Os pronomes de tratamento são considerados, por grande parte dos gramáticos e linguistas, um caso específico de pronomes pessoais. Pela nossa cultura, levamos em conta o contexto e o tipo de relação que temos com a pessoa a quem nos direcionamos ou que citamos em nosso enunciado. Consideramos a intimidade, a familiaridade, a formalidade, o nível de hierarquia, entre outros fatores que definem como deve ser a interlocução. Show O uso dos pronomes de tratamentoOs pronomes de tratamento possuem contextos específicos de uso.Todo tipo de pronome (pessoal, possessivo, demonstrativo, indefinido etc.) segue regras gramaticais estabelecidas na língua portuguesa padrão que norteiam o seu uso. No caso dos pronomes de tratamento, algumas regras devem ser levadas em consideração:
Emprega-se o termo “Vossa” quando se fala diretamente com a pessoa, quando é o interlocutor, portanto, na 2ª pessoa. Já o termo “Sua” quando se fala da pessoa, quando ela é o tema, portanto, na 3ª pessoa. Com relação à flexão verbal, em ambos os casos, será sempre feita na 3ª pessoa. Veja nos exemplos abaixo:
Leia mais: Concordância verbal e nominal: regras e exceções Principais pronomes de tratamento e abreviaçõesAgora que você já sabe como usar os pronomes de tratamento, vejamos quais são os principais e suas respectivas abreviações no quadro abaixo:
Curiosidade: o pronome de tratamento vocêNa maior parte das regiões do Brasil, ocorreu o fenômeno de substituição do pronome reto tu pelo pronome de tratamento você, levando a conjugação verbal da 2ª pessoa a cair em desuso, uma vez que você, como a maioria dos pronomes de tratamento no singular, exige a conjugação na 3ª pessoa. Assim, tu foi substituído por você, enquanto vós foi substituído por vocês, em algumas variantes da língua portuguesa do Brasil. Entretanto, vale lembrar que você é uma versão reduzida do pronome de tratamento “Vossa Mercê”. A partir do século XVI, começou a haver uso generalizado da forma “Vossa Mercê” pela população que não pertencia à aristocracia, o que contribuiu para variações como “Vosmecê”, popular antigamente no Brasil, e que culminaria na redução “você”, utilizada atualmente no país. Em contextos ainda mais informais, outras reduções aparecem: “ocê” e “cê”. Vossa mercê → Vosmecê → Você → Ocê/cê Leia mais: Particularidades dos pronomes pessoais - critérios que demarcam seu uso Exercícios resolvidosQuestão 1 (FGV-2018) Relacione os pronomes de tratamento, listados a seguir, aos respectivos cargos. 1. Vossa Excelência 2. Vossa Magnificência 3. Vossa Senhoria 4. Vossa Reverendíssima 5. Vossa Santidade ( ) Papa ( ) Almirante ( ) Coronel ( ) Reitor ( ) Cônego Assinale a opção que mostra a relação correta, segundo a ordem apresentada. a) 5, 2, 4, 1 e 3. b) 4, 1, 2, 3 e 5. c) 5, 3, 2, 1 e 4. d) 5, 1, 3, 2 e 4. e) 4, 2, 3, 1 e 5. Respostas 1 – Alternativa d), Vossa Santidade refere-se ao Papa, Vossa Excelência a almirantes, Vossa Senhoria a coronéis, Vossa Magnificência a reitores e Vossa Reverendíssima a cônegos. Por Guilherme Viana Professor de Gramática As elucidações que se firmam mediante o assunto posto em discussão convidam-nos a refletir acerca de um importante aspecto, que se deve ao fato de os pronomes pessoais indicarem uma das três pessoas do discurso, tanto do singular quanto do plural, ou seja: EU/NÓS – A PESSOA QUE FALA TU/VÓS – A PESSOA COM QUEM SE FALA ELE/ELES – A PESSOA DE QUEM SE FALA Quanto à função que desempenham, podem se classificar como pronomes pessoais do caso reto, ora funcionando como sujeito da oração. Assim, vejamos: EU TU ELE/ELA NÓS VÓS ELES/ELAS Eugosto muito de você. (sujeito simples) Atuando como complemento verbal (objeto direto ou indireto, agente da passiva, complemento nominal, adjunto adverbial, adjunto adnominal), classificam-se em pronomes pessoais do caso oblíquo, subdividindo-se em átonos e tônicos. Constatemos, pois: Átonos: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes. Tônicos: mim, comigo, ti, contigo, ele, ela, si, consigo, nós, conosco, vós, convosco, eles, elas. Essas encomendas foram entregues a mim. (objeto direto) Gostaria de lhe agradecer pelo favor. (objeto indireto) Pronomes eu/tu – mim/ti No que tange a tais pronomes, “eu” e “tu” desempenharão sempre a função sintática de sujeito, assim como nos exemplos: Eu aceito o pedido de desculpas. (sujeito) Já os pronomes “mim” e “ti” exercem a função sintática de complemento verbal ou nominal, agente da passiva, adjunto adverbial e sujeito acusativo, como evidenciado abaixo: Não cabe a mim tomar essa decisão. (objeto indireto) Pronomes se/si e consigo Os pronomes em questão somente se classificam como reflexivos ou recíprocos – razão pela qual são empregados na voz reflexiva e na voz reflexiva recíproca. São exemplos: Se você não se cuidar poderá ficar doente. Com nós, com vós, conosco e convosco Por mais que pareçam estranhas as formas “com nós” e “com vós”, elas podem ser perfeitamente aplicáveis se à frente delas estiver indicando uma palavra que represente “somos nós” ou “quem sois vós”, assim como nos atestam os exemplos abaixo: Falaram com nós todos acerca das mudanças que iriam ocorrer. Desistiu de sair com nós dois por quê? De ele ou dele? Do ou de o? Chegou o momento de ele decidir se permanece ou não. O fato de o professor não ter explicado representa o descompromisso. Saiba mais sobre esse assunto acessando o texto “De o ou do – de que forma empregá-los?”. Quanto às funções sintáticas desempenhadas pelos pronomes oblíquos átonos “me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes”, essas podem assim se evidenciar: * Objeto direto: Encontrei-o perambulando por aí. (encontrei quem? – ele) * Objeto indireto: Peço-lhe desculpas. (peço desculpas a quem? A ele/ela) * Adjunto adnominal: Na confusão roubaram-me os pertences. (os meus pertences) * Complemento nominal: Foi-lhe favorável a sentença. (favorável a ele/ela) * Sujeito acusativo: quando se manifestarem em um período composto formado pelos verbos “mandar, fazer, deixar, sentir, ouvir”, entre outros: Mande-me o relatório da empresa. Em virtude de estarmos falando da norma padrão da língua portuguesa, eis que uma canção demonstra ser objeto de estudo: sob a autoria de Marisa Monte, Beija eu: [...] [...] Ao analisarmos a colocação do pronome pessoal do caso reto, “eu”, constatamos que se trata de um uso indevido, dada a condição de ele funcionar como sujeito, não como complemento (quando na verdade o correto seria beija-me). No entanto, em se tratando da licença poética concebida ao artista, possíveis desvios são tidos como intencionais, aceitáveis, portanto. Por Vânia Duarte Graduada em Letras |