O que é cor parda

Em 1976, o IBGE decide consultar o brasileiro sobre autodefinição de cor sem respostas pré-determinadas.

O levantamento daquele ano registrou 136 definições de cor, entre elas, "acastanhada", "café com leite", "bronze", "castanha", "jambo", "pouco clara", "pouco morena", "puxa para branca", "miscigenação". Pelo menos 17 palavras levavam o termo "morena". "Morena-parda", "morena bem chegada", "morena cor de canela", e por aí vai.

É sobre ela que o jornal "Folha de S. Paulo" fez matéria, em 1995, dizendo que "Brasil quer ser chamado de moreno e só 39% se autodefinem como brancos".

Em 1998, o IBGE, o número pulou para 143 "cores denominadas". Entre elas, "canela", "clarinha", "meio-termo", "misturada", "pardinha". Em comparação com 1976, o órgão mostrou aumento da quantidade de pessoas que se encaixavam nas categorias gerais branco e pardo, e redução "sensível" dos que se diziam morenos, pretos ou escuros.

Classificar é simplificar

Definir o que é pardo ou questionar as pessoas sobre a própria cor ou raça agora não é a mesma coisa que tentar explicar quais eram as categorias raciais no passado. A classificação em si é uma simplificação da realidade.

"Os significados e usos das categorias raciais não são fixos", explica a historiadora Juliana Barreto Faria. "Elas são construídas não só pela cor da pele nem apenas do fenótipo." Também são levados em conta, por exemplo, a ancestralidade, a origem e o tom da pele da pessoa.

Mas antes do interesse de Estado pela livre autodefinição de cor de seus cidadãos, as opções eram limitadas. Em 1872, antes da abolição da escravatura, portanto, as categorias eram branco, preto, pardo e caboclo. Em 1890, já na República, troca-se o pardo por mestiço para nominar o resultado da união de pretos e brancos. Nos censos de 1900 e 1920, o IBGE não coletou dados sobre cor.

Em 1940, uma categorização curiosa: além de brancos, pretos e amarelos - por conta do processo de imigração japonesa no país - a quarta categoria se tornou um tracinho no preenchimento: 20% da população foi parar nesse traço, e a categoria pardo voltou ao Censo de 1950. Trinta anos depois, a pergunta sobre raça e cor ficou de fora.

Hoje, o respondente, por autodeclaração, opta por: branco, pardo, preto, amarelo e indígena.

Pardo x moreno

Na análise dos resultados de 1998, o IBGE fez um comparativo sobre o nível de consistência da autoidentificação. Enquanto quase todos os brancos e amarelos se identificavam da mesma forma na pergunta aberta e na fechada, apenas 34% dos pardos se viram do mesmo jeito nas duas abordagens. Aqui, o "moreno" aparece novamente como uma saída: 77% dos que escolheram o termo na pergunta aberta tiveram que optar pela cor parda, na fechada.

O pertencimento à identidade parda ou preta varia também segundo o local. "Eu sou do Rio e moro em Salvador. Me definir como parda na Bahia é diferente de fazer isso no Rio", exemplifica Juliana, que se identifica como negra de pele clara.

Pardo é a denominação usada para nomear um dos grupos étnicos que são identificados dentro da população do Brasil. A classificação foi criada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com informações dadas pela gerência do Instituto “o termo pardo remete a uma miscigenação de origem preta ou indígena com qualquer outra cor ou raça. Alguns movimentos negros utilizam preto e pardo para substituir o negro e alguns movimentos indígenas usam indígenas e pardos para pensar a descendência indígena. É uma categoria residual, mas que é a maioria”. Assim, as pessoas pardas são as que possuem esta miscigenação.

Historicamente o termo pardo começou a ser utilizado no Brasil durante o período colonial e não era representativo de uma etnia, como acontece atualmente.

A expressão era utilizada na representação de uma "hierarquia social" que existia na época. O termo era empregado como referência a uma classe social considerada intermediária, que era socialmente localizada entre os cidadãos brancos (descendentes de europeus) e os escravos negros.

Como reconhecer a etnia parda?

São conhecidas três diferentes formas de identificação da etnia parda: autodeclaração, identificação biológica e heteroclassificação.

Na autodeclaração, também chamada de autoidentificação, é a própria pessoa que se identifica como pertencente à etnia. Esta é a situação utilizada pelo IBGE durante a realização do censo populacional, já que são os próprios entrevistados que determinam à qual etnia pertencem quando são entrevistados. De acordo com o Instituto, o critério fundamental para que as pessoas se declarem como pardas é sua origem.

A identificação biológica acontece através de uma análise genética de DNA que, através dos resultados, determina quais os componentes étnicos-biológicos do indivíduo.

Já a heteroclassificação ou heteroidentificação, ocorre através do reconhecimento por semelhança, quando uma outra pessoa indica em qual grupo étnico o indivíduo se encaixa. De acordo com o IBGE, a heteroidentificação ocorre através da identificação de características fenotípicas, ou seja, de características físicas que são típicas da etnia.

Fenótipo pardo

Pela grande variedade de miscigenação encontrada na população brasileira, não é fácil identificar quais são as principais características fenotípicas dessa etnia.

Assim, há quem defenda que, mais importante do que a determinação de características físicas, é a presença da condição da miscigenação que determina a classificação de um indivíduo como pardo. Isso significa que uma pessoa é parda quando está enquadrada na etnia, em razão das misturas de sua ascendência.

Dados estatísticos

Conforme a orientação do censo do IBGE, são enquadrados na população parda todas as pessoas que se declarem como: mulata, cabocla, cafuza ou mameluca. O Instituto também inclui nessa parcela da população os autodeclarados mestiços de preto com pessoa de outra cor ou etnia.

Os dados mais recentes, do ano de 2016, apontam que 46,7% dos cidadãos brasileiros se declaram como pardos, sendo que o número vem aumentando nos últimos anos. Assim, conclui-se que a população parda corresponde à maior parte da população do país.

Conforme os dados recolhidos na pesquisa, o aumento da população parda é justificado pelo processo de miscigenação, ou seja, o aumento da mistura populacional faz com que o percentual de pessoas pardas se eleve.

População parda nas regiões brasileiras

Também de acordo com os dados publicados em 2016, os maiores percentuais da população parda encontram-se localizados nas regiões norte (72,3%), nordeste (64,7%) e centro-oeste (55,3%) do país.

Outras classificações de etnia

A classificação do IBGE estabelece que, além dos pardos, há outros quatro grupos étnicos compõem a população brasileira. São eles:

  • Negros
  • Brancos
  • Indígenas
  • Amarelos

Veja também

  • População do Brasil
  • O que é IDH?
  • O que é xenofobia?

Todo mundo em algum momento da vida já precisou responder a essa pergunta. Em um primeiro momento, parece mais uma pergunta sobre questões étnicas e raciais, mas no Brasil se reconhece que, nessa pergunta, você está respondendo sobre um determinante de saúde.

Responder à pergunta do título como preto ou pardo, é afirmar que você que você é semelhante à quase 54% da população brasileira. Significa também, que dentre as pessoas mais ricas do país, menos de 20% e mais de 75% das pessoas mais pobres do país tem mesma raça que você.

Pesquisas mostram que homens e mulheres pretos e pardos tem menos acesso a serviços de saúde, são a maioria dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e são as principais vítimas de violência social e de trânsito.

Somada às diferenças sociais, devemos ressaltar que pessoas pretas e pardas tem maior risco de doença falciforme, diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial sistêmica e deficiência de G6PD.

Pensando em melhorar esses indicadores de saúde e desassociar a questão étnico-racial da pior qualidade de vida e piores indicadores de saúde, foi instituída a Portaria 992/2009 do Ministério da Saúde, que estabelece a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Nessa política, reconhece-se a raça como um determinante de saúde, se combate o racismo estrutural, social e institucional através de iniciativas intersetoriais, combatendo as altas mortalidades materna e infantil da população negra, estruturando a assistência às doenças prevalentes nessa população e combatendo o racismo dentro das unidades de saúde.

Referências bibliográficas:

Brasil. Presidência da República. Secretaria-Geral. Plano Juventude Viva: caminhos da política de prevenção à violência contra a juventude negra no Brasil. Brasília, 2014.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Temático Saúde da População Negra. Brasília, 2016. (Painel de Indicadores do SUS, v. 7, n. 10).

Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. – 3. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2017.

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