Como reduzir emissão de gás metano

Entre os gases causadores de efeito estufa, o metano, emitido principalmente pelo gado, é o segundo maior causador das mudanças climáticas depois do dióxido de carbono.

Dados apresentados pelo Fórum Econômico Mundial mostram que cerca de 70% do metano agrícola vem da fermentação entérica – reações químicas nos estômagos de vacas e outros animais de pasto à medida que eles digerem as plantas. Os animais expelem a maior parte desse metano pela boca e por meio da flatulência.

Existem cerca de 1 bilhão de cabeças de gado em todo o mundo, e reduzir o metano entérico é uma maneira eficaz de diminuir as emissões gerais de metano.

Com a sustentabilidade como um de seus pilares estratégicos, a JBS segunda maior companhia de alimentos do mundo e líder em proteína, firmou uma parceria com a Royal DSM, empresa global de saúde, nutrição e biociência, a fim de reduzir a emissão de metano entérico bovino em escala mundial.

Para isso, a JBS vai utilizar um suplemento nutricional desenvolvido pela DSM que será adicionado à alimentação dos animais.

O produto, chamado de Bovaer, tem potencial para reduzir em até 90% as emissões entéricas de metano, como comprovado recentemente em um estudo australiano de confinamento de carne bovina.

Um quarto de colher de chá do aditivo ao dia, por animal, inibe a enzima que ativa a produção do gás metano no estômago do ruminante. Segundo a DSM, o efeito é imediato e, se o uso for interrompido, a emissão de gases é retomada integralmente.

Dez anos de pesquisas

O desenvolvimento do Bovaer levou mais de dez anos. Foram 45 testes de longa duração em fazendas de 13 países, localizados em quatro continentes, que resultaram em mais de 48 estudos publicados em revistas científicas independentes.

No início de setembro de 2021, o Brasil foi o primeiro mercado a conceder a aprovação regulatória total para o Bovaer. “Estamos desenvolvendo um grande plano de ação para a redução de toda a pegada de carbono da JBS, e essa parceria com a DSM vai contribuir não só com nossos planos, mas com todo o setor nesta complexa questão das emissões de metano”, disse em nota Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS.

Inicialmente, o suplemento nutricional será fornecido para bovinos confinados. Depois, os testes serão expandidos para um segundo mercado, que pode ser a Austrália ou os Estados Unidos, duas das maiores operações da JBS no mundo.

Um outro estudo, de 2015, sugeriu que o uso de algas marinhas como aditivo à alimentação normal do gado poderia reduzir a produção de metano, mas essa pesquisa foi feita em laboratório, não em animais vivos. Essa descoberta, portanto, ainda precisa ser ampliada para se tornar passível de comercialização.

O evento reuniu produtores, indústria, governo, empresas de tecnologia, centros de pesquisa e cientistas de diversos países para debater maneiras de tornar a pecuária brasileira cada vez mais sustentável. O foco foi a redução das emissões de metano, um dos principais gases do efeito estufa, cuja molécula é formada por um átomo de carbono e quatro de hidrogênio (CH4). Os animais ruminantes produzem metano no processo de digestão de alimentos, especialmente os bovinos, que liberam o gás por meio de arrotos (95%) e também nas excreções.

Em novembro, durante a COP26, em Glasgow, na Escócia, o Brasil foi um dos mais de 100 signatários do Pacto Global do Metano, que pretende reduzir as emissões mundiais desse gás em 30% até 2030. O propósito do Fórum foi contribuir com essa missão. O evento foi realizado pela JBS, que assumiu no ano passado o compromisso de neutralizar as emissões de carbono de toda a sua cadeia produtiva até 2040, e pela Silvateam, líder mundial em produção de extratos vegetais utilizados em alimentação animal.

“Nosso grande desafio é produzir mais alimentos e preservar o ambiente”, afirmou o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni. “Se não transformarmos nosso processo produtivo, o planeta não será mais capaz de gerar os recursos de que necessitamos para viver.” O vice-presidente da Silvateam Brasil, Michele Battaglia, também falou sobre a importância da contribuição da pecuária. “Se cada um de nós fizer um esforço para melhorar algumas coisas que fazemos, não somente poderemos produzir de forma sustentável, mas ser parte da melhora do mundo daqui para a frente.”

O Fórum contou com palestras de 23 especialistas, além de três debates. Os palestrantes se mostraram otimistas sobre a possibilidade de o setor reduzir as emissões de metano e, ao mesmo tempo, aumentar a produção de carne, graças às novas tecnologias que estão sendo estudadas ou já vêm sendo adotadas no país.

A diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Fabiana Villa Alves, dividiu essas tecnologias em três grupos: as que melhoram o solo; as que melhoram a genética do gado; e as que atuam na alimentação.

No primeiro grupo, o destaque são os sistemas que associam a criação de gado com a agricultura (integração lavoura-pecuária) ou ainda com o plantio comercial de florestas (integração lavoura-pecuária-floresta). Eles recuperam pastagens degradadas, aumentam o sequestro de carbono pelo solo e melhoram a alimentação do gado, gerando mais recursos ao produtor.

A melhoria genética envolve tanto o desenvolvimento de forragens mais nutritivas quanto a seleção de linhagens animais com maior potencial de ganho de peso (pecuária de corte) ou de produção leiteira para reduzir a taxa de metano por quilo de carne ou litro de leite produzidos. A intensificação da produção, mesmo que apenas na fase final de engorda, também contribui nesse sentido.

No campo da nutrição, o Fórum trouxe ótimas notícias sobre suplementos e aditivos que reduzem a emissão de metano na ruminação. O veterinário Marcelo Manella, diretor da Silvateam, mostrou os resultados de pesquisas com dois produtos da empresa ricos em taninos e saponinas (Silvafeed BX e Silvafeed ByPro): queda entre 6% e 30% na produção de metano e aumento de 6,5 quilos na produção de carne por animal.

O diretor global de inovação da DSM, Luiz Fernando Tamassia, apresentou os números referentes a Bovaer®, aditivo criado pela empresa holandesa de biociência para reduzir as emissões de metano na ruminação. Testado em diferentes países, sistemas de produção e raças, o produto apontou queda de no mínimo 30% em vacas leiteiras e até 90% em gado de corte. No Brasil, uma pesquisa realizada na Unesp, entre 2016 e 2017, registrou queda de até 55% nas emissões entéricas de metano com o uso de Bovaer® em carne bovina.

Vários palestrantes falaram também sobre a importância do combate ao desmatamento ilegal, outra fonte importante de gases do efeito estufa. O tema é foco de um projeto da JBS que monitora por satélite uma área de 850 mil quilômetros quadrados, maior que o estado americano do Texas e duas vezes o tamanho da Alemanha, para assegurar que seus fornecedores não produzem em áreas ilegais.

O diretor de relacionamento com pecuaristas da Friboi, Fabio Dias, contou que a empresa disponibiliza a sua tecnologia de monitoramento gratuitamente aos seus fornecedores por meio da Plataforma Pecuária Transparente, para que eles passem a monitorar os próprios fornecedores. Até 2025, todos os fornecedores da JBS deverão estar cadastrados na ferramenta, garantindo que todos os envolvidos, mesmo que terceiros, também respeitarão a política socioambiental da empresa.

Na visão dos especialistas que participaram do evento, o Brasil só tem a ganhar ao caminhar na direção de uma pecuária cada vez mais sustentável. Atenderá aos crescentes padrões de exigência dos países desenvolvidos, ajudará a reduzir o aquecimento global e ganhará ainda mais espaço em um mercado tão importante para a alimentação.

Como reduzir emissão de gás metano
2 de 2 Diana Rodgers, fundadora do movimento Sacred Cow — Foto: Divulgação

Diana Rodgers, fundadora do movimento Sacred Cow — Foto: Divulgação

CIENTISTAS DEFENDEM MAIS ESTUDOS SOBRE O IMPACTO DA ATIVIDADE

Especialistas que participaram do Fórum defenderam mais estudos para avaliar o papel da pecuária no aumento da concentração de metano na atmosfera. O pesquisador alemão Frank Mitloehner, professor da Universidade da Califórnia em Davis, questionou a maneira como esse impacto vem sendo calculado.

As métricas utilizadas pelos cientistas do clima consideram apenas as emissões, sem descontar a captura de gás carbônico que ocorre durante a formação do pasto, por meio de fotossíntese. Se o cálculo levasse em conta o ciclo completo, segundo Mitloehner, o saldo de emissões para um mesmo rebanho seria praticamente zero – diferentemente do que ocorre, por exemplo, com as emissões de combustíveis fósseis, que só aumentam a quantidade de carbono na atmosfera.

O cientista alemão Peer Ederer, fundador do Global Observatory on Accurate Livestock Sciences, afirmou que os dados disponíveis não permitem atribuir à pecuária a causa do aumento da concentração de metano na atmosfera. Segundo ele, o culpado mais provável é o monóxido de carbono emitido na queima de combustíveis fósseis, que provoca a redução atmosférica da hidroxila (OH). Esse gás, considerado o “detergente da atmosfera”, acelera a degradação do metano – e sua diminuição acaba tendo o efeito oposto.

Outro tema tratado foi a importância da carne na dieta humana. A nutricionista americana Diana Rodgers, fundadora do movimento Sacred Cow, que difunde conhecimento sobre o valor nutricional da carne, lembrou que o alimento é a principal fonte de proteínas, além de fornecer micronutrientes essenciais à saúde, como o ferro e a vitamina B12. “Grande parte da população mundial tem carência desses dois nutrientes”, ela ressaltou.

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