A arquitetura popular brasileira ed.bomtexto 2010

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Livro com muitas fotos, embora sem peças gráficas. Apresenta o assunto a partir das regiões, paisagens, tipos e técnicas construtivas, com alguns casos específicos. Na maioria dos casos, desvia-se para explicações e críticas à situação econômica e social, inclusive quanto à culinária e ao folclore. Na Região Norte, há grande variedade de madeiras com as quais se fazem construções elevadas, com fundações do mesmo material ou tijolo; cobertura de fibras vegetais nas zonas rurais e de telhas cerâmicas, próximas às cidades. No Nordeste, há maior presença da taipa e do adobe, com cobertura de folhas de coqueiro. Nas periferias metropolitanas, predominam lajes e estruturas de concreto armado, com alvenarias sem revestimento. Também aparecem palafitas em alagadiços, técnica “trazida da África”, que sofreria de preconceito, segundo os autores, por ser técnica construtiva confundida com a pobreza. Na Região Centro-Oeste, os colonos paulistas seiscentistas trouxeram a taipa de pilão, presente em cidades tradicionais como Goiás e Pirenópolis. Em lugares mais afastados empregam-se técnicas indígenas – madeiras e folhas de palmeiras – assim como pau-a-pique com cobertura de buriti. No Pantanal, as palafitas com vedação em madeira ou alvenaria são as formas mais constantes. Já nas periferias urbanas e núcleos agroindustriais dessa região, predominam técnicas e materiais industrializados. Verifica-se grande diversidade étnica, tipológica e construtiva na Região Sudeste. No litoral, a arquitetura caiçara de madeira e taipa. A taipa encontra-se mais em São Paulo e áreas mineiras próximas e o pau a pique, no Rio de Janeiro e Minas Gerais, lugar onde a pedra é abundante e usada em paredes e coberturas. Nas periferias urbanas dessa região, empregam-se técnicas e materiais industriais, com coberturas em lajes de concreto e os telhados, geralmente em fibrocimento, surgem somente quando não há expectativa de acréscimo. Na Região Sul, vigora a influência de imigrantes alemães, com sua arquitetura em arenito e enxaimel; poloneses, com construções em blocause (troncos roliços ou aparelhados, encaixados); e italianos, com uso de pedra e tábuas. A moradia rural é a que mais se aproxima do que seria, para os autores, a arquitetura popular, enquanto nas paisagens periurbana e urbana há hibridismo de técnicas e materiais industriais e tradicionais. Destacam os autores a favela, que teria forte relação com o urbanismo dos povos africanos, identificando-se desde construções precárias de papelão até moradias de alvenaria com eletricidade e água potável. Quanto às tipologias, iniciam pelas casas que seguiriam programas europeus. Fala-se das vendas, locais de encontro e lazer, ora com recuo avarandado, avançando na rua com mercadorias expostas, ou com volume imponente na fachada. As igrejas são também presença fundamental nos povoados, com técnica mais apurada, materiais mais caros e onde a imaginação pode soltar-se mais em relação aos demais edifícios. Os autores descrevem as casas de farinha, que seguiriam programa e arquitetura de raízes indígenas ditados pelo processo produtivo, familiar ou comunitário, atuando, em muitas aldeias, como centros comunitários para a partilha de alimentos, bebidas e conhecimentos. Seria, contudo, um tipo em extinção, devido à normatização da fabricação desse produto. Comenta-se ainda as “casinhas” dos sanitários construídos sobre a fossa, cuja capacidade dita a vida útil da construção. Uma vez esgotada, constrói-se outra em outro lugar. O piso dessas edículas de taipa e adobe com coberturas de telhas e folhas é, geralmente, em madeira, com um orifício. O engenho, movido a água, tração animal ou força humana, para moagem de mandioca, cana-de-açúcar, mate e outros produtos é descrito, assim como o monjolo para a moagem de cereais. Descrevem-se também os fogões e os fornos que servem para cozer alimentos associados a atividades coletivas; para a produção de materiais de construção, como tijolos, e também para queimar a cal. Ao descrever os materiais de construção, os autores assinalam sua origem e tendências atuais, em especial a partir do movimento ecológico. O adobe, presente no interior do Nordeste e nas áreas mais secas de Minas Gerais e Goiás, se faz com fundações de pedra ou baldrame de madeira e revestimento de reboco de barro e tabatinga (barro de cor clara) ou areia e cal em caiações sucessivas. Os autores comentam as construções em arco, que seria técnica trazida do Norte da África, sem citar local ou exemplo. A taipa de pilão, técnica trazida pelos portugueses, teria sido aprendida com berberes ou mouros, segundo os autores. Originário da África Negra seria, por sua vez, o emprego de estrutura com ramos vegetais, complementada com barro, fibras vegetais ou animais e aglomerante. Os autores definem o pau a pique como a construção com ramos entrelaçados, fixados no chão em pontos-chave. A taipa de mão como aquela em que o barro é colocado manualmente e a de sopapo como aquela feita com o arremesso simultâneo do barro pelos dois lados, ao ritmo de cantigas. A proteção do barro é feita por baldrames e plataformas no piso e por beirais largos na cobertura. Era a técnica mais empregada até a primeira metade do séc. XIX, sendo atualmente associada à pobreza. O uso de fibras naturais e a baixa duração geral das palhas, além do preconceito existente, são assinalados. As técnicas em madeira vieram com os europeus. O enxaimel aparece com os portugueses, estabilizado por meio do prolongamento dos cunhais fixados ao solo, como no nordeste de Minas Gerais e sul da Bahia, e travado com peças diagonais, como os centro-europeus, como na serra fluminense e regiões de colonização alemã de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Norte também se constrói em madeira, porém com uso das peças na horizontal. As construções são isoladas do solo por palafitas ou por meio do emprego de alvenarias no térreo. O tratamento e a proteção das peças são feitos com aplicação de óleo queimado ou tinta de alcatrão, como no Sul, ou através da carbonização superficial da madeira feita pelos indígenas. As técnicas em pedra são também de origem portuguesa e empregadas nas fundações, soleiras, portas, vergas, peitoris e preenchimentos de vãos na taipa de pilão. No Rio Grande do Sul, os imigrantes alemães empregavam o arenito e os italianos, o basalto com junta seca. Em Minas Gerais, verifica-se o uso da pedra-ferro. Os autores assinalam o uso cada vez mais constante de materiais industriais e de cores nas fachadas, por causa do barateamento das tintas à base de compostos plásticos. Apontam também o consumo de reciclados e o o uso da costaneira, o corte da primeira tábua, e de materiais de demolição.

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RIO - Casas de taipa, de concreto armado, de garrafas PET ou de latas. São projetos como esses que compõem a multifacetada arquitetura popular brasileira. Em 2008, Demis Ian Sbroglia, na época aluno do curso de graduação de arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF), percorreu o litoral do Brasil de bicicleta para mapear este tipo de moradia. Ele foi do Oiapoque ao Chuí, literalmente. A pesquisa, parte de seu projeto de graduação, foi transformada no livro "A arquitetura popular brasileira" (Ed.Bomtexto/2010), lançado este mês, e conta com a colaboração de dois pesquisadores, os arquitetos Wherter Holzer, Günter Weimer, e do fotógrafo Humberto Medeiros. Em cada capítulo há um rico material sobre as peculiaridades das habitações de cada região. (Clique aqui e veja fotos das casas)

- As questões ecológicas e geográficas interferem na construção das moradias e na escolha dos materiais. No Norte, por exemplo, as casas têm janelas pequenas, varandas, salas e escritórios abertos. Já no Sul, a presença da madeira é muito forte, tem de todo tipo. As folhas de lata de azeite ou similares também são usados para revestir paredes. Apesar de ser uma região fria, são poucas casas com lareira. O fogão à lenha e a cozinha usada como sala de estar têm sido a solução preferida - explica Günter Weimer

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Algumas casas chegam a ganhar destaque como obra de arte. Já imaginou, por exemplo, morar numa casa com fachada coberta por folhas de lata de tinta? Ou então com paredes de garrafa? Para Wherter Holzer, a arquitetura popular é uma das mais criativas e deve ser preservada, pois está desaparecendo no país.

- A arquitetura popular brasileira revela a cultura e o modo de vida de uma região. A técnica é passada de pai para filho. Os materiais empregados e a forma de construção mostram o lado criativo do morador. Mas, em alguns lugares, já não é possível encontrar esse tipo de construção. No Sul, por exemplo, as casas de fazer farinha, que já existem há 400 anos, pelo menos, estão desaparecendo - diz Holzer

Taipa e palha continuam sendo usadas nas construções populares. Mas objetos plásticos também

As técnicas rudimentares de construção são reveladas a cada capítulo. A taipa, técnica à base de argila (barro) e cascalho, empregada por diversos povos desde a Idade Antiga, e típica no Brasil, tem no livro, como um dos exemplos, a casa em Caravelas, Bahia. Para arquitetos, esse material de baixo custo revela-se bastante resistente, desde que bem isolado. Num contraponto, o plástico das garrafas PET, também empregado na construção, dizem eles, pode produzir uma forma resistente de moradia, que, entretanto, fica exposta aos olhares externos.

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Para o autor da pesquisa que deu origem ao livro, Demis Ian Sbroglia, ir a campo permite fazer contato com formas não só criativas, mas essenciais de se construir casas. Formas, segundo ele, sustentáveis, voltadas para a preservação do meio ambiente.

O livro está dividido em cinco capítulos: "Características regionais", "Paisagens", "Tipologias", "Partes das edificações" e "Materiais de construção" e é voltado a todos os públicos que gostam de arquitetura. A linguagem foge do estilo acadêmico e assume um tom quase coloquial, tornando o passeio do leitor pelo interior brasileiro ainda mais cativante. No último capítulo, algumas casas chamam a atenção, como a Casa da Flor, em São Pedro da Aldeia (RJ), construída por Gabriel dos Santos, trabalhador das salinas da região, com refugo de obras e materiais encontrados no lixo; e a Casa Arte (foto da capa), em Florianópolis (SC), erguida pelo uruguaio Jaime Machado, que utilizou garrafas de vidro em substituição aos tijolos.