa do modelo do absolutismo na França, cujo principal arquiteto foi Armand Jean Du Plessis, o Cardeal Richelieu (1585-1642). Richelieu tornou-se ministro da França em 1624, nomeado pela rainha Maria de Médice.

Quando começou a monarquia na França?

A Monarquia Francesa durou desde o estabelecimento do Reino Franco em 486 até 1870, com exceções de vezes que o país deixou de ser uma monarquia, e portanto deixou de ter um sólio (trono).

Qual foi o pior rei da França?

Luís Filipe I de França.