Como potencializar a absorção de ferro?

O ferro é um mineral essencial no nosso organismo, com funções importantes como a formação da hemoglobina, proteína fundamental para o transporte de oxigénio no corpo, a produção de ATP, molécula que é a fonte de energia para o organismo, a produção de mioglobina, proteína que “fixa” o oxigénio dentro das células musculares e necessária para a contracção muscular, produção de neurotransmissores, substâncias envolvidas na comunicação entre as células nervosas, sendo também muito importante para o sistema imunitário, entre outras funções.

Mas para absorver bem o ferro, não basta apenas comer alimentos ricos em ferro. O ferro nos alimentos pode ser do timo heme e não-heme. O primeiro, é de origem animal e muito bem absorvido pelo nosso organismo, encontrado sobretudo na carne vermelha e carnes em geral, peixes, mariscos, fígado e outras vísceras. Já o ferro não-heme, encontrado em alimentos como leguminosas, oleaginosas, sementes, cereais integrais e vegetais de folha verde, por exemplo, vem ligado a proteínas e não é absorvido tão facilmente.

Para melhorar a absorção do ferro, há um nutriente essencial que faz a diferença: a vitamina C. A adição de vitamina C à refeição pode aumentar a absorção de ferro em até 60%, pelo que quanto consume alimentos ricos em ferro não-heme, importa consumir ao mesmo tempo boas fontes de vitamina, como tomate, pimentos, citrinos e frutas em geral.

Ainda, a vitamina A e o beta-caroteno, ajudam à absorção de ferro. Encontra-os sobretudo em frutas e legumes vermelhos e cor-de-laranja, como a cenoura, batata-doce e pimentos, mas também nas couves.

Por último, pode optar por combinar no mesmo prato as fontes de ferro heme e não-heme, estimulando assim maior absorção do ferro não-heme, combinando de forma agradável, por exemplo, carne ou peixe com legumes de folha verde.

O ferro é um dos micronutrientes mais estudados e de melhor caracterização quanto ao seu metabolismo. Isso se deve à diversidade e essencialidade de suas funções no organismo, como o transporte de oxigênio, regulação do crescimento e diferenciação celular. A sua deficiência limita a entrega de oxigênio para as células, resultando em fadiga e diminuição da imunidade.

Existem duas formas de ferro na dieta: heme e não-heme. O ferro heme é derivado da hemoglobina, que pode ser encontrado em alimentos de origem animal que contenham originalmente hemoglobina, tais como carnes vermelhas, peixes e aves. O ferro presente em alimentos vegetais, como  lentilha e feijão, é organizado em uma estrutura química denominada ferro não-heme.

A absorção do ferro heme é mais eficiente do que o ferro não-heme, pois ela é relativamente independente da composição da refeição e é pouco afetada por fatores facilitadores e/ou inibidores dos alimentos. Em uma refeição variada, a absorção do ferro heme pode ser de 15 a 35%. Além disso, a absorção do ferro heme é menos influenciada pelo estado nutricional do indivíduo.

Por outro lado, apenas 2 a 20% do ferro não-heme é absorvido por meio da ingestão de alimentos vegetais, como arroz, milho, feijão, soja e trigo. Isso está relacionado com muitos fatores ligados ao indivíduo e à dieta. O ferro não-heme está presente nos alimentos como Fe+++ (forma férrica), ou ligado a compostos orgânicos como citratos, lactatos, açúcares. Para ser absorvido, o ferro na forma férrica deve ser liberado desses compostos e reduzido a Fe++ (ferroso). Esta reação é muito facilitada pela presença de ácido clorídrico e a absorção do ferro não-heme é significativamente influenciada por componentes de alimentos diferentes, que podem ser utilizados como estratégias para melhorar a sua biodisponibilidade. São os seguintes:

·    Carne vermelha: a presença de carne vermelha na refeição, aumenta a absorção de 2 a 3 vezes do ferro não-heme. Os estudos apontam que isso se deve ao perfil de aminoácidos da carne, que são capazes de reduzir a acidez no intestino, ou seja, acidifica o meio e, assim, facilita a absorção do ferro não-heme.

·    Alimentos ricos em vitamina C: o aumento da biodisponibilidade do ferro não-heme na presença de alimentos ricos em vitamina C ocorre de maneira direta. As interações entre suas moléculas levam à mudança do estado de oxidação do ferro, de íon férrico para íon ferroso, podendo então ser captado pelos enterócitos. Além disso, a vitamina C também pode influenciar no transporte e no armazenamento de ferro no organismo.

·    Ácidos orgânicos: os ácidos orgânicos, como o cítrico, lático e o málico, também promovem a maior absorção de ferro, esses componentes estão presentes, principalmente, nas frutas e verduras.

·    Fibras solúveis: estudos experimentais mostraram que a goma guar parcialmente hidrolisada, inulina e frutooligossacarídeos aumentaram a absorção intestinal de ferro. Outros estudos apontam que frutooligossacarídeos podem modificar a absorção do ferro no intestino grosso, pois este componente torna a microbiota intestinal mais ácida, favorecendo a absorção do ferro. Escarola e alcachofra contêm boas quantidades desses componentes.
Por outro lado, atenção especial deve ser dada aos alimentos que possam interferir na absorção do ferro não-heme, como:

·    Alimentos fontes de cálcio: cálcio compete com o ferro na formação de complexos insolúveis, diminuindo a absorção tanto do ferro heme quanto não-heme.

·    Fitatos: é um potente inibidor da absorção do ferro não-heme. Estudos mostraram que à medida que se aumenta a proporção de arroz integral (maior quantidade de fitato), diminuiu-se a absorção de ferro.

·    Compostos fenólicos: flavonóides, ácidos fenólicos, polifenóis e taninos constituem-se inibidores da absorção de ferro, provavelmente pela formação do complexo ferro-fenólico no lúmen do trato gastrointestinal, o que torna o ferro menos biodisponível. Esses compostos são encontrados principalmente nos chás preto e mate, café e alguns refrigerantes.

Clique aqui para saber a recomendação da DRI (Dietary Reference Intake) do ferro para cada faixa etária.

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