Porque o Serviço Social não é considerado trabalho?

Introdu��o

Este artigo discute o argumento central do Professor Sergio Lessa segundo o qual o Servi�o Social n�o pode ser considerado trabalho porque n�o transforma a natureza. De acordo com ele �...em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, porque o Servi�o Social n�o realiza a transforma��o da natureza nos bens materiais necess�rios � reprodu��o social(LESSA, 2000, p�g. 52). A nossa pretens�o � fazer uma primeira aproxima��o � pol�mica j� instalada.

No debate acerca do que tem se convencionado denominar �as transforma��es do mundo do trabalho�, �reestrutura��o produtiva� e outros termos semelhantes, alguns autores defendem a centralidade da categoria trabalho como fundante do mundo dos homens. Estes se op�em polemicamente �queles que relativizam e, no limite, negam a determina��o do trabalho na constitui��o do ser social. A pol�mica n�o se restringe ao plano te�rico nem ao espa�o acad�mico, uma vez que, o questionamento da centralidade do trabalho tem conseq��ncias pol�ticas que afetam as estrat�gias do movimento dos trabalhadores.

Essa pol�mica afeta tamb�m o servi�o social. Nada mais natural no caso de uma categoria profissional cujas vanguardas t�m se caracterizado por assumir explicitamente um direcionamento cr�tico. Fica evidente, a partir disso, a import�ncia de refletir acerca dos v�nculos entre o Servi�o Social e a categoria trabalho, com todas suas implica��es. Determinar estes v�nculos tornou-se uma via de acesso para compreender como se insere esta profiss�o na sociedade capitalista.

O debate se intensificou principalmente, ap�s a aprova��o pela ABESS[1] (Associa��o Brasileira de Ensino em Servi�o Social), das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Gradua��o em Servi�o Social , em 1996, na qual o Servi�o Social � definido como uma especializa��o do trabalho, sendo sua pr�tica entendida como um processo de trabalho que possui como objeto �as m�ltiplas express�es da quest�o social�.[2]

Contra esta interpreta��o de o Servi�o Social ser uma forma do trabalho social coloca-se Lessa, da Universidade Federal de Alagoas, que vem afirmando claramente que o Servi�o Social n�o � trabalho. Trata-se de uma tese provocativa, por�m fecunda, na medida que obriga a precisar melhor a real inser��o do Servi�o Social na divis�o social e t�cnica do trabalho.

Neste artigo pretendemos discutir o argumento central de Lessa, para quem a nossa profiss�o n�o seria trabalho porque n�o transforma a natureza.[3]

Porque o Servi�o Social n�o seria trabalho?

Lessa afirma que este debate surgiu nas discuss�es acerca da formula��o das novas diretrizes curriculares dos cursos de gradua��o, representando um avan�o te�rico para a categoria profissional, um amadurecimento e uma mudan�a na rela��o desta com as Ci�ncias Humanas. O Servi�o Social teria desta forma sa�do da rela��o de subalternidade hist�rica travada com as Ci�ncias Humanas. (LESSA, 2000, P. 37)

A reflex�o acerca do Servi�o Social e a categoria trabalho n�o deve restringir-se, segundo o autor, ao aspecto instrumental, mas deve remeter-se, dentre outros aspectos, � an�lise dos fundamentos filos�ficos e ideol�gicos presentes neste debate.

O autor alega fundamentar sua concep��o de trabalho nas formula��es de Karl Marx, para quem o trabalho � a categoria fundante do mundo dos homens, sendo a partir dele poss�vel aos homens constru�rem a sua pr�pria hist�ria. O trabalho constitui-se na categoria fundante em virtude de ser

[...] na rela��o com a totalidade social, [...] o local por excel�ncia da produ��o das necessidades por novas rela��es sociais (categorias e complexos) que marcar�o o desenvolvimento hist�rico do g�nero humano." (LESSA, 2000, p. 49).

Desta maneira, o trabalho modifica tamb�m a pr�pria natureza [social] do homem e conseq�entemente a sociedade. No final do processo de trabalho o homem j� n�o � mais o mesmo, adquiriu "[...] novas habilidades e conhecimentos e, portanto, tamb�m [...] novas necessidades [...]." (LESSA, 2000, p. 51)

O trabalho tem uma fun��o social particular e espec�fica na rela��o com a totalidade social, que � de transformar a natureza em bens materiais necess�rios a reprodu��o social "[...] o trabalho � um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua pr�pria a��o, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza [...]." (MARX apud LESSA, 2005, p. 2)

No modo de produ��o capitalista maduro, em que a grande industria j� se desenvolveu e aparece como a premissa de toda produ��o, alterou-se tamb�m a base sobre a qual vinha se desenvolvendo at� ent�o a produ��o. N�o se trata mais agora do trabalho executado pelo artes�o ou mesmo pelo oper�rio isolado, mas do trabalho realizado por um organismo criado pelo capital, o trabalhador coletivo.

O conceito desenvolvido acerca do trabalho coletivo por Lessa tamb�m tem por base o exposto por Marx,

[...] de um pessoal combinado de trabalho, cujos membros se encontram mais perto ou mais longe da manipula��o do objeto de trabalho. Com o car�ter cooperativo do pr�prio processo de trabalho amplia-se (erweiter sich), portanto, necessariamente o conceito de trabalho produtivo e de seu portador, do trabalhador produtivo. Para trabalhar produtivamente, j� n�o � necess�rio, agora p�r pessoalmente a m�o na obra; basta ser �rg�o do trabalhador coletivo, executando qualquer uma de suas subfun��es. (MARX apud LESSA, 2005, p. 12).

Fica evidente nesta passagem a amplia��o do conceito de trabalho. Agora n�o � o trabalhador considerado individualmente que realiza a transforma��o da natureza, mas o trabalhador coletivo, que no seu conjunto produz os meios materiais necess�rios � reprodu��o social.

Entretanto, Lessa chama a aten��o para a presen�a de uma distin��o dentro do trabalhador coletivo, segundo a qual nem todos realizam a transforma��o da natureza, sendo assim, nem todos fariam parte do trabalhador coletivo. Ou seja, s� constituem o trabalhador coletivo, aqueles trabalhadores produtivos que transformam a natureza. (LESSA, 2005)[4]. Aponta ainda, uma diferen�a existente dentro do trabalhador coletivo, este englobaria tanto o trabalho - entendido aqui enquanto transforma��o da natureza - quanto outras atividades que somente produzem mais-valia, ou seja, que s�o produtivas.

� importante salientarmos aqui, que Lessa admite haver produ��o de mais-valia oriunda de atividades que ele n�o considera trabalho.

Considerando [...] a produ��o de mais-valia, a rela��o entre o professor e o capitalista � exatamente a mesma que se desdobra entre o capitalista e o prolet�rio. As for�as de trabalho do professor e do prolet�rio s�o compradas pelos seus respectivos valores, o tempo de trabalho socialmente necess�rio para reproduzir cada uma delas. [...] Ambas as for�as de trabalho, portanto, foram compradas pelo seu valor de uso espec�fico: � a �nica mercadoria que, uma vez consumida, gera maior valor que o seu pr�prio. A forma de explora��o (se n�o a intensidade da explora��o) � exatamente a mesma: a extra��o da mais-valia. Os lucros do dono da �f�brica de saber�e do dono da �f�brica de salsichas� t�m suas origens na mesma rela��o social, qual seja, a rela��o capital/trabalho produtivo. Tal como o prolet�rio, portanto, o mestre-escola tamb�m produz mais-valia. [...] Enquanto o prolet�rio trabalha sobre uma mat�ria da qual est� ausente a consci�ncia, a a��o do professor visa primordialmente a consci�ncia do aluno. [...] isto faz com que a pr�pria pr�xis dos professores seja ontologicamente distinta da pr�xis prolet�ria n�o apenas no seu conte�do, n�o apenas na sua fun��o social, mas at� mesmo na sua forma imediata [...].(LESSA, 2005, p. 22).

Percebemos uma contradi��o no pensamento desse autor, j� que admite a exist�ncia da produ��o da mais-valia por atividades assalariadas que no seu entendimento n�o s�o trabalho, justificando esta afirma��o exatamente na origem da mais-valia, ou seja, uma teria sido produzida, enquanto a outra s� valorizou capital, n�o acrescentando nenhum valor � riqueza social.

H�, portanto, duas conseq��ncias poss�veis da gera��o da mais-valia. Quando a mais-valia � produzida pela convers�o da natureza no �conte�do material da riqueza�, a riqueza social total � acrescida pelo tempo de trabalho que o prolet�rio plasmou na nova mercadoria. Todavia, quando a mais-valia � produzida fora da rela��o com a natureza, o que temos � um processo em que um dado montante de riqueza social j� produzida pelo prolet�rio, [...] � transferido para o dono da escola, em seguida, parte � transferido ao professor sob a forma de sal�rio.[5] (LESSA, 2005, p. 22).

No nosso entendimento, o autor, ao fragmentar o trabalho coletivo - entre aqueles que manipulam a natureza e aqueles que n�o, distorce de forma decisiva o pensamento de Marx, segundo o qual o trabalhador n�o deve ser analisado individualmente quanto � transforma��o da natureza, mas sim na coletividade. Ou seja,

A determina��o original [...] de trabalho produtivo, derivada da pr�pria natureza da produ��o material, permanece sempre verdadeira para o trabalhador coletivo, considerado como coletividade. Mas ela j� n�o � v�lida para cada um de seus membros, tomados isoladamente. (Marx, 1985c, p.105)

Mas o centro da posi��o de Lessa consiste na nega��o do Servi�o Social ser trabalho. Para fundamentar a sua tese ele afirmar� que como o trabalho � um processo exclusivo entre homem e a natureza, o objeto de trabalho s� pode ser a pr�pria natureza, em seu estado bruto, ou transformada em mat�ria-prima. E os meios de trabalho, s�o elementos da natureza que o homem emprega na transforma��o da natureza, s�o "[...] as propriedades mec�nicas, f�sicas, qu�micas [...]." (MARX apud LESSA, 2005, p. 10) que o homem utiliza para converter a natureza nos meios de produ��o e de subsist�ncia necess�rios � reprodu��o social.

Posto isso, o autor conclui que "[...] Portanto, nas rela��es entre os homens, n�o temos, para Marx, nem a presen�a de mat�ria-prima nem o emprego de 'meios de trabalho' [...]." (LESSA, 2005, p.10).

Por que o Servi�o Social n�o � trabalho? Pergunta num subt�tulo do seu artigo �Servi�o Social e Trabalho: do que se trata?� e responde assim:

Em primeiro lugar, e antes de qualquer coisa, porque o Servi�o Social n�o realiza a transforma��o da natureza nos bens materiais necess�rios � reprodu��o social. N�o cumpre a fun��o mediadora entre os homens e a natureza; pelo contr�rio, atua nas rela��es puramente sociais, nas rela��es entre os homens. (LESSA, 2000, p�g. 52). [destaque nosso]

Embora nos seus escritos Lessa desenvolva outros racioc�nios, vamos nos ater aqui na considera��o deste argumento que consideramos ser o essencial.

O que Marx diz a respeito do trabalho

Do mesmo modo que Lessa procura na letra de Marx amparo para o seu argumento, buscaremos em alguns escritos marxianos o que ele diz sobre este assunto.

Citamos a seguir uma longa passagem de Marx na qual exp�e nitidamente o seu conceito de trabalhador coletivo.

[...] com o desenvolvimento da subordina��o real do trabalho ao capital ou do modo de produ��o especificamente capitalista n�o � o oper�rio individual que se converte no agente (Funktionar. Al.) real do processo de trabalho no seu conjunto mas sim uma capacidade de trabalho socialmente combinada; e, como as diversas capacidades de trabalho que cooperam e formam a m�quina produtiva total participam de maneira muito diferente no processo imediato de forma��o de mercadorias, ou melhor,neste caso, de produtos - um trabalha mais com as m�os, outro mais com a cabe�a, este como diretor (manager. Ing.), engenheiro (engineer. Ing.), t�cnico etc., aquele como capataz (overlooker. Ing.), aqueloutro como oper�rio manual ou at� como simples servente - temos que s�o cada vez em maior n�mero as fun��es da capacidade de trabalho inclu�das no conceito imediato de trabalho produtivo, diretamente explorados pelo capital e subordinados em geral ao seu processo de valoriza��o e de produ��o. Se se considerar o trabalhador coletivo constitu�do pela oficina, a sua atividade combinada realiza-se materialmente e de maneira direta num produto total que, simultaneamente, � uma massa total de mercadorias e aqui � absolutamente indiferente que a fun��o deste ou daquele trabalhador, mero elo deste trabalhador coletivo, esteja mais pr�xima ou mais distantes do trabalho manual direto. Por�m, ent�o, a atividade desta capacidade de trabalho coletiva � o seu consumo direto pelo capital, ou por outra, o processo de autovaloriza��o do capital, a produ��o direta de mais-valia e [...] (MARX, 1985b, p. 110)

Nesta cita��o aparece o que Marx entende por trabalhador coletivo. Nada se diz aqui de �diferencia��es� dentro do trabalhador coletivo como quer Lessa. Todo o contr�rio. Marx explicita a absoluta indiferen�a de �...que a fun��o deste ou daquele trabalhador, mero elo deste trabalhador coletivo, esteja mais pr�xima ou mais distantes do trabalho manual direto�. Mais ainda, o que Marx destaca, e isso nos parece decisivo, � o atributo essencial do trabalho coletivo. Qual seja, o de valorizar capital pelo seu consumo direto.

Algumas p�ginas adiante Marx volta sobre esta quest�o ao explicar que o produto espec�fico do processo capitalista de produ��o, ou seja, a mais valia, � gerado pelo interc�mbio com o trabalho produtivo e, o que

[...] constitui valor de uso espec�fico do trabalho produtivo para o capital n�o � o seu car�ter �til determinado, nem tampouco as qualidades �teis particulares do produto em que se objetiva, mas o seu car�ter de elemento criador de valor de troca (mais valia). (MARX, 1985b, p�g. 114).

Por isso que um trabalho de id�ntico conte�do pode ser produtivo ou improdutivo e exemplifica com o caso da cantora que enquanto canta como um p�ssaro � improdutiva, mas, quando contratada por um empres�rio para cantar e ganhar dinheiro se torna produtiva. Mesma situa��o do professor (mestre escola no exemplo de Marx). � claro que Marx chama a aten��o para a circunstancia de que

[..] os trabalhos que s� se desfrutam como servi�os n�o se transformam em produtos separ�veis dos trabalhadores � e, portanto existentes independentemente deles como mercadorias aut�nomas � e, embora possam ser explorados de maneira diretamente capitalista, constituem grandezas insignificantes se os compararmoscom a massa da produ��o capitalista. (MARX, 1985b, p. 116).

Mas, precisamente no momento em que toma todos os cuidados em definir o peso destes trabalhos no conjunto de sua an�lise, Marx se refere a eles como o que s�o: trabalho. N�o faz qualquer distin��o entre transformar diretamente ou indiretamente a natureza. Toma inclusive como exemplo atividades que n�o t�m vinculo nenhum com a transforma��o da natureza.

Uma outra obje��o que pode ser colocada ao argumento de Lessa � a seguinte: Se admitirmos, de acordo com Marx que o valor � tempo de trabalho socialmente necess�rio e que, apenas o trabalho �til produz valor, como pode uma atividade que produz valor (a do assistente social, e Lessa admite isso[6]) n�o ser ent�o trabalho? Ou o valor ent�o n�o � mais trabalho � e nesse caso estamos fora do campo marxista � ou tem que se admitir que o Servi�o Social � trabalho.

A for�a de trabalho do assistente social � uma mercadoria que, no caso de ser apropriada pelo capital, valorizar� o capital por constituir-se em parte do trabalho coletivo. Mas no caso de ser apropriada pelo Estado, n�o valorizar� capital, pois o sal�rio que recebe provem dos impostos, ou seja, n�o � um recurso destinado a se auto-valorizar, a se acumular. Em ambos os casos, permanece inalterada a condi��o assalariada, ou seja, a transforma��o de sua for�a de trabalho em mercadoria, de cuja venda depende para sobreviver. Por isso, a sua �atividade� � sim trabalho, do mesmo modo que � o trabalho de qualquer oper�rio que entra em contato f�sico direto com a �natureza� que precisa transformar.

Quanto � pr�xis do assistente social (ou do professor no exemplo usado por Lessa) ser ontologicamente distinta da pr�xis prolet�ria no seu �... conte�do, fun��o social e at� na forma imediata� (Lessa, 2005, p�g. 22), parece-nos que incorre numa deshistorizisa��o do trabalho, pois, o �conte�do� de qualquer trabalho no capitalismo maduro � determinado pelo capital que adquire a mercadoria for�a de trabalho; a �fun��o social� � que, de acordo com o que ele reconhece � a de valorizar capital � � a mesma da de qualquer prolet�rio e a �forma imediata� � absolutamente irrelevante na gera��o de valores. De modo que ontologicamente pouco avan�ou o seu argumento para provar que o Servi�o Social n�o � trabalho.

Todavia, � �til neste ponto refletir sobre a circunst�ncia criada no capitalismo monopolista no qual atividades que antes estavam fora do �mercado� s�o crescentemente incorporadas � �rbita mercantil.

Na fase do capitalismo monopolista, o primeiro passo na cria��o do mercado universal � a conquista de toda a produ��o de bens sob a forma de mercadoria; o segundo passo � a conquista de uma gama crescente de servi�os e sua convers�o em mercadorias; e o terceiro � um �ciclo de produto�, que inventa novos produtos e servi�os, alguns dos quais tornam-se indispens�veis � medida que as condi��es da vida moderna mudam para destruir alternativas. Desse modo, o habitante da sociedade capitalista � enla�ado na teia tran�ada de bens-mercadoria e servi�os-mercadoria da qual h� pouca possibilidade de escapar mediante parcial ou total absten��o da vida social tal como existe. [...] No fim, a popula��o acha-se quer queira quer n�o, na situa��o de incapacidade de fazer qualquer coisa que facilmente n�o possa ser feito mediante sal�rio no mercado, por um dos m�ltiplos ramos novos do trabalho social. (Braverman, 1987, p�g. 239).

Quer dizer, o capitalismo monopolista no seu movimento imanente encarregou-se de transformar em mercadorias at� os servi�os, inclu�dos ai os servi�os sociais � objeto de nossa profiss�o � como s�o testemunhos os in�meros conv�nios de assist�ncia m�dico-hospitalar, a mercantiliza��o da educa��o em todos os n�veis e at� a venda de conv�nios para realizar sepultamentos que s�o vendidos no mercado.

Na dificuldade para se enxergar a atividade do assistente social como trabalho, manifesta-se � queremos crer que involuntariamente �, a mesma confus�o denunciada por Marx no seu Cap�tulo VI in�dito de O Capital.

S� a tacanhez mental da burguesia, que tem por absoluta a forma capitalista de produ��o, e que, conseq�entemente, a considera forma natural da produ��o, pode confundir a quest�o do trabalho produtivo e do trabalhador produtivo do ponto de vista do capital, com a quest�o do trabalho produtivo em geral, contentando-se assim com a resposta tautol�gica de que � produtivo todo o trabalho que produz, em geral, ou que desemboca num produto, ou num valor de uso, em resumo: num resultado. (MARX, 1985b, p. 109) [destaque nosso]

Pois, na sua argumenta��o Lessa insiste em considerar como trabalho apenas a atividade que resulta num produto, num valor de uso, num bem palp�vel.

Estas observa��es t�m a finalidade de iniciar apenas uma an�lise mais abrangente dos argumentos de Lessa e de outros autores. Contudo, consideramos importante ao faz�-lo, reafirmarmos a nossa concord�ncia com as diretrizes curriculares segundo as quais �... a profissionaliza��o do Servi�o Social [� uma] especializa��o do trabalhoesua pr�tica [uma] concretiza��o de um processo de trabalho� (ABESS, 1996. Curr�culo M�nimo do Servi�o Social).

A defini��o acima n�o resolve todos os problemas te�ricos que o Servi�o Social enfrenta, mas, certamente � um caminho fecundo para resolv�-los. Renunciar a ela, pelo contr�rio, pode significar um retrocesso que refor�aria a subalternidade desta profiss�o na divis�o social do trabalho.

BIBLIOGRAFIA

ABESS/CEDEPSS. Curr�culo m�nimo para o curso de Servi�o Social (aprovado em Assembl�ia Geral Extraordin�ria de 8 de novembro de 1996), Rio de Janeiro, nov. 1996.

BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista. A degrada��o do trabalho no s�culo XX. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1987.

COSTA, G. M. Aproxima��o ao Servi�o Social como complexo ideol�gico. Temporalis, Bras�lia, ano 1, n. 2, p.95-119, jul./dez. 2000.

LESSA, S. Trabalho e trabalho abstrato, trabalhador e prolet�rio. Macei�, [mime] 2005. (Material n�o publicado).

LESSA, S. Servi�o Social e trabalho: do que se trata? Temporalis, Bras�lia, ano 1, n.2, p.35-58, jul./dez. 2000.

MARX, K. O Capital: cr�tica da economia pol�tica. Tradu��o por Regis Barbosa e Fl�vio R. Kothe. S�o Paulo: Abril Cultural, 1985a. Livro 1, v.1, t.1. (Os economistas).

MARX, K. Cap�tulo VI in�dito de O Capital: resultados do processo de produ��o imediata. S�o Paulo: Moraes, 1985b.

MARX, K. O Capital: cr�tica da economia pol�tica. Tradu��o por Regis Barbosa e Fl�vio R. Kothe. S�o Paulo: Abril Cultural, 1985c. Livro 1, v. 1, t. 2(Os economistas).

 NOTAS

[1] Que atualmente chama-se ABEPSS (Associa��o Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servi�o Social.

[2]4.3. - N�cleo de Fundamentosdo Trabalho Profissional:O conte�do deste n�cleo considera a profissionaliza��o do Servi�o Social como uma especializa��o do trabalhoesua pr�tica como concretiza��o de um processo de trabalho que tem como objeto as m�ltiplas express�es daquest�o social. Tal perspectiva, permite recolocar as dimens�es constitutivasdo fazer profissional articuladas aos elementos fundamentais de todo e qualquer processo de trabalho: o objeto oumat�riaprimasobre a qualincide a a��o transformadora; os meios de trabalho - instrumentos, t�cnicas e recursos materiais e intelectuais que propiciam uma potencia��o da a��o humana sobre o objeto; e a atividade do sujeito direcionada por uma finalidade, ou seja, o pr�prio trabalho.� (ABESS, 1996. Curr�culo M�nimo do Servi�o Social).

[3]� claro que em defesa de sua tese Lessa incorpora outras id�ias e racioc�nios, todos muito pertinentes, mas, neste artigo nos limitaremos ao questionamento inicial do seu argumento essencial.

[4]Assim, no interior dos trabalhadores produtivos, temos j� uma diferen�a importante: embora todos eles produzam mais-valia, nem todos eles realizam o interc�mbio org�nico com a natureza. Nem todos eles pertencem, portanto, ao trabalhador coletivo. (Lessa, 2005. pag. 14). 

[5]Aqui Lessa distorce a explica��o marxiana, pois, a mais valia � valor e o que carateriza precisamente o valor � a indetermina��o da forma concreta em que se gasta a for�a humana de trabalho (forma que s� interessa na determina��o do valor de uso) O valor �, de acordo com Marx, tempo de trabalho socialmente necess�rio considerado na sua forma abstrata, o que quer dizer, na nossa modesta opini�o, independente da sua forma concreta, da sua forma determinada. Ou seja, tanto produz valor o trabalho do oper�rio que torneia um peda�o de a�o quanto o professor que ministra aula numa f�brica de diplomas.

6]�Tal como o prolet�rio, portanto, o mestre-escola tamb�m produz mais-valia� (LESSA, 2005, p�g. 22).

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Porque o Serviço Social não é trabalho?

Ao responder estas demandas na sua atuação, o Serviço Social intervém em um complexo social da esfera da reprodução das relações sociais, não se configurando assim como trabalho, nem processo de trabalho, porque não transforma natureza nos bens materiais necessários à sociedade.

Como o Serviço Social entende a categoria de trabalho?

Resumo: O Serviço Social enquanto “especialização do trabalho coletivo inserido na divisão social e técnica do trabalho, partícipe do processo de produção e reprodução das relações sociais” se constitui um dos eixos estruturantes do projeto profissional dos assistentes sociais (ABESS, 1996).

Como iamamoto caracteriza o trabalho no Serviço Social?

O processo de trabalho no qual está inserido o assistente social não é exclusivamente da profissão, nas palavras de Iamamoto (2005, p. 28), “é preciso evitar uma superestimação artificial da profissão, pois este é um profissional chamado desempenhar suas atribuições em um processo coletivo de trabalho”.

É correto afirmar que a profissão de Serviço Social tem sua origem?

O serviço social teve suas origens dentro da Igreja Católica e visava preparar a grande massa operária para a o capitalismo industrial, período este chamado de “conservador”. Dessa forma, o objetivo era preparar essa população para sistema sócio – econômico – político da época.