Em que ano Padre Zezinho gravou Um Certo Galileu?

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Trajet�ria religiosa e musical de Padre Zezinho

Trajet�ria religiosa e musical de Padre Zezinho

"Catequista do povo brasileiro" � um dos padres mais conhecidos do Brasil por evangelizar gera��es com suas m�sicas e livros

Escrito por TV Aparecida

ATV Aparecida preparou uma linda homenagem ao Padre Zezinho, um dos maiores nomes da m�sica crist�. Compositor, cantor e escritor, o religioso, que completou 80 anos de vida no dia 08 de junho, � um dos padres mais conhecidos do Brasil por evangelizar gera��es com suas can��es e livros.

J� s�o mais de tr�s mil m�sicas gravadas e outras milhares escritas por ele, que � conhecido como o "catequista do povo brasileiro".

A produ��o, com reportagem de Jos� Eymard e dire��o de Eduardo Miranda, vai contar toda a trajet�ria de vida do Padre Zezinho, sua entrada no semin�rio dos padres do Sagrado Cora��o de Jesus, a persegui��o sofrida no tempo da ditadura militar, a inspira��o para as composi��es musicais e os livros, al�m de exibir v�rias homenagens de confrades e f�s.

S�o 80 anos de vida, mais de 50 anos de sacerd�cio e muitas hist�rias, repletas de b�n��os e curiosidades deste religioso.

Jos� Fernandes de Oliveira, o Padre Zezinho, nasceu no dia 8 de junho de 1941. Do pai violeiro, ele herdou o amor pela m�sica. Zezinho � o mais jovem de seis irm�os. Aos dois anos, sua fam�lia mudou-se da cidade de Machado (MG) para Taubat� (SP), ap�s o pai ter sofrido um acidente. Aos 11 anos, Jos� Fernandes ingressou no semin�rio dos padres da Congrega��o Dehoniana (Sagrado Cora��o de Jesus) e foi ordenado aos 25 anos, nos Estados Unidos. Como meios de evangeliza��o, ele adotou o teatro, a m�sica e os meios de comunica��o.

Padre Zezinho come�ou a compor em 1964 e iniciou sua carreira de cantor em 1967. "Can��o da Amizade" (Shalom) foi a sua primeira grava��o. Ele foi um dos pioneiros no uso de instrumentos modernos como a guitarra el�trica e a bateria na m�sica religiosa.

Em 2010, padre Zezinho recebeu indica��o ao Grammy Latino na categoria "Melhor �lbum de M�sica Crist� em portugu�s". Ele j� ganhou discos de platina, ouro e diamante, al�m de demais pr�mios e homenagens.

�cone da m�sica crist�, o padre � um dos pioneiros nesse g�nero musical. Algumas de suas can��es mais famosas s�o: �Um Certo Galileu�, �Maria de Nazar�, �Amar Como Jesus Amou�, �Ora��o pela Fam�lia� e �Ilumina, Ilumina�.

Fonte: A12.com

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De O Povo online, de 04/6/2012

Entrevista completa com Pe. Zezinho

O POVO - S�o 45 anos como sacerdote, comunicador e catequista. Houve um momento espec�fico, claro, de seu chamado para ser padre?

Pe. Zezinho - Eu queria ser padre desde os nove anos de idade. Meu pai era paral�tico e quem dava assist�ncia a minha fam�lia, que era pobre, eram os padres de um instituto de teologia a 100 metros da nossa casa. Acostumei-me como coroinha e vendo que eles cuidavam dos pobres e da vila de oper�rios onde eu morava. Ent�o, nasceu aos poucos a ideia de fazer o que eles faziam: cuidar de pobre e trabalhar em comunidades carentes.

O POVO � A paralisia de seu pai foi um acidente?

Pe. Zezinho - Meu pai era tropeiro, conduzia gado de Minas para S�o Paulo, e tamb�m media terras. Um dia sofreu um acidente, rolou barranco abaixo e o cavalo passou por cima dele. Afetou a espinha. Depois, a paralisia foi progressiva, ficou imobilizado. Mas ele tamb�m era violeiro e mesmo assim conseguia mexer com a m�o. Porque ele n�o se mexia e estava sempre em casa, eu tive mais tempo de desfrutar da presen�a do meu pai, at� os meus dez anos de idade. Por um lado, (o acidente) foi providencial, porque eu convivi com ele e com suas hist�rias, e ao mesmo tempo eu vi a dor e o sofrimento que ele enfrentou com muita serenidade. Mais tarde minha m�e veio a amputar as duas pernas devido � diabetes. Eu vivi numa fam�lia onde se ensinava que ter problemas na vida n�o � o mesmo que ter uma vida infeliz. A nossa foi feliz apesar dos problemas. Meu pai morreu quando eu fiz 11 anos. No comecinho de 1952. E dali por diante eu estava por conta dos padres que cuidavam da nossa fam�lia e foram eles que conseguiram benfeitores para pagar os meus estudos. E hoje eu retribuo para a minha congrega��o tudo o que ela fez por mim. E, certamente, n�o existiria o Padre Zezinho se uma congrega��o n�o tivesse acreditado nesse menino pobre. 

O POVO � E, diante dessas quest�es, como passou a ser o sustento de voc�s?

Pe. Zezinho - �ramos seis, eu era o mais novo. Quatro trabalhavam numa f�brica de tecidos e o dinheiro deles mantinha a casa. Quando era muito dif�cil os vizinhos ajudavam e os padres desse instituto, chamado Conventinho, completavam. N�s passamos per�odo pequeno de fome, mas depois nunca mais, porque a vizinhan�a deu assist�ncia. 

O POVO - E como foi recebida pelos seus pais a sua decis�o de seguir a vida religiosa?
Pe. Zezinho � Meu irm�o mais velho foi primeiro para o semin�rio. Depois ele desistiu. Minha m�e era costureira dos padres e depois de um tempo foi tamb�m cozinheira. E � claro que para ela n�o era novidade a vida sacerdotal. Ela era muito devota do Cora��o de Jesus e recebeu com muita alegria (a decis�o). Ela foi s�bia dizendo: �olha, o teu irm�o foi, mas n�o continuou, voc� veja o que quer�. Eu disse: �vou arriscar�. Fui e continuei.

O POVO - E essa quest�o musical, o senhor atribui parte dela, do seu interesse, a essa conviv�ncia com o seu pai?

Pe. Zezinho � Sim, minha fam�lia era muito musical. De vez em quando os tios vinham visitar, contavam causos e cantavam toada mineira, moda de viola. Tem tamb�m um centro cultural l� at� hoje. E ali havia muita m�sica regional, m�sica sertaneja. Eu tamb�m bebi daquela fonte. Mais tarde, quando fui para o semin�rio, recebi a influ�ncia da m�sica italiana e da m�sica alem�. Ent�o, eu j� tinha a m�sica mineira no sangue, a m�sica paulista, porque mor�vamos em Taubat�, para onde eu fui com dois anos de idade, a m�sica interiorana tipo Tonico e Tinoco, e mais tarde a influ�ncia estrangeira, as m�sicas populares da It�lia e da Alemanha. Depois fui para os EUA e morei numa regi�o de blues, era muito comum o �country�. L� tamb�m isso me influenciou. E depois tive chance de viajar pela Europa e de estudar alguns per�odos. L� eu bebi da m�sica grega, da m�sica portuguesa e me interessei muito pela m�sica russa. Isso tudo foi formando em mim um conceito musical, que depois eu desenvolvi. As pessoas dizem que a minha m�sica serve em qualquer pa�s do mundo exatamente por essas influ�ncias.

O POVO - Quanto tempo foi essa sua passagem no Exterior?

Pe. Zezinho � Eu morei cinco anos no Exterior. Quatro anos nos Estados Unidos e um na It�lia. E depois viajei muito pelo mundo. Passava tr�s meses na Argentina, no M�xico, na Espanha. Logo nos meus primeiros dez anos de padre. 

O POVO � E como foi ter de sair do Pa�s por causa da Ditadura?

Pe. Zezinho - Eu fui amea�ado v�rias vezes, tive que me mudar para a Espanha e fiquei l� sete meses. Por ter falado naquele tempo o que eu falo agora. Uma vez eu ganhei ordem de pris�o em Belo Horizonte, porque disse que estava com saudade do tempo em que a gente podia votar e que eu queria uma juventude que se rebelasse e lutasse pelos seus direitos de ser cidad�, e n�o uma juventude revoltada, porque revoltada vai e destr�i tudo. Rebelde � idealista. Era para n�o engolir normas impostas. Eu queria um Pa�s que discutisse, que debatesse. Ganhei ordem de pris�o, mas o Dom Paulo (Evaristo Arns) tomou minha defesa junto de Dom Eug�nio, do Rio de Janeiro, e n�o fui preso. Mas logo depois fui para a Espanha. Meus superiores pediram para ir para l�, porque eu estava marcado. Na mesma �poca prenderam Frei Beto, a repress�o estava violenta. Eu n�o sofri nem um d�cimo da persegui��o que outros sofreram. Outros pregavam abertamente uma postura de esquerda e eu pregava uma postura social democr�tica. Eu sempre segui o nosso fundador, italiano que era advogado, e ele propunha o solidarismo, nem a rep�blica direitista e nem a socialista. Mas o sistema solid�rio em que o capital n�o esmagasse as pessoas e elas tivessem liberdade. Meu modelo n�o era e n�o � Cuba. E tamb�m n�o era e n�o � os Estados Unidos. Ali�s, assino embaixo do Martin Luther no �ltimo documento dele �O capitalismo � uma quest�o de amor�. Eu assino por aquilo que eu vivi quatro anos nos Estados Unidos e eu sei do que o capitalismo � capaz. Ele massacra as pessoas com seu poder de compra. E no Congresso massacra as pessoas com seu poder de compra de deputados. N�o somos ainda uma Rep�blica que discute, nos deixamos levar pela press�o do momento e pela troca de partidos e igrejas pela vantagem. O Brasil vive isso h� muito tempo: �v� com o vencedor�, fique com o que est� no primeiro lugar� e a� voc� ser� vitorioso. Acho que � vitorioso quem tem opini�o e corre todos os riscos para dizer o que pensa. 

O POVO - Na avalia��o do senhor, hoje h� menos interesse dos jovens em seguir a vida religiosa?
Pe. Zezinho � Acho que est� no mesmo n�vel. N�o aumentou, nem diminuiu. Houve um per�odo em que diminuiu, depois houve uma certa recupera��o. A grande pergunta n�o � agora, a pergunta �: �e depois?�. Porque precisa ver se os movimentos na Igreja v�o durar. Porque a congrega��o mariana durou 300 anos, os vicentinos duraram quatro s�culos e ainda existem; jesu�tas, franciscanos, est�o com 400 ou 800 anos. Eram movimentos de espiritualidade que duravam s�culos. Hoje n�s temos que perguntar se os novos movimentos que trabalham muito a sensibilidade e o sentimento, mais que o conhecimento e a raz�o, v�o durar muito. Porque, do contr�rio, fica fogo de palha que dura um tempo e depois cai e n�o tem sustenta��o. A catequese deve ser dur�vel e progressiva. Uma coisa � uma m�sica que eu fiz h� 40 anos e � cantada at� hoje. Outra coisa � uma m�sica para consumo, marketing, que se canta meio ano e depois ningu�m mais canta. Mas por que dura? Porque o conte�do catequ�tico dela � forte, est� dentro de uma proposta de catequese progressiva da Igreja. � nessa tecla que eu bato. Estudos da CNBB, estudos de evangeliza��o e juventude, abordam tamb�m. � preciso colocar ideias perenes e n�o canonizar apenas o momento. Em outras palavras, tem que haver uma base cultural s�lida para ser trabalhar com juventude e fazer m�sica religiosa tamb�m.

O POVO - E os movimentos hoje seguem que linha?

Pe. Zezinho - Trabalham muito o marketing. E o marketing, todo mundo sabe, � para consumo. Faz, terminou, faz outro, faz outro. Eu insisto muito nos meus livros e nas aulas de comunica��o que dou h� 30 anos que o substrato cultural de uma mensagem tem que ser muito forte e uma can��o deve ser testada muitas vezes para aguentar. � como o edif�cio. Se voc� constr�i com ferro, cimento e com solidez, ele dura 100 ou 200 anos. Se voc� faz com cimento de qualidade fraca � capaz de ele come�ar a soltar peda�os. � assim tamb�m na cultura. As coisas que tinham conte�do s�lido duraram. At� hoje todo mundo canta �n�o h�, � gente, oh, n�o, luar como esse do sert�o�. E um samba muito simples como �a estrela Dalva no c�u desponta� (cantarola). � porque a melodia � dur�vel, o conte�do � dur�vel e f�cil de guardar. Agora, se voc� faz melodias dif�ceis de aprender elas n�o durar�o. 

O POVO - E como � seu trabalho de composi��o? 

Pe. Zezinho - Quando quero que o povo aprenda, eu fa�o estribilho curto (verso ou versos repetidos no final de cada estrofe), melodia f�cil. �Estou pensando em Deus, estou pensando no amor�, �Maria de Nazar�, Maria me cativou� (cantarola). Eu ponho estribilho f�cil e melodia f�cil para ser cantado por uma crian�a ou uma pessoa de 80 anos. Quando quero eu mesmo cantar a m�sica, fa�o elaborado, sofisticado e ent�o combino com o maestro como � que vai ser o arranjo para a multid�o cantar ou para pequenos grupos cantarem. Mas a verdade � que as m�sicas sofisticadas o povo n�o canta e as m�sicas mais populares sempre o povo guarda e depois de 40 anos est� cantando. Existe o discurso acess�vel e o discurso elaborado. De cada dez m�sicas que eu fa�o, oito s�o de discurso acess�vel, duas s�o de discurso elaborado porque eu quero colocar filosofia e teologia na mensagem. Mas a� o meu grupo canta.

O POVO - Mas o senhor vai fazendo isso aos poucos, ao longo do ano, ou existe um momento espec�fico dentro dessa rotina de shows e livros?

Pe. Zezinho - Eu edito em um gravador como esse seu aqui, no carro ou em viagem no avi�o. Can��es que depois eu guardo no arquivo. Dito os artigos, passo para minhas sobrinhas ou auxiliares digitarem e tenho l� mais de tr�s mil can��es registradas e, de vez em quando, procuro uma delas e o tema a exigir. Tenho registrado mais de cinco mil artigos. Se precisar, est� l� catalogado. E tenho no m�nimo oito ou dez livros gravados e guardados. Na hora oportuna eu os lan�o. Ent�o, eu lancei m�o dos recursos da t�cnica moderna de armazenar. Al�m do que se eu gosto muito de um livro eu dito aquele conte�do, a parte que quero usar um dia, e digo que autor, que p�gina e que conte�do e fica tudo armazenado. Amanh�, quando eu precisar disso, sei onde achar. 

O POVO - Mas o senhor conta com essa equipe tamb�m para lhe auxiliar nessa parte tecnol�gica?
Pe. Zezinho - �, tem uma equipe que trabalha como arquivista se eu precisar. Tenho 14 pessoas que trabalham comigo entre digita��o, prepara��o de shows, sites e blogs. Passo tudo para elas. Eu sou o c�rebro. Eu penso, dito e eles tocam adiante. A corre��o final � feita cinco vezes num livro. E a can��o testada seis meses antes de eu gravar. Por isso � que as pessoas elogiam o conte�do das minhas m�sicas. � que eu submeto � cr�tica antes de lan�ar. 

O POVO - Embora o senhor fa�a centenas de shows e seja sempre lembrado, o senhor n�o est� na TV, n�o est� t�o exposto. Isso � uma escolha? 

Pe. Zezinho - Eu sou professor de comunica��o e ensino aos meus alunos o que eu aprendi nas aulas com Baquero, que foi meu professor nos Estados Unidos, disc�pulo de Mcluhan. Se voc� vai a uma praia para se bronzear, voc� tem que ficar pouco tempo debaixo do sol. A mo�a que vai e fica das seis da manh� at� seis da noite sai de l� com bolhas, e n�o bronzeada. Os holofotes funcionam como o sol. Se voc� se exp�em demais voc� queima a sua imagem. Chega um momento em que as pessoas est�o saturadas de ver seu rosto e n�o querem mais ver voc� nem sua mensagem. Quando voc� se exp�e pouco, as pessoas s�o curiosas e querem ver qual � o rosto que est� por tr�s daquela can��o que escutaram. Ent�o, eu n�o permito que ponham meu rosto na capa de livros. Se voc� for agora a um shopping vai ver que todos os outros usam o rosto. Nos meus livros, voc� vai ver s� o t�tulo. Mas n�o sou o �nico. Saramago fazia a mesma coisa. Ningu�m sabe qual � a imagem do Shakespeare, ningu�m sabe qual � o rosto verdadeiro de Jesus ou de S�crates. Fizeram um rosto fict�cio, mas ningu�m sabe. E isso � porque a mensagem � mais forte, tem que ser mais forte que o mensageiro. 

O POVO - Mais especificamente na religi�o...

Pe. Zezinho - A minha mensagem � b�blica e � da Igreja. Ent�o, n�o vou pegar o meu rosto, porque tudo o que estou dizendo ali aprendi em algum lugar da Igreja. Eu ponho o meu nome como algu�m que aprendeu, mas a centralidade do meu trabalho n�o est� no meu rosto. Uma vez eu pus quando era novinho. Depois refleti e vi que nunca mais. Escolho muito cuidadosamente os programas de audit�rio que vou porque n�o me vejo cantando Ora��o pela fam�lia no Faust�o com as mo�as vestidas daquela maneira atr�s. N�o me vejo cantando uma can��o de espiritualidade no Programa do Gugu e tamb�m n�o me vejo cantando uma can��o de fam�lia no Ratinho. Eles t�m os personagens, mas n�o � o tipo de programa que serve de cen�rio para a minha can��o.

O POVO - A audi�ncia n�o justificaria...

Pe. Zezinho - N�o, a audi�ncia n�o justifica ir � televis�o. Se algu�m descobrir o meu livro, a minha can��o, e contar para o outro, o efeito � muito maior. E depois de 45 anos cantando e indo pouqu�ssimo � televis�o, apesar disso, posso dizer que sou conhecido por pelo menos 100 milh�es de brasileiros. Isso quer dizer que comunidades cat�licas, hospitais, creches, asilos, orfanatos, par�quias, col�gios s�o suficientes para divulgar uma mensagem cat�lica. N�s estamos muito mais pulverizados e penetrados nas camadas da sociedade do que um aparelho de TV, porque, de um jeito ou de outro, uma can��o que tem for�a chega a todas as comunidades, um conta para o outro. Nossos pais nos contaram hist�rias; foi assim que a b�blia chegou a todos. Eu acredito plenamente que se uma mensagem � forte algu�m conta para o outro. Se ela n�o �, algu�m consome e guarda. A ideia da catequese � essa, repercutir. Eu disse, algu�m gostou, passa adiante. Se n�o gostou, morre ali. Por isso � preciso caprichar e fazer uma m�sica s�lida, que o sujeito diga �minha nossa, que letra forte�. E a� ele vai querer cantar. Pode dar certo e pode n�o dar, mas � uma escolha que eu fiz. Com o excesso voc� corre o risco de cansar muito mais rapidamente o p�blico e voc� se cansar. Fica parecendo a formiga que ao inv�s de levar um peda�o da folha, leva a folha inteira. N�o vai chegar ao formigueiro.

O POVO - E os padres que fazem isso? Como o senhor v�?

Pe. Zezinho - � que eu fiz um projeto tipo mangueira. Leva dez ou 15 anos, mas depois d� manga por muito tempo. E eles podem ter feito um projeto mais urgente. Quem quiser se tornar conhecido urgentemente deve fazer um contrato com a Globo ou com a Sony, e em dois anos ser� conhecido no Pa�s inteiro, porque eles providenciar�o que voc� v� a todos os programas. A mesma oferta me foi feita, tr�s vezes e eu disse n�o. Eu n�o saio das Paulinas e tamb�m n�o deixo a minha congrega��o. Continuarei sacerdote dehoniano. Se um dia gostarem de alguma coisa minha, fa�am um contrato com as Paulinas. O meu novo livro, que foi editado pela Editora Universo, eles dialogaram com as Paulinas, porque o t�tulo pertencia a elas. Tamb�m o meu novo DVD, de 45 anos, foi feito com as can��es das Paulinas e a Sony pegou e distribuiu. A ideia � essa: eu n�o mudo de congrega��o, n�o mudo de igreja e n�o mudo de gravadora. Mas � op��o minha. Quem � meu amigo � amigo para sempre. Eu n�o troco por quest�o de maior p�blico, mas se algu�m fizer isso eu n�o condeno. Depende do prazo que voc� se d�. Quem quer ser conhecido em 20 ou 30 anos tem um projeto, quem quer ser conhecido em dois anos tem outros.

O POVO - Alguns padres e bandas religiosas lhe t�m como refer�ncia...

Pe. Zezinho - Acho que o �cone � uma coisa boa pra voc� pendurar na parede. Eu acho que sou mais que um �cone. Sou um pesquisador, um estudioso, um batalhador de ideias e eu n�o paro nunca de ouvir, ler e pesquisar, de ir l� para ver como s�o as coisas. Eu diria que sou mais um mestre que vai do que um mestre que fica na c�tedra e espera que o aluno venha a ele. Foi sempre assim e ser� sempre assim, pois eu vivo a m�stica da minha congrega��o: ir ao povo.

O POVO - A evangeliza��o atrav�s da m�sica � mais eficaz, mais direta?

Pe. Zezinho - N�s n�o podemos canonizar a m�sica. O bolo sem chantili � gostoso do mesmo jeito. Catequese sem m�sica � muito boa, missa sem m�sica � maravilhosa. Agora, a m�sica � um chantili que acrescenta algum sabor especial ao bolo da vida e ela nunca pode ser mais importante do que a palavra falada ou escrita. A m�sica n�o pode ser o referencial n�mero um, porque ela tanto pode existir como n�o existir. Mas a palavra de Deus precisa existir. Se eu precisar escolher entre falar uma hora e cantar duas can��es, eu vou cantar as duas can��es e falar uma hora. Se algu�m me disser cante 20 can��es e fale dez minutos eu n�o aceito ir naquela comunidade. Eu n�o fui ordenado para cantar, fui ordenado para pregar a palavra de Deus e em nenhum momento o bispo me mandou cantar. A can��o � algo que veio depois, at� enfeita, mas ela n�o pode ser a raz�o central do meu sacerd�cio. J� muitas vezes aconteceu de eu perder grandes oportunidades porque eu me neguei a ir s� para cantar. 

O POVO - Uma de suas m�sicas mais marcantes � Ora��o pela fam�lia. Como o senhor v� a fam�lia brasileira hoje? Falta di�logo?

Pe. Zezinho - Eu fiz mais de 100 can��es sobre a fam�lia das 1.700 que eu j� gravei. E todas elas foram baseadas em documentos da Igreja. A Ora��o pela fam�lia � baseada na Familiaris Consortio de Jo�o Paulo II, de 1981. Em um retiro, eu preguei e no fim essa mensagem estava l� no quadro e eu musiquei. As ideias s�o de Jo�o Paulo II, mas a poesia e a melodia s�o minhas. Eu vejo que a fam�lia como o todo, e os jovens sofrem com a m�dia e com o marketing moderno. Desde que a humanidade escolheu os n�meros e a vendagem como objetivos principais da comunica��o ficaram sacrificadas a qualidade e a fam�lia. Os pais perderam a autoridade, a Igreja perdeu a autoridade, o Estado perdeu autoridade e a escola tamb�m. Os pais, que vivem todos os dias com os filhos, �s vezes n�o conseguem dar uma mensagem para os filhos. Mas os filhos est�o abertos � internet e � m�dia. Quem vem de fora tem mais influ�ncia sobre eles do que quem vive com eles. Os pais precisam redescobrir a arte de dizer sim e n�o, e de dizer mais sim do que n�o. Os pais deviam ser um sem�foro que fica mais tempo no verde, mas quando � amarelo � amarelo e quando � vermelho � vermelho mesmo. Os pais t�m que aprender a proibir o suficiente e permitir muito mais, por�m para isso precisa oferecer um amarelo que � um �prepare-se�, reflex�o. Isso tem faltado, n�s vivemos numa sociedade voltada para o indiv�duo, superficial demais, imediatista demais e que se entregou totalmente ao marketing. Inclusive ao marketing da f�. Isso est� dito de v�rias maneiras no estudo da CNBB, evangeliza��o da juventude. E � lembrado por n�s comunicadores. Hoje, acentuaram-se demais o ef�mero, o emotivo, e esquecemos de ensinar o Brasil a pensar. Pol�ticos votam �s vezes sem pensar, o povo vota nos pol�ticos sem pensar. As pessoas mudam de igreja sem pensar, aderem a um pregador simp�tico sem pensar e aceitam sem crit�rio qualquer novidade. Canonizou-se a novidade e esquecendo a qualidade e o conte�do. E o Evangelho s� chegou at� n�s por conta do conte�do. Toda vez que voc� se deixa levar pela onda do momento voc� � surfista, n�o � um catequista.

O POVO - Diante desse cen�rio, o senhor � otimista ou pessimista?

Pe. Zezinho - Sempre foi dif�cil ser um bom crist�o, sempre foi dif�cil ser um bom cat�lico, e sempre foi f�cil aderir � ideia do momento. Mas aquele que quer realmente dar um conte�do faz como o bom professor universit�rio que l� os livros de antigamente, os de agora e oferece ao aluno uma s�ntese de hoje, de ontem e uma poss�vel s�ntese de amanh�. A religi�o tem que fazer isso. Ela tem que saber oferecer dois mil anos de experi�ncia e oferecer o hoje da Igreja, e o amanh� da Igreja. N�s temos que ter a capacidade de pregar com nexo, pregar com perspectiva e pregar o Cristo da f� e o cristo hist�rico. A maioria das pessoas n�o tem no��o do Cristo hist�rico, n�o tem no��o de como a Igreja chegou, aonde chegou. Tem muito jesu�smo e pouco cristianismo. Tem muita �jesuologia�, e pouca �cristologia�. N�s precisamos, como crist�o, cat�licos, evang�licos ou ortodoxos, mostrar o Jesus daquele tempo, como agiu na sociedade daquele tempo. Depois, como aconteceu aos poucos, para cada pessoa, o Jesus de todos os tempos. E, finalmente, o que ser� daqui pra frente o an�ncio de Jesus Cristo. Ningu�m consegue fazer isso se n�o ler muito. E n�s somos uma sociedade carente de livros, as igrejas tamb�m s�o carentes de livros. Entre uma estante cheia de livros e uma parede cheia de fotos ou instrumentos pendurados, as pessoas escolhem aquilo que � mais imediatista. Porque livro d�i, provoca, machuca, cansa. Agora, a mensagem que voc� ouviu aprende e depois vai repetindo de cor, isso � r�pido, isso � surfar. Eu trabalho para que a Igreja tenha a cada dia menos surfistas e mais catequistas. Catequista vai fundo, volta de l� quase sem f�lego, mas ele mergulhou fundo para buscar uma pedra preciosa. E mergulhar fundo � isto: o que a igreja quer me dizer? A maioria dos documentos da Igreja n�o � lida, a maioria dos livros de teologia fica numa estante e n�o chega ao povo. A Igreja fala muito bonito, mas n�o chega ao povo. Chega a parte que o pregador gosta de mostrar, mas os jovens continuam sem saber o que a Igreja disse, o que disse Jo�o Paulo II e o que disse o documento de Aparecida. 

O POVO - O senhor acha que isso � uma falha de forma��o dos padres?

Pe. Zezinho - Eu acho que isso � imediatismo. N�s queremos resultado. N�o existem as igrejas que pregam o Cristo com resultado? N�o h� at� a hora para o milagre? Domingo �s tr�s da tarde v� l� que vai acontecer milagre. Isso � imediatismo. Ou outros oferecem missa de cura e liberta��o. Por acaso todas as outras missas tamb�m n�o s�o de cura e liberta��o? Por que eu vou s� naquele padre que diz que vai ter cura e liberta��o se a Igreja n�o permite que d� esses nomes para as missas? Toda missa � de cura e liberta��o. Deus � que vai decidir se cura e liberta algu�m. Eu n�o posso dizer antes que ela vai ser disso. Vai ser missa de pedido, mas n�o de cura e liberta��o. Outros dizem assim �fa�a por mim uma ora��o de poder�. Eu n�o conhe�o nenhuma. S� conhe�o ora��o de pedir. Quem tem poder � Deus. Eu tenho ora��o de pedir ao poder, n�o rezo ora��o de poder. Nem o Pai Nosso �, ele � de pedir. Quando a gente p�e a Teologia no lugar certo � muito melhor, pois a pessoa reflete. Vejo muita gente aben�oando e dizendo �que Deus possa te aben�oar�. Por acaso Deus n�o pode? Para que vou rezar para que Deus possa? Ent�o, que Deus te aben�oe agora. Certas ideias entram na Igreja e ficam grudadas que nem cupim no pasto, n�o saem mais e s�o ideias erradas. Voc� vai rezar para que Deus possa? Como? Por acaso Deus n�o pode? Ou para que Deus queira te aben�oar? Por acaso ele n�o quer? Temos que ter palavras com maior precis�o. Ou outro me pergunta: �essa missa � de cura e liberta��o?�. N�o sei, voc� tem que perguntar para Deus. S� ele cura e liberta, eu vou s� celebrar a missa. As pessoas inventam �slogans� e marketing e atrai, mas n�o � verdade. Pois � Deus quem decide.

O POVO - O senhor acha que a compreens�o entre as igrejas est� mais pr�xima hoje?

Pe. Zezinho � � mais f�cil dialogar com as igrejas hist�ricas: luteranas, metodistas, batistas, adventistas. J� tem uma caminhada e � mais f�cil conversar com estes pastores. � um pouco mais dif�cil dialogar com as igrejas neopentecostais, pois elas n�o conseguem entender que n�s podemos estar certos. Elas acreditam e ensinam que elas � que s�o o novo da f�. Elencam a ideia de que voc� est� errado. O verdadeiro di�logo ecum�nico � aquele que chega e diz �pode falar, eu vou concordar e vou discordar, mas eu quero ouvir voc�. Hoje algumas igrejas n�o ouvem, s� falam. Aquilo que o Papa Bento XVI diz: s�o as matracas da f�. Repetem, repetem, repetem. E se voc� for somar o que foi dito tem pouco. Temos que voltar para a B�blia, voltar aos documentos das nossas igrejas, n�o s� a nossa, e exigir de todo pregador que n�o pregue sua ideia, mas que pregue a ideia de toda uma igreja. H� um subjetivismo gigantesco e um individualismo muito grande nas prega��es. N�s precisamos nos libertar de �slogans� perigosos, de marketing perigoso e fazer bom uso dos meios de comunica��o sem nos escravizar a eles. Porque o �www� tamb�m escraviza, e a era digital tamb�m � escravizante. E voc�, �s vezes, pode n�o ser escravo de ideias, mas � escravo de dedo. N�s temos que ter liberdade de entrar e sair da m�dia, de entrar e sair de um p�lpito e voltar a ser o cidad�o comum depois que desceu do palco. Voc� v� pregadores rodeados de dez pessoas para proteg�-los. Eles n�o conseguem se misturar com as pessoas. Viram semideuses da f�. Voc� n�o tem uma religi�o, voc� tem um surfista que venceu a �ltima competi��o. Mas amanh� vai aparecer outro e ele cai fora. Igreja � mais que uma competi��o de esporte, de m�dia ou de surfe. � solidez de conte�do e isso voc� s� encontra abrindo sua B�blia e estudando, abrindo os livros de Teologia, porque tem gente mais culta e mais s�bia do que n�s que j� estudou muitos anos a mais. E o que ele disse est� em um livro que custa R$ 60 ou R$ 30. Se eu n�o tiver humildade de pegar aquele livro e ler eu n�o vou querer que o mundo acredite nas revela��es. Jesus mandou desconfiar de quem disse que sabe onde Ele est�. Jesus diz que n�o devemos nos impressionar pela f� como espet�culo. �Senhor, senhor, em teu nome convertemos milh�es�. Jesus diz que vai falar: �eu n�o conhe�o voc�s�. Ent�o, Jesus � contra a f� espet�culo, � contra a f� circense, contra a f� de palco e contra a f� baseada no marketing de artista. Ele � pela f� s�lida, com ra�zes, que cresce devagar. Porque o reino de Deus � como uma semente que est� crescendo. N�s n�o estamos nos dando tempo para a f� amadurecer nos jovens. A maioria das igrejas est� cometendo esse pecado de queimar etapas. H� pregadores pensando que se pular para a pr�xima fase, n�o terminar a primeira, vai chegar longe. Experimente fazer um pr�dio de 20 andares sem solidificar andar por andar. 

O POVO - Como o senhor avalia a inser��o dos grupos evang�licos em demandas pol�ticas?

Pe. Zezinho - N�s dev�amos fazer o mesmo. A Igreja Cat�lica j� fez muita pol�tica no passado e chegou aos parlamentos. N�s n�o dev�amos desistir da pol�tica. Temos que preparar leigos e se poss�vel at� sacerdotes para ir l� representar o povo no parlamento. Eu sou a favor de fazer pol�tica. Eu n�o fa�o porque eu n�o tenho essa voca��o, mas se algu�m tem e o bispo permitir, acho que deve ir, pois � l� que se fazem as leis. 

O POVO - � um espa�o que a Igreja Cat�lica n�o est� ocupando...

Pe. Zezinho - N�s temos que estar nas universidades, no meio cient�fico, na literatura e temos que estar no Congresso. Afinal, somos a maioria dos brasileiros. 

O POVO - Nos seus shows e nas suas prega��es o senhor fala dessa quest�o eleitoral? O senhor aborda isso com as pessoas?

Pe. Zezinho - Minha prega��o � profundamente religiosa e profundamente pol�tica. Eu n�o consigo imaginar falar com a multid�o e n�o falar de pol�tica. Eu falo de Deus, falo do pr�ximo e falo do eu no meio dos outros. Tento pregar contra a ideia do �eu demais� e �Deus de menos�. Mas falo de pol�tica abertamente, porque n�o � poss�vel construir uma sociedade sem religi�o e sem pol�tica. Eu prego as duas.

O POVO - Recentemente, o Supremo Tribunal Federal aprovou a possibilidade de aborto de anenc�falos. Como o senhor recebeu esta decis�o?

Pe. Zezinho - Eu conhe�o uma doceira que uma vez achou um abacate sem caro�o e ela declarou que era abacate e fez uso dele. Estamos dizendo que o p�ssego sem caro�o n�o � p�ssego. Ora, se viveu tr�s meses, viveu. Ent�o, estamos dando prazo para declarar que uma vida � humana. Catorze semanas, tr�s meses. N�s n�o podemos decretar que deixa de ser um ser humano s� porque tem apenas uma parte do c�rebro. Para mim, um abacate sem caro�o ainda � abacate. Meio defeituoso, mas � abacate. E um ser humano com c�rebro defeituoso vai durar um, dois ou tr�s meses, mas vai mamar e eu n�o sei se ele tem sentimento ou n�o. N�o posso decidir, n�o estou l� dentro dele. Viva e deixe viver. Isso � fundamental e a Igreja faz muito bem em brigar pelo feto e pelo velhinho. Essa � uma lei Cavalo de Tr�ia. Hoje pode destruir um feto que � in�til, que n�o vai vingar. Amanh� vai matar um velho e desligar os aparelhos porque ele j� n�o vai mesmo viver. Nessa lei Cavalo de Tr�ia vai permitir que amanh� seja feita uma norma para que os velhinhos doentes terminais morram mais depressa.
O POVO - Como o senhor faz para alimentar a sua f� diante dessas adversidades?

Pe. Zezinho - Oro, leio, ou�o, vou l�. 

O POVO - Que espa�o o senhor acredita que o seu trabalho encontrou nesse mundo moderno que parece ter esquecido os valores crist�os?

Pe. Zezinho - O mero fato de estar em evid�ncia desde 1969, ser chamado para grandes congressos e encontros, significa que os bispos e os sacerdotes ainda acreditam que a minha mensagem repercute. Como eu vou s� onde sou convidado � sinal de que a Igreja daquele lugar acha que o meu discurso est� inserido. Eles veem meus programas de televis�o e de r�dio. E eu tento fazer um discurso verdadeiro, nunca falo de mim individualmente. Deus nunca me apareceu, nenhum anjo nunca me apareceu, Nossa Senhora nunca me apareceu, nunca recebi nenhuma revela��o particular para dar para o povo de Deus. O que eu prego est� na B�blia e nos documentos da Igreja. N�o sou um vidente. No m�ximo posso ser um profetinha, mas Deus n�o me d� recado nenhum novo para o povo. Ele me d� os recados que deu para toda a Igreja. E se eu passar a minha vida tentando passar para o povo a palavra dos profetas, dos ap�stolos e de todos os te�logos, bispos e papas que me precederam, eu n�o vou dar conta. Ent�o, por que vou dar a minha mensagem? A Igreja tem dois mil anos e eu s� tenho 70 de idade e 45 de sacerd�cio. Certamente n�o sei o suficiente para dar para esse povo. Ent�o, dificilmente vou contar a minha vida. N�o em um palco. Aqui falei um pouco de meu pai e de minha m�e porque voc� perguntou. Se n�o perguntar eu n�o falo.

O POVO - O que seria nos dias de hoje "pensar como Jesus pensou" (um trecho da m�sica de Padre Zezinho)?

Pe. Zezinho - Quem n�o pensa acaba dando o que pensar. E quem pensa que o pensamento dele � o mais importante para a sociedade pensou errado. A melhor maneira para um crist�o � pensar como Jesus pensou e isso est� nos evangelhos, est� na interpreta��o da Igreja. Conf�cio dizia que temos que aprender a li��o do �n�o-eu�. E depois de mim � tudo �n�o-eu�, � o outro. Temos sete bilh�es de habitantes e eu sou apenas um. Todos os demais s�o �o outro�. Ent�o, tenho que viver para o outro, porque se viver para mim � uma discrep�ncia gigantesca. Educar para o outro. Quem fala bonito isso � o Rabino Hillao. Isso est� no livro Os judeus, o dinheiro e o mundo. O rabino dizia que h� uma fase da vida em que a crian�a � meu-meu-teu-teu. Chega outra fase na adolesc�ncia que � meu-teu-teu-meu. � a cobran�a, o namoro. Chega a outra fase em que ele fica ganancioso, que quer ser algu�m. Ent�o ele � meu-meu-meu-teu. E finalmente ele fica s�bio e inverte tudo meu-teu-teu-teu. Parece brincadeira, mas a� est� resumido o que � o ser humano. A gente vai ficando av�, mais velho e n�o quer mais muitas coisas. Mas quando entra para o capitalismo � meu-meu-meu-teu, sobra um pouquinho para o outro. E foi o Plat�o que disse que a cidadania come�a a fazer sentido quando o cidad�o descobre o �n�o-meu�. Ali voc� tem o cidad�o.

O POVO - Como o senhor lida com o ass�dio dos f�s, das pessoas que lhe conhecem nas ruas?

Pe. Zezinho - Eu construo uma imagem de cidad�o comum. Eu n�o virei mito, nem �dolo. Eu tive a prud�ncia de n�o assinar contrato com grandes televis�es, porque a televis�o � f�brica de �dolo e de mito. Voc� tem que vender o seu produto. Como eu nunca assinei com nenhuma televis�o e vou pouco, eu sou mais uma refer�ncia do que um mito. Essa � uma verdade que eu tenho. As pessoas me encontram na rua como se fosse um velho amigo. Eu consegui preservar a minha imagem.

O POVO - O senhor sofreu alguma discrimina��o dentro da Igreja por essa sua escolha de evangelizar pela m�sica?

Pe. Zezinho - Sofri e sofro at� hoje, mas Jesus tamb�m sofreu e sofre at� hoje. Depois de dois mil anos Jesus � criticado e � amado. Se depois de dois mil anos o filho de Deus � mal amado e bem amado, eu n�o vou querer mais do que Ele. No come�o eu era criticado e elogiado. Hoje, continuo sendo criticado e elogiado. Depois de um tempo eu percebi que sou mais aceito do que rejeitado, mas � porque eu perseverei.

Em que ano foi composta a música Um Certo Galileu?

Algumas das canções regravadas são "hits" católicos para toda e qualquer ocasião: "Um certo galileu" (sucesso de 1975 que conta a história de Jesus no ponto de vista da Igreja e no ponto de vista da história), "Canção para meu Deus" (sucesso do segundo álbum de estúdio, que leva o mesmo nome, posteriormente regravado ...

Quem é o autor de Um Certo Galileu?

Composição: Padre Zezinho.

Onde vive o Padre Zezinho hoje?

Padre Zézinho nasceu no ano de 1944, na comunidade de Rio América, em Urussanga, aos 6 anos de idade sua família mudou-se para o bairro Mina Brasil, em Criciúma, onde reside até hoje.

O que significa SCJ Padre Zezinho?

Os Dehonianos, como são conhecidos os Padres e Irmãos pertencentes à Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (SCJ), são reconhecidos por usarem uma cruz um pouco diferente, chamada Cruz Dehoniana.