Autismo como lidar com as birras

Quando a nossa criança chora, faz birra ou grita, está a fazer o seu melhor para tentar comunicar. Muitas vezes o desafio é entendermos o que a nossa criança pretende comunicar nesses momentos em que a sua comunicação é difícil de entender. 

Na maior parte das vezes, a forma como respondemos a este tipo de comunicação influencia bastante o aumento ou diminuição das birras. E é nesse sentido que criámos o artigo de hoje! Se quer ajudar a sua criança a se comunicar de uma forma mais eficaz, continue a ler.

Na maioria das vezes, as nossas crianças usam este tipo de comunicação porque lhe é útil de alguma forma. Talvez a nossa criança tenha aprendido que esta é a melhor forma de conseguir o que quer – porque respondemos de forma muito eficaz ao choro. De qualquer das formas, o importante é entender porque a nossa criança usa esse tipo de comunicação connosco. Qual o padrão? O que acontece antes? O que acontece durante a birra? O que acontece depois? 

Entender o que origina a birra ajuda bastante para 1. Estarmos preparados para essas situações e 2. Podermos antever e até evitar que a birra aconteça. 

Outro aspecto fundamental a analisar nestas situações, é pensarmos como nós nos sentimos nesses momentos? Sentimo-nos tranquilos e ok com uma criança a chorar ou isso provoca em nós um certo desconforto? Algumas pessoas até podem-se sentir responsáveis pelo facto de a criança estar triste e podem sentir um sentimento de culpa. Outras pessoas podem até pensar que deixar a criança chorar pode-lhe fazer mal e por isso fazemos tudo o que está ao seu alcance para a criança não chorar. 

O facto de reagirmos e respondermos quando a criança chora (dando-lhe por exemplo algo que elas querem) é que com isto aprendem, que chorar é uma forma efectiva de comunicar  o que querem e o que não querem e que se chorarem conseguem mover o “mundo” para terem tudo que querem.

Como falado no início do artigo, o choro da criança é uma forma de comunicação. As crianças choram porque nos estão a tentar dizer algo. Não significa que estejam tristes ou zangadas. Significa apenas que nos querem dizer algo. Quando reagimos e respondemos ao choro, estamos a dizer à criança que esta é uma forma de comunicar com os outros. Mas a verdade é que queremos ajudar as nossas crianças a entender que chorar não é a forma mais efectiva de comunicar. 

Nesse sentido, é fundamental nestes momentos termos presentes esta ideia: “quando a criança chora está apenas a comunicar algo”. É importante que tenhamos uma atitude calma e que transmitimos amor. Quando nos sentimos confortáveis, a criança sente-se segura e protegida, o que leva a que também se acalme.

Desta forma, no momento da birra, é importante manter a calma. Mostrar à criança que estamos tranquilos para lhe conseguir passar alguma tranquilidade. É muito importante nesses momentos sermos verdadeiros exemplos de comunicação e explicar-lhe com toda a calma e amor do mundo, que ao gritar / chorar / berrar… temos muita dificuldade em entender o que nos está a tentar dizer. 

A criança pode estar a chorar ou a fazer birra por ter decidido não lhe dar uma determinada coisa (mais bolachas, não o deixar sair por estar a chover, usar o computador ou ver TV, etc.). Nesta situação, deve mais uma vez manter a calma e não se apressar, explicando-lhe que mesmo que chore ou faça birra não vai conseguir o que quer. Explique isto de uma maneira suave e simpática e não zangada ou frustrada. Apresente-lhe calmamente alternativas (por exemplo, ofereça-lhe um bocado de fruta em vez de uma bolacha, etc). Se a criança continuar a chorar, diga-lhe que não faz mal, se quiser continuar a chorar e depois vá fazer outra coisa qualquer (ler um livro, lavar a louça, etc.) e deixe-a a chorar, sempre de olho nela para garantir que não se magoa nem a ninguém que esteja por perto. Lembre-se que a sua criança não é frágil, aguenta bem quando não consegue algo que quer. Além do mais, você também não é frágil, consegue aguentar vê-la chorar e gritar 🙂

Se a sua criança não chora nem faz birra quando não lhe dá o que ela quer, celebre este facto, dizendo-lhe como é maravilhoso ela estar calma. Festeje e responda rapidamente sempre que ela usar a sua voz normal. Desta forma, mostra à sua criança o contraste entre os dois tipos de comunicação, ajudando a sua criança a perceber qual a forma de comunicar mais eficaz. 

  • S Prev
  • Next s


Este website usa cookies para melhorar a experiência do utilizador. Quando fechar esta mensagem confirma que concorda com o seu uso.Aceitar Saber mais

Você sabe diferenciar birra de uma crise na criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)?

Realmente, ambas as circunstâncias podem parecer em primeira instância muito similares. Por isso, compreender essas situações é um importante passo para saber como conduzir a criança e, assim, fazer o manejo mais adequado em resposta a cada uma delas.

Em linhas gerais, a chamada “birra” é comportamental e consiste numa explosão desencadeada por uma frustração. Já a crise é um colapso decorrente de uma sobrecarga sensorial.

Vamos entender melhor cada uma delas:

A birra é um recurso que a criança utiliza para chamar a atenção ou para conseguir alguma coisa que deseja de seus pais ou cuidadores (sejam eles da família ou não – como professores na escola, por exemplo). Costuma ocorrer quando é negado a ela. Portanto, trata-se de uma espécie de “estratégia” para que uma situação se reverta em favor dela.

Chorar, se debater no chão, gritar são alguns desses mecanismos característicos da birra. Outro aspecto comum da birra é que geralmente ela persistirá se a criança ganhar atenção pelo seu comportamento, mas diminuirá quando ignorado. Quando a birra ocorre e os pais “cedem” às explosões das crianças, elas podem repetir o comportamento na próxima vez em que lhes for negado o que querem.

Para tentar resolver a situação, procure demonstrar empatia pela suposta necessidade da criança, sem ceder à sua decisão (caso ela seja uma resposta negativa ao desejo que foi manifestado). É possível prevenir a birra e evitar que desencadeie um quadro de irritabilidade (ou mesmo de uma crise) lançando mão de ações como aquelas baseadas no método conhecido como Análise Comportamental Aplicada (ABA).

Já a crise no TEA, também conhecida como “colapso”, costuma ocorrer quando a criança com TEA é exposta a estímulos sensoriais com os quais ela não consegue lidar. Pode ser desde um ruído, até luzes, vozes ou mesmo uma mudança na rotina a qual ela esteja habituada.

O colapso é uma tentativa desencadeada pelo organismo da criança com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio, estabilizando as emoções.

O que fazer nesse caso?

Diferentemente da birra, a crise tende a cessar após um desgaste emocional – o que nem sempre é a melhor resposta, dado a exaustão que pode ser gerada na criança.

O ideal para acalmar a criança é afastá-la da fonte de estímulos e/ou propor atividades das quais ela goste. São atitudes que poderão redirecionar o foco dela tirando-a da crise.

Um dos recursos que podem auxiliar a acalmar a criança é identificar os gatilhos que precedem uma crise. Essa estratégia pode ajudar a evitar o episódio ou a manejá-lo de uma melhor maneira.

Procure ficar atento. Mapeie os sinais e compartilhe suas percepções com a equipe multiprofissional que acompanha a criança para que juntos possam encontrar os recursos ideais para gerir cada uma delas, seja uma birra, seja uma crise.

Também pode ser bem-vindo conversar com a criança, caso haja essa possibilidade. Ouvi-la e compreender o que está gerando determinada ansiedade pode ser um caminho positivo para que encontrem uma solução. Às vezes, o que ela precisa é de um abraço, um carinho ou mesmo, que brinquem com ela.

Lembre-se: procure sempre oferecer ao autista uma atmosfera de segurança e tranquilidade, para que ele consiga se sentir reconfortado e regule seus sentidos e emoções.

Referências:

Bennie, Maureen. Tantrum vs Autistic Meltdown: What Is The Difference? Autism Awareness Centre. Disponível em https://autismawarenesscentre.com/what-is-the-difference-between-a-tantrum-and-an-autistic-meltdown/ Acessado em 23 de fevereiro de 2018.

Morin, Amanda. The Difference Between Tantrums and Sensory Meltdowns. Understood.org. Disponível em https://www.understood.org/en/learning-attention-issues/child-learning-disabilities/sensory-processing-issues/the-difference-between-tantrums-and-sensory-meltdowns Acessado em 22 de fevereiro de 2018.

Wise, Rachel. How to Handle Temper Tantrums (Home & School). Education and Behavior. Disponível em http://www.educationandbehavior.com/how-to-handle-a-temper-tantrum/ Acessado em 24 de fevereiro de 2018.